O Estado de São Paulo (2020-05-24)

(Antfer) #1
Mike Geller

MAIS DO QUE NUNCA, NINGUÉM
SABE COMO SERÁ O FUTURO.
É TÃO DIFÍCIL PREVER A
SITUAÇÃO DAQUI A DOIS MESES,
QUE DIRÁ EM UM ANO

EMPREENDEDOR DE ORGÂNICOS

Oportunidades&Leilões


Negócios de alimentos
veem crescer demanda
com isolamento, mas a
questão é como coisas
ficarão pós-pandemia

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


(11) 3855.2001


Paul Sullivan
THE NEW YORK TIMES

Mike Geller passou quase
uma década ajustando o foco
da Mike’s Organic Delivery,
que ele fundou nos Estados
Unidos em 2009. No início,
os clientes aceitavam rece-
ber os produtos da tempora-
da. Já no terceiro ano, a em-
presa fazia cerca de 200 en-
tregas por semana. O acesso
a produtos orgânicos era
mais generalizado e os clien-
tes queriam opções além das
cestas pré-selecionadas. As-
sim, ele criou um mercado de
orgânicos online, no qual as
pessoas escolhiam antecipa-
damente frutas, legumes e
carnes que desejavam.
Em 2018, diante da acirra-
da concorrência de serviços
online, ele promoveu uma no-
va guinada, reformando par-
te do armazém e acrescentan-
do um mercado no ano se-
guinte. Seguiram-se festas
particulares, eventos comu-
nitários e aulas de culinária.
Em março deste ano, a or-
dem de confinamento foi da-
da e a empresa mudou de no-
vo. Com o aumento maciço
na demanda por entregas e,
pouco depois, retiradas, os
pedidos semanais aumenta-
ram de 250 para 5.000. Ele
também se tornou um dos

principais vendedores dos pro-
dutos de fazendas que vendiam
a restaurantes de alto padrão,
agora fechados. “Não é questão
de celebrar a prosperidade”, diz
Geller. “Eu e minha equipe esta-
mos felizes com o movimento e
também por ajudar os peque-
nos produtores, mas ninguém
está dando pulos de alegria.”
Para muitos negócios, a gran-
de questão é saber como será a
economia quando sua ativida-
de for retomada. Mas as empre-
sas que estão sobrevivendo são
aquelas que implementaram
uma mudança brusca, seja com
o negócio existente ou com

uma nova linha de trabalho, diz
Wendy Cai-Lee, presidente e di-
retora executiva do Piermont
Bank, que oferece crédito a pe-
quenas e médias empresas nos
Estados Unidos. “Aquelas que
dependem de uma única fonte
de renda têm mais desafios.”
Muitas das fazendas e pada-
rias com as quais a Mike’s Orga-
nic trabalha se enquadravam na
categoria de atividades essen-
ciais. Seu foco estava nos restau-
rantes que compravam grandes
quantidades e eram fregueses
previsíveis. Agora, precisam en-
contrar varejistas para vender
seus produtos e sobreviver.

“Recebemos recomendações
de nossos agricultores. O sujei-
to que prepara nosso molho de
tomate conhecia um excelente
fornecedor de cogumelos, que
vendia apenas para restauran-
tes”, conta Geller. O volume de

entregas aumentou e o merca-
do vai bem, mas as entregas re-
presentam agora 70% do movi-
mento, sendo que antes essa di-
visão era meio a meio.
A possibilidade de mudar de
rumo e vender para empresas
como a Mike’s Organic diante
do fechamento dos restauran-
tes ajudou muitos a seguir fun-
cionando, mas não faltaram
complicações. “No dia 13 de
março, 90% do nosso movimen-
to se destinava a restaurantes”,
diz Marc Jaffe, dono de fazenda
no Estado de Nova York. “Gra-
ças a Deus tínhamos alguns va-
rejistas trabalhando com nos-
sos produtos, caso contrário
não teríamos nem mesmo um
rótulo com aprovação do Depar-
tamento da Agricultura.”
Ainda que a fazenda tenha es-
capado da necessidade dessa
aprovação para a venda no vare-
jo, ela teve que adaptar seu mo-
do de produção. Se um restau-
rante pode encomendar 10 fran-
gos inteiros em uma caixa, é im-
provável que um cliente faça
compras nesse volume. A mu-
dança nas operações para aten-
der ao mercado do varejo repre-
senta custos adicionais que re-
duzem a margem de lucro.
Jaffe diz que as vendas da fa-
zenda à Mike’s Organic aumen-
taram 20 vezes nos dois meses
mais recentes, mas a receita da
fazenda caiu. “Meus custos au-
mentaram, pois temos que cor-
tar tudo e embalar.”
Tim Topi, proprietário de
uma padaria em Norwalk, Con-
necticut, perdeu 60% do seu
movimento com o fechamento
dos restaurantes. Sua equipe de
25 funcionários produzia 2.000

pães por dia, e subitamente
as encomendas caíram para
400 unidades. Mas, já no iní-
cio de maio, graças a uma alta
no varejo e uma nova opção
de entrega em domicílio, a pa-
daria voltou à produtividade
habitual e sem demissões.
“O movimento está 20% a
30% mais fraco neste ano em
relação ao mesmo período
do ano anterior. Temos mais
trabalho. Precisamos emba-
lar os pedidos individuais, e
os gastos aumentaram”, diz.
Segundo ele, no novo mode-
lo, a padaria pode evitar o pre-
juízo por mais seis meses.
Ambos os proprietários
destacaram que, no momen-
to, manter o negócio funcio-
nando era mais importante
do que recuperar a receita an-
terior. Topi disse que contra-
tar e treinar um novo grupo
de padeiros seria um procedi-
mento caro, podendo afetar
seu empreendimento depois
da crise, pois todos os pães
são feitos artesanalmente.
Jaffe disse temer algo pior:
abater animais cuja carne
não teria comprador. “Se in-
terrompêssemos o trabalho,
seriam necessárias de 14 a 20
semanas para retomar.”
A questão que se colocará
é como as coisas ficarão quan-
do os restaurantes reabri-
rem e as compras no merca-
do deixarem de ser uma ope-
ração tão complicada. “Mais
do que nunca, ninguém sabe
como será o futuro”, disse
Geller. “É tão difícil prever a
situação daqui a dois meses,
que dirá em um ano.” /
TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Boom de pedidos propõe dilema de encolher depois


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Nos EUA. Mike Geller viu pedidos semanais de produtos orgânicos irem de 250 a 5.000

CHANG W. LEE/NYT

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CLASSIFICADOS O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 24 DE MAIO DE 2020
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