O Estado de São Paulo (2020-05-26)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-12:20200526:
A12 Metrópole TERÇA-FEIRA, 26 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Mateus Vargas / BRASÍLIA


A disputa milionária aberta pe-
lo Ministério da Saúde para
comprar testes rápidos da co-
vid-19 passou por uma revira-
volta. A empresa Abbott, inicial-
mente desclassificada, conse-
guiu reverter sua situação e po-
de vencer o certame para forne-
cer 7 milhões de exames ao cus-
to de R$ 259 milhões aos cofres
públicos. Cada unidade sai por
R$ 37, o preço mais baixo entre
as candidatas.
A negociação “de emergên-
cia”, iniciada no dia 20 de abril,
foi feita sem licitação, por meio
de um chamamento às empre-
sas interessadas em fornecer os
testes. Na época, o produto da
Abbott ainda não tinha registro
da Agência Nacional de Vigilân-
cia Sanitária (Anvisa), o que in-
viabilizou a participação da em-
presa. Mas como a análise do
ministério para a compra emer-
gencial dos testes se arrasta por
mais de um mês, deu tempo pa-
ra a empresa conseguir, enfim,


o registro e voltar ao páreo.
Os testes da Abbot ganharam
projeção mundial nas últimas
semanas. O presidente dos Esta-
dos Unidos, Donald Trump, re-
cebeu no dia 29 de abril a empre-
sa na Casa Branca. Ele posou pa-
ra fotos com o exame “ID
NOW” e fez propaganda: “Que-
ro agradecer pelo incrível traba-
lho que eles fizeram.” Dias mais
tarde, em 14 de maio, o Food
and Drug Administration (F-
DA), espécie de Anvisa dos
EUA, lançou “alerta” para possí-
veis “resultados inexatos” do
exame e disse seguir em busca
de mais dados e em contato
com a empresa. A Abbott afir-
mou ao Estadão que o teste usa-
do por Trump entrega “resulta-
dos confiáveis”.
O produto oferecido ao Mi-
nistério da Saúde é outro, cha-
mado de “Panbio COVID-
IgG/IgM Rapid Test Device”, e

não foi alvo da análise do FDA.
Não há também qualquer ques-
tionamento pela Anvisa.
O edital do ministério che-
gou a causar dúvidas entre em-
presas que apresentaram ofer-
tas. Na leitura de alguns partici-
pantes, seria possível que mais
de um laboratório vendesse ao
governo, até chegar a 12 mi-
lhões de unidades. No docu-
mento mais recente sobre o edi-
tal, a pasta sinaliza que compra-
rá apenas o teste da Abbott.
O chamado do ministério a
empresas para a compra dos tes-
tes, sem licitação, foi lançado
no dia 20 de abril. Baseado na
legislação aprovada para enfren-
tar a pandemia, os governos
têm feito compras emergen-
ciais, sem licitação. Pela média
de preço dos produtos oferta-
dos, a compra toda poderia se
aproximar de R$ 1 bilhão. Até o
fim da segunda semana de
maio, a disputa para fornecer
testes rápidos era liderada pela
Sallus, uma microempresa de
Manaus sem histórico de forne-
cimento ao poder público.
O prazo para os lances se en-
cerrou em 22 de abril. Este inter-
valo foi determinante para de-
volver a Abbott ao certame. As
análises do ministério para a
compra dos testes ocorrem em
sigilo, mas foram entregues à re-

portagem por fontes que acom-
panham a discussão. Em ofí-
cios, a pasta argumenta que a
Abbott apresentava apenas um
“protocolo de registro” quando
ofereceu o teste e não há irregu-
laridade em classificar a empre-
sa no meio do processo.
Na atualização mais recente

do edital entregue à reporta-
gem, a Sallus passou para a ter-
ceira colocação. O laboratório
público Bahiafarma segue em
segundo. Ambas apresentam a
mesma oferta: R$ 59, valor dife-
rente do que consta em docu-
mentos da semana anterior,
quando o melhor preço era da

empresa de Manaus.
Como mostrou o Estadão, a
Anvisa interditou a linha de pro-
dução de testes rápidos para
dengue, zika e chikungunya da
Bahiafarma, em 2019, após uma
análise encontrar “resultados
insatisfatórios” sobre “especifi-
cidade e sensibilidade” dos pro-
dutos. A agência também deter-
minou o recolhimento dos exa-
mes. O governo pagou cerca de
R$ 120 milhões pelos testes do
laboratório em 2016 e R$ 160 mi-
lhões em 2017. A Bahiafarma
diz que os testes para dengue e
outras doenças cumprem com
o prometido em bula.
Nas tratativas para compra
de teste rápido para a covid-19,
o ministério fez uma pesquisa
de preços praticados por gover-
nos locais e hospitais do País. A
média é de R$ 120, mais de três
vezes superior ao ofertado pela
Abbott. “Ressalta-se que o me-
nor preço encontrado por meio
das buscas aos supracitados si-
tes (R$110,00), restou em um
valor 197,30% superior ao ofer-
tado pela empresa”, escreveu o
ministério.

Análise. Procurado, o Ministé-
rio da Saúde não se manifestou
sobre a compra. No edital, a pas-
ta afirma que vai submeter os
testes comprados à análise do
Instituto Nacional de Controle
de Qualidade em Saúde
(INCQS). A Abbott confirma
que participou da licitação e
não poderia oferecer mais deta-
lhes porque o processo é confi-
dencial.

Falecimentos


Ricardo Galhardo


O número de transplantes de
rins, fígado, coração e pân-
creas registrado em abril de
2020 é 34% menor do que no
mesmo período do ano passa-
do. Foram 410 transplantes
realizados em abril deste ano
ante 617 em 2019. Os núme-
ros são da Associação Brasi-
leira de Transplantes de Ór-
gãos (ABTO) que relaciona a
queda à pandemia do novo co-
ronavírus. “Com certeza a
mortalidade na fila (de espera
por transplantes) também já
aumentou”, disse o presiden-
te da ABTO, Hoygens Garcia.
Segundo ele, colaboram para
a diminuição dos transplantes
o medo de pacientes e doadores
de se contaminarem no desloca-
mento até os hospitais, a falta
de leitos específicos em UTIs –
já que a maior parte está reserva-
da para pacientes com a covid-
19 – e dificuldade de acesso às
famílias de possíveis doadores.
Além disso, também são fato-
res para a redução dos transpor-
tes a suspensão de voos comer-
ciais para transportar órgãos e
até a redução do número de
mortes por trauma encefálico
por causa da queda do número
de acidentes registrada durante
a quarentena.
Cirurgias envolvendo cór-
neas e medula óssea foram pra-
ticamente paralisadas, com ex-
ceção dos casos de urgência.
Em Estados com menos casos
registrados de coronavírus co-
mo Minas Gerais, Rio Grande
do Sul e Paraná, o impacto foi
menor. Mas nas regiões Norte e
Nordeste, onde além da alta in-
cidência da covid-19 a estrutura
para transplantes é mais precá-
ria, a redução passa dos 50%.
No Ceará e Pernambuco, por
exemplo, os transplantes de
rins foram suspensos. O resulta-
do é que órgãos que poderiam
ser usados em pacientes da pró-
pria região que aguardam há me-


ses na fila do Sistema Nacional
de Transplante, acabam sendo
levados para outros lugares.
Na quinta-feira, um jovem de
14 anos teve morte cerebral de-
pois de sofrer um acidente de
moto na região do Cariri, inte-
rior do Ceará. A família autori-
zou a doação dos órgãos. O fíga-
do foi transplantado para um pa-

ciente de Fortaleza, mas os rins
do rapaz tiveram de ser trazi-
dos até São Paulo para não se-
rem desperdiçados. Os trans-
plantes de rins na capital do
Ceará, uma das cidades de refe-
rência no Nordeste, foram total-
mente suspensos durante a pan-
demia do coronavírus.
Um dos maiores temores em
relação aos transplantes é a pos-
sibilidade de que o doador este-
ja contaminado. Por isso, há al-
gumas semanas, as secretarias
estaduais de saúde adotaram o
critério de priorizar os testes de
PCR, mais precisos, em possí-
veis doadores de órgãos. “Isso
começou em São Paulo. No co-
mecinho não tinha teste. Hoje
melhorou muito”, disse o médi-

co Paulo M. Pêgo Fernandes,
membro do conselho deliberati-
vo da ABTO.

Temor. Segundo médicos espe-
cializados em transplantes, o
principal motivo é o medo dos
pacientes receptores de se con-
taminar nos hospitais.
É o caso do advogado Carlos
Alberto Melo Pereira, de 69
anos, que mora em Natal e está
em quarto lugar na fila para rece-
ber um transplante de fígado.
Ele aguarda o órgão há um ano e
prefere ficar em casa, em segu-
rança, do que se arriscar uma
viagem até Fortaleza, onde de-
ve realizar o transplante.
“É um conflito interno total
porque antes eu estava longe e

agora que estou tão perto me
sinto ainda mais longe”, disse.
“Tenho condições de ir até For-
taleza, mas para que vou sair da
segurança da minha casa? Te-
nho muito medo. No caminho
(de 10 horas) vou ter de parar

para abastecer, me comunicar
com as pessoas na estrada. E se
a minha mulher pega (a covid-
19)? Aí ela não vai poder cuidar
de mim e eu não vou poder cui-
dar dela”, lamentou.
De acordo com o presidente
da Associação Brasileira de
Transplantes de Órgãos, a redu-
ção do número de transplantes
por medo da covid-19 está pro-
vocando até mesmo um aumen-
to da demanda por hemodiáli-
se. “Aí a pessoa corre mais risco
ainda porque em alguns casos é
preciso fazer quatro ou cinco
sessões por semana”, explicou
Garcia.

Online. No Hospital Albert
Einstein, onde é realizada gran-
de parte dos transplantes pelo
Sistema Único de Saúde (SUS)
na capital paulista, uma alterna-
tiva para atender os pacientes
tem sido intensificar o uso da
telemedicina.
“Este é um legado que a covid
nos trouxe. Em termos de resul-
tados vai trazer bons frutos. De-
pois que a pandemia passar po-
demos continuar aplicando a te-
lemedicina em várias situações
com muitos impactos positi-
vos, até a redução dos custos”,
disse o pneumologista José
Eduardo Afonso Júnior, coorde-
nador médico do programa de
transplantes do Einstein.
Segundo ele, por meio de cha-
madas de vídeo e aplicativos pa-
ra celulares é possível hoje me-
dir funções como oxigenação,
pressão e frequência cardíaca,
entre outras, evitando que os pa-
cientes tenham de se deslocar
até o hospital ou ao consultório
médico. O expediente tem sido
usado para atender até pessoas
que moram em outros países,
diz o médico.
Segundo ele, dos mais de 3
mil transplantes realizados pe-
lo Hospital Albert Einstein des-
de o início da pandemia, 14 pa-
cientes foram contaminados pe-
lo coronavírus.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lRastreamento

Empresa promovida por Trump


pode fornecer testes ao Brasil


PARA PUBLICAR ANÚNCIO FÚNEBRE: BALCÃO IGUATEMI – SHOPPING IGUATEMI 1A - 04, TEL. 3815-3523 / FAX 3814-0120 – ATENDIMENTO DE 2ª A SÁBADO, DAS 10 ÀS 22 HORAS, E AOS DOMINGOS, DAS 14 ÀS 20 HORAS. BALCÃO LIMÃO – AV. PROF. CELESTINO BOURROUL, 100, TEL. 3856-2139 / FAX
3856-2852 – ATENDIMENTO DE 2ª A 6ª DAS 9 ÀS 19 HORAS. SÓ SERÃO PUBLICADAS NOTÍCIAS DE FALECIMENTO/MISSA ENCAMINHADAS PELO E-MAIL [email protected], COM NOME DO REMETENTE, ENDEREÇO, RG E TELEFONE.

lPor ano

Foram 410 cirurgias de rins, fígado, coração e pâncreas em abril, ante 617 no mesmo período de 2019; medo de ser infectado explica queda


lInsegurança

Faculdades têm alta de 72% na taxa de devedores. Pág. A13 }


AL DRAGO/THE NEW YORK TIMES

46,2 milhões
é o total de testes que o governo
promete entregar – 22 milhões do
tipo “rápido”. Foram distribuídos
só 5,35 milhões de exames rápi-
dos, todos doados por empresas,
e 3 milhões de testes RT-PCR.

Inicialmente


desclassificada, a Abbot


voltou ao páreo para


entregar 7 milhões de


exames rápidos


Propaganda. Trump posou para fotos com exame da Abbot

Izarele Alves Castanha – Aos
61 anos. Filha de José Alves Cas-
tanha e Maria Alves Castanha. Dei-
xa parentes e amigos. O enterro
foi realizado no Cemitério Parque
dos Girassóis.
Ilma De Fátima de Souza – Dia



  1. Era viúva. Deixa os filhos José
    Carlos, Mariana, Edna, parentes e


amigos. O enterro foi realizado no
Cemitério e Crematório Primaveras.
Israel Pereira dos Santos – Dia
25, aos 86 anos. Era casado com Lu-
zia Pereira dos Santos. Deixa os fi-
lhos Paulo, Rosângela, parentes e
amigos. O enterro foi realizado no
Cemitério Jardim do Pêssego.
Waldir Pripas – Aos 70 anos. Fi-

lho de Luiz Pripas e Tertze Raquel
Pripas. Era casado com Marli Kirs-
neris Pripas. Deixa os filhos Deni-
se Pripas Schinazi, Fernando Pri-
pas, parentes e amigos. O enterro
foi realizado no Cemitério Israeli-
ta do Butantã.
Antonio dos Santos – Dia 25, aos
65 anos. Era casado com Maria Cé-

lia dos Santos. Deixa os filhos Ser-
gio, Vanderlei, parentes e amigos. O
enterro foi realizado no Cemitério e
Crematório Primaveras.
Elias Arvelino Domingos – Aos
50 anos. Filho de Luiz João Domin-
gos e Jurdecia Arvelino Domingos.
Deixa filho, parentes e amigos. O en-
terro foi realizado no Cemitério Par-

que dos Girassóis.
Elias Domingos – Dia 17, aos 48
anos. Era casado com Diana Domin-
gos. Deixa filhos, parentes e ami-
gos. O enterro foi realizado no Cemi-
tério Zona Sul.
Luiz Martins dos Anjos Filho –
Aos 46 anos. Filho de Luiz Mar-
tins dos Anjos e Maria Candida

dos Anjos. Era solteiro. O enterro
foi realizado no Cemitério Parque
dos Girassóis.
Severino José da Silva – Dia 23.
Era casado com Ieda Moreira da Sil-
va. Deixa os filhos Antonio, André,
parentes e amigos. O enterro foi rea-
lizado no Cemitério e Crematório
Primaveras.

TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO - 28/4/

Nº de transplantes de órgãos cai 34%


“Antes eu estava longe e
agora que estou tão perto
me sinto ainda mais longe.
Tenho condições de ir até
Fortaleza, mas para que vou
sair da segurança da minha
casa? Tenho muito medo.”
Carlos Alberto Melo Pereira
MORADOR DE NATAL, TEM DE VIAJAR A
FORTALEZA PARA SER TRANSPLANTADO

30 mil
É o número de transplantes reali-
zados anualmente no Brasil, um
dos países que mais fazem esse
tipo de cirurgia. A maioria (6,
mil) é de rins e fígado (2,2 mil).

Entraves. Há o temor de que os doadores de órgãos tenham sido contaminados pelo coronavírus; testagem foi ampliada
Free download pdf