O Estado de São Paulo (2020-05-27)

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A4 QUARTA-FEIRA, 27 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»SINAIS
PARTICULARES.
Luiz Eduardo
Ramos,
ministro da
Secretaria de
Governo

»Mapa. A Câmara hoje se
divide em quatro: o Cen-
trão, o grupo de Maia
(MDB, PSDB, DEM e Cida-
dania), a oposição e os bol-
sonaristas. Deputados ava-
liam, porém, que Maia não
perdeu totalmente a cone-
xão com o Centrão.

»Agenda. Líderes de oposi-
ção dizem que concordam
com os partidos do “Cen-
trão de Maia” em pautas
como a defesa das institui-
ções, mas sabem que a alian-
ça é limitada: na economia,
em especial, não há possibi-
lidade de convergência.

»Média. O discurso de Ro-
drigo Maia, no qual cobrou
respeito à democracia e har-
monia entre os Poderes,
ficou aquém do esperado
pela oposição, mas ao me-
nos cumpriu um papel insti-
tucional, segundo lideran-
ças ouvidas pela Coluna.

»Opa. Em uma reunião
com diretores da União Eu-
ropeia para destravar acor-
dos bilaterais do agronegó-
cio, Tereza Cristina ouviu
sobre a importância de a
sustentabilidade ser tratada
em conjunto nas conversas.

»Vapt-vupt. A ministra es-
tava pronta para responder
sobre o aumento no desma-
tamento, mas a fala dos eu-
ropeus sobre o tema foi bre-
ve (para alívio dos envolvi-
dos). A reunião deve colher
bons frutos em julho.

»Visita-... Antes de comer
cachorro-quente de rua no
domingo, sob panelaços e
pedidos de selfie, Bolsona-
ro resolveu passar na casa
de Luiz Eduardo Ramos,
sem avisá-lo.

»...surpresa. Às pressas, o
ministro fez um lanche pa-
ra receber o chefe. Ofere-
ceu até leite condensado
para acompanhar o pão, co-
mo Bolsonaro demonstrou
gostar na campanha.

»De olhos... Governadores
adversários e ex-aliados do
presidente receberam com
estranheza a operação da
Polícia Federal contra Wil-
son Witzel. Temem que o
presidente esteja aparelhan-
do a instituição e que eles
sejam os próximos alvos.

»...bem abertos. Entre os
governadores de oposição,
há quem diga que é uma
questão de tempo até que
as operações comecem a
aparecer por lá.

»Vamos conversar? Verea-
dores de São Paulo se reú-
nem hoje com secretários
municipais para tratar do
projeto de lei da retomada
econômica na capital. A arti-
culação foi feita pelo presi-
dente da Câmara Munici-
pal, Eduardo Tuma (PSDB),
com o prefeito Bruno Co-
vas (PSDB).

»Ajuda. O diretório do No-
vo em São Paulo realizou
uma live em que arrecadou
R$ 21,7 mil para o braço mu-
nicipal da legenda. Na con-
versa, que contou com a
presença de Filipe Sabará e
Marina Helena, candidatos
a prefeito e vice, discutiu-
se o papel do partido nas
assembleias e na prefeitura
da capital paulista.

COM MARIANNA HOLANDA.

A


oposição a Jair Bolsonaro na Câmara conseguiu ver
uma janela de oportunidade na recém-formada
aliança do Centrão com o governo: a reaproxima-
ção com Rodrigo Maia (DEM-RJ). Para líderes da oposi-
ção, o presidente da Câmara, ao mesmo tempo que busca
recompor parte da influência perdida com o avanço do
governo sobre os partidos, precisa garantir uma sobrevi-
vência após o término do seu mandato à frente da Casa.
Sobre uma eventual CPI contra Bolsonaro, Maia não se
opôs, mas disse para a oposição se articular com o Senado.

Maia e oposição dialogam


para recompor forças


MARIANA HAUBERT (INTERINA*)
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Operação contra desvios


na Saúde atinge Witzel


Investigação. Após ter celulares e computadores apreendidos por autorização do STJ,


governador do Rio fala em perseguição política de Bolsonaro; presidente parabeniza PF


Após autorização do Supe-
rior Tribunal de Justiça
(STJ), a Polícia Federal (PF)
apreendeu ontem três celula-
res e três computadores do
governador do Rio, Wilson
Witzel (PSC), como parte de
uma investigação sobre su-
postos desvios de dinheiro da
Saúde. Segundo a acusação,
Witzel deu “anuência” para
que o governo assinasse um
contrato para o gerenciamen-
to de sete hospitais de campa-
nha para o combate à pande-
mia do novo coronavírus que
teria fraudes, como superfa-
turamento de orçamentos
por parte de uma organiza-
ção social (OS).
Witzel negou que tenha come-
tido irregularidades e afirmou
que o ministro do STJ Benedito
Gonçalves, que autorizou a ope-
ração Placebo, foi induzido a er-
ro pelos investigadores. O gover-
nador classificou a investigação
como um ato de perseguição po-
lítica do presidente Jair Bolsona-
ro, seu adversário, e avaliou que
o mesmo pode acontecer com
outros governadores que têm
feito oposição ao mandatário.
“O que aconteceu comigo vai
acontecer com outros governa-
dores considerados inimigos.
Narrativas fantasiosas, investi-
gações precipitadas”, disse.
Ao ser questionado sobre o
cumprimento de mandados de
busca e apreensão contra Wit-
zel, ontem pela manhã, Bolsona-
ro sorriu e deu “parabéns” à PF.
À noite, afirmou que não teve
nada a ver com a operação, que
não tem ingerência sobre o STJ
e provocou Witzel. “Tem gente

preocupada, querendo botar a
culpa em mim, falando do meu
filho”, afirmou o presidente. A
operação foi comemorada no
Palácio do Planalto e vista co-
mo um “troco” no adversário
(mais informações nesta página).
Witzel e Bolsonaro não fo-
ram os únicos que politizaram a
operação policial de ontem. O
líder do PSB na Câmara dos De-
putados, Alessandro Molon
(RJ), disse que vai pedir investi-
gação ao Ministério Público Fe-
deral (MPF) sobre o suposto va-
zamento da operação Placebo,
à deputada federal Carla Zam-
belli (PSL-SP). Na noite de se-
gunda-feira, a parlamentar ha-
via dito, em entrevista à Rádio
Gaúcha, que a PF estava prestes
a deflagrar operações para in-
vestigar irregularidades cometi-
das por governadores durante a
pandemia da covid-19.
Ontem, em entrevista ao Es-
tadão, Carla negou que tenha
recebido informações da inves-
tigação. “Dia 21 de maio saiu um
avião da PF daqui (de Brasília)
para o Rio de Janeiro. Houve
uma operação anterior a essa.
Então, era meio óbvio que fos-
sem acontecer outras opera-
ções”, disse a deputada.

Secretários. O inquérito que
cita Witzel no STJ foi aberto há
duas semanas, a partir de infor-
mações já investigadas pelo Mi-
nistério Público Estadual do
Rio – como governador tem fo-
ro, a ação foi levada a Brasília. A
investigação mira a escolha da
OS Iabas para gerir os sete hos-
pitais de campanha anunciados
pelo governo fluminense duran-

te a pandemia. A Iabas já rece-
beu R$ 256 milhões – o contrato
prevê o pagamento total de R$
836 milhões.
De acordo com os procurado-
res, o acordo foi assinado mes-
mo contendo fraudes, como or-
çamentos superfaturados para
serviços de montagem e des-
montagem de tendas, instala-
ção de caixas d’água, geradores

de energia e pisos para as unida-
des. Para a procuradoria-geral
da República (PGR), há fortes
indícios de que uma “estrutura
hierárquica” foi criada no Exe-
cutivo, “escalonada a partir do
governador Witzel”, para fazer
contratações fraudulentas.
Entre as provas citadas pelo
ministro Benedito está diálogo
interceptado na operação que
levou à prisão, no último dia 14,
o empresário Mário Peixoto e o
ex-deputado Paulo Mello. Ao
comentar a revogação da des-
qualificação de outra OS com
contrato no Rio, um aliado de
Peixoto, o empresário Luiz Ro-
berto Martins, faz referência a
uma pessoa que seria Witzel.
“O zero 1 do palácio assinou
aquela revogação da desclassifi-
cação da Unir”. O ministro Be-
nedito fala em um “vínculo bas-
tante estreito e suspeito” entre
a primeira-dama do Rio, Helena
Witzel, e a empresa DPAD Servi-
ços Diagnósticos Limitada, de
Alessandro de Araújo Duarte,
apontado como suposto opera-
dor de Mário Peixoto (mais in-
formações na página A8).
Além da prisão de Peixoto e
Mello, outras duas investiga-
ções que envolvem a Saúde do
Rio atingiram o Palácio Guana-
bara. Dois ex-subsecretários da
Secretaria Estadual de Saúde,
Gabriell Neves e Gustavo Bor-
ges, foram presos por indícios
de superfaturamento na com-
pra de respiradores. O secretá-
rio Edmar Santos chegou a ser
exonerado da pasta. / CAIO
SARTORI, CAMILA TURTELLI, FAUSTO
MACEDO, PEPITA ORTEGA e PAULO
ROBERTO NETTO

Alvo de mandado de busca e
apreensão, o governador do
Rio, Wilson Witzel (PSC), ne-
gou acusações de que autorizou
contratos com suspeitas de
fraudes, classificou a operação
como um ato de perseguição po-

lítica do presidente Jair Bolso-
naro e disse que é uma demons-
tração da interferência do man-
datário na Polícia Federal (PF).
“Todas as irregularidades fo-
ram investigadas e estão sendo
investigadas por determinação
minha. A busca e apreensão,
além de ser desnecessária – por-
que o ministro foi induzido ao
erro, fantasiosa a construção
que se fez – não resultou em ab-
solutamente em nada”, disse.
“O mínimo de cuidado na inves-
tigação levaria aos esclareci-

mentos necessários.”
Segundo Witzel, o País é go-
vernado por um presidente
que, além de ignorar o perigo do
coronavírus, inicia perseguição
contra aqueles que considera
inimigos. Segundo Witzel, a PF
engaveta inquéritos contrários
ao presidente e age com celeri-
dade em casos que investigam

adversários políticos. Para o go-
vernador fluminense, o sena-
dor Flávio Bolsonaro (Republi-
canos-RJ) deveria estar preso.
O senador reagiu, dizendo que
“pelo menos meia dúzia” de se-
cretarias de Witzel vão ter “pro-
blema. “Tem tanta coisa errada
no seu governo e é por isso que
me afastei desde o início.”
O governador de São Paulo,
João Doria (PSDB), disse on-
tem que não há, na investigação
contra Witzel, “crime configu-
rado” e que o trabalho de apura-
ção deve “prosseguir”. Ele criti-
cou os fatos de Bolsonaro para-
benizar a PF pela operação e de
Carla Zambelli (PSL-SP) falar
sobre a investigação no dia ante-
rior. / C.S e BRUNO RIBEIRO

Fernando Henrique Cardoso

Governador nega acusação


e vê interferência na PF


Planalto comemora


mandado de busca


contra adversário


BOMBOU NAS REDES!

ALBERTO BOMBIG
*O colunista está em férias.

lResultado

Witzel diz que operação
não resultou em ‘nada’ e
aponta atuação de Jair
Bolsonaro para que ele
fosse alvo de inquérito
“A busca e apreensão, além
de desnecessária – porque o
ministro foi induzido ao
erro – não resultou em
absolutamente em nada.”
Wilson Witzel
GOVERNADOR DO RIO

lO cumprimento de mandados
de busca e apreensão contra o
governador do Rio, Wilson Witzel
(PSC), foi comemorado no Palá-
cio do Planalto. Na Presidência, a
operação é vista como uma res-
posta a Witzel em duas frentes. A
primeira delas reforça o discurso
de Bolsonaro de que governado-
res fazem o uso político do coro-
navírus e promovem o “pânico”
com medidas de isolamento, que
ele rechaça. A busca em endere-
ços ligados ao governador, que
teve celulares e computadores
apreendidos, também é encara-
da como uma resposta no âmbito
policial. Bolsonaro acusa Witzel
de manipular investigações do
assassinato da vereadora Mariel-
le Franco e do motorista Ander-
son Gomes para implicá-lo. O
presidente também atribui ao
governador fluminense vazamen-
to de informações do processo
para atingi-lo. / JUSSARA SOARES

PILAR OLIVARES/REUTERS

Placebo. Policiais federais cumpriram 12 mandados de busca em endereços ligados a Witzel, como Palácio das Laranjeiras

“Coesão é o que se precisa para vencer o coronaví-
rus e suas consequências desastradas na economia e
no emprego”, sobre discurso de Rodrigo Maia na Câmara.

Ex-presidente da República

»CLICK. O senador Major
Olímpio (PSL-SP) andou
pela Rua 25 de Março,
em SP, com uma caixi-
nha de som pedindo um
plano para reabertura do
comércio na cidade.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
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