O Estado de São Paulo (2020-05-26)

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A10 TERÇA-FEIRA, 26 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


O prefeito do Rio, Marcelo Cri-
vella (Republicanos), declarou
ontem que as medidas atuais de
isolamento vão permanecer
válidas na cidade nesta semana.
Crivella, contudo, indicou que
o Rio poderá afrouxá-las no iní-


cio de junho. Bispo licenciado
da Igreja Universal do Reino de
Deus, o prefeito também deci-
diu incluir as igrejas na lista de
serviços essenciais.
“Não vamos relaxar as medi-
das de afastamento social. Deve-
mos esperar mais um período
para recomeçar o retorno às ati-
vidades”, disse Crivella. Uma
projeção do Painel Rio Covid-
19 prevê que a capital fluminen-
se chegue a 40 mil casos da
doença na próxima semana.
Ainda assim, as regras se tor-

naram mais brandas para as
igrejas, que agora passaram a
ser consideradas como serviço
essencial para a prefeitura. “As
igrejas são atividades essen-
ciais, e todas as atividades es-
senciais devem continuar fun-
cionando. É importante para a
população”, disse Crivella.
Na próxima semana, existe a
possibilidade de a prefeitura au-
torizar a abertura de lojas de mó-
veis e concessionárias de veícu-
los, “que não geram aglomera-
ção”, segundo o prefeito. As aca-
demias de ginástica possivel-
mente também serão liberadas,
mas com restrições.
Na mesma coletiva, Marcelo
Crivella anunciou que todos os
leitos previstos para serem colo-

cados em operação pela prefei-
tura para o combate à covid-
estarão aptos esta semana.
A abertura de templos religio-
sos, como defende Crivella, é
considerada controvertida em
outras partes do mundo. No úl-
timo sábado, a Alemanha, que
liberou reuniões desse tipo, re-
gistrou 40 infectados após a rea-

lização de um culto em Frank-
furt. A maioria dos casos é leve e
havia apenas uma pessoa inter-
nada, mas o registro de contami-
nação fez a comunidade batista
de Frankfurt suspender todos
os eventos religiosos – e as cele-
brações voltaram a ser transmi-
tidas pela internet.

Contagem. Ontem, a prefeitu-
ra do Rio também anunciou que
está mudando a forma como
são contabilizados os números
de mortes por covid-19 na cida-
de. A partir de agora, serão con-
siderados os números diários
de sepultamentos – o que, na
avaliação da Secretaria Munici-
pal de Saúde (SMS), dá uma no-
ção mais precisa das consequên-

cias da pandemia.
“O que a gente está buscando
é uma estratégia de números
mais precisos dia a dia”, afir-
mou ontem a secretária Ana
Beatriz Busch. Segundo ela, a
metodologia anterior fazia com
que as informações de óbitos
chegassem com até dois meses
de atraso. “O cartório emite
dois documentos: uma guia de
autorização de sepultamento e
uma certidão de óbito. Isso vai
para as secretarias de Saúde. Só
que esse dado pode levar até 60
dias. O dado que a gente vai pas-
sar a informar é quantas pes-
soas são sepultadas por dia.”
A secretária diz que a decisão
não terá impacto nos dados já
divulgados. / MARCIO DOLZAN

Rio mantém isolamento,


mas libera igrejas


Bruno Ribeiro
André Ítalo Rocha
Eduardo Laguna
ESPECIAL PARA O ESTADO


O Estado de São Paulo vai es-
tender a quarentena depois
do dia 31, mas agora em um
modelo com regras diferen-
tes para capital e região me-
tropolitana, litoral e inte-
rior, segundo o governador
João Doria (PSDB). A reaber-
tura gradual deve começar
pelo oeste paulista, disse on-
tem Henrique Meirelles, se-
cretário estadual da Fazen-
da e do Planejamento. Segun-
do ele, a retomada não deve
ser anunciada na Grande São
Paulo por enquanto, e have-
rá protocolos de reabertura
para cada setor econômico.
O novo modelo, chamado pe-
lo governo de “quarentena inte-
ligente”, deve ser anunciado a
amanhã. “Ela (a nova quarente-
na) vai levar em conta toda a
regionalização do Estado de
São Paulo, o interior, a capital, a
região metropolitana, o litoral
de São Paulo. A decisão não será
homogênea”, afirmou o gover-
nador à Globonews. “(A quaren-
tena até agora) foi homogênea
porque precisava ser”, disse.
“Áreas e regiões onde podere-
mos ter um olhar que defina pe-
la quarentena inteligente, a fle-
xibilização cuidadosa e em eta-
pas, isso será levado em conside-
ração”, afirmou. “Onde isso
não for possível, porque os índi-


ces e os riscos indicam que não
deve, não haverá.”
Em vídeo transmitido nas re-
des sociais pela Câmara Britâni-
ca de Comércio e Indústria no
Brasil, Meirelles disse que, na
região oeste do Estado, a reaber-
tura deve ser “em cidades com
menor densidade e maior capa-
cidade de atendimento hospita-
lar”. Já na região metropolita-
na, “o mais provável é uma res-
trição um pouco maior”.
O Estado, líder em casos da
covid-19 no País, tinha até on-
tem 6.220 mortes pela doença.
No domingo, a taxa de isola-
mento social foi de 55% no Esta-
do e 57% na capital. Nas últimas
semanas, o prefeito da capital,
Bruno Covas (PSDB), apostou
em um rodízio ampliado de veí-
culos, depois suspenso, e na an-
tecipação de feriados como for-
ma de aumentar a quantidade
de pessoas em casa – a meta era
atingir ao menos 55% –, como
forma de evitar mais restrições.
A taxa de ocupação das UTIs
na Grande São Paulo, que no do-

mingo havia ultrapassado 90%,
caiu para 88%, por causa da aber-
tura de mais leitos dotados de
equipamentos de tratamento
intensivo nas cidades da região.
No Estado como um todo, a ocu-
pação das UTIs é de 73,8%.

Plano. O governo tem um gru-
po de trabalho para buscar for-
mas que permitam reabrir algu-
mas atividades econômicas em
parte do Estado. Esse comitê,
segundo Doria, é submetido ao
Centro de Contingência do Co-
ronavírus. O órgão, que reúne
15 profissionais de saúde, a
maior parte infectologistas, já
determinou o adiamento de
propostas de abertura comer-
cial no Estado pelo risco de co-
lapso no sistema de saúde.
O grupo econômico, liderado
pela economista Ana Carla
Abrão, já apresentou ao gover-
no um plano que vê oito ativida-
des econômicas como prioritá-
rios, em especial por serem as
áreas mais atingidas. Entre elas,
estão prestadores de serviço,
corretores de imóveis e vende-
dores ambulantes. O grupo tam-
bém tem mapeado as regiões do
Estado que podem passar por
algum tipo de flexibilização, e
elaborou em conjunto com a
equipe de saúde protocolos que
deverão ser adotados para uma
retomada segura.
O grupo econômico é uma
das respostas que a gestão Do-
ria deu às pressões, especial-
mente de prefeitos do interior.

Eles cobram a abertura, uma
vez que suas cidades não vi-
nham registrando, ao menos há
até duas semanas, número de
casos que pudesse sobrecarre-
gar os sistemas de saúde. Outra
resposta do governo foi criar
um Comitê Municipalista, capi-
taneado pelo secretário de De-
senvolvimento Regional, Mar-
co Vinholi, cuja missão tem si-
do convencer as lideranças mu-
nicipais sobre a necessidade de
se isolar agora para reduzir o
tempo de quarentena depois.
Por outro lado, a atenção do
Centro de Contingência tem se

voltado ao interior desde a se-
mana passada, graças a uma ace-
leração da difusão da doença
em ritmo maior do que o da capi-
tal. Na quarta passada, o pró-
prio Vinholi fez apresentação
pública de casos, com dado da
1ª quinzena de abril, comparan-
do as diversas regiões adminis-
trativas do Estado, para mos-
trar aumentos superiores a
300% no total de notificações
no interior, ante crescimentos
de 100% na capital no igual pe-
ríodo. Há casos de covid em 510
dos 645 municípios do Estado.
A pressão pela abertura no in-

terior é diferente da pressão vin-
da da capital, feita pelo prefeito
Bruno Covas (PSDB), aliado de
Doria. Após tentar bloquear o
trânsito nas principais vias da
cidade, e de tentar implemen-
tar um rodízio que proibia o trá-
fego diário de metade da frota,
duas medidas que não reduzi-
ram o isolamento social e trou-
xeram críticas, a equipe de Co-
vas começou a defender o lock-
down, como forma de reduzir o
surgimento de casos novos e
dar fôlego ao sistema de saúde.
“Se fosse competência do pre-
feito Bruno Covas pronunciar o
lockdown, ele já o teria feito”,
disse a vereadora Patrícia Bezer-
ra (PSDB), da base de Covas, na
sessão da Câmara Municipal
que votou o projeto de lei que
autorizava a antecipação dos fe-
riados. Covas disse que não ti-
nha condição de fazer sozinho
o lockdown porque a cidade
tem divisas com outras cidades
em cerca de 1,7 mil pontos, e se-
ria impossível adotar essa ação
apenas na capital.
Doria, à Globonews, descar-
tou lockdown. Segundo ele, o
protocolo para implementar a
norma existe, mas por ora não
há recomendação da equipe téc-
nica para adotá-lo. Doria apoi-
ou o plano de feriados de Covas
e contribuiu antecipando o fe-
riado estadual de 9 de Julho pa-
ra segunda. Pelo Twitter, on-
tem, o governador parabenizou
a população pelo aumento da ta-
xa de isolamento no domingo.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


O primeiro dia de retorno do fun-
cionamento de parte do comér-
cio de Belo Horizonte teve drible
às regras, aglomerações, pes-
soas sem máscaras e filas enor-
mes para entrada nos shoppings
populares ontem. A decisão pela
volta do comércio foi anunciada
na sexta, mesmo com temor da
equipe médica da prefeitura so-
bre os impactos da medida.
Além dos shoppings popula-
res, a prefeitura autorizou o retor-
no de papelarias, lojas de mó-
veis, tecidos e armarinho, por
exemplo. Na região central da

cidade, é grande o número de
lojas que não podem reabrir, co-
mo as de roupas, mas que arru-
maram um jeito de driblar a fisca-
lização. Os estabelecimentos fi-
cam com portas à meia altura,
para disfarçar o atendimento.
Pontos de ônibus ficaram lota-
dos e a fila para entrar no Shop-
ping Oi, um dos centros popula-
res no centro, era grande antes
das 10 horas – o shopping abriu
às 11 horas. Perto do horário da
abertura, um funcionário fazia
mais marcações no chão para o
distanciamento entre os clientes.
Também era medida a temperatu-
ra de clientes e funcionários. Só
metade das lojas abriu. Belo Hori-
zonte tem 1.402 infectados e 42
mortes pela doença. /LEONARDO
AUGUSTO, ESPECIAL PARA O ESTADO

lBalanço

Crivella indicou que pode


afrouxar quarentena no


início de junho e


considerou templos


como serviços essenciais


Doria vai estender quarentena, mas


com regras diferentes para cada região


lDiferenças

Nova etapa. Reabertura gradual da economia deve começar pelo oeste do Estado, segundo Henrique Meirelles; secretário da Fazenda


diz que flexibilização maior do isolamento na Grande São Paulo ainda não é prevista e planeja protocolos de retomada para cada setor


OMS suspende estudo global de hidroxicloroquina. Pág. A11 }


Afrouxamento


em BH tem drible


de regras e filas


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OFERECIMENTO

4.
É o número de mortes registra-
das no Estado do Rio desde o iní-
cio da pandemia. O total de infec-
tados chega a 39.298. Só na capi-
tal são 2.831 óbitos.

Metrópole


WERTHER SANTANA/ESTADÃO

“Ela (a nova quarentena)
vai levar em
conta toda a
regionalização do
Estado de São Paulo. A
decisão não será
homogênea
Henrique Meirelles
SECRETÁRIO DA FAZENDA DO ESTADO

Feriado. Frequentadores do lado de fora do Parque do Ibirapuera, fechado por causa da pandemia do coronavírus: possibilidade de confinamento rígido está descartada no momento

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