O Estado de São Paulo (2020-05-27)

(Antfer) #1

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B6 Economia QUARTA-FEIRA, 27 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


camilafarani


fintechs tiveram faturamento anual
de menos de R$ 500 mi. Foram
analisadas 230 plataformas

C


om certeza, uma das grandes dúvidas que
tira o sono dos empresários de todo o mun-
do hoje é sobre o que vai acontecer nos
próximos meses com o mercado. É impossível
negar que o mundo e os mercados não serão mais
os mesmos daqui para frente. Afinal, além das
questões sanitárias e de saúde, os problemas eco-
nômicos também não serão pequenos.
A maior prova disso está na movimentação glo-
bal de mais de US$ 10 trilhões, que envolve pla-
nos de estímulo à economia e recursos básicos
para os cidadãos como forma de minimizar os
efeitos da pandemia da covid-19. E tudo isso vai
de encontro a um dos maiores questionamentos

sobre a economia mundial – se as indústrias e as
empresas vão conseguir se recuperar do baque.
Mas não é possível dizer, de uma forma geral,
sobre a capacidade que cada empresa possui de
enfrentar e superar esse período – uma vez que
nem todas têm maturidade e resiliência necessá-
rias para absorver esses impactos e saírem melho-
res do outro lado da crise. Mas o mercado não
deve voltar a ser o que era antes.
Primeiro, porque muita gente descobriu como
consumir produtos e serviços de formas diferen-
tes. É o caso da saúde a distância, por exemplo. O
Teladoc, principal serviço de telemedicina dos
EUA, teve um aumento de 50% em consultas só
no fim de março.
Diante desse cenário cheio de obstáculos, a
atuação dos líderes será cada vez mais importante

para definir se uma empresa vai conseguir se recu-
perar ou não. Existem quatro habilidades que to-
do o líder precisa desenvolver neste momento.
Primeiro, vem a necessidade de conseguir identi-
ficar oportunidades de gerar receita para o negó-
cio. Isso não é importante só pra manter o negócio
de pé, mas deve ser a forma como as empresas te-
nham de operar daqui para frente para identificar e
suprir as necessidades dos consumidores, bem co-
mo absorver as novas demandas do mercado.
Outra habilidade essencial nesses tempos é a de
revisar os processos do negócio, como digitaliza-
ção e otimização do trabalho e adotar políticas de
transparência referentes aos custos da operação.
E a habilidade de criar e gerenciar ambientes
flexíveis de trabalho que se adaptem a esse novo
cenário, incentivando o trabalho remoto, por

exemplo. Mas ainda assim, em muitos casos, em-
presas terão de se reinventar totalmente.
E você, como líder, vai ter de identificar essa
necessidade e conduzir o seu time durante essa
fase de mudança, não apenas nas questões técni-
cas, mas também na forma como tudo isso deve
ser conduzido. Porque são esses momentos que
colocam em evidência os grandes líderes.
Independentemente das previsões, o fato é
que o mundo já mudou. Como é muito difícil
saber o que vem por aí, é preciso ter consciência
de que as dificuldades vão aparecer, mas desistir
não é uma opção.

]
É INVESTIDORA ANJO E PRESIDENTE DA BOUTIQUE DE
INVESTIMENTOS G2 CAPITAL

Pesquisa
FGV oferece curso
de ciência de dados
A Fundação Getúlio Vargas
(FGV) está com vagas aber-
tas para um curso online gra-
tuito de Introdução à Ciên-
cia de Dados. Voltado para
alunos do ensino superior, o
curso não tem processo sele-
tivo e traz 60 horas de ativi-
dades. Inscrições no site:
bit.ly/36wMkUW

aporte
Startup Houpa recebe
aporte de R$ 12 mi
A Houpa, startup de compra e
venda de roupas em atacado,
acabou de captar R$ 12 mi-
lhões em investimento. A
plataforma da fashiontech,
liderada por Mateo Kim já
alcançou 12 mil varejistas
cadastrados e tem mais de
20 mil usuários ativos em
seu aplicativo.

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O que esperar?


Pontos de contato entre


empresas e startups,


iniciativas perderam


caráter físico, mas seguem


na pauta das corporações


Bruno Capelas


De um lado, uma grande corpo-
ração buscando se renovar, tra-
zendo soluções inovadoras pa-
ra perto de si. Do outro, star-
tups de olho em parcerias e,
quem sabe, um contrato ou in-
vestimento com uma empresa
de porte. Nos últimos anos,
programas de aceleração cor-
porativa se tornaram popula-
res no Brasil, com base em
imersão, eventos e muitas tro-
cas em um mesmo espaço físi-
co. Em meio à pandemia do co-
ronavírus, essas iniciativas ti-
veram de se transformar para
seguir fazendo sentido, mas
não deixaram de estar na pau-
ta das companhias, segundo
apurou o ‘Estadão’ com consul-


torias de inovação do ramo.
Responsáveis por boa parte
dos programas de aceleração cor-
porativa do País, grupos como Li-
ga Ventures, Ace, Kyvo e Endea-
vor afirmam não ter tido ne-
nhum projeto cancelado em
meio à crise do novo coronavírus


  • a previsão inicial é de que pelo
    menos 20 projetos sejam execu-
    tados pelas quatro companhias.
    “É claro que houve impacto,
    porque todas as empresas fo-
    ram afetadas pela pandemia,
    mas tudo foi adequado. Tive-
    mos 40% dos programas pausa-
    dos, mas metade deles já foi re-
    tomado e a outra metade vai re-
    tornar até julho”, diz Daniel
    Grossi, cofundador da paulista-
    na Liga Ventures, que neste mo-
    mento roda projetos com no-
    mes como Banco do Brasil, O
    Boticário, Suvinil e Danone.
    “Ouvimos muito de algumas em-
    presas que não dava para come-
    çar na data prevista, o foco da
    atuação tinha se deslocado, mas
    elas diziam que inovação seguia
    segundo fundamental.”


A Kyvo, que atende grupos co-
mo Visa, afirmou, por sua vez,
ter porcentuais parecidos de
adiamento. Para Clara Bidorini,
chefe de corporate venture da Ky-
vo, foi preciso descobrir como
fazer as pessoas trabalharem de
uma forma diferente. “Tivemos
de achar ferramentas para que
os projetos pudessem ser toca-
dos assincronamente. Na qua-
rentena, cada pessoa tem um ti-
ming diferente”, diz ela.

Calendário. Além das adapta-
ções para o digital, a Kyvo tam-
bém teve de refazer o calendário
de alguns programas – em um
deles, que contava com uma via-
gem de imersão das startups par-
ticipantes para o Vale do Silício,
a excursão foi substituída por
uma série de lives e conversas
com mentores de diversos paí-
ses. “A viagem tinha um grande
impacto, mas agora poderemos
ter uma série de pontos de vista
bem diferentes”, diz a executiva.
A empresa também afirma
que alguns de seus pro-

gramas, com duração de seis me-
ses, foram abreviados para três
ou quatro meses. “O que impor-
ta agora é entender o desafio que
as corporações têm para inovar
e nos adequarmos a isso.”
Ace e Endeavor alegaram não
ter tido programas adiados, mas
tiveram de fazer ajustes para o
universo digital. “Tem gente
que acha que ser 100% digital sig-
nifica mandar um link do Zoom
e fica tudo certo. Não é assim:
ninguém aguenta ficar o dia in-
teiro na frente da tela fazendo
videoconferências”, diz Igor Pi-
quet, diretor de crescimento de
negócios da Endeavor, que aca-
bou de lançar um programa apoi-
ado por clientes como Grupo
Pão de Açúcar e Nestlé.
Segundo ele, foi preciso rede-
senhar os eventos e as reuniões
para que as atividades fossem
proveitosas, com foco nos objeti-
vos. “O que precisamos recriar é
a experiência de fazer negócios,
não só a comunicação.”
Para o sócio da Ace, Arthur Ga-
rutti, o isolamento social até faci-
litou algumas práticas dos pro-
gramas de aceleração. “A agenda
dos executivos das empresas,
que servem como mentores das
startups, se tornou menos escas-
sa”, diz ele. Experiência parecida
também é relatada por Grossi,
da Liga Ventures. “Além do tem-
po mais livre, também aumen-
tou entre os executivos a percep-
ção sobre a necessidade da trans-
formação digital”, afirma.
Segundo Garutti, os próxi-
mos programas da Ace já estão
sendo repensados. “No futuro, a
aceleração terá um aumento de
interações remotas, com só al-
guns momentos-chave tendo ce-
rimônias presenciais”, afirma.

Interesse. Outra mudança que
aconteceu com os programas
da Liga Ventures foi o interesse
das startups. Antes da pande-
mia, ao contrário do que se pen-
sa, nem todas as empresas nova-
tas procuram se associar com
uma grande corporação. Em
um cenário mais complicado,
porém, isso mudou. “Nos pro-
gramas com inscrições abertas,
vimos alta de 50% na procura
pelas startups”, afirma Grossi.
“Elas estão vendo com bons
olhos a possibilidade de se apro-
ximar: em mercados em que as
vendas esfriaram, um projeto
pode ser uma alternativa para
desenvolver negócios.”
Para Piquet, da Endeavor, po-
rém, os empreendedores se-
guem sendo muito criteriosos
para se associar a uma grande
corporação. “É preciso separar
o joio do trigo. Se a proposta do
programa for só eventos e oba-
oba, as startups estão fora – afi-
nal, a crise está forçando muita
gente a fazer mudanças duras.”
Na visão de Grossi, da Liga,
mesmo com um momento bom
é difícil prever como será o futu-
ro. Para ele, 2021 pode ser um
ano difícil para os programas de
aceleração corporativa, por con-
ta do cenário econômico e orça-
mentos menores das compa-
nhias. “Mas acredito que a recu-
peração também vá ser rápida.
O ímpeto das empresas de se
Malas. Kyvo, de Clara, trocou viagem por ‘live’ internacional transformar não vai se perder.”

50%
foi a alta registrada na
quarentena pela startup
Dentalis, de software
odontológico

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RODRIGO PAIVA/KYVO

PONTES


HOUPA

Programas de aceleração corporativa se adaptam à quarentena


LIGA VENTURES

Interrupções. Com clientes como Banco do Brasil e O Boticário, Liga Ventures, de Grossi, teve 20% dos programas adiados, mas retomada será até julho

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