O Estado de São Paulo (2020-05-26)

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A14 TERÇA-FEIRA, 26 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Luto. Simples e de fala mansa, treinador responsável por lançar em campo os craques Rivaldo e Kaká não resiste a câncer no fígado


Treinador com passagens im-
portantes no comando de
São Paulo, Corinthians, sele-
ção brasileira feminina, entre
outros grandes clubes do
País, Oswaldo Fumeiro Alva-
rez, conhecido popularmen-
te como Vadão, morreu no iní-
cio da tarde de ontem em São
Paulo. Aos 63 anos, o técnico
lutava desde o início do ano
passado contra complica-
ções relacionadas a um cân-
cer no fígado, que havia se es-
palhado e atingido outros ór-
gãos. O corpo de Vadão será
enterrado hoje em sua cidade
natal, Monte Azul Paulista,
no interior do Estado.
Vadão foi diagnosticado com
a doença quando era submeti-
do a exames de rotina. Desde
então, ele realizava tratamento,
mas teve de ser internado no
hospital Albert Einstein no últi-
mo dia 12 de maio. No entanto,
o quadro de Vadão já era consi-
derado grave e ele não resistiu
ao tratamento de quimiotera-
pia e radioterapia. O treinador
deixa a esposa Ana Alvarez e
dois filhos, Adriano e Carolina
Alvarez, que fazia a parte de as-
sessoria de imprensa do pai.
Vadão nasceu no dia 21 de
agosto de 1956, em Monte Azul
Paulista. Ele começou sua car-
reira no futebol dentro de cam-
po, jogando como meia-esquer-
da nas categorias de base do
Guarani. Depois, rodou por clu-
bes como Noroeste, Catandu-
vense e Botafogo-SP. Ao mes-
mo tempo, ele se formou em
Educação Física. Iniciou a car-
reira de treinador no Mogi Mi-
rim. Lá foi responsável por mon-
tar o famoso “Carrossel Caipi-
ra” no início dos anos 90 – o
Mogi fez uma campanha ines-
quecível no Paulistão de 1992,
revelando para o mundo do fute-


bol o craque Rivaldo.
Este time, na época, usava
um esquema tático parecido ao
da seleção holandesa de 1974,
com troca de posições entre os
jogadores, que revolucionou o
futebol mundial na Copa da Ale-
manha daquele ano, sob a batu-
ta do meia Cruyff. O Mogi Mi-
rim de Vadão contava ainda
com bons jogadores como o
trio ofensivo formado por Rival-
do, Leto e Válber, além do za-
gueiro Capone que executava
bem o papel de líbero.
Rivaldo, que depois de surgir
pelas mãos de Vadão brilhou no
Palmeiras, Barcelona e Milan,
entre outros clubes, e também
na seleção brasileira, homena-
geou o treinador. “O futebol
brasileiro perde um grande pro-
fissional e grande homem que
me ajudou muito no início da
minha carreira. Eu aprendi bas-
tante com ele. Que Deus confor-
te os familiares neste momento
tão difícil”, escreveu.
Na carreira, o técnico coman-

dou Guarani, XV de Piracicaba,
Athetico-PR, Corinthians, São
Paulo, Ponte Preta, Bahia,
Tokyo Verdy, do Japão, Vitória,
Goiás, Portuguesa, Sport, Cri-
ciúma, dentre outros. Ele foi
campeão do Torneio Rio-São
Paulo em 2001 pelo São Paulo,
em um time que tinha como des-
taque o jovem meia Kaká.
O ex-jogador disse ser muito
grato à chance recebida pelo
treinador em 2001. “Minha eter-
na gratidão por ter aberto as por-
tas para um garoto que ninguém
conhecia e poucos acreditavam.
Mas você acreditou, me ensi-

nou, me deu oportunidades pra
que eu pudesse voar. O dia é de
muita tristeza, mas as lembran-
ças no meu coração são de mui-
tas alegrias”, escreveu Kaká.
Outro contemporâneo de
São Paulo da mesma época, o
ex-meia Júlio Baptista também
elogiou a convivência com Va-
dão. “Pessoa íntegra, do bem,
com caráter incrível e grandíssi-
mo profissional. O Vadão foi o
treinador que mais me deu chan-
ce de crescer, de melhorar. Exi-
gia do time e era muito gentil.”
Vadão foi ainda vice-cam-
peão brasileiro da Série B em

2009 e vice do Paulista pelo
Guarani em 2012. Ele teve cinco
passagens pelo Brinco de Ouro,
em um total de 204 jogos. É tra-
tado com idolatria também pe-
la arquirrival Ponte Preta, clube
no qual dirigiu em quatro opor-
tunidades.
Seu último trabalho foi na se-
leção brasileira feminina. Dei-
xou o comando em meados do
ano passado após a Copa do
Mundo na França. Em suas
duas passagens, Vadão conquis-
tou duas Copas Américas (
e 2018), a medalha de ouro nos
jogos Pan-Americanos de 2015,

dois Torneios Internacionais,
além de um quarto lugar nos Jo-
gos Olímpicos do Brasil em


  1. Marta, eleita seis vezes a
    melhor jogadora do mundo pe-
    la Fifa, lamentou a morte do téc-
    nico. “Vá em paz, professor. Sua
    missão nessa terra você cum-
    priu com muito êxito. Desco-
    nheço qualquer ser humano
    igual, você soube viver a vida de
    maneira digna e honestamente,
    orgulho demais de ter vivido
    momentos maravilhosos ao
    seu lado e ter tido a oportunida-
    de de aprender muito. Obriga-
    da por tudo e descanse em paz.”


‘Grande profissional
e grande homem que
me ajudou muito no
início da minha carreira.
Aprendi bastante com ele.’
Rivaldo

‘Orgulho demais de
ter vivido momentos
maravilhosos ao seu
lado na seleção brasileira e ter
tido a oportunidade de apren-
der muito com você.’
Marta
‘Notícia muito triste.
Vadão foi o meu
primeiro treinador
como profissional e
me deu conselhos valiosos que
trago comigo até hoje.’
Fernandinho

‘Descanse em paz
Vadão! Obrigado
por ter acreditado
no meu futebol.
Sem você, eu não conseguiria
ter chegadoonde eu cheguei.’
Jadson

Esportes


RECUPERADO DA COVID-19,
DIEGO SOUZA VOLTA A TREINAR

REPERCUSSÃO

Um dia após o encontro com o
prefeito do Rio, Marcelo Crivel-
la, a Federação de Futebol do
Estado do Rio de Janeiro (Ferj)
se reuniu com os clubes partici-
pantes do Campeonato Cario-


ca, em um conselho arbitral que
indicou a possibilidade de a
competição, ao ser retomada,
ter jogos disputados fora do Es-
tado por causa da pandemia do
coronavírus.
A aprovação dessa possibili-
dade, porém, não se deu sem po-
lêmica. Como a medida não te-
ve votos favoráveis de Botafogo
e Fluminense, esses clubes de-
fenderam que a ela só poderia
ser implementada em caso de
unanimidade. Por isso, os presi-

dentes Nelson Mufarrej, do Bo-
tafogo, e Mário Bittencourt, do
Fluminense, pediram a impug-
nação dessa e de outras mudan-
ças no regulamento. A solicita-
ção foi enviada ao presidente da
Ferj, Rubens Lopes, e ao diretor
de competições da entidade,
Marcelo Vianna.
Os clubes também condena-
ram a possibilidade de retoma-
da do Campeonato Carioca em
meados de junho, definida na
reunião com Crivella, no últi-

mo domingo – Botafogo e Flu-
minense optaram por não en-
viar representantes ao encon-
tro. Já os treinos estão libera-
dos a partir de hoje, embora o

Flamengo tenha reiniciado as
atividades na semana passada.
No entanto, Crivella deixou
em aberto a possibilidade de os
jogos só voltarem em julho, já

que na reunião de domingo fi-
cou decidido que será feita uma
análise da curva de contágio do
novo coronavírus em de junho.
Assim, a segunda quinzena do
próximo mês, dependendo des-
sa análise, pode ser liberada pa-
ra os eventos esportivos.
Botafogo e Fluminense tam-
bém defenderam que o regula-
mento seja mantido, sem ne-
nhuma alteração. A reunião
também aprovou a extensão do
prazo para regularização e ins-
crição de atletas, com a alega-
ção de resguardar a saúde dos
jogadores e ainda sob a justifica-
tiva de que vários jogadores tive-
ram seus contratos encerrados
durante o período de paralisa-
ção do Campeonato Carioca.

]O Grêmio começou a semana com
novidades. Após cumprir isolamento
no Rio, o meia Diego Souza voltou a
Porto Alegre e explicou que estava

assintomático quando testou positivo
para o novo coronavírus. “Graças a
Deus superei e estou muito feliz de
ter retornado aos treinamentos. Quan-
do eu estava pronto para voltar, fiz
um exame lá no Rio. Eu não tinha sin-
tomas”, disse o jogador.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


HOMENAGEM

Sem apoio de Botafogo e Flu,


clubes admitem jogar fora do Rio



  1. Orientação. Treinador
    orienta Marcelinho Carioca
    e Ricardinho durante treino
    no Corinthians no ano 2000


OSWALDO ALVAREZ (VADÃO) H 1956 = 2020


VITOR SILVA/SSPRESS/BOTAFOGO–16/4/

Insatisfação. Nelson Mufarrej, presidente do Botafogo

Campeonato Carioca.


Dirigentes discutem


retomada do Estadual do


Rio, mas esbarram na


falta de unanimidade



  1. Conversa. Técnico fala com
    Kaká, no São Paulo, em 2001


MOMENTOS


AGLIBERTO LIMA/ESTADÃO


  1. Começo. Em 1992, Vadão
    montou o ‘Carrossel Caipira’
    e levou o Mogi Mirim às
    semifinais do Paulistão

  2. WILTON JUNIOR/ESTADÃO

  3. Papo de craque. Vadão conversa com Marta durante
    jogo entre Brasil e China nos Jogos Olímpicos do Rio-


L.C.LEITE/ESTADÃO WALDEMAR PADOVANI/ESTADÃO

PAULO PINTO/ESTADÃO

2.


  1. Interior. ‘Professor’
    passou por vários clubes,
    entre eles Guarani, Ponte,
    XV de Piracicaba e
    Matonense








5.

JEAN-PAUL PELISSIER/REUTERS

Do ‘Carrossel Caipira’ até a seleção


Brasil. Vadão comandou a seleção brasileira feminina em duas edições da Copa do Mundo

Kaká
REVELADO POR VADÃO EM 2001

‘Minha eterna
gratidão por ter
aberto as portas
para um garoto que
ninguém conhecia e
poucos acreditavam.
Mas você acreditou,
me ensinou, me deu
oportunidades pra
que eu pudesse voar’

GREMIO TV
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