O Estado de São Paulo (2020-05-26)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 26 DE MAIO DE 2020 Internacional A


D


e Melbourne a Bruxelas, de
Los Angeles a Budapeste, a
imprensa mundial evoca
uma “guerra de idades”, entre os
chamados “baby boomers” e os jo-
vens da chamada geração Z, os “zoo-
mers”, nascidos depois de 1990.
Lembramos que os sociólogos di-
videm os humanos em quatro gran-
des grupos segundo a idade. Os
mais velhos são os “baby boomers”
(nascidos entre 1944 e 1964), que,
em sua idade adulta, viveram um pe-
ríodo de prosperidade excepcional.
Um mundo em paz. A economia em
recuperação. Foi o início do que cha-
mamos na França de “Os 30 Anos
Gloriosos”.

Em seguida, vem a geração X, dos
nascidos entre 1966 e 1976 (alguns au-
tores propõem outras datas: entre
1961 e 1981). Essa geração presenciou a
queda do Muro de Berlim, o fim da
Guerra Fria, as ilusões embriagadoras
de um mundo apaziguado. Mas tam-
bém chegou o período da aids e do pe-
sadelo do emprego precário. Depois,
temos a geração Y, dos millennials,
nascidos entre 1984 e 1996, que so-
frem com o desemprego e o início da
globalização.
Finalmente, os que nasceram entre
1996 e 2015 formam a geração Z, os
chamados “zoomers”. O aquecimen-
to climático não é mais uma mania dos
estudiosos, mas uma probabilidade

que semeia o terror, sobretudo entre
os jovens. O tempo da despreocupa-
ção, da felicidade, acabou. E, para com-
pletar, vêm se somar a ascensão dos
populismos e a fadiga da ideia demo-
crática.
A chegada de um inimigo invisível,
difícil de localizar e desconhecido, o
coronavírus, que em poucos meses en-
cheu os cemitérios com uma preferên-
cia marcante, segundo os médicos e as
estatísticas, pela carne murcha dos ve-
lhos.
Os sociólogos ainda não batizaram
essa geração perdida. Sem dúvida, per-
ceberam que depois do Z (zoomers) o
alfabeto não tem mais letras. Os lin-
guistas foram pegos desprevenidos.
Se eu fosse profeta ou especialista em
Cabala, concluiria que o fim do mun-
do está próximo e o apocalipse, impa-
ciente para entrar em ação, já que não
existe nenhuma letra depois do Z. Fe-
lizmente, não sou profeta.
Retornemos aos velhos. Eles não
têm um grande poder de fogo. Nos asi-
los onde vivem, não dizem nada, e se
contentam em morrer. Alguns países,

como China, Itália, França, se aprovei-
tam disso. Eliminam das suas estatísti-
cas as mortes de pessoas idosas. É uma
maneira de reduzir o número de mor-
tes da pandemia e de levar a crer que a
França (e outros países que fizeram o
mesmo cálculo) administra com brio
esta nova provação, porque sua medi-
cina é excelente, seus hospitais perfei-
tos, seu sistema de saúde é o primeiro
do mundo. Tudo é falso.
A medicina francesa foi notável ou-
trora. Não é mais. O sistema de saúde
está em frangalhos. Os médicos e en-
fermeiras estão no limite. Rapidamen-
te conhecemos a verdade, e ela é cruel:
nos primeiros dias do confinamento,
os asilos, longe de serem poupados pe-
la covid-19, apresentaram uma taxa de
mortalidade espantosa. Idosos mor-
riam às dezenas ou centenas. Assim,
muito rapidamente, e para evitar que a
polêmica se agravasse, os velhos mor-
tos foram reintroduzidos nas estatísti-
cas (a mesma besteira foi cometida
por outros países europeus).
Os americanos têm uma palavra pa-
ra designar as discriminações em detri-

mento das pessoas idosas: “ageís-
mo”. Essa discriminação é reprova-
da, mas faz parte da cultura america-
na. O Los Angeles Times realça os si-
nais de uma fratura entre gerações.
“As pessoas idosas testemunham
comportamentos e discursos que
deixam entender que sua vida não
tem tanto valor quanto a reativação
da economia.”
O vice-governador do Texas, Dan
Patrick, foi ainda mais franco: “Há
coisas mais importantes que a vida.
Como salvar este país para seus fi-
lhos e seus netos”. O Washington
Post expressou indignação: “A pan-
demia revelou uma dolorosa verda-
de: a América não se preocupa com
os velhos. Os EUA perdem seus ve-
lhos porque eles são frágeis, claro,
mas eles morrem igualmente de
uma outra epidemia que é ainda
mais grave – a desvalorização da vi-
da das pessoas idosas.” / TRADUÇÃO
DE TEREZINHA MARTINO

]
É CORRESPONDENTE EM PARIS

Bolsonaro chama


mídia estrangeira


de esquerdista


GILLES


LAPOUGE


Presidente brasileiro volta a ser alvo da imprensa internacional;


‘Financial Times’ diz que governo está levando Brasil ao ‘desastre’


EMAIL: [email protected]

ROMA

A Itália começará nesta semana
o recrutamento de 60 mil volun-
tários para monitorar o cumpri-
mento de suas medidas de segu-
rança. Nos últimos dias, multi-
dões se reuniram em áreas de
lazer em várias cidades após a
reabertura de piscinas, ginásios
e academias. A permissão de
usar os equipamentos esporti-
vos é parte do plano de relaxa-
mento da quarentena, iniciado
há três semanas.
Ontem, por exemplo, muita
gente foi à Catedral do Duomo,
em Milão, acompanhar um festi-
val de acrobacias de aviões da

Força Aérea – a exibição mar-
cou o aniversário de 74 anos da
república.
A partir de agora, os voluntá-
rios serão responsáveis por in-
formar as pessoas que não res-
peitem a distância física, segun-
do o Ministério de Assuntos Re-
gionais. Caso haja resistência
violenta ao tentar dispersar
uma aglomeração, eles devem
ligar para a polícia.
Os voluntários usarão distin-
tivo da Proteção Civil, trabalha-
rão 16 horas por semana, passa-
rão a atuar no meio de junho e
durante todo o verão. A decisão
foi tomada após a indignação de-
sencadeada no fim de semana
por cenas de multidão de jo-
vens festejando sem respeitar
as medidas de segurança.
Os quase 10 milhões de italia-
nos que frequentam espaços de-
dicados à prática de esportes po-
derão voltar a fazê-lo por meio
de reservas antecipadas. O uso
da máscara não será obrigató-
rio durante os exercícios, mas
muitos locais exigirão que ela
seja usada desde a entrada até o
vestiário. Nas piscinas públicas
e nos parques aquáticos, deve-
se manter uma distância de 7
m² entre as pessoas na água e
um 1,5 metro entre as espregui-
çadeiras. Tanto nas academias
quanto nas piscinas, é possível
verificar a temperatura e proi-
bir a entrada de quem estiver
com mais de 37,5°C. / AFP

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


LONDRES


O presidente Jair Bolsonaro
atribuiu ontem a imagem
ruim do Brasil no exterior ao
fato de a imprensa internacio-
nal ser “de esquerda”. “A im-
prensa mundial é de esquer-
da. O (Donald) Trump (presi-
dente dos EUA) sofre muito
com isso”, disse o presidente
a uma apoiadora na saída do
Palácio da Alvorada.
Bolsonaro vem sendo dura-
mente criticado pela imprensa
internacional. Ontem foi a vez
de o Financial Times publicar
um artigo afirmando que ele es-
tá levando o Brasil ao “desas-
tre” com sua condução da cri-
se. Fundado em janeiro de 1888



  • pouco antes de a princesa Isa-
    bel assinar a Lei Áurea –, o Finan-
    cial Times é um jornal focado


em temas econômicos e de for-
te caráter liberal.
A crítica a Bolsonaro foi assi-
nada pelo colunista Gideon Ra-
chman, o principal analista de
assuntos externos do jornal. No
texto, ele disse que o presidente
brasileiro adotou uma aborda-
gem semelhante à de Donald

Trump, mas ainda mais “irres-
ponsável e perigosa”.
“Ambos os líderes ficaram ob-
cecados com as propriedades
supostamente curativas da hi-
droxicloroquina. Mas, enquan-
to Trump está apenas tomando
o produto, Bolsonaro forçou o
Ministério da Saúde a emitir no-
vas diretrizes, recomendando o
medicamento para pacientes
com coronavírus”, escreveu.
“O Brasil está pagando um pre-
ço alto pelas palhaçadas de seu
presidente.”
No fim de semana, a revista
americana Time publicou uma
reportagem com o título “Bra-
sil começa a perder a luta con-
tra o coronavírus – e seu presi-
dente está olhando para o ou-
tro lado”. “O presidente pode
ainda sobreviver, mas muitos ci-
dadãos brasileiros não vão”,

afirmou a reportagem, ao falar
que Bolsonaro incentiva as pes-
soas a abandonarem o isolamen-
to social.
O texto contextualiza ainda a
crise política provocada pelo
presidente contra governadores
que apoiam medidas restritivas
para combater a doença, além
das demissões dos ministros da
Saúde, Luiz Henrique Mandetta
e Nelson Teich, e de seus atritos
com o ex-ministro da Justiça
Sergio Moro, que acusou Bolso-
naro de interferir na Polícia Fe-
deral para proteger parentes.
Moro, ao ser entrevistado pela
Time, disse que a “dificuldade
no combate à pandemia no Bra-
sil” ocorre em razão da posição
“negacionista” de Bolsonaro.
O Telegraph, tradicionalmen-
te alinhado ao conservadoris-
mo britânico, publicou ontem
que o Brasil enfrenta uma “im-
plosão política” e um vírus mor-
tífero fora de controle. “Bolso-
naro, agora, pode se tornar co-
nhecido como o homem que
quebrou o Brasil”, disse o diá-
rio, que descreve o presidente
como “um líder ciumento e vin-
gativo dirigindo uma nação em
crise”.
No domingo, foi a vez do
New York Times. O jornal ameri-
cano chamou o brasileiro de
“cético pandêmico”. “Enquan-
to hospitais entravam em co-
lapso, Bolsonaro passou os últi-
mos meses brigando com a Su-
prema Corte, com o Congresso
e até com seus ministros”. / AFP
e EFE

Valor dos idosos


Para monitorar volta, Itália


recruta 60 mil voluntários


lCríticas

lAtividades físicas

Governo acelera
reabertura, com retorno
de lojas, restaurantes e
permissão para
atividades físicas

Eleéleve,fácildenavegaresempublicidade.


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JOÉDSON ALVES/EFE

“O Brasil já está pagando
um preço alto pelas
palhaçadas de seu
presidente”
TRECHO DE REPORTAGEM DO
‘FINANCIAL TIMES’

“O presidente pode ainda
sobreviver, mas muitos
cidadãos não vão”
TRECHO DE TEXTO DA REVISTA ‘TIME’

Foco. Jair Bolsonaro é filmado por simpatizantes ao sair do Palácio do Alvorada, em Brasília: problema de imagem


ETTORE FERRARI/EFE

10 milhões
de italianos poderão voltar a
frequentar locais onde se pode
praticar esportes

2 quilos
engordaram, em média, os
italianos na quarentena

Roma. Esportistas mantêm distanciamento de segurança
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