O Estado de São Paulo (2020-05-25)

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H2 Especial SEGUNDA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]

A Caixa deve anunciar, essa
semana, a liberação do paga-
mento do auxílio emergen-
cial por meio de adquirentes.
Isto é, quem vendeu para al-
guém que recebeu ou recebe-
rá o coronavaucher, poderá
ser pago diretamente pelo
banco. Indagado ontem pela
coluna, Pedro Guimarães,
presidente da instituição fi-
nanceira, se limitou a dizer
que “a medida está em tes-
tes”. Sobre sua fala durante a
gravação da reunião de Bolso-
naro com sua equipe – realiza-
da em 22 de abril e liberada
pela Justiça – o economista,
com mestrado na FGV do Rio
e PhD em Rochester, nos
EUA, afirma quer não tem
mais nada a dizer além da no-
ta que ele soltou por meio de
sua assessoria. Lá, explica
que “me encontrava sob forte
emoção” e que “em nenhum
momento pretendi desabo-
nar pessoas ou institui-
ções”.

É fato que Guimarães, ano
passado, teve que garantir o
saque do FGTS para 60 mi-
lhões de brasileiros – o que
exigiu dois meses de trabalho
interno para começar a ser
concretizado. Desafio pa-
recido voltou à sua me-
sa, semanas atrás, quan-
do o governo anun-
ciou, por meio do Mi-
nistério da Cidadania,
a distribuição da aju-
da emergencial de
R$ 600. “Nosso pra-
zo foi de cinco dias
para começarmos a
pagar”, explica. Em
parceria com a Data-
prev contratada para
montar toda base pa-
ra evitar duplicidade
ou fraudes no paga-
mento, a Caixa rece-
beu do ministério o
papel de desenvolver
aplicativo para creden-
ciamento e pagamen-
to. Calculou-se o núme-
ro de pessoas: não ultra-
passaria 50 milhões. No
fim das contas, revela

Guimarães nesta entrevista – a
primeira exclusiva que dá em
tempos de pandemia – se ca-
dastraram “cerca de 100 mi-
lhões de brasileiros, quase me-
tade da população”. As filas fo-
ram históricas, houve dificulda-
des no acesso ao sistema digi-
tal montado. Para o futuro – a
prorrogação do auxílio emer-
gencial depende de decisão de
Bolsonaro e Paulo Guedes –
ele espera que a lição tenha ser-
vido: “Já temos a operação or-
ganizada, sabemos quem vai re-
ceber e onde estão”.

Como a Caixa reagiu ao receber
a tarefa de distribuir R$ 600 para
milhões de brasileiros, tudo de
uma vez?
Tivemos no ano passado o
maior programa, até então, da
Caixa, o saque do FGTS para
60 milhões de brasileiros. Fo-
ram dois meses para nos prepa-
rar. Nessa distribuição emer-
gencial, a lei foi promulgada
em 2 de abril e no dia 7 já está-
vamos com o aplicativo de mi-

lhões de pessoas. No dia 9, já
estávamos pagando a 2,5 mi-
lhões. Essa questão é impor-
tante no momento atual, por-
que revela, de um lado, a ago-
nia, o auxílio urgente a deze-
nas de milhões de pessoas e,
de outro, a urgência da vida,
evitar-se a aglomeração. Ficou
a Caixa toda em função desse
pagamento. Cerca de 8 mi-
lhões num só dia. O que acon-
teceu? Filas.

lMas vocês não aproveitaram
alguma base do FGTS que paga-
ram no ano passado?
Foi muito difícil. Pegamos so-
mente os 19 milhões de inscri-
tos no Bolsa Família, grupo
que não se alterou. De outros
30 milhões a gente não tinha
nenhuma informação. Existia
um grupo do Cadastro Único,
mas a base de dados teve de
ser refeita, pois a maioria não
tinha a ponta digital. Olha, a
Caixa está acostumada a pagar
grandes benefícios, mas nada
se compara ao que a gente pa-

gou agora.

lTeve reclamação de filas em
tempos de pandemia. Como foi
isso?
Claro que a fila estava muito
grande. A gente teve que re-
solver e com foco. Nessa
questão, eu acho as críticas
da imprensa fundamentais.
Mas não havia grande base
de dados. Ninguém podia
imaginar que 50 ou 70 mi-
lhões de pessoas fossem se
cadastrar. No final, sabe
quantos se cadastraram? Uns
100 milhões de brasileiros.
Metade da população.

lO recebimento da segunda par-
cela também vai ter filas?
Não, organizamos por mês de
nascimento. Nesta semana (a
passada) e na próxima (a de
agora) mais de 30 milhões vão
receber sem fila. Nos outros
dez dias, mais 30 milhões.

lOs que não têm conta têm de ir
ao banco, não?
Há três semanas atrás ia todo
mundo. Ia quem tinha direito,
quem não tinha, quem estava
sob análise, quem não havia
conseguido... Mas como 50 mi-
lhões já receberam, deu uma
acalmada, as pessoas já têm
certeza de que vão receber. En-
fim, a maior parte de pessoas
não tinha noção se podia ou
não receber. Mas nos últimos
dez dias as filas foram bem me-
nores, eu diria que normais. O
que a gente quer reforçar ago-
ra é que ninguém precisa ir de
madrugada. Já temos a base de
dados, organizada por mês de
nascimento, separamos os gru-
pos de Bolsa Família, de quem
não tinha conta digital.

lPode explicar melhor as tare-
fas da operação, quem fez o quê,
por que aconteceram pagamen-
tos indevidos?
No caso do auxílio emergen-
cial, a portaria do Ministério
da Cidadania contratou a Cai-
xa e a Dataprev. O papel da Cai-
xa foi desenvolver um aplicati-
vo para credenciamento e fa-
zer o pagamento. Cabia à Data-

prev aplicar a elegibilidade.
Eles pegaram critérios da lei,
“conversam” com o sistema
do INSS, com o da Receita Fe-
deral. Mas não “conversa-
ram” com a Defesa, apesar de
militares terem recebido. En-
fim, a relação entre as bases
não foi a ideal. No cruzamen-
to com a Receita, por exem-
plo, não olharam direito os de-
pendentes, gente da classe
média que está desempregada
e recebeu, mesmo sendo filho
de quem tinha renda.

lFaltou uma campanha prévia
de esclarecimento geral?
Há uma coisa em vias de ser fe-
chada: parceria do Ministério
da Cidadania com os Correios.
Vai facilitar muito porque Cor-
reio tem em qualquer lugar. E
a gente está com carros de
som nas periferias, contratou
outdoor social – no qual você
paga pra pessoa pra usar o mu-
ro dela e dar o aviso.

lHá outros benefícios que a Cai-
xa vem dando, para micro e pe-
quenas empre-
sas. Dias atrás, a
Luiza Trajano, do
Magazine Luiza,
me disse que pa-
ra esses casos a
Caixa tem de se
alinhar com o Banco do Brasil.
Os pequenos precisam de liqui-
dez, os micro estão desespera-
dos, dizendo que o dinheiro não
chega?
Olha, no auxílio emergencial,
mais 52 bancos estão partici-
pando. No caso, é preciso en-
tender o foco de cada banco. O
foco da Caixa nesta gestão é o
crédito imobiliário, auxílio so-
cial, com microcrédito e obras
de infraestrutura ligadas ao sa-
neamento. Temos total interes-
se nessa questão das pequenas
empresas. O que precisa ficar
entendido, porém, é que isso
não é uma doação. Sabemos
que muita gente já tinha pro-
blema antes da crise.

lNo caso dos recursos do BN-
DES ao micro e pequeno em-
preendedor, como é esse repas-
se?
Há uma lei, ainda a ser pro-
mulgada, esses detalhes preci-
sam ser operacionalizados.
Ainda não temos essa linha
operacional fechada. Prova-
velmente, no BNDES, quem
pegará esse recurso serão as
fintechs, os bancos médios.
No auxílio emergencial há
mais de mil sites que aceitam
o Caixa Tem.

lNo início do ano passado, quan-
do você assumiu a Caixa, o que
esperava? E o que acha hoje?
A Caixa mudou a minha vida.
Digo isso de coração. Come-
cei a viajar junto com a equi-
pe pelo Brasil inteiro. Nunca
tive facilidade na vida, perdi
meus pais há muito tempo,
nunca tive dinheiro. Ao en-
trar na Caixa já era clara, pra
mim, essa necessidade de
equilibrar a maximização do

resultado com a ajuda so-
cial. Foi o que fizemos.

lQuando você assumiu, tal-
vez tenha pensado: o Brasil já
tem o Banco do Brasil, pra que
a Caixa? Como você vê is-
so?
Tenho total liberdade para
tocar o banco. Não há ne-
nhum tipo de indicação. E
posso dizer que tiramos a
Caixa de uma situação ina-
ceitável, ela não tinha nem
balanço, desde 2016, por-
que nenhuma auditoria
aceitaria assinar um balan-
ço que tivesse um montão
de maluquices. Fizemos
uma série de coisas ano
passado, como vender
ações da Petrobrás, só aí fo-
ram R$ 8,5 bilhões. O que
precisamos fazer mais?
Abrir o capital das opera-
ções de seguridade, car-
tões, assets, loterias. Isso é
um passo grande para a
questão da governança cor-
porativa. Para dialogar
com mais brasileiros e in-
vestidores es-
trangeiros.

lCom o mapea-
mento desses
novos brasileiros
que não têm con-
ta, para quem vocês pagaram
R$ 600,00 a perspectiva é de
conseguir mais clientes?
Certamente, para o micro-
crédito. Gente que, quando
tinha acesso a crédito, tinha
de pagar 20% ao mês. Prati-
camente ninguém tinha mi-
crosseguro. Estamos focan-
do o digital e queremos
manter esse público. O Cai-
xa Tem exige uma memória
15 vezes menor que a mé-
dia, pode ser acessado num
simples celular pré-pago.

lNessa inclusão toda, a Caixa
corre risco de ter prejuízo?
Não, ela é um banco da ma-
temática. Nunca tivemos
tanto lucro, o do ano passa-
do foi recorde. Não posso
adiantar aqui, mas em um
ou dois dias vamos anun-
ciar o balanço do primeiro
trimestre, muito sólido.
Não fazemos nada que seja
para perder dinheiro. Por-
que, se não for assim, o go-
verno vai ter de capitalizar
a Caixa, como já fez no pas-
sado. Foram colocados R$
40 bilhões numa coisa de
nome esquisito, Instrumen-
to Híbrido de Capital e
Dívida – porque há dez
anos atrás a Caixa distri-
buiu muito dinheiro barato
e mal dado.

lQual o índice de inadimplên-
cia?
É a menor inadimplência do
mercado. E por quê? Porque
temos uma grande carteira
imobiliária, que é a mais sóli-
da, pois tem uma garantia
real. Isso faz parte do nosso
legado, daqui a dois anos e
meio, ou seis anos e meio,
quando eu sair, a Caixa esta-
rá defendida.

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WALTERSON ROSA

“Sabe quantos? Uns 100 milhões de brasileiros”


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“TIRAMOS A CAIXA
ECONÔMICA DE
UMA SITUAÇÃO
INACEITÁVEL”

A Caixa teve cinco dias para montar a maior operação de distribuição de recursos do País


Encontros PEDRO GUIMARÃES

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