O Estado de São Paulo (2020-05-26)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 26 DE MAIO DE 2020 Economia B


PEDRO


FERNANDO NERY


P


erdemos o (muito) jovem eco-
nomista Jailison Silveira. Au-
ditor do Tesouro Nacional,
ocupou cargos importantes no Mi-
nistério da Economia. Era vice-pre-
sidente da Associação dos Servido-
res do Tesouro Nacional (ASTN),
de que foi um dos fundadores. Com
sua liderança, a associação rapida-
mente se diferenciou das demais or-
ganizações do funcionalismo. Pare-
cia menos pautada pelo simples cor-
porativismo e mais pelo debate pro-
positivo, em que pregava o ajuste fis-
cal coerente.
A entidade que Jailison criou ques-
tionava a reforma da Previdência:

não por ser contrária a ela, mas porque
deveria ser igualmente abrangente
com os militares. Questionava o ajuste
fiscal, não por negar sua necessidade,
mas pela sua ênfase unicamente nas
despesas, ignorando frequentemente
privilégios concedidos que deterio-
ram a arrecadação. As tais incoerên-
cias.
O Brasil de Jailison está bem presen-
te, entre outras documentos, na publi-
cação que elaborou junto com outros
auditores do Tesouro para as eleições
de 18. Chamado 18 diretrizes para um
ajuste fiscal coerente, a contribuição
se fundamentava na noção de que falta
conhecimento da sociedade sobre as

políticas públicas que financia.
A necessidade de avaliação perma-
nente dos subsídios concedidos pela
União, da ordem de 5% do PIB em 2017


  • a maior parte em “gastos tributários”
    (a faculdade de pagar menos imposto,
    normalmente de forma permanente,
    dada a certos grupos). O imperativo de
    reformar a Previdência, mas incluindo
    de verdade os militares. As distorções
    nos salários do funcionalismo.
    O combate à burla do teto remunera-
    tório feita pelas verbas falsamente in-
    denizatórias (como auxílio moradia).


A ineficiência dos gastos com saúde às
vésperas de veloz envelhecimento da
população. A inadequação dos gastos
diante das metas para a educação bási-
ca do Plano Nacional de Educação (P-
NE).
Por uma ampla reforma tributária,

que diminuísse a participação dos tri-
butos indiretos que pesam sobre o con-
sumo dos pobres e aumentasse a parti-
cipação dos tributos diretos sobre a
renda dos ricos. Que ampliasse a pro-
gressividade do sistema tributário e di-
minuísse a desigualdade injusta de tri-
butação entre empregados na CLT e
profissionais com pessoa jurídica. Que
limitasse as possibilidades de dedu-
ções com gastos particulares que dimi-
nuem o imposto de renda pago pelo
topo da pirâmide, enquanto faltam gas-
tos públicos nas mesmas áreas para a
base.
A reformulação das regras fiscais, pa-
ra reduzir a dívida pública. O tratamen-
to desta dívida com maior transparên-
cia, combatendo as fake news oportu-
nistas e contraproducentes para a so-
ciedade.
Nesse sentido, as contradições da
política fiscal impediriam a formação
de consensos e maiorias, já que a per-
cepção de que há favorecidos pelo Esta-
do brasileiro reduziria, para a popula-
ção, a legitimidade das medidas de ajus-

te, comprometendo o próprio pro-
cesso decisório.
O mote que dava a organização
que concebeu sintetiza as incoerên-
cias que apontava: “política econô-
mica também é política”.
Na academia, Jailison vinha de
um mestrado na UFRJ e cursava o
doutorado da PUC-Rio, infelizmen-
te interrompido. Na carreira tão
curta, foi coordenador geral de mo-
delagem econômica na Secretaria
de Política Econômica, onde tam-
bém foi chefe de divisão de econo-
mia e legislação. No Tesouro,
atuou em duas referências da Espla-
nada: a coordenação de estudos
econômico-fiscais e a coordenação
de planejamento estratégico da
dívida pública.
Para os amigos e colegas, ficarão
mesmo a lembrança e a inspiração
do Jajá idealista, batalhador e irreve-
rente.

]
DOUTOR EM ECONOMIA

Em um forte movimento nos últimos anos,
Portugal passou a ocupar a segunda colocação
no ranking de países que mais receberam
investimentos imobiliários de brasileiros no
exterior, atrás apenas dos Estados Unidos.
Os dados mais recentes do Banco Central do
Brasil compreendem o período de 2007 a 2017,
quando a participação de Portugal no ranking
mais do que dobrou até chegar aos atuais 17%.
Ainda que os EUA mantenham parcela
expressiva no total de investimentos
imobiliários (34%), a participação relativa aos
norte-americanos caiu 4% durante os 10 anos
analisados pelo BC. Já a de Portugal aumentou
131% no período.
O movimento de alta em Portugal está
mais atrelado a políticas de incentivo definidas
por autoridades portuguesas do que pela
rentabilidade dos imóveis adquiridos. Afinal,
com a forte alta do Euro frente ao Real nos
últimos anos, os custos inerentes a um processo
de compra e venda de bens em Portugal
naturalmente limitariam a parcela
de brasileiros aptos ao negócio.
Desde 2012, o governo
de Portugal implementou um
sistema cujo principal objetivo
era atrair recursos estrangeiros a
fim de movimentar seu mercado
interno, à época em grave crise financeira.
Caso os investimentos se enquadrem nas regras
determinadas pelo governo, o investidor pode
obter visto de residência permanente no país e,
depois de seis anos, a cidadania.
O regime de Autorização de Residência para
Atividade de Investimento contempla aportes
em imóveis, fundos de investimento, pesquisa
científica ou no apoio à produção artística,
dentre as possibilidades aos estrangeiros que
desejam o visto português. Em relação aos
imóveis, é preciso que a casa ou apartamento
adquirido tenha um valor igual ou superior
a 500 mil euros (atualmente, o equivalente a
cerca de R$ 3 milhões).
A principal crítica feita ao regime de
concessão de vistos é que ele não gerou
investimentos diversificados no mercado

português. Cerca de 95% dos pedidos de
residência feitos através deste modelo envolvem
aportes direcionados à compra de imóveis.
Além disso, ainda que o investimento no
setor imobiliário tenha gerado uma série de
empregos diretos e indiretos aos portugueses,
adefinição do valor de 500 mil euros resultou
em uma pressão aos imóveis na faixa de preço
entre 400 mil e 450 mil euros. Os valores
naturalmente subiram para adequar os bens
à faixa contemplada pelo regime de vistos.
Ainda assim, chama a atenção
a participação dos brasileiros
neste mercado. No primeiro
semestre de 2019, investidores do
Brasil responderam por 18% dos
imóveis comprados em Portugal.
É o mesmo percentual dos
britânicos. Ambos os países perdem apenas
para os franceses entre os estrangeiros, com
21% do total.
Para ultrapassar Reino Unido e França no
ranking de países com maior investimento
imobiliário de brasileiros, Portugal conta
com a proximidade gerada pela cultura e pelo
idioma frente aos demais. Mais do que isso, a
crise interna tornou os preços dos imóveis mais
vantajosos aos brasileiros.
Em um mercado tão dinâmico, resta saber
se os brasileiros irão manter seus aportes
no setor de outros países em meio às altas
do Dólar e do Euro. E, principalmente, se
Portugal conseguirá permanecer à frente
de outros locais, que até décadas recentes
geravam maior interesse nos brasileiros com
capital para investir no exterior.

COLUNA FIABCI-BRASIL INFORME PUBLICITÁRIO

Destino ultrapassa
países como
Reino Unido e França,
mas segue atrás
dos EUA

SÃO PAULO, 26/05/

Coluna publicada às terças-feiras sob responsabilidade da
FIABCI-BRASIL (Federação Internacional Imobiliária)
Rua Dr. Bacelar, 1.043 - CEP: 04026-002 - São Paulo/SP
Tel: (11) 5078-7778 - http://www.fiabci.com.br
Produção gráfica: Publicidade Archote

Portugal está entre locais mais procurados


por brasileiros para investimento em imóveis


Foto: Shutterstock

O Brasil de Jajá


‘Vamos arrebentar na venda


de aeroportos’, diz ministro


Fernanda Nunes / RIO


A Petrobrás projeta uma recu-
peração gradual do preço do
petróleo nos próximos cinco
anos, até voltar ao patamar
de US$ 50 por barril – o dobro
da cotação média projetada
para este ano, de US$ 25. Com
a melhora de cenário, deve
cair também a dívida da em-
presa, de US$ 87 bilhões para
US$ 60 bilhões, segundo o
presidente da companhia, Ro-
berto Castello Branco, que
ontem reiterou o foco de no-
vos investimentos no pré-sal.


Segundo ele, a diretoria avalia
os projetos viáveis nesse perío-
do de crise. Alguns vão ser rees-
truturados para se adequarem à
cotação mais baixa do barril (on-
tem, o tipo Brent fechou a US$
35 o barril), outros vão ser sus-
pensos e até mesmo cancelados.
Em meio à pandemia do novo
coronavírus e da queda abrupta
do preço da commodity, a Petro-
brás reagiu com corte de US$
3,5 bilhões do seu investimento
anual, que passou de US$ 12 bi-
lhões para US$ 8,5 bilhões.
Com o trabalho de revisão dos
ativos, a estatal espera definir

os que geram mais ganhos so-
bre o capital investido, que te-
nham menos riscos e, ao mes-
mo tempo, sejam economica-
mente viáveis.
“Tem uma questão de aloca-
ção de capital. O que você prefe-
re: investir num campo do pré-
sal que pode gerar um retorno
real em torno de 15% ou investir
numa operação de varejo (de
combustíveis), que dá um retor-
no sobre capital empregado de
6% a 7%? O capital é escasso”,
afirmou Castello Branco, em en-
trevista virtual promovida pela
Genial Investimentos.

O principal ativo da empresa
hoje é o campo de Búzios, locali-
zado no pré-sal da Bacia de San-
tos e adquirido no ano passado
no leilão de áreas excedentes da
cessão onerosa. Esse reservató-
rio é complementar a outro con-
cedido à estatal em 2010, logo
depois de a empresa descobrir
o pré-sal e anunciar sua viabili-
dade técnica e econômica. Bú-
zios é o maior campo já desco-
berto no mundo. Assim como
esse, devem ser priorizados re-
servatórios de grande dimen-
são, baixo risco e custo de extra-
ção do petróleo próximo a US$
3 por barril.
A empresa já anunciou o fe-
chamento de pelo menos 62 pla-
taformas no início de abril, com
a justificativa de que o retorno
econômico da produção onde
estão instaladas não justifica a
continuidade da operação. A
maior parte está localizada em
campos em terra, alguns deles
já em fase de declínio, e em
águas rasas. Mas há também
campos na Bacia de Campos, no
litoral do Estado do Rio de Janei-
ro. Muitos desses ativos já eram
considerados inviáveis pela em-
presa e tinham sido incluídos
no programa de privatizações.
Mas, com a crise, mesmo sem
compradores à vista, foram des-
mobilizados.
Também está no radar a ven-
da e, alguns casos, o fechamen-
to de subsidiárias, principal-
mente daquelas consideradas
inadequadas ao perfil da estatal


  • uma petroleira focada na ex-
    ploração e produção de petró-
    leo e gás, sobretudo no pré-sal.
    Em fevereiro, foi anunciado en-
    cerramento da atividade da
    fábrica de fertilizantes Araucá-
    ria Nitrogenados, no Paraná. A
    demissão de centenas de funcio-


nários motivou a realização de
uma greve pelos sindicatos. Já a
privatização completa da com-
panhia foi descartada por Cas-
tello Branco.

‘Rigor’. “Comparando com ou-
tras operadoras, a Petrobrás foi
bastante rigorosa no ajuste de
ativos. Considero que essa será
uma justificativa para focar no
pré-sal e enxugar investimen-
tos e gastos com empregados.
Mas, se o preço se recuperar, co-
mo alguns cenários apontam, a
empresa poderá se reposicio-
nar”, afirma Luciano Losekann,
especialista em petróleo e gás
natural e professor da Faculda-
de de Economia da Universida-
de Federal Fluminense (UFF).

Para ultrapassar a fase atual,
a empresa está reduzindo cus-
tos e dívida. Contratos estão
sendo renegociados com forne-
cedores, principalmente com
os de maior porte, que, segundo
Castello Branco, têm mais capa-
cidade de resistir à crise. A meta
financeira para o ano, relativa à
dívida, “é impossível de ser atin-
gida”, afirmou o executivo na
entrevista. A Petrobrás plane-
jou fechar o ano com o mesmo
patamar de compromisso de pa-
gamento a credores de 2019, de
US$ 87 bilhões.
Há uma expectativa de reto-
mar medidas de retração da dívi-
da no começo do ano que vem,
mas isso vai depender do am-
biente econômico mundial.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Amanda Pupo / BRASÍLIA

O ministro da Infraestrutura,
Tarcísio de Freitas, demons-
trou ontem otimismo com os
próximos leilões de aeropor-
tos, mesmo diante da pandemia
do novo coronavírus que afeta
bruscamente o setor de aviação
civil. “Nós vamos arrebentar na
venda de aeroportos”, disse o
ministro, durante live promovi-
da pelo banco Santander. Para
ele, o governo conseguirá trans-
ferir à iniciativa privada todos
os aeroportos que estão na pau-
ta do Ministério.
O governo pretende leiloar to-
dos os terminais que ainda es-

tão sob responsabilidade da In-
fraero. Ontem, o ministro citou
43 aeroportos. O número final
da 7.ª rodada ainda está sendo
fechado, já que há possibilidade
de alguns aeroportos pequenos
serem assumidos pelos Esta-
dos. Já a 6.ª rodada deve contar
com 22 aeroportos, com previ-
são de o leilão ser realizado em
março de 2021, disse Freitas.

‘Ousadia’. Para o ministro, o
sucesso esperado será resulda-
do da “ousadia” do ministério,
ao manter os leilões e se tornar
um “vendedor” de aeroportos
quase que “exclusivo” no mun-
do. O ministro reconheceu que
o momento é difícil para avia-
ção, mas disse que protocolos
de segurança estão sendo im-
plantados e que aos poucos o
movimento do setor deverá ser
retomado. Segundo ele, a con-
fiança “não é desarrazoada”,
mas nasce das conversas com

investidores.
Freitas também confirmou
que o governo não vai mais exi-
gir do operador aeroportuário a
participação no capital social
da concessionária para as próxi-
mas transferências. Isso, para
ele, é outro fator atrativo dos
próximos leilões. Em entrevis-
ta recente ao Estadão/Broad-
cast, o secretário Nacional de
Aviação Civil, Ronei Glanz-
mann, afirmou que a mudança
estava em estudo.
Em razão da atual crise, é es-
perado que os leilões atraiam
principalmente fundos de pen-
são e de private equity. Nesse
cenário, o operador da conces-
são pode entrar através de uma
contratação, sem precisar parti-
cipar com capital. “Isso já está
repercutindo bem no merca-
do”, disse Freitas.
Para o ministro, os aeropor-
tos previstos para serem leiloa-
dos na 7.ª rodada devem atrair a
atenção de investidores. A últi-
ma rodada de concessões, pre-
vista para ocorrer até o fim de
2022, tem na carteira aeropor-
tos como os de Santos Dumont
(RJ) e Congonhas (SP).

‘Política econômica também é
política’, resume incoerências
que Jailison apontava

Para empresa, preço do barril só deve recuperar patamar dos US$ 50 em cinco anos; foco no pré-sal reflete mudanças de mercado


Latam estuda pedir recuperação judicial no Brasil, EUA e Chile. Pág. B7 }


E-MAIL : PEDROF-
[email protected]
ESCREVE ÀS TERÇAS-FEIRAS

Tarcísio de Freitas, da
Infraestrutura, diz que
governo vai manter
cronograma de venda
de até 43 projetos

DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 27/6/

Petrobrás vê alta gradual do petróleo


Castello Branco. Corte de custos e reavaliação de projetos
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