O Estado de São Paulo (2020-05-25)

(Antfer) #1

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A4 SEGUNDA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»SINAIS
PARTICULARES.
Fábio Trad,
deputado
federal
(PSD-MS)

»In loco. Para o presidente
da Confederação Nacional
dos Municípios, Glademir
Aroldi, o atraso tem impac-
tos diretos na economia lo-
cal. Ele lembra que os pro-
fissionais da Saúde também
poderão ser atingidos.

»Lentidão. Segundo Arol-
di, o Ministério da Econo-
mia informou que, a partir
da sanção, pode-se demorar
cerca de sete dias para os
valores chegarem nos co-
fres dos municípios. Assim,
os salários correm o risco
de ficar para depois do quin-
to dia útil de junho.

»Torneira secou. A CNM e
a Frente Nacional de Prefei-
tos destacam que, mesmo
com a recomposição de re-
ceitas que caíram e a ajuda
do governo federal, os muni-
cípios deverão enfrentar
ainda mais dificuldades a
partir do segundo semestre.

»Breu. “Até agosto vamos
sobreviver, mas, depois,
não há nenhuma ajuda pre-
vista”, afirmou Aroldi.

»Mudança. O Conselho
Federal da OAB se reuniria
virtualmente hoje para vo-
tar a autorização para conse-
lheiros concorrerem ao STJ.

»Como é? Mas a sessão foi
cancelada na véspera por
questões sanitárias. Apesar
de a reunião ser virtual, exi-
giria alguns funcionários na
sede da Ordem. Reservada-
mente, advogados atribuem
o adiamento à pressão: a
mudança não é consenso.

»Hoje não. Conselheiros
esperavam ainda poder dis-
cutir o impeachment de Bol-
sonaro na reunião.

»Vitória? No mesmo dia
em que os EUA proibiram a
entrada de estrangeiros pro-
venientes do Brasil, Ernes-
to Araújo comemorou a
doação de mil respiradores
de Donald Trump ao Brasil.

»Jogo... Uma ala da PGR
defende que a Lei de Abuso
de Autoridade, citada por
Bolsonaro em referência à
divulgação do vídeo da reu-
nião, pode acabar sendo
usada contra ele mesmo.

»... virou? A lei diz que exi-
gir informação ou cumpri-
mento de obrigação sem
expresso amparo legal pode
levar a uma pena de deten-
ção de seis meses a dois
anos, mais multa. Segundo
Sérgio Moro, Bolsonaro te-
ria pedido acesso a investi-
gações da Polícia Federal.

»Xadrez. Um subprocura-
dor acha que o trecho, nes-
se caso, não se aplica, por-
que cobrar informações é
“rotina” no Executivo.

»Checagem. O deputado
Fábio Trad (PSD-MS), que
atuou na elaboração da lei,
disse que falta comprovar
que o presidente “exigiu”
ter acesso a mais dados.

»Tá tranquilo. O Sindusfar-
ma (Sindicato da Indústria
de Produtos Farmacêuti-
cos) fez uma pesquisa com
54 das maiores empresas do
setor para saber se faltavam
insumos para produção de
remédios na pandemia. Só
3% disseram que sim.

COM MARIANA HAUBERT

A


demora do presidente Jair Bolsonaro em sancionar
a lei que autoriza o repasse direto da ajuda de R$ 60
bilhões para Estados e municípios enfrentarem os
efeitos da covid-19 deixou prefeitos de todo o País em esta-
do de alerta. Entidades municipalistas afirmam que pode
haver atrasos nos pagamentos dos salários de maio dos
servidores. As cidades têm sofrido com a queda na arreca-
dação e contam com o auxílio federal para recuperar seus
caixas. Bolsonaro tem até quarta-feira para sancionar a
proposta – que já está em sua mesa há quase 20 dias.

Prefeitos temem não


pagar salários de maio


MARIANNA HOLANDA (INTERINA*)
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Promessa de cortar 30%


dos cargos fica no papel


Executivo. O chamado gabinete do ódio ajudou a manter inchado o Palácio do Planalto,


que hoje emprega 3.395 funcionários, número só menor que o da gestão de Michel Temer


Tânia Monteiro / BRASÍLIA

Quase um ano e meio após o
início do governo, a promes-
sa de campanha do presiden-
te Jair Bolsonaro de cortar
30% dos cargos da administra-
ção pública não foi concreti-
zada nem mesmo no Palácio
do Planalto, que hoje empre-
ga 3.395 funcionários. O nú-
mero está perto de bater uma
marca histórica: é apenas
4,2% menor do que o registra-
do na gestão de Michel Te-
mer (MDB), que contava com
3.544 servidores.
O chamado gabinete do ódio,
núcleo liderado pelo vereador
Carlos Bolsonaro (Republica-
nos-RJ), ajudou a manter o Pla-
nalto inchado. A Assessoria Es-
pecial da Presidência, onde fica
o grupo de apoiadores do filho
“02” do presidente, ultrapas-
sou o número de servidores dos
governos anteriores.
Localizado no terceiro andar
do Planalto, ao lado da sala de
Bolsonaro, esse “departamen-
to” quase dobrou da época de
Temer para cá. Bolsonaro no-
meou 23 assessores especiais;
Temer, 13, Dilma Rousseff
(PT), 17, e Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), seu antecessor, 15.
O enxugamento da máquina
foi prometido por Bolsonaro vá-
rias vezes, ao longo da disputa
de 2018. Trata-se, porém, de
uma promessa longe de ser
cumprida. Agora, com as nego-
ciações para barrar eventual
processo de impeachment, o
presidente partiu para o “toma
lá, dá cá” explícito e negocia car-
gos com o Centrão – bloco de
partidos antes chamado por ele
de “velha política” –, em troca
de apoio no Congresso.
Quando era coordenador da
campanha de Bolsonaro, em
2018, Onyx Lorenzoni – hoje
ministro da Cidadania – che-
gou a dizer que o novo governo
promoveria um “corte inten-
so” e uma “despetização”. Em
novembro daquele ano, já elei-
to, Bolsonaro se reuniu com a
equipe de transição e, após ter
em mãos o número real de servi-
dores, informou que desbasta-
ria a máquina pública. “Não
posso falar o porcentual. No
mínimo, aí, 30%”, disse.
O corte em massa de apadri-
nhados petistas e emedebistas
no governo não representou
queda no número de pessoal,
mas apenas troca em massa por
bolsonaristas. As substituições
mantiveram a máquina incha-
da e os “puxadinhos” em pé.
“Puxadinhos” é o termo usado
para designar as repartições im-

provisadas nos andares do pré-
dio principal e do anexo do Pla-
nalto, para abrigar servidores.
Os assessores especiais não
são os únicos funcionários que
ficam no entorno do presiden-
te. Perto dele, no Gabinete Pes-
soal – a chamada “cozinha po-
lítica” do Planalto – trabalham
outras 166 pessoas. Esse nú-
cleo sempre existiu, em outros
governos, e acomoda a equipe
de execução de trabalhos do
presidente. Ali estão lotados
ajudantes de ordem, servido-
res da preparação da agenda,
do Cerimonial, da secretaria
particular, do acervo documen-
tal, do recebimento e respostas
das correspondências pessoais
e sociais.
Dados obtidos pelo Estadão
com a Diretoria de Administra-
ção da Presidência mostram
que, dos atuais funcionários do
Planalto – incluindo pessoal de
carreira e temporários –, 993
ocupam cargos de assessora-
mento superior, de livre provi-
mento, os chamados DAS.
Além da Assessoria Especial e
do Gabinete Pessoal, os servi-
dores do Planalto também es-
tão distribuídos nos quatro mi-
nistérios palacianos.
O Gabinete de Segurança Ins-
titucional (GSI) e a Secretaria-
Geral lideram o ranking inter-

no, com um terço dos servido-
res cada. O restante está lotado
na Secretaria de Governo (598)
e na Casa Civil (326).
No serviço público, as remu-
nerações dos DAS variam de R$
2,7 mil a R$ 16,9 mil. Os servido-
res do palácio recebem funções
comissionadas e gratificações
em diversos valores, que va-
riam de R$ 645 a R$ 6,2 mil. O
teto é estabelecido pelos salá-
rios do presidente e dos minis-
tros: R$ 30.934,70.
O GSI tem 1.138 servidores e
apenas 69 DAS. A maior parte
deles trabalha na segurança pre-
sidencial, reforçada em cerca
de 20% no atual governo. Técni-
cos da área justificam o aumen-
to da segurança pelo fato de Bol-
sonaro ter sofrido um atentado
a faca, em 2018. Já a Secretaria-
Geral, que cuida da administra-
ção do Palácio do Planalto, mas
ganhou atribuições da Casa Ci-
vil, tem agora 1.143 funcioná-
rios, 299 DAS.

Comitê gaúcho. Na disputa de
2018, quando ocupava o posto
de coordenador da campanha
de Bolsonaro, Onyx chegou a
anunciar uma tesourada em 20
mil cargos de confiança do go-
verno. Ao assumir a Casa Civil,
em janeiro de 2019, Onyx encon-
trou 497 servidores na pasta.

Não demorou para anunciar a
“despetização” do Palácio do
Planalto e a exoneração de 320
comissionados. Em seguida, po-
rém, houve uma espécie de “por-
teira aberta” para aliados do Rio
Grande do Sul.
Pré-candidato ao governo
gaúcho em 2022, o ministro já
contava, no fim de dezembro,
com 352 funcionários na Casa
Civil. Perdeu para a Secretaria-
Geral, porém, um dos princi-
pais braços de sua pasta, a Sub-
chefia de Assuntos Jurídicos
(SAJ). Bolsonaro tirou Onyx da
Casa Civil e o realocou na Cida-
dania. Desde a sua saída, a Casa
Civil cortou mais 26 servidores.
Na Esplanada, nas autarquias
e nas fundações, a promessa de
enxugar a máquina não foi cum-
prida. No fim do governo Te-
mer, em dezembro de 2018, ha-
via 32.694 cargos e funções co-
missionadas em todo o Executi-
vo. No último mês de março, o
mesmo número era de 31.872,
uma redução de apenas 2,5%.
Na prática, se for considera-
da apenas a administração dire-
ta, o número de cargos e fun-
ções comissionados caiu de
23.172 em dezembro de 2018 pa-
ra 22.079 – redução de 4,7%. Os
dados constam do Sistema Inte-
grado de Administração de Re-
cursos Humanos (Siape).

17 13 23


●Número de funcionários na estrutura direta do governo

SERVIDORES NO PLANALTO

FONTE: DIRETORIA DE ADMINISTRAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA INFOGRÁFICO/ESTADÃO

LULA DILMA BOLSONARO

2.

Número de servidores

Assessoria Especial da Presidência*

2.

3.346 3.431 3.
3.

3.370 3.329 3.445 3.362 3.

3.544 3.461 3.

2002 2006 2008 DEZ
2010

JUL
2011

DEZ
2011

MAI
2012

DEZ
2014

JUN
2015

MAI
2016

DEZ
2018

DEZ
2019

MAI
2020

POR GOVERNO

POR GOVERNO

FHC DILMA/TEMER

LULA DILMA TEMER BOLSONARO

15


*O ÓRGÃO FOI CRIADO EM 2003

João Amoêdo

BOMBOU NAS REDES!

ALBERTO BOMBIG
*O colunista está em férias.

DIDA SAMPAIO/ESTADAO – 4/12/

Estrutura. Ministérios palacianos, GSI e Secretaria-Geral lideram o ranking interno, com um terço dos servidores cada um

“Não podemos acreditar em ‘jeitinhos’, seguir ata-
lhos, buscar salvadores da pátria e aceitar com natu-
ralidade absurdos. O potencial brasileiro é enorme.”

Fundador e ex-presidente do Novo

»CLICK. Amigo de Bolso-
naro, o deputado Hélio
Lopes (PSL-RJ) pegou
carona no sobrevoo pre-
sidencial para ver o ato
pró-governo. Mas não
usaram máscaras.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
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