O Estado de São Paulo (2020-05-24)

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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 24 DE MAIO DE 2020 Economia B7


LEILÕES DIÁRIOS DE VEÍCULOS

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BUENOS AIRES


Um grupo de detentores de títu-
los de dívida da Argentina, o Ex-
change Bondholder Group, afir-
mou ontem que o governo do
país convidou alguns de seus re-
presentantes para assinar um
acordo de confidencialidade
em torno das negociações da
reestruturação da dívida argen-
tina. Segundo o comunicado, re-
presentantes de outros grupos
também teriam sido chamados
para assinar acordos com o mes-
mo propósito.
O grupo afirma ser detentor
de US$ 4 bilhões em principal,
ou mais de 15%, dos títulos lan-


çados no mercado pela Argenti-
na em oferta realizada em 2005
e na suplementação, feita em
2010, através das quais o país
reestruturou seus débitos após
o calote de 2001.
Em abril, a Argentina lançou
uma oferta de troca desses títu-
los por outros, com vencimen-
tos entre 2030 e 2047. Na oca-
sião, o grupo rejeitou a oferta.
No dia 16 deste mês, o Ex-
change Bondholder Group fez
uma contraproposta. A ideia
era fazer a troca dos antigos pa-
péis por novos, divididos em
dois vencimentos, em 2033 e
em 2040, com sete amortiza-
ções cada entre 2027 e as respec-
tivas datas de vencimento. À
época, o colegiado, que repre-
senta fundos de investimento
como HBK Investments e
Redwood, afirmou que a pro-
posta propiciaria um “alívio
substancial” ao país.
Na sexta-feira, após deixar

de pagar US$ 503 milhões em
bônus globais, a Argentina en-
trou em calote pela terceira vez
no século 21. O governo do pre-
sidente Alberto Fernández tem
trabalhado para reestruturar a

dívida do país, e estendeu o pra-
zo de negociação com credores
privados até 2 de junho. No co-
municado de ontem, o grupo de
credores afirma que mantém a
proposta, mesmo após o de-

fault do governo argentino.
Apesar de não ter cumprido o
prazo final na sexta-feira, uma
fonte próxima às negociações e
familiarizada com o pensamen-
to do governo disse à Reuters
que as negociações poderiam al-
cançar um avanço “em questão
de dias”.
O Exchange Bondholder
Group disse que a Argentina
abordou seus representantes e
outros grupos de credores so-
bre a assinatura de um acordo
de confidencialidade “para con-
templar negociações com o Mi-
nistério da Economia”.
Pelo menos um outro grupo
principal de credores assinou o
acordo de confidencialidade,
disse uma fonte desse comitê.
Um porta-voz do Ministério
da Economia não respondeu
imediatamente ao pedido de co-
mentário.
O ministro da Economia,
Martin Guzman, disse que as ne-

gociações estão em um cami-
nho positivo, apesar da “distân-
cia importante” que resta para
chegar a um acordo com os cre-
dores.

Negociações. A Argentina e
seus credores, que negociaram
propostas no último mês, indi-
caram que estavam ansiosos pa-
ra evitar um calote conturbado
que poderia desencadear anos
de litígio e bloquear o acesso ao
mercado global de capitais ao
país, importante produtor de
grãos. O embaixador da Argenti-
na nos EUA havia escrito ante-
riormente em uma carta obtida
pela Reuters que o país deixaria
de fazer os pagamentos de sex-
ta-feira, dada a “perspectiva de
chegar a um acordo com seus
credores sobre novos termos
para seus títulos”.
Guzmán disse em comunica-
do que o pagamento de juros
faz parte de uma discussão mais
ampla sobre reestruturação “e
esperamos que isso seja tratado
no acordo mais abrangente que
estamos buscando”. / REUTERS

David Gelles
THE NEW YORK TIMES


Uma situação extremamente
difícil se vislumbra nos esfor-
ços para reanimar a econo-
mia. Nas últimas décadas,
uma porcentagem cada vez
maior do crescimento do em-
prego e do Produto Interno
Bruto se tornou possível gra-
ças à reunião de pessoas – dos
esportes universitários e dos
festivais de música, como
Coachella, até os museus do
sorvete. Entretanto, dada a
natureza infecciosa do coro-
navírus, esses eventos serão
ao últimos a retornar.
“Todo lugar em que as pes-
soas gostam de se reunir é um
lugar onde ninguém quer estar
neste momento”, disse Joe Pi-
ne, coautor de The Experience
Economy.
Essa verdade sombria tem
profundas implicações para as
empresas, grandes e pequenas.
E com a proibição das reuniões
em grande escala no futuro pre-
visível, a escassez de eventos ao
vivo já cobra o seu preço em ter-
mos psicológicos, não só para
quem trabalha na indústria,
mas também para a sociedade
como um todo. “O contato hu-
mano é realmente a base do nos-
so negócio”, afirmou Roland
Swenson, diretor executivo do
festival de música, cinema e tec-
nologia South by Southwest, de
Austin, Texas, que foi cancelado
em março. “Se isso se perder, o
mundo se tornará um lugar
mais pobre”.
A dependência da economia
de encontros presenciais vem
se intensificando nos últimos
anos. Quando a Disneylândia
foi inaugurada em 1955, provo-
cou um boom no negócio dos
parques temáticos. Nas últimas
décadas, o Wizarding World de
Harry Potter, os parques aquáti-
cos Great Wolf Lodge e outros
surgiram para competir pela
atenção – e pelo dinheiro – das
famílias americanas.
Como os esportes ao vivo se
tornaram um campo lucrativo
da televisão, surgiram ligas co-
mo a WNBA e a Major League
Soccer, foram construídos está-
dios supermodernos com con-
fortos de ponta e o número de
jogos cresceu. Quando as grava-
doras começaram a perder terre-
no, os concertos se tornaram
centros lucrativos para espetá-
culos musicais. Muitas compa-
nhias de mídia descobriram que
hospedar conferências era mais
lucrativo do que publicar revis-


tas. Ultimamente, jogos como
Escape Room e experiências
com pop-ups, como a mostra in-
terativa Color Factory e Candy-
topia (instalações de arte feitas
de doces) proliferaram.
Até o boom dos restaurantes
tinha a ver com atmosfera além
de comida. O sucesso da Star-
bucks se baseou na criação não
apenas de um café com leite
com uma boa margem de lucros,
mas também um lugar fora de
casa e do escritório onde as pes-
soas gostavam de encontrar gen-
te e conversar. “Crie uma atmos-
fera ao redor de um café e terá
uma experiência que poderá va-
ler US$ 5 a xícara”, disse Pine.

A produção econômica asso-
ciada ao divertimento cresceu
significativamente. O PIB atri-
buível às artes, entretenimento,
recreação, acomodações e aos
serviços na área da alimentação
chegou a quase US$ 1,6 trilhão
no ano passado, ante US$ 979
bilhões dez anos antes, segundo
o Bureau of Economic Analysis.
Todas essas novas experiên-
cias criaram empregos, e, no
mesmo período, o emprego no
setor de lazer e hospitalidade
cresceu cerca de 30%, chegando
a uma alta de quase 17 milhões
no início deste ano, segundo o
Bureau of Labor Statistics.
À medida que a indústria na-

cional foi desaparecendo, os ne-
gócios que consistiam em reu-
nir grandes números de pessoas
tornaram-se cada vez mais im-
portantes em matéria de empre-
gos. E não apenas para vendedo-
res de hot-dog, empregados de
estacionamentos e seguranças.
Nasceram assim campos novos
de apoio ao setor de eventos ao

vivo, gerando uma legião de pla-
nejadores de eventos, encarre-
gados da elaboração de listas e
startups como a EventBrite,
uma plataforma de ingressos on-
line. Em algumas corporações
havia inclusive um novo empre-
go no nível sênior: Diretor de Ex-
periências.
Ocorre que uma economia
que depende da reunião de pes-
soas é particularmente vulnerá-
vel à invasão de um vírus. Nos
dois últimos meses, o número
de pessoas empregadas nos ra-
mos do lazer e da hospitalidade
se reduziu praticamente pela
metade, representando cerca
de 25% da impressionante per-
da de empregos.
Cinemas, edifícios para a
prática de esportes e a grande
maioria das atrações turísticas
permanecem fechados; muitos
não abrirão durante meses.
Na opinião do governador Ga-
vin Newsom, da Califórnia, os
torcedores não deveriam assis-
tir aos jogos presencialmente
enquanto não existir uma vaci-
na, o que só está sendo esperado
para o início do próximo ano, na
melhor das hipóteses. “É difícil
imaginar um estádio lotado en-
quanto não tivermos imunida-
de e uma vacina.”
Se a sua avaliação for correta,
será uma má notícia para o Ma-
jor League Baseball (US$ 10,7 bi-
lhões de bilheteria no ano passa-
do), para a National Basketball
Association (cerca de US$ 8 bi-
lhões ao ano) e para a National
Football League (mais de US$
15 bilhões de faturamento
anual).
Mas além das dificuldades
imediatas criadas pelas enor-
mes perdas de empregos e pela
estagnação dos negócios, o fim
das reuniões já está tendo um
impacto mais profundo na psi-
que nacional. Os negócios de
eventos, por mais comerciais
que sejam, também são funda-
mentais para a nossa identida-
de. O fato de nos reunirmos pa-
ra aniversário no Chuck E. Chee-
se e nas despedidas de solteiro
em jogos de futebol americano é
o que nos permite construir nos-
sas lembranças mais importan-
tes e nos definirmos. / TRADUÇÃO
DE ANNA CAPOVILLA

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lSem aglomerações

Argentina e credores se preparam para retomar negociação


“É difícil imaginar
um estádio lotado
enquanto não
tivermos imunidade
e uma vacina.”
Gavin Newsom
GOVERNADOR DA CALIFÓRNIA

AGUSTIN MARCARIA/EUTERS

Na sexta-feira, o governo


deixou de pagar US$ 503


milhões em bônus globais,


entrando em calote


pela 3ª vez no século 21


Prazo. Fernández estendeu negociações até dia 2 de junho

ROZETTE RAGO/THE NEW YORK TIMES – 21/4/2019

Covid-19 encerrou


a ‘economia


da experiência’


Eventos que reúnem pessoas foram responsáveis por forte criação


de empregos nos últimos anos; agora, serão os últimos a retornar


Ar livre. Eventos como o festival Coachella na Califórnia são importantes para a economia
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