O Estado de São Paulo (2020-05-25)

(Antfer) #1

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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2020 Economia B


Lucro caiu 25%


em função das


provisões


LEILÕES DIÁRIOS DE VEÍCULOS

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A pandemia também fez os ban-
cos ampliarem os recursos re-
servados para compensar per-
das, com temor quanto ao im-
pacto futuro na inadimplência.
A leitura, ao menos até aqui, é
de que a crise será bem mais se-
vera que as anteriores, incluin-
do a desencadeada pela Opera-
ção Lava Jato e ainda a turbulên-
cia financeira de 2009.
O reforço nas provisões cus-
tou mais os bancos. No primei-
ro trimestre, as despesas com
provisões para devedores duvi-
dosos passaram dos R$ 30 bi-
lhões, um salto de cerca de 45%
em relação aos três meses ante-
riores.
Dos cinco grandes bancos, so-
mente Santander e Caixa não fi-
zeram o movimento de criar col-
chões para perdas adicionais
por conta da crise. “O balanço
da Caixa é, continua e continua-
rá extremamente sólido”, afir-
mou Pedro Guimarães, presi-
dente da instituição.
Como consequência de uma
postura mais conservadora dos
bancos, o lucro líquido combi-
nado de Itaú, Bradesco, Santan-
der, Banco do Brasil e Caixa en-
colheu 25,6% no primeiro tri-
mestre, para menos de R$ 18 bi-
lhões, na comparação com o
mesmo período de 2019, quan-
do foi de mais de R$ 24 bilhões.
“Mesmo mantendo níveis
confortáveis de solidez, liqui-
dez e capitalização, a atual crise
também atingiu o setor bancá-
rio”, disse Isaac Sidney, presi-
dente da Febraban. /A.B.

Aline Bronzati


Os cinco maiores bancos bra-
sileiros têm em mãos recur-
sos equivalentes à toda a eco-
nomia brasileira. Turbinado
pelo aumento de crédito para
suprir a demanda maior du-
rante a pandemia de corona-
vírus, o volume de ativos to-
tais das instituições financei-
ras atingiu R$ 7,36 trilhões ao
fim de março, superando, pe-
la primeira vez, o Produto In-
terno Bruto (PIB) brasileiro,
que foi de R$ 7,3 trilhões em
2019, conforme dados do Ins-
tituto Brasileiro de Geogra-
fia e Estatística (IBGE) publi-
cados em março.
O resultado ocorreu em meio
à expansão do crédito, enquan-
to a economia brasileira tenta
ganhar tração. Do fim de 2017
para cá, a correlação crédi-
to/PIB subiu de 47,1% para
48,9%, segundo o Banco Cen-
tral. Se for considerado apenas
o crédito livre, com o qual os
grandes bancos atuam, o avan-
ço foi ainda maior: subiu de
23,6% para 28,8%.
O presidente da Federação
Brasileira de Bancos (Febra-
ban), Isaac Sidney, afirmou que
o aumento na proporção entre
ativos dos bancos e o PIB tem
correlação direta com a expan-
são do crédito nos últimos anos
frente ao desempenho econô-
mico. “O aumento na relação
crédito/PIB não é sinônimo de
maior rentabilidade ou lucro.”
Além disso, em momentos de
crise os bancos atraem maior
volume de depósitos, uma vez
que o investidor busca mais se-
gurança, segundo Claudio Galli-
na, diretor sênior de institui-
ções financeiras da Fitch Ra-
tings para América Latina. “As-
sim, a liquidez do sistema (que
já vinha muito boa e robusta) au-
menta mais”, disse. “Isso indica
que os bancos teriam até mes-
mo mais dinheiro para empres-
tar.”
Com a crise, o crédito ganhou
impulso adicional com a explo-
são da demanda nos grandes
bancos. O saldo conjunto dos
empréstimos nas cinco maio-
res instituições cresceu quase
R$ 176 bilhões no primeiro tri-
mestre em relação ao fim de de-
zembro, totalizando R$ 3,31 tri-
lhões. Em um ano, o aumento
foi de quase R$ 348 bilhões.
O salto nas carteiras foi capi-
taneado, principalmente, por
empréstimos a grandes empre-
sas. O movimento foi acompa-
nhado por uma enxurrada de
críticas aos grandes bancos, por
restringirem o crédito e eleva-
rem juros em meio à turbulên-
cia, a despeito da injeção de R$


1,2 trilhão de liquidez em medi-
das do Banco Central para apoi-
ar o sistema financeiro no en-
frentamento da covid-19.
Os bancos anunciaram uma
série de medidas de apoio finan-
ceiro, mas admitem que, diante
da piora do risco na economia, é
natural maior rigor no crédito.
O presidente do Itaú Uniban-
co, Candido Bracher, afirmou
semana passada não ser possí-

vel o crédito crescer no mesmo
ritmo da demanda, que deve se
reduzir daqui para frente. “O
crescimento do crédito será
muito mais baixo, se é que have-
rá crescimento em 2020”, dis-
se, em transmissão ao vivo.

Renegociações. Os bancos já
concederam mais de R$ 540 bi-
lhões em créditos na pandemia,
segundo balanço da Febraban,
considerando novos emprésti-
mos, renovações e posterga-
ções de parcelas. Para os próxi-
mos meses, a expectativa é de
que o crédito novo ceda espaço
a uma onda de renegociações e
reestruturações de dívidas de
empresas que viram seu fatura-
mento despencar.
No segmento de pessoa físi-
ca, a demanda por crédito caiu

no primeiro trimestre, mudan-
do a dinâmica vista até então.
Esse movimento deve conti-
nuar, com o aumento do desem-
prego e a perda de renda.
A queda, principalmente no
financiamento imobiliário,
obrigou a Caixa a rever suas pro-
jeções. “De fato, a crise muda
toda a dinâmica. A demanda de
crédito vem sendo totalmente

diferente. Estamos avaliando”,
afirmou Pedro Guimarães, pre-
sidente do banco público, du-
rante a publicação do balanço
do primeiro trimestre.
Em uma perspectiva de mé-
dio e longo prazo, o presidente
e fundador da Mauá Capital e
ex-diretor do Banco Central,
Luiz Fernando Figueiredo, vê
maior pressão por parte das fin-

techs na disputa por recursos
com os grandes bancos, que foi
comprometido na crise. Os pró-
prios pesos pesados do setor ad-
mitem que a trégua é temporá-
ria. “Com os reflexos do juro
mais baixo, mais decente, e
uma maior concorrência vinda
das fintechs, o Brasil está se tor-
nando mais normal, mas a crise
atrapalhou.”

Vinicius Neder / RIO


O Banco Nacional de Desenvol-
vimento Econômico e Social
(BNDES) estima ficar com
uma parcela entre 20% a 25%
dos empréstimos emergen-
ciais para socorrer as distribui-
doras de energia elétrica em
meio à crise da pandemia de co-
vid-19. Entretanto, o banco de
fomento trabalha para atrair
mais instituições financeiras
para o sindicato de bancos res-
ponsável pela operação, o que


poderá reduzir essa fatia, disse
ontem uma fonte que acompa-
nha a discussões e que pediu
para não se identificar.
Dessa forma, o BNDES en-
trará com, no máximo, R$ 3,
bilhões, já que o teto do finan-
ciamento será de R$ 15,5 bi-
lhões. A expectativa do sindica-
to de bancos coordenado pelo
BNDES é liberar os recursos
na segunda quinzena de junho,

disse a fonte.
O próximo passo do socorro
ao setor elétrico é a edição de
uma resolução da Agência Na-
cional de Energia Elétrica (A-
neel). O texto deverá ser apre-
sentado na reunião ordinária
do órgão amanhã e ficará em
consulta pública por uma sema-
na. Só depois disso, será aprova-
da a resolução.
A norma apresentará o teto
para o valor total da operação e
a divisão por empresa. O total
do financiamento poderá ser
menor do que o teto, já que de-
penderá dos pedidos de cada
empresa.
O sindicato coordenado pelo
BNDES incluirá, pelo menos,
Banco do Brasil, Bradesco, Itaú
e Santander. Segundo a fonte
ouvida pelo Estado, apesar do

rito da consulta pública, o BN-
DES já começará nesta semana
road show para apresentar a
operação a outras instituições
financeiras, entre bancos de in-
vestimento nacionais e estran-

geiros.
Para a diretoria do BNDES, a
atração de mais bancos sinaliza
para uma “tendência” de redu-
ção na fatia da instituição de fo-
mento no total da operação e

poderá, com mais competição,
reduzir os juros cobrados das
empresas.
Até semana passada, as nego-
ciações sinalizavam para juros
e spreads em torno de CDI (ta-
xa interbancária de referência,
que segue de perto a taxa básica
de juros, Selic, hoje em 3% ao
ano) mais 2% a 2,5% ao ano.
Conforme a fonte ouvida pela
reportagem, porém, o desenho
final das condições surgirá des-
se road show.

Ativos regulatórios. “Os ban-
cos têm interesse, é vantajoso.
As garantias são muito boas,
afirmou a fonte que pediu ano-
nimato, lembrando que as ga-
rantias dos empréstimos serão
ativos regulatórios, ou seja, a
permissão, dada pela Aneel e pe-
lo governo, para que as distribui-
doras repassem parte dos cus-
tos com o financiamento emer-
gencial para a conta de luz.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lLiquidez

l Montante

BNDES deve financiar até 25% do pacote do setor elétrico


O desafio de encontrar bons investimentos. Pág. B6 }


“Em momentos de crise os
bancos atraem maior
volume de depósitos, uma
vez que o investidor busca
mais segurança.”
Claudio Gallina
DIRETOR DA FITCH RATINGS

BETO NOCITI/BCB

Ativos de bancos


somam a R$ 7,4 tri


e superam PIB


Resultado é registrado em meio à expansão do crédito, sobretudo


para grandes empresas, que buscam recursos para superar a crise


Proporção. Sidney, da Febraban, diz que alta dos ativos tem a ver com expansão do crédito

WILTON JUNIOR / ESTADÃO – 28/02/

R$ 15,5 bi
deve ser o montante de financia-
mento para socorrer o setor elé-
trico brasileiro; desse total, BN-
DES deve arcar com uma parcela
de R$ 3,9 bi

Operação. BNDES espera reduzir sua fatia no pacote

Banco estatal quer atrair


novas instituições para o


sindicato de bancos que


fará a operação de
socorro às distribuidoras

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