O Estado de São Paulo (2020-05-27)

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B16 Economia QUARTA-FEIRA, 27 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Talita Nascimento

O presidente do Magazine
Luiza, Frederico Trajano, disse
ontem, em teleconferência
com investidores, que o caixa
da empresa tem fôlego para su-
portar dois anos de lojas físicas
fechadas. Ainda assim, ele afir-
ma que a empresa trabalhou
desde o começo da crise da cri-
se provocada pela pandemia de
covid-19 como se não tivesse es-
se conforto.
“Reforçamos caixa, emiti-
mos debênture e fizemos des-
contos de recebíveis. Podemos
fazer ainda outras ações do ti-
po, mas a perspectiva com aber-
tura de lojas é mais positiva”,
afirmou.
O lucro líquido do Magazine
Luiza no primeiro trimestre de
2020 ficou em R$ 30,8 milhões,
uma queda de 76,7% na compa-
ração com o mesmo período do
ano anterior. Na mesma base de
comparação, porém, as vendas

totais subiram 34%, alcançando
R$ 7,7 bilhões no trimestre.
Mesmo com a maior parte das
lojas fechadas por conta da pan-
demia, o Magalu ultrapassou,
pela primeira vez, a marca de R$
100 bilhões em valor de merca-
do, em função do bom desempe-
nho do e-commerce (ler mais na
Pág. B2).
A companhia terminou o pri-
meiro trimestre do ano com po-
sição de caixa total de R$ 4,6 bi-
lhões. Além da adoção das medi-
das previstas na Medida Provi-
sória 936, que permite a redu-
ção de jornada de trabalho e de
salários, e a renegociação de alu-
guéis, a empresa emitiu uma de-
bênture no mês de abril que irá
remunerar com taxa do CDI
mais 1,5% de juros.
Além disso, o conselho da em-
presa cancelou a distribuição
de dividendos adicionais de R$
290,914 milhões. A ata da reu-

nião diz que a medida foi toma-
da para preservação de caixa da
companhia em “momento de in-
certezas”. Ficou decidida a dis-
tribuição total de R$ 170 mi-
lhões, correspondente a 19,35%
do lucro líquido apurado no
exercício.

Segundo trimestre. Adiantan-
do dados do segundo trimestre
deste ano, Trajano disse que o
mês de maio deve ter crescimen-
to em relação ao mesmo perío-
do de 2019. No balanço, a com-
panhia divulgou o crescimento
de 46% em vendas totais até o
dia 20 deste mês.
Segundo ele, o empenho de
anos da empresa em investir no
e-commerce deu frutos neste
momento de crise.
Apesar de ter perspectivas po-
sitivas para os próximos trimes-
tres com a reabertura das lojas
físicas, Trajano diz que não é oti-
mista com a situação da pande-
mia no País. “O Brasil é um dos
únicos países a reabrir o comér-
cio com casos de covid-19 cres-
cendo”, disse.
As lojas da companhia que já
reabriram representam 40% do
parque da empresa. Elas estão
em cidades pequenas e a empre-
sa segue um protocolo extenso
que avalia, dentre outras coisas,
leitos de UTI ocupados e núme-
ro de casos no local.
O presidente da empresa dis-
se que não estão descartado no-
vos fechamentos em razão da
evolução da pandemia no País,
como se observou em outros lu-
gares do mundo. Ainda assim,
adiantou: “Teremos mais lojas
reabertas em junho”.

Fatia. Nas contas do Magazine
Luiza, a empresa é a única a ga-
nhar market share dentre as va-
rejistas do seu ramo. “É só pe-
gar os números de GMV. Assim,
fica claro e não criamos narrati-
vas que não existem”, disse Tra-
jano. A base ativa de clientes no
e-commerce da empresa cres-
ceu 43% na comparação com o
primeiro trimestre de 2019.
Em mais um passo da compa-
nhia, o sistema de pagamentos
do Magazine Luiza atingiu R$
500 mi em volume total de paga-
mentos (TPV) em abril. “Proto-
colamos pedido para virar Insti-
tuição de Pagamentos”, comple-
mentou.

‘Com o caixa atual,


aguentamos dois anos


de lojas fechadas’


ENTREVISTA


Fernando Scheller
Mônica Scaramuzzo


O setor de cosméticos, em
tempos de crise, é visto como
um privilegiado porque é bene-
ficiado pelo que os economis-
tas chamam de “efeito ba-
tom”. Como o custo dos produ-
tos é baixo, mesmo em cená-
rios de retração, os cosméticos
costumam ter bom desempe-
nho. Mas não é o que está ocor-
rendo durante a pandemia da
covid-19, segundo o presiden-
te do Grupo Boticário, Artur
Grynbaum. “Nessa crise, o efei-
to batom não apareceu porque
o convívio social ficou prejudi-
cado”, disse o executivo, que
participou ontem da série de
entrevistas ao vivo Economia
na Quarentena, do Estadão.
Leia, a seguir, os principais
trechos da entrevista:


lComo será a retomada das lo-
jas O Boticário?


O plano já está em marcha. Ho-
je, temos 4 mil lojas, sendo
que cerca de 2,5 mil já abertas
em diversas regiões. Obvia-
mente, são cidades menores.
Estamos orquestrando com
nossos franqueados e distribui-
dores para retomarmos de ma-
neira segura. Para isso, temos
de ter as nossas fábricas em
funcionamento e nossa distri-
buição. Os nossos escritórios
estão em home office.

lO setor de cosméticos é de ex-
perimentação. Vocês estão reven-
do alguns desses processos?
Estamos revisitando tudo. É
muito importante a segurança
dos consumidores que iremos
voltar a receber. Teremos pa-
drões de distanciamento den-
tro e fora das lojas. Retiramos
todos os testes, que foram co-
locados todos atrás do caixa. A
consultora pegará uma fita ou
um produto de forma altamen-
te higienizada. Na maquiagem,
estamos colocando instrumen-
tos digitais no ponto de venda
para que se possa fazer maquia-
gem virtual.

lO grupo tem a maior rede de
franqueados do País. Eles estão
recebendo auxílio?

Num primeiro momento, trata-
mos da questão financeira. Fi-
zemos prorrogações dos títu-
los de março e abril para que
eles tivessem mais tempo para
olhar operações e times, além
de contratos de locação. Fize-
mos um longo parcelamento
de produtos.

lOs setores vão se recuperar de
forma desigual. Como o setor de
cosméticos deve se comportar?
Num primeiro momento da
pandemia, as pessoas se volta-
ram para as necessidades es-
senciais. A busca foi para ál-
cool em gel, sabonetes. Na se-
quência, itens de uso rotinei-
ro, como xampus, desodoran-
tes – coisas que as pessoas con-
tinuaram a consumir. Nesse
período, surgiu a figura do faça
você mesmo. Então, as pes-
soas estão buscando produtos
para aplicar em casa.

lComo está o movimento das
lojas?
A volta é bastante lenta. Nos
primeiros dias, tem um certo
consumo represado. Fora isso,
o movimento é lento. As lojas
de shoppings ainda estão com
movimento bastante baixo, as-
sim como as das regiões cen-

trais da cidade. Nas lojas de
bairro e de hipermercados, o
movimento está melhor. As
pessoas associam a questão os
cosméticos como um setor re-
siliente à crise. As pessoas as-
sociam ao ‘efeito batom’. Só
que, nesta crise, o efeito ba-
tom não apareceu porque o
convívio social está prejudica-
do. Esperamos que retorne na
sequência.

lO cenário econômico está mui-
to difícil de prever?
Está bastante turvo o cenário,
está difícil entender a dimen-
são da crise. A crise não é só de
saúde, é econômica e aqui no
Brasil ainda tem o componen-
te político. Isso dificulta núme-
ros mais assertivos de retoma-
da. A gente entende que não
vai ser uma questão de três ou

quatro meses. Vai demorar pa-
ra voltar ao ponto em que está-
vamos em março de 2020. É
um ledo engano pensar que vai
ser rápido. Quanto mais volati-
lidade, mais fica difícil de pre-
ver. Temos nossas curvas de
demanda, e temos de estar pre-
parados para acelerações ou re-
cuos. Mas está turvo, porque
hoje estamos dependendo de
humores. E precisamos olhar
para fundamentos para tomar
melhores decisões.

lA empresa lançou mão de me-
didas do governo de suspensão
de contratos ou corte de salários
por causa da pandemia?
Estamos tentando preservar o
máximo possível de empregos.
Lançamos mão da MP 936 e co-
locamos contratos em suspen-
são. Depois desse período, a

gente espera ter uma visão me-
lhor e mais condições de to-
mar decisões lá na frente.

lComo o Grupo Boticário decide
a reabertura de lojas? Há um
acompanhamento próprio da si-
tuação em diferentes regiões?
Fazemos um acompanhamen-
to próprio, com cuidado na rea-
bertura das lojas. O pilar essen-
cial é a segurança das pessoas.
Temos acompanhando decre-
tos municipais e estaduais,
mas fazemos acompanhamen-
to separado de número de ca-
sos, mortes e leitos disponí-
veis. Em posse disso, conversa-
mos com os franqueados de ca-
da região. Em Belém, fecha-
mos as lojas em 22 de março. A
autoridade pública só determi-
nou o fechamento em 25 de
abril, mais de um mês depois.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


C


om a declaração da pandemia mundial
do novo coronavírus pela Organização
MundialdaSaúde(OMS)eaconstatação
de seus efeitos concretos no Brasil, foram im-
postasmedidasdecombateàdisseminaçãoe
ao tratamento da covid-19.
Os brasileiros, que acreditavam na consoli-
daçãodatãoesperadaretomadadaeconomiae
a consequente redução do desemprego, depa-
raram-se com a decretação do estado de Calami-
dade Pública, em 20 de março, e com a imediata
determinaçãodequarentenaeisolamentosocial.
A determinação ocasionou a redução ou
até mesmo a paralisação da atividade imobi-
liária: shopping centers fechados, plantões de
vendas esvaziados, contratos de locação rene-
gociados, administração condominial impac-
tada, atendimento presencial ao público nos
estabelecimentosdecomércioeserviçosim-
pedido, tudo em prol da preservação da vida e
dasaúde.Umbaque,umchoque.
Como parar a cidade que nunca para? Como
a capital paulista poderia, repentinamente, di-
minuir sua rotação e deixar de ser a terra que
acolheu e acolhe a tantos que vêm em busca
de oportunidades de trabalho, sustento, car-
reira,ganha-pão?Comocolocarosmilhares
detrabalhadoresdosetorimobiliário,espa-
lhadosportodooEstadodeSãoPaulo,asalvo
dessevírusimplacável,ecomoasempresasdo
setor sobreviveriam a essa duríssima prova?
Foi necessário mudar a rota de forma rápida.
Alternativas como férias, licenças remuneradas,
bancodehoras,suspensãocontratual,home
office,reduçãodesalárioetambémamaiste-
mida e drástica – demissões em massa, imedia-
tamenteentraramemdiscussãonasempresas.
Sobofocodaresponsabilidadesocial,erane-
cessário definir a que título as empresas deter-
minariam a esse grande contingente homens e
mulheresascondiçõesemqueestariamafas-
tadosdotrabalhodiárionosescritórios.
Em 23 de março último, as esperadas medi-
das emergenciais na legislação trabalhista fo-
ram divulgadas pelo governo. Mas como não
chegaram consolidadas, o cenário de adversi-

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Jornalista Responsável: Maria Silvia Carneiro - MTb - 19.466 | Ano 38 | Nº 1977 |27 de maio de 2020

Karina Zuanazi Negreli*

O paradoxal efeito positivo da pandemia


nas relações coletivas de trabalho


Muito pode ser
construído por aqueles
que acreditam nos
princípios constitucionais
da livre iniciativa e no
valor social do trabalho

*Gerente jurídica do Secovi-SP, especialista em Direito do Trabalho
pelaUSPeemDireitoSindicalpelaESA

dade foi matéria-prima para a solução nascida
da autonomia da vontade dos particulares.
A negociação direta entre trabalhadores e
empresários,representadosporsuasentidades
de classe, afastou dissensos e criou consensos
quanto a normas coletivas emergenciais, con-
templandoasalternativasnecessáriasnaque-
lassemanasfinaisdemarço,naquelesdias“em
que a Terra parou”.
MedidasProvisóriasforameditadaserevo-
gadas; benefícios emergenciais foram criados
e a duras penas implantados. Houve comoção
nos meios jurídicos, impugnação da constitu-
cionalidadedasnormasjuntoàSupremaCor-
te, liminares concedidas e revogadas...
No caótico cenário jurídico trabalhista for-
mado durante a pandemia, pelo menos duas
certezas: a de que necessitávamos preservar
asempresaseosempregoseadeque,inde-
pendentedastutelasprecáriasdeMedidas
Provisórias ou liminares da Suprema Corte,
os próprios interessados, quando munidos de
boa-fé, transparência e lealdade, podem ofere-
cer segurança jurídica e sustentabilidade para
as relações de trabalho.
Que esta experiência, paradoxal efeito posi-
tivo de uma pandemia, possa fortalecer nossa
convicçãodeque,nocamponasrelaçõescole-
tivasdetrabalho,muitoaindapodesercons-
truído por aqueles que continuam a acreditar
queosprincípiosconstitucionaisdalivreini-
ciativa e do valor social do trabalho devem ser
oalicercedodesenvolvimentodoPaís,emter-
mos materiais e humanos.

Informe Publicitário

lFolga
A companhia de varejo terminou
o primeiro trimestre do ano com
posição de caixa total de
R$ 4,6 bilhões. E registrou lucro
líquido de R$ 30,8 milhões
no mesmo período

Ladeira acima. Para Artur Grynbaum, acreditar em rápida recuperação é ‘ledo engano’

DIVULGAÇÃO

Segundo presidente do
Magazine Luiza,
investimento da empresa
no e-commerce deu
frutos durante pandemia

Horizonte. Maio deve crescer em relação a 2019, diz Trajano

BOTICARIO

‘Nessa crise, efeito


batom da economia


não apareceu’


Com 2,5 mil de suas 4


mil lojas abertas no País,


executivo vê retomada


lenta da economia após


pandemia de coronavírus


Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário

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