O Estado de São Paulo (2020-05-25)

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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2020 Especial H5


Caderno 2


DE ‘A FAVORITA’,


MARCO DA TV


VOLTA


Sucesso em 2008, novela de João Emanuel Carneiro fez


história por quebrar regras e estreia hoje no Globoplay


Luiz Carlos Merten


Na Tela Quente da Globo, às
22h37, o afetado John Spar-
row/Johnny Depp da série Pira-
tas do Caribe enfrenta seu maior
pesadelo quando Javier Bar-
dem ressurge do inferno em A


Vingança de Salazar. O duelo
dos atores, os efeitos, tudo con-
tribui para o megassucesso do
quinto filme da franquia. O sex-

to está em gestação.
Nesta segunda, 25, e fugindo
do noticiário da noite, o público
poderá antecipar Piratas do Ca-
ribe – A Vingança de Salazar, de
2017, com outro filme que vale a
pena (re)ver na sequência de
westerns que o Telecine Cult
costuma mostrar todo início de
semana. El Dorado é de 1967.
Passa às 19h40.
John Ford e Raoul Walsh já
haviam iniciado a década de
1960 com filmes como O Ho-
mem Que Matou o Facínora e Um
Clarim ao Longe, sobre a degra-
dação dos mitos do Velho Oes-

te. Howard Hawks deu sua
contribuição, repetindo a fór-
mula básica de Onde Começa o
Inferno, de 1959. Um xerife
tem de defender sua delega-
cia. Robert Mitchum está ve-
lho e bêbado. Chega John Way-
ne, também velho, mas só-
brio. Precisam de ajuda – um
jovem pistoleiro que não sabe
atirar, James Caan. E as mulhe-
res, que, como sempre em
Hawks, aumentam os perigos
dos homens. Para quem ama o
cinema de gênero, é uma ale-
gria só. Bangue-bangue, pira-
tas. E com muito humor.

Sem intervalo


Crônicas de SP*


Adriana Del Ré


Não é exagero dizer que a nove-
la A Favorita, exibida entre
2008 e início de 2009, na Glo-
bo, e que a partir desta segunda-
feira, 25, pode ser vista na ínte-
gra no Globoplay (leia mais ao
lado), foi um marco na teledra-
maturgia brasileira. Escrita pa-


ra o horário nobre por João
Emanuel Carneiro – que, anos
depois, faria outro clássico, Ave-
nida Brasil –, A Favorita que-
brou paradigmas do folhetim
tradicional. A começar pelas
protagonistas, que foram cons-
truídas sem maniqueísmos.
Quando foi ao ar, não se sabia –
pelo menos não até a metade da
novela – quem era a mocinha e
quem era a vilã da história: se
Flora (Patrícia Pillar) ou Dona-

tela (Claudia Raia). As atrizes
trabalhavam constantemente
com a ambiguidade de suas per-
sonagens. Ora parecia que Flo-
ra era a mocinha, ora Donatela;
ora uma dava todos os indícios
de que era a vilã, ora, a outra.
E assim o telespectador foi
sendo levado, sem certezas
quaisquer, até a grande revela-
ção, que ocorreu no meio do ca-
minho da novela, mais precisa-
mente no capítulo 60: Flora era

a verdadeira vilã. Mais uma ou-
sadia de João Emanuel: trazer a
reviravolta na metade da trama,
e não no final, como habitual-
mente ocorre em um folhetim.
Foi uma aposta e tanto do au-
tor e da Globo, concordam Pa-
trícia e Claudia, em entrevista a
jornalistas, via videoconferên-
cia, juntamente com Mariana
Ximenes, que interpretou Lara,
filha biológica de Flora e filha
adotiva de Donatela, e cujo
amor era disputado pelas duas.
“Depois que ele (o autor) con-
tou que no capítulo 60 ia reve-
lar, pensei: ‘que homem doido,
isso é um risco, vai contar de-
pois o quê?’”, lembra Claudia.
“Mas eu estava tão apaixonada
por ele como dramaturgo, e fui
vendo a coisa indo por um cami-
nho tão interessante que eu dis-
se: ‘vamos embora, vamos re-
criar, inovar, ousar, e assim foi.
Ter a coragem de entrar dentro
de um segmento que faz parte
do DNA brasileiro, onde todas
as pessoas estão acostumadas a
ver aquilo naqueles formatos, é
a chance de sair daquela caixi-
nha já conhecida e ir para outro
lugar. Isso se chama liberdade.”
Para Patrícia, embora, num
primeiro momento, o telespec-
tador possa ter se sentido enga-
nado, quando “todos os clichês
foram usados para levar as pes-
soas para um caminho X e não

era”, a história mexeu com o pú-
blico. “Ele (o autor) colocou to-
do mundo no jogo que ele pro-
pôs, foi uma coisa muito auda-
ciosa, moderna. Aqueles perso-
nagens enganaram o raciocí-
nio. O jogo foi o barato, essa in-
versão”, diz a atriz.

Amor e ódio. A Favorita fala do
amor entre duas irmãs de cria-
ção, que foram parceiras na du-
pla sertaneja Faísca e Espoleta e
fizeram sucesso com a canção Bei-
jinho Doce. Mas o amor virou
ódio, por causa da inveja, do res-
sentimento, da rivalidade por
parte de Flora. E um assassinato
levou Flora a ficar 18 anos na pri-
são. Patrícia e Claudia contam
que só elas, João Emanuel e o dire-
tor Ricardo Waddington sabiam
do ‘segredo’ das protagonistas.
Daí o desafio para as atrizes.
“Tentei construir um persona-
gem que fosse possível, factível,
verossímil nas duas possibilida-
des o tempo todo. Então, minha
tentativa era que, em cada cena,
Flora pudesse ser vista: ela está
atuando e ela está falando a ver-
dade. Foi o que tentei para não
dar bandeira em nenhum mo-
mento. E que, quando todo
mundo soubesse, que é o caso
de agora, as pessoas conseguis-
sem ver que tinha essa outra
pessoa morando ali dentro”,
afirma Patrícia.

Segundo Claudia, o grande de-
safio estava justamente na coe-
rência das personagens. “Essa
Dotanela, que era uma mulher
bruta, rude, que tinha controle
absoluto de tudo, parecia que ela
era mesmo uma vilã, mas tudo
isso tinha de ser, na verdade, en-
tendido quando a carapuça caís-
se”, diz. “Todo mundo enxergas-
se quem era quem, e que houves-
se uma coerência: por que ela fez
tudo isso?; por que ela tinha um
ódio que não cabia dentro dela
por Flora? Foi um trabalho de
muitas camadas, de muita con-
versa, de muita direção, para que
a gente chegasse a esse resulta-
do”, completa a atriz.
Confinada com o marido, o
ator Jarbas Homem de Mello, e
os filhos, Claudia revelou recen-
temente que eles foram infecta-
dos pelo novo coronavírus, mas
que já estão recuperados. Ela
acredita que tenha sido conta-
minada quando desceu no eleva-
dor do prédio, mesmo usando
máscara e álcool em gel. “Resol-
vi falar, porque comecei a ver as
pessoas completamente des-
controladas, na rua, nas casas fa-
zendo churrasco. Mas (no nosso
caso) foi muito brando”, conta.
“Não é um problema do Brasil, é
do mundo. Todas as economias
estão paradas, não tem nin-
guém contra o Brasil, está todo
mundo a favor do Brasil.”

Clara
Estrela
(Brasil 2017.) Dir. Susanna Lira e Rodrigo Alzu-
guir, pesquisa de Rodrigo e Renata Alzuguir,
pesquisa de imagem de João G. Joannou.

Luiz Carlos Merten

A mineira Clara Nunes fez história,
e não apenas na música, ao ressigni-
ficar a mestiçagem no País. Seus cli-
pes no Fantástico trouxeram os ori-
xás para a casa dos brasileiros. Cla-
ra era linda, guerreira. Morreu em
1983, no auge. A talentosa Susanna
Lira, de A Torre das Donzelas e Mus-
sum – Um Filme do Cacildis, une-se a
Rodrigo Alzuguir para contar sua
história. Dira Paes, em primeira
pessoa, faz a Clara narradora.
CURTA! , 21H30. P&B, COL., 71 MIN.

A


quarentena está devolvendo
à sociedade civil o direito de
usar pijamas. Por muitos
anos, a peça esteve identificada com
uma ala militar que, até então, jazia
aposentada em seus lares e detinha
o monopólio desse verdadeiro patri-
mônio universal. Mas o Brasil mu-
dou...
Agora, os pijamas são nossos ou-
tra vez. Podemos, enfim, ostentar
nossos pijamas sem nenhum cons-
trangimento político. Somos, de no-
vo, jornalistas de pijamas, médicos
de pijamas, advogados de pijamas,

engenheiros de pijamas e, claro, brasi-
leiros de pijamas.
Enquanto não acontece o mesmo
com o uniforme da Seleção Brasileira,
vamos aproveitar e inaugurar o único
movimento possível nesse momento
de nossas vidas: o pijamismo.
O pijamismo defende o direito inalie-
nável de qualquer cidadão usar pija-
mas em qualquer hora do dia ou da noi-
te. O pijamismo é plural, democrático
e humanista.
Não tive competência (ou coragem)
de virar vegetariano, vegano ou flamen-
guista, mas posso abraçar o pijamismo

como opção de vida.
Antes que a oposição venha me ati-
rar pedras, devo salientar que o pijamis-
mo combate a velha ideia pela qual se
relaciona o uso de pijamas à depressão.
Não, eu não estou triste! Estou feliz e
de pijama. De pijama expresso minha
plenitude e autoconfiança. Estamos
ou não vivendo uma prolongada festa
do pijama?
Acordo, tomo meu banho e visto o
meu pijama. Durante meu home office
já entrevistei autoridades e pessoas pú-
blicas com tal dress code. Se ouço algu-
ma resposta atravessada, tenho a vanta-
gem inequívoca de ouvi-la de pijama.
Meu pijama é meu escudo e minha ar-
madura.
Você pode estar conversando sobre
o mais sério dos assuntos (e quase tu-

do é muito sério ultimamente), mas, se
estiver de pijama, conseguirá manter a
leveza dos justos. Além disso, no meio
de uma discussão ou debate mais acalo-
rado, a pessoa de pijama quase sempre
terá razão. Meu pijama é meu ponto de
vista.
Tenho começado a tatear um nível
mais ousado de pijamismo, o pijamis-
mo outdoor. Não me furto em sair na
pequena sacada do meu apartamento
usando o meu pijama. Lá, tomo sol, as-
sisto performances e bato panelas –
sempre de pijama.
Também já exerço meu direito de
usar pijama na hora de descer para pe-
gar o delivery. Tenho contado com a
compreensão de porteiros e vizinhos.
Já vejo o pijamismo se espalhar pelo
meu condomínio.

Como sinto muito frio no pé, aca-
bo trazendo ao pijamismo um
acréscimo ideológico, que é o hábito
de usar meias com chinelo. Reco-
mendo muito.
O futuro do pijamismo é a rua. Por
enquanto, claro, vamos focar nas far-
mácias e supermercados. Fique em
casa, mas se precisar sair, use másca-
ra e pijama. Essa combinação é sexy
e perfeita.
E quando tudo isso acabar, prepa-
rem-se para ganhar todos os espa-
ços públicos. Vamos ao teatro de pi-
jama, vamos aos bares e restauran-
tes de pijama, vamos aos museus e
parques de pijama.
Por isso, lanço aqui as bases funda-
mentais desse movimento. Pijamis-
tas do mundo inteiro uni-vos.

CLÁSSICOS DA


TEVÊ ENTRAM
RAFAEL FRANÇA/TV GLOBONO STREAMING

‘EL DORADO’,


PARA QUEM


AMA CINEMA


DE GÊNERO


DESTAQUE
CANAL CURTA

Filmes na TV


O pijamismo


GILBERTO AMENDOLA

l]


lDe olho no público saudosista


  • e confinado em casa por conta
    no novo coronavírus –, o Globo-
    play estreia um projeto em que
    torna disponível, a cada duas se-
    manas, sempre às segundas-fei-
    ras, um clássico da Globo. O pri-
    meiro será A Favorita, que entra
    no catálogo do serviço a partir
    desta segunda, 25. Segundo a
    empresa, cerca de 50 títulos, já
    reexibidos no Vale a Pena Ver de
    Novo e no canal Viva ou nunca
    reprisados, estão em processo
    de resgate, sendo que 21 deles
    foram liberados para publicação.
    Outras cinco estreias já estão
    confirmadas: Tieta, Explode Cora-
    ção, Estrela-Guia, Vale Tudo e
    Laços de Família. Mas a lista,
    ampla, traz outras tramas, ainda
    sem data de publicação, como
    Dancin’ Days, Pai Herói, Guerra
    dos Sexos, Vereda Tropical, A
    Gata Comeu, Roque Santeiro,
    Sinhá Moça, Brega e Chique,
    Sassaricando e Bebê a Bordo.


Boa ou má? Donatela
e Flora: papéis
marcantes de Claudia
Raia e Patrícia Pillar
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