O Estado de São Paulo (2020-05-26)

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A4 TERÇA-FEIRA, 26 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS
PARTICULARES.
Walter Braga
Netto,
ministro da Casa
Civil

»Tarda... A demanda dos
prefeitos por protocolos
desse tipo vem de gestões
anteriores na Saúde. O tex-
to foi prometido pelo minis-
tro interino Eduardo Pa-
zuello aos gestores munici-
pais na semana passada.

»...mas não falha. Para o
secretário executivo da
Frente Nacional de Prefei-
tos, Gilberto Perre, ainda
que não tenha um caráter
normativo, o protocolo é
importante para ajudar no
alinhamento de ações das
três esferas de poder.

»Deixa quieto. Mesmo
após a OMS ter suspendido
estudos sobre o uso da clo-
roquina, a Saúde informou
que, por enquanto, não pre-
tende rever o protocolo de
uso da substância publica-
do na semana passada.

»Esquivou. A ANS discuti-
ria ontem a gestão unifica-
da de leitos públicos e priva-
dos durante a pandemia.
Mas o presidente interino,
Rogério Scarabel, adiou a
reunião minutos antes por
ter passado mal. Diretores
da agência viram a justifica-
tiva como “desculpa” para
fugir da discussão.

»Agora... O vídeo da reu-
nião ministerial resolveu
entre os empresários um
mistério: nas conversas
com o setor produtivo, Bra-
ga Netto só chamava sua
estratégia para recuperar a
economia de Plano
Marshall, conforme revelou
a Coluna. Na coletiva do
anúncio, porém, negou o
apelido publicamente.

»...sim. Foi para não melin-
drar ainda mais Paulo Gue-
des, até então excluído da
elaboração e que detestou a
menção ao plano dos ameri-
canos após a Segunda Guer-
ra. Para os empresários, o
sonho de Braga Netto era
sair da crise como o general
Marshall brasileiro.

»Levando... Legenda com
maior número de prefeitu-
ras no País, o MDB vai reali-
zar uma pesquisa interna
com seus parlamentares e
presidentes de diretórios
estaduais sobre eleição mu-
nicipal durante a pandemia.

»...a voto. A decisão foi to-
mada pelas bancadas no
Congresso. Ainda não há
consenso sobre manter ou
não a data e, se for o caso,
por quanto tempo adiá-la.
Mas todos concordaram
que a disputa deve conti-
nuar neste ano, para que
não haja mandatos-tampão.

»Há males... Críticos no
governo de Ernesto Araújo
veem uma janela de oportu-
nidade caso o trecho censu-
rado da reunião ministerial,
em que se fala da China,
acabe vazando. Bolsonaro
seria obrigado a abraçá-lo
de vez ou a trocá-lo por um
nome menos hostil ao par-
ceiro comercial.

»...para o bem? Estes go-
vernistas citam como um
bom nome Flávio Rocha,
secretário de assuntos estra-
tégicos do Planalto. Além
de ter a confiança do presi-
dente, seria qualificado pa-
ra o posto, dizem.

COM MARIANNA HOLANDA. CO-
LABOROU MATEUS VARGAS.

Q


uase três meses após a OMS declarar pandemia, o
Ministério da Saúde vai publicar nos próximos
dias um protocolo de atendimento a pacientes que
apresentam sintomas da covid-19, mas sem um quadro
tão grave. Com a intenção de desafogar as UTIs, a pasta
quer orientar os hospitais a tratá-los também com oxigê-
nio ou ventilação para evitar que a situação evolua. O docu-
mento é o segundo de uma série de três que o ministério
planeja divulgar. O primeiro foi o polêmico da cloroquina
e o terceiro deve tratar de mão de obra especializada.

Pazuello prepara novo


protocolo para covid-


MARIANA HAUBERT (INTERINA*)
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Ministros militares agora


negociam com o Centrão


Poderes. Com aval de Bolsonaro, chefe da Secretaria de Governo e, eventualmente, o titular


da Casa Civil participam de acertos no Planalto; ala militar era dura nas críticas ao bloco


Jussara Soares / BRASÍLIA

Partiu do general reformado
Augusto Heleno Ribeiro, o
atual ministro-chefe do Gabi-
nete de Segurança Institucio-
nal (GSI), na convenção do
PSL que confirmou a candida-
tura de Jair Bolsonaro ao Pla-
nalto em julho de 2018, um
dos mais duros ataques ao
Centrão, classificado por ele
como “a materialização da
impunidade”. Quase dois
anos depois, é de mãos dadas
com a ala militar que o bloco
entra no governo e avança so-
bre cargos do Executivo em
troca do apoio ao presidente,
que tenta evitar a abertura de
um processo de impeach-
ment. O encontro dos dois ex-
tremos foi apelidado em Bra-
sília de “Centrão Verde-Oli-
va” e acumula discórdia e des-
confiança em todos os lados.
A negociação, com aval de Bol-
sonaro, tem sido capitaneada pe-
lo ministro-chefe da Secretaria
de Governo e general da ativa,
Luiz Eduardo Ramos. O minis-
tro-chefe da Casa Civil, Walter
Braga Netto, também general,
eventualmente participa das
conversas que ocorrem dentro
do Palácio do Planalto. É um pa-
pel que já foi exercido por políti-
cos como Geddel Vieira Lima,
Antonio Palocci e José Dirceu,
auxiliares de Michel Temer, Dil-
ma Rousseff e Luiz Inácio Lula
da Silva, respectivamente.
Do outro lado do balcão, o
principal negociador é o líder
dos Progressistas na Câmara, o
deputado Arthur Lira (AL), que
informalmente passou a exer-

cer a liderança do governo. O
Centrão de Bolsonaro ainda
tem Republicanos, PL, PSD, Soli-
dariedade, PTB e parte do DEM.
Entre militares, existe um des-
conforto em ver generais envol-
vidos diretamente na articula-
ção política, mas argumentam
que seguem a disciplina das For-
ças Armadas e cumprem ordens
do comandante, no caso o presi-
dente Bolsonaro.
Políticos do Centrão que ago-
ra frequentam o gabinete do mi-
nistro Luiz Ramos dizem que as
conversas são diretas e cha-
mam de “lenda” o estigma de
que os militares não têm expe-
riência política. Dois deputa-
dos contaram ao Estadão que
não há constrangimentos ou se-
nhas para a oferta de cargos. É o
ministro quem puxa o assunto e
já apresenta um papel com a lis-
ta de postos nos Estados para o

convidado escolher. “Não fica
nem vermelho”, ironiza um par-
lamentar recém convertido à ba-
se do governo. A cena é bem dife-
rente do início do governo,
quando o Centrão parou de fre-
quentar o Planalto por medo do
general Santos Cruz, anteces-
sor de Ramos.
Em uma tentativa de conter o
desgaste com a aproximação, o
presidente determinou aos auxi-
liares evitar usar o termo “Cen-
trão” e fala agora em “aliança de
centro-direita”. Para diminuir a
resistência interna, o argumen-

to que tem sido usado é que as
conversas são “republicanas” e
as indicações precisam ser apro-
vadas pelo Sistema Nacional de
Indicação e Consultas (Sinc).

Lava Jato. Bolsonaro chegou a
gravar um vídeo em tom amisto-
so com Arthur Lira, de quem foi
colega de partido. O parlamen-
tar foi um dos alvos da Opera-
ção Lava Jato e é réu por corrup-
ção passiva no Supremo Tribu-
nal Federal (STF). Ele foi acusa-
do de ter encabeçado negocia-
ção de pagamento de propina a
agentes públicos, com repasses
que totalizaram R$ 1,94 milhão.
Na nova relação que governo
tenta construir com o Congres-
so, Lira tem atuado para levar
os pedidos de cargos ao minis-
tro Ramos. Bolsonaro tem cedi-
do e desagradado fiéis aliados.
Integrantes do Palácio do Pla-
nalto do grupo ideológico acu-
sam, nos bastidores, a ala militar
de convencer o presidente a ce-
der ao fisiologismo e, ao mesmo
tempo, fazer do governo um re-
fém da “velha política” em troca
de formar uma base de apoio no
Congresso. Entretanto, em
abril, quando iniciou o movimen-
to para criar uma articulação,
Bolsonaro recebeu líderes do
Centrão sozinho em seu gabine-
te, sem a presença de ministros.
Abraham Weintraub, minis-
tro da Educação, tentou resistir
à entrega de cargos. Por um
mês, ele não aceitou nem mes-
mo receber nomes de apadri-
nhados do Centrão para consul-
ta. Ameaçado de demissão, o mi-
nistro acabou cedendo. Ele diz
estar na mira dos militares.

Mateus Vargas / BRASÍLIA

Em plena pandemia da covid-
19, o Ministério da Saúde passa
por reformulação. Cerca de 20
militares já foram nomeados pa-
ra áreas estratégias durante as

gestões de Nelson Teich e do
general Eduardo Pazuello, que
comanda a pasta interinamen-
te. Outros 20 devem ganhar car-
gos nos próximos dias.
O Centrão também deve rece-
ber uma fatia do ministério. Lí-
deres do PP e PL chegaram a um
acordo para indicar o médico
Marcelo Campos Oliveira a se-
cretário de Atenção Especializa-
da à Saúde, área cobiçada por
liberar recursos para custeio de
leitos em hospitais de todo o
País. O secretário ainda não foi

nomeado. Durante a pandemia,
a secretaria já autorizou bancar
R$ 911,4 milhões para o funcio-
namento, por 90 dias, de 6.
quartos de UTI para a covid-19.
Em reunião com representan-
tes de secretários de saúde de
Estados e municípios, na quin-
ta-feira passada, o ministro inte-
rino disse que os militares de-
vem ficar temporariamente.
A maioria ocupa cargos na se-
cretaria-executiva, responsá-
vel pela gestão de contratos,
pessoal, orçamento e dados do
ministério. A ideia é que os cer-
ca de 20 militares que ainda de-
vem entrar na Saúde recebam
também, a maioria, cargos na se-
cretaria-executiva.
Pazuello estuda, no entanto,

nomear um militar como Secre-
tário de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos, posto
responsável pelo estudo de no-
vos produtos e pelo diálogo
com a indústria farmacêutica. A
pasta é estratégica para a análi-
se, por exemplo, de evidências
científicas sobre uso da cloro-
quina contra a covid-19.
Procurado, o Ministério da
Saúde informou que as nomea-
ções feitas “envolvem profissio-
nais capacitados e com expe-
riência em lidar com situações
de crise”. Apesar do avanço de
casos da pandemia no País, a
pasta alega que “a estratégia de
resposta brasileira à covid-
não foi prejudicada em nenhum
momento.”

Renato Sérgio de Lima

Bloco entra na Saúde; ala


militar ganha mais cargos


PRONTO, FALEI!

ALBERTO BOMBIG
*O colunista está em férias.

lO governo federal abriu ontem
licitação de R$ 44 mil para adqui-
rir uma esteira ergométrica para
o Palácio do Jaburu, onde mo-
ram o vice-presidente Hamilton
Mourão e a sua mulher, Paula
Mourão. O modelo procurado
vem com programas pré-configu-
rados de exercício físico, tela tou-
ch screen de alta definição, inter-
net, TV e acessos a "cursos inte-
rativos". A justificativa para a pro-

cura é que o Palácio do Jaburu
não tem aparelho "minimamente
adequado" e que atenda aos
"princípios da ergonomia e biome-
cânica", para prática de exercí-
cios físicos. O governo afirma que
a guarda do palácio deve usar o
equipamento. "Inclusive com
simulação de situações reais on-
de o caminhar e as corridas são
feitas com os uniformes e equipa-
mentos vinculados", diz o edital.
A Vice-Presidência ainda argu-
menta que a rotina “força Mou-
rão a realizar exercícios fora do
expediente, muito cedo ou muito
tarde”. Procurada a Vice-Presi-
dência não se manifestou. / M.V.

Cerca de 20 integrantes
das Forças Armadas
devem ser nomeados nos
próximos dias; partidos
também indicam nomes

DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–22/4/

Executivo. Ramos, da Secretaria de Governo, e Braga Netto, da Casa Civil, durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto

“Sérgio Moro perdeu o discurso de combate à violên-
cia e ficou menor”, sobre o ex-ministro ter assinado porta-
ria que ampliou acesso a munições por pressão de Bolsonaro.

Presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

»CLICK. O governo de
SP foi às redes sociais
desmentir vídeo em que
PMs batem continência
supostamente a ato bol-
sonarista. Era homena-
gem a um policial morto.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Governo pretende


gastar R$ 44 mil


com esteira para vice


NA WEB
Análise. Entre o
núcleo ideológico
e a ala militar

estadao.com.br/e/husseinkalout
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