O Estado de São Paulo (2020-05-25)

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A14 SEGUNDA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


MAURO CEZAR


PEREIRA


Esportes

A


fonso Celso Garcia Reis, o
Afonsinho, era bom de bola.
Usava barba e cabelos com-
pridos em plena ditadura militar.
No auge da repressão, entre os anos
1960 e 1970 sua imagem era a rebel-
dia em campo. Brigou pela liberda-
de ao recorrer à justiça reivindican-
do o passe livre, que virou nome de
documentário sobre sua trajetória,
quatro anos depois de sua luta.
Para quem não é dessa época e
tem dificuldade de entender, pela
antiga lei, o clube, ou seja, o empre-
gador, poderia reter o atleta mesmo
depois do encerramento do contra-

to. Afonsinho bateu de frente com os
dirigentes do Botafogo em 1970, foi co-
locado de lado, encostado, então recor-
reu para romper tal vinculo sórdido e
unilateral.
Na entrevista a João Prata no Esta-
dão de domingo, o ex-jogador, que
também é médico, falou sobre a impos-
sibilidade de voltarem a jogar futebol
no Brasil neste momento. “Não há a
menor condição (...). A pandemia é
uma questão sanitária, de saúde univer-
sal. O momento político é desastroso.
Essa história de já pensar em abertura
aqui é um absurdo (...). Não temos
condições nem com protocolos espe-

cíficos”, disse o homem que foi um
meio-campista técnico e até hoje tem
seu nome ligado à luta travada há meio
século.
Para alguém que contestava quando
o ambiente no país desencorajava qual-
quer tipo de questionamento, Afonsi-
nho obviamente estranha a postura de
tantos jogadores atuais que têm fama,
dinheiro e independência até. Mas que
basicamente compõem. Não fazem o

que poderiam pela classe, pelos que ga-
nham pouco, em alguns casos, nem
por eles mesmos. “Faz muita falta o
posicionamento dos atletas. O joga-
dor é um interlocutor de grande alcan-
ce. Não tem dúvida que é um proble-
ma”, disse, antes de concluir: “Hoje
existe essa retração pelas condições de
o cara ficar isolado, de ser blindado por

assessores, empresários.”
Sem dúvida. Jogadores de sucesso
são frequentemente cercados por par-
ças e uma infinidade de amigos, daque-
les de fé, da infância até, aos de oca-
sião, pela conveniência. Nesse clima,
reflexões mais profundas, cuidados
além do óbvio e do próprio umbigo são
raros, limitados a alguns poucos mais
conscientes do próprio papel.
A volta do futebol que, neste momen-
to, Afonsinho condena, é vista como
precipitada e até absurda devido ao
constante crescimento do número de
casos de covid-19 no país. Se os Esta-
dos Unidos lideram disparadamente o
ranking de infectados e mortos pela
doença, o Brasil já é segundo do
ranking mundial, à frente da Rússia,
onde a curva cai, como ocorre no pró-
prio território americano, Grã-Breta-
nha, Itália, Espanha... Aqui ela cresce.
Continuamente!
Mas os jogadores seguem em silên-
cio. Nesta semana, mesmo sem autori-
zação da secretaria municipal de saúde

do Rio de Janeiro, tampouco das au-
toridades ligadas ao governo do Es-
tado, o Flamengo treinou. E está do-
brando, na marra, quem estabelece,
ou deveria estabelecer, as regras pa-
ra a retomada de atividades específi-
cas. Quanto aos atletas, foram às re-
des sociais apoiar a iniciativa dos di-
rigentes.
Óbvio que os jogadores têm o di-
reito de concordar com o comando
do clube. Mas é curioso que em
meio a dezenas deles, nenhum se po-
sicione de forma minimamente des-
confiada em meio aos números de
contaminados o Rio, terceiro dessa
lista e segundo em quantidade de
óbitos, atrás apenas de São Paulo.
Nesse cenário, por mais que o clube
tenha criado uma eficiente bolha de
segurança dentro de seu Centro de
Treinamentos, é estranho que nin-
guém demonstre receio.
E isso acontece 50 anos depois de
Afonsinho enfrentar, e vencer, car-
tolas de futebol.

Felipe Rosa Mendes


Se a nova geração de desta-
que do Brasil no automobilis-
mo tem sobrenomes conheci-
dos como Fittipaldi e Piquet,
a próxima poderá ser lidera-
da por um garoto de nome ain-
da pouco conhecido. E nem
poderia ser diferente. Afinal,
Miguel Costa tem apenas 11
anos. Mas já é considerado ta-
lento precoce. Ele acumula
elogios entre os veteranos do
País e se tornou o mais jovem
brasileiro a integrar uma aca-
demia de jovens pilotos, da
equipe Sauber.
Miguel vem chamando mais
atenção fora do País. Não por
acaso. Ele nasceu em Miami,
nos Estados Unidos, e nunca
morou no Brasil. Mesmo assim,
tem dupla cidadania. Seus pais,
brasileiros, são seus maiores in-
centivadores no esporte.
“Foi meu pai que me mos-
trou a primeira corrida de Fór-
mula 1 na tevê. Ele corria de
kart, é piloto amador. E me le-
vou para uma corrida. Eu fui pa-
ra a pista e adorei a sensação
desde a primeira vez que dirigi.
Eu tinha só três anos”, afirmou
ao Estadão o jovem talento, fa-
lando em português, mas com
um com leve sotaque norte-
americano. “Eu me apaixonei
pela corrida. Queria fazer mais
e mais. Ia sempre para a pista,
todo final de semana.”
A prática constante levou o
menino às primeiras competi-
ções já aos 5 anos. Foi quando
estreou em competições regio-
nais antes de disputar o SKUSA,
um dos campeonatos mais tra-
dicionais de kart no mundo. Em
2017 ele foi o mais jovem piloto
a vencer uma etapa do Florida
Winter Tour. Quando não está
na pista, Miguel corre para o si-
mulador. Ele admite que, se os
pais deixarem, fica o dia todo
em função do kart. “Eu chego


em casa da pista e vou para o
simulador.”
A rápida evolução creden-
ciou o garoto para disputar o De-
safio Virtual das Estrelas, com-
petição online realizada para
movimentar os pilotos brasilei-
ros em meio à pandemia. Mi-
guel disputou contra pilotos do
calibre de Felipe Massa, Ru-
bens Barrichello e Enzo Fittipal-
di. E não se intimidou. Foi a sen-
sação do evento, terminando
no sétimo lugar geral entre 53
competidores. O menino de 11
anos foi o único a chegar no Top
10 em nove das dez provas.
Mais importante que a colo-
cação final foram os elogios co-
lhidos ao fim da disputa. “Eles
me elogiaram bastante, falaram
que estou indo muito bem. Fui
bem em quase todas as corri-
das. Adorei muito”, disse Mi-
guel, que já conhecia pessoal-
mente alguns rivais, como o pró-
prio Massa.

Acompanhando a carreira do
garoto desde o início, o ex-pilo-
to da Fórmula 1 até já brincou
com o pai de Miguel ao chamá-
lo de “insano” por ter permiti-
do ao menino, ainda com cinco
anos, pilotar karts do tipo Rok e
Rotax, que são os mais potentes
da categoria.
O bom resultado e os elogios

confirmaram o que a Sauber já
havia notado no jovem piloto
brasileiro. No início do ano, Mi-
guel foi incluído na academia
de jovens pilotos do time, que
pertence agora à Alfa Romeo.
“Eles me ajudam muito, me for-
neceram um treinador. Acho
que fui em sete ou oito corridas
com eles na Itália”, afirmou o
brasileiro, que sonha com a pos-
sibilidade de testar o simulador
da sede da Sauber. O passo se-
guinte será acompanhar in loco
um Grande Prêmio de Fórmula
1 com a escuderia.
A entrada na academia é o pri-
meiro passo de Miguel para rea-
lizar seu sonho de se tornar pilo-
to da principal categoria de au-
tomobilismo do mundo. No mo-
mento, a sua referência é o ale-
mão Sebastian Vettel, tetracam-
peão mundial, mas ele também
se diz fã dos brasileiros Ayrton
Senna, Massa, Rubinho e ainda
Emerson Fittipaldi.

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Falta o mínimo de rebeldia


TYSON VAI ASSINAR ACORDO
PARA VOLTAR NESTA SEMANA

Carioca deve


retornar no


meio de junho


DEDICAÇÃO

]Mike Tyson, 53 anos, confirmou
que vai assinar nesta semana o con-
trato para voltar aos ringues, em en-
trevista ao programa Young Money

Radio Show. “Temos estado em liga-
ções, estamos negociando agora
mesmo. Você não vai acreditar nos
nomes quando eles saírem”, disse o
ex-campeão mundial dos pesos-pesa-
dos. A última luta dele foi em 2005,
uma derrotado para Kevin McBride.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


O futebol no Rio de Janeiro de-
ve ser o primeiro no Brasil a ter
o seu Estadual de volta mesmo
em meio à pandemia do novo
coronavírus, que paralisou to-
das as competições pelo País no
início de março. Em uma reu-
nião ontem, entre a prefeitura
do Rio de Janeiro, a Federação
de Futebol do Estado do Rio de
Janeiro (Ferj) e 14 dos 16 clubes
que disputam o Campeonato
Carioca – apenas Fluminense e
Botafogo não enviaram repre-

sentante –, foi debatido um pla-
no para que o torneio seja reto-
mado no meio de junho.
Em nota oficial, a Ferj comu-
nicou que se reuniu no Riocen-
tro, na zona oeste do Rio de Ja-
neiro, com Marcelo Crivella e
com dirigentes de América,
Americano, Bangu, Boavista,
Cabofriense, Madureira, Portu-
guesa, Macaé, Nova Iguaçu, Fla-
mengo, Vasco, Volta Redonda,
Friburguense e Resende.
“O prefeito revelou que o Co-
mitê Científico classificou co-
mo irrepreensível o Protocolo
Jogo Seguro de retorno aos trei-
namentos, produzido pela Ferj
e os médicos. Houve entendi-
mento de que, sob a orientação
e acompanhamento dos clubes,

os jogadores estão mais bem
cuidados e em maior seguran-
ça”, informou a entidade.
Ainda no texto, a Ferj diz que
existe a “previsão de volta do
futebol possivelmente para
meados de junho, mas sem pú-
blico, e os clubes devem progre-
dir, passo a passo, com fase de
avaliação clínica, testes físicos,
exercícios de reabilitação dos
efeitos da inatividade muscular
e atividades de recuperação da
capacidade laborativa.”
Marcelo Crivella e o presiden-
te da Ferj, Rubens Lopes, de-
vem se manifestar apenas hoje,
quando uma nova reunião, des-
ta vez na sede da entidade, será
realizada para discutir nova-
mente o retorno do futebol.

STEVE MARCUS/REUTERS

Reflexões mais profundas,
cuidados além do óbvio e do
próprio umbigo são raros

Automobilismo. Miguel Costa chamou tanta atenção no mundo do Kart que foi convidado a integrar a academia de pilotos da escuderia


Referência. Vettel está entre os ídolos do piloto brasileiro

FOTOS RF

Aos 11 anos, brasileiro entra na Sauber


Destaque.
Jovem foi eleito
revelação do
Desafio Virtual

Miguel Costa
PILOTO DA ACADEMIA DA SAUBER

‘Eu me apaixonei


pela corrida. Ia para
a pista todo fim de
semana. E chego em

casa da pista e vou
para o simulador’
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