O Estado de São Paulo (2020-05-27)

(Antfer) #1

Hairton Ponciano


Desde o começo da pandemia
de covid-19, o dentista Osmyr
Placiano Junior decidiu perma-
necer isolado da família e dos
amigos em uma casa no Guaru-
já, cidade no litoral paulista. Ele
sobe a serra apenas uma vez por
semana para seu plantão no pos-
to médico da Prefeitura de São
Caetano do Sul, na Grande São
Paulo. Fora isso, sai de casa
eventualmente para surfar.
No mês passado, Placiano Ju-
nior decidiu pegar outra onda:
aproveitou uma oportunidade
e comprou um carro zero-quilô-
metro. Ele faz parte de uma par-
cela de pessoas que percebeu
que há bons negócios surgindo
no meio do oceano de crise.
O dentista comprou um Kia
Sportage de topo de linha, pelo
qual pagou R$ 145 mil à vista. De
acordo com ele, o preço de tabe-
la do modelo era de R$ 170 mil.
“Fechei negócio em dez minu-
tos”, garante Placiano Junior,
que vinha acompanhando o pre-
ço do SUV desde o ano passado.
“O carro subiu R$ 30 mil de de-
zembro para março, mas paguei
o preço de dezembro.”


Gol barato. A educadora física
Lara Seabra Nunes também es-
tá de carro novo da garagem. No
mês passado, em meio à pande-
mia de covid-19, enquanto a
maior parte da população deci-
diu cancelar ou adiar planos, ela
partiu para a negociação.
“Os pátios (das lojas) estão
cheios e consegui uma boa ofer-
ta”, diz. Lara comprou um
Volkswagen Gol 1.0 MPI. Na ta-
bela sugerida pela fabricante, o
preço do modelo está fixado em
pouco mais de R$ 50 mil. Mas
ela pagou R$ 45 mil à vista.
Lara e Osmyr agiram como
negociadores experientes: fo-
ram às compras quando a procu-
ra está baixa. Em geral, é nesse
tipo de situação que costumam
aparecer as melhores ofertas.
Por causa do isolamento so-
cial, o comércio considerado
não essencial – no qual as lojas
de automóveis se enquadram –
teve de permanecer fechado.
Com isso e com as montadoras
igualmente paralisadas, as ven-
das caíram muito.
Em abril, por exemplo, foram
emplacados somente 51.362 au-
tomóveis de passeio e comer-
ciais leves no País. O número
representa queda de 67% em re-
lação a março (155.807 unida-
des) e de 76,8% em comparação
com o mesmo mês do ano passa-
do (221.292 vendas).
Nos dois casos, a negociação
foi feita de forma remota. “Fiz
uma cotação online e consegui
uma boa oferta”, diz Lara. “Em
três semanas, tomei a decisão.”


‘150% melhor’. Embora o mer-
cado ainda esteja fraco, o geren-
te de vendas da concessionária
Volkswagen Amazon (na zona
leste da capital), Marcos Leite,
está mais otimista. “Em rela-


ção a abril, este mês está 150%
melhor”, afirma.
Na segunda-feira, dia 25, ele
havia vendido dois carros até o
início da tarde, mesmo com a
loja fechada por determinação
do governo do Estado. “Neste
mês estamos fazendo pelo me-
nos uma venda por dia.” Ele afir-
ma que isso é um alento, compa-
rado com o resultado de abril.
Leite informa que os mode-
los acima de R$ 100 mil são os
que mais vendem atualmente.
“As pessoas perceberam que as
aplicações financeiras estão
rendendo pouco, e também sa-
bem que não vão viajar tão ce-
do. Então, decidem-se pela
compra do carro.”
Já há caso de modelos (espe-
cíficos, obviamente) que come-
çam a faltar. “Jetta GLi na cor
cinza eu não tenho mais”, diz
Leite. Essa é a cor mais procura-
da no caso da versão esportiva
do sedã médio. Ele diz que o es-
toque de Tiguan R-Line, o mais
caro da linha do SUV, tabelado
a R$ 203.490, “foi embora”.
O gerente de vendas da Ama-
zon afirma que há boas promo-
ções, lançadas pela fábrica, para
alguns modelos. É o caso, por
exemplo, de um lote limitado
de 250 unidades do Jetta básico
(250 TSI) que está sendo vendi-
do por R$ 78.990. Esse valor re-
presenta abatimento de R$ 21
mil em relação aos R$ 99.990
sugeridos pela fabricante. “Está
mais barato que o Virtus”, diz.
Para comparação, o Virtus
200 TSI, que é um sedã menor
que o Jetta, sai por R$ 81.050 em
sua versão intermediária, Com-
fortline, com motor 1.0 turbo
de três cilindros e até 128 cv. O
Jetta 250 TSI traz um 1.4 turbo
de quatro cilindros e até 150 cv.

Alta do dólar. Embora ainda
haja alguns modelos em oferta
na Kia Stern, localizada nos Jar-
dins, o diretor da concessioná-
ria, Walter Raucci, afirma que
os preços dos veículos importa-
dos que virão nas próximas re-
messas serão mais altos.
“Os carros em estoque foram
comprados com o dólar mais
baixo (menos de R$ 5). Por is-
so, vai ser inevitável um aumen-
to (nas próximas compras).”
Atualmente há no estoque da
autorizada um lote do novo Ce-
rato. Por ora o sedã feito no
México está saindo a R$
94.990.

Péricles Malheiros
ESPECIAL PARA O JORNAL DO CARRO


Tempos de economia fragiliza-
da mexem bastante com o mer-
cado de automóveis. A venda de
veículos novos tende a cair, en-
quanto o comércio de usados
melhora. A explicação para esse
movimento de gangorra é sim-
ples: mais cauteloso, o consumi-
dor que, em condições nor-
mais, toparia pagar um pouco
mais pelo prazer de andar em
um 0-km acaba se contentando
com um seminovo. “Já deu para
sentir um aumento significati-
vo na procura por carros com
até três anos de uso, desde o iní-
cio da pandemia”, afirma Felipe
Viana, vendedor de usados com
mais de 30 anos de experiência.
“Mas negócio fechado, mesmo,
quase nada”, diz.
O diretor da Kia Stern, Wal-
ter Raucci (também dono de
uma loja de seminovos), acres-
centa outro fator para um prová-
vel aquecimento na venda de


usados, especialmente do seg-
mento premium. “A Mercedes
e a BMW já reajustaram os pre-
ços de seus carros (confira mais
informações na próxima pági-
na). Por isso, os seminovos ga-
nham atratividade.”
De acordo com Viana, quem
sempre comprou carros zero-
quilômetro tem um certo re-
ceio de partir para um usado. “A
pandemia parece ter deixado as

pessoas ainda mais inseguras”,
diz. Mesmo assim, ele conside-
ra o segmento de modelos de
segunda mão promissor. “Mais
da metade de meus amigos que
são vendedores de novos em
concessionárias foram dispen-
sados do trabalho durante a qua-
rentena. Uma boa parte deles
por causa do fechamento defini-
tivo do estabelecimento”, diz.
Seja zero-quilômetro ou usa-

do, um novo carro em casa pode
transformar toda a expectativa
de alegria num pesadelo econô-
mico sobre rodas. Além da ques-
tão do preço, uma compra racio-
nal precisa levar muitos outros
pontos em consideração.
A primeira dica é conferir a
tendência de depreciação. Em
geral, os três primeiros anos de
uso são os mais críticos. Nesse
período, a maioria dos carros

perde cerca de 50% do valor. É
justamente essa média que tor-
na a escolha entre um semino-
vo e um zero-quilômetro tão di-
fícil. Apesar da desvalorização,
na maioria dos casos o novo es-
tá coberto por garantia de fábri-
ca durante esse período. Por
sua vez, o usado teoricamente
já passou pelo período de desva-
lorização mais crítico, mas nor-
malmente está fora da cobertu-
ra, salvo poucas exceções.
No caso do zero-quilômetro,
os maiores prazos de garantia –
a média de um ano até a década
de 1990 saltou para três a partir
dos anos 2000 – acabaram au-
mentando o peso do custo de
revisões na decisão de compra.
Não à toa, carros de marcas dife-
rentes e da mesma categoria
chegam a ter cesta de revisões
até 60 mil km com valores e con-
teúdo praticamente idênticos.
Mas é preciso ficar atento,
pois essa guerra entre as fabri-
cantes acabou criando algumas
armadilhas. A Volkswagen, por

exemplo, tirou da lista de troca
obrigatória o filtro de ar do mo-
tor. Já a GM tirou o filtro do ar-
condicionado tanto do plano
de manutenção quanto de boa
parte de seus carros.

Seguro é fundamental. Antes
de fechar negócio, é importante
também fazer a cotação do segu-
ro. O valor da cobertura entre
modelos de mesmo segmento e
preço para um perfil igual pode
variar em mais de 100%. O cui-
dado com o custo da apólice de-
ve ser ainda maior no caso de
usados mais velhos.
Muitos, aliás, nem sequer são
aceitos pelas seguradoras, pois
a lei brasileira faculta às compa-
nhias o direito de negar a presta-
ção do serviço. Para espantar os
donos de usados de alta sinistra-
lidade (ou seja, com alta proba-
bilidade de sofrer um sinistro
como roubo ou perda total),
muitas seguradoras fixam pre-
ços proibitivamente altos.
E lembre-se: o processo que
leva à compra tecnicamente cor-
reta de um carro é demorado e
exige fazer muitas contas. En-
tão, paciência, e bom negócio!

lOportunidades

Paciência.
Placiano Jr.
checou valor
do Sportage
por 3 meses
e conseguiu
desconto de
R$ 25 mil

COMPRAR NOVO OU USADO, EIS A QUESTÃO


Queda de rendimento de aplicações e bônus


para o 0-km animam consumidor a comprar


Jornal doCarro


“Modelos acima de R$ 100
mil estão começando a
faltar. O que eu tinha de
Tiguan R-Line foi embora.
Mas a Volkswagen lançou
uma promoção com um lote
limitado de 250 unidades do
Jetta 250 TSI, que sai de
R$ 99.990 por R$ 78.990. É
mais barato que o Virtus”.

MARCOS LEITE
Gerente da Volkswagen Amazon

JF DIORIO/ESTADÃO

LUZ NO FIM DO


TÚNEL


ARQUIVO PESSOAL

Sumido. Concessionária VW não tem Jetta GLi na cor cinza

HONDA/DIVULGAÇÃO

Garantia.
Marcas
ampliaram
cobertura
com o
passar do
tempo. Da
Honda, por
exemplo,
são 3 anos

%He1DrmesFileInfo:B-1:202 0052 7: QUARTA-FEIRA,27DEMAIO DE 2020ANO38 -Nº1015 OESTADODES. PAULO

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