O Estado de São Paulo (2020-05-28)

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A12 Política QUINTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Eduardo Fabris
Portella
Ativista
Suspeito de produzir e
disseminar notícias fal-
sas em coordenação com o “Gabinete
do Ódio”.


Paulo Gonçalves
Bezerra
Empresário
Suspeito de disseminar
notícias falsas e incitar
a prática de atos ilícitos, em coordena-
ção com os outros investigados.

Rafael Moreno
Blogueiro
Identificado entre os
suspeitos de produzir e
disseminar fake news e
mensagens contra a ordem, em coor-
denação com o “Gabinete do Ódio”.

Operação. Após autorização do Supremo, policiais federais cumpriram 29 mandados de busca e apreensão em 6 Estados

Empresários, políticos, you-
tubers e apoiadores de Bolso-
naro que foram alvo ontem
de operação contra divulga-
ção de fake news negaram ir-
regularidades, criticaram a
operação autorizada pelo mi-
nistro Alexandre de Moraes e
atacaram o Supremo Tribu-
nal Federal (STF). Alguns de-
les levantaram a tese de que a
investigação não poderia ter
começado na Corte, sem par-
ticipação do Ministério Públi-
co Federal (MPF). Segundo
criminalistas ouvidos pelo Es-
tadão, embora seja incomum,
essa medida não é ilegal.
O empresário Luciano Hang,
dono da rede varejista Havan,
afirmou não ter nada a escon-
der, “haja vista que o que eu falo
está nas minhas redes sociais, é
de conhecimento público”. Se-
gundo ele, seu computador pes-
soal e o celular “foram disponi-
bilizados para perícia.” Dono
da rede de academias Smart Fit,
Edgard Corona, afirma estar “à
disposição da Justiça para os de-
vidos esclarecimentos em in-
vestigação do STF”. Já o investi-
dor Otávio Oscar Fakhoury, fi-
nanciador do site Crítica Nacio-
nal e um dos fundadores do gru-
po Aliança pelo Brasil, não foi
localizado para comentar.


A deputada federal Carla
Zambelli (PSL-SP) criticou o in-
quérito do STF, afirmou que o
País vive um “estado de exce-
ção” e pediu o impeachment de
Moraes. Também deputada,

Bia Kicis (PSL-DF) criticou
“abusos de autoridade e atos an-
tidemocráticos do ministro Ale-
xandre de Moraes”. Filipe Bar-
ros (PSL-PR) criticou o que cha-
mou de “ditadura do STF”.

Deputado estadual de São
Paulo, Douglas Garcia criticou
a ordem de busca e apreensão
em seu gabinete e acusou o STF
de perseguição. “Vocês querem
calar a voz dos conservadores

através das redes sociais”, decla-
rou. O deputado Gil Diniz
(PSL-SP) disse que soube por
meio da imprensa que será inti-
mado a depor e chamou de “ca-
la boca” a condução do caso.

Outro que se referiu ao Supre-
mo com a palavra “ditadura” foi
o deputado Daniel Silveira
(PSL-RJ). Seu colega Junio
Amaral, fez piada nas redes so-
ciais: “Repudio com veemência
essa clara ilegalidade, mas tam-
bém fico lisonjeado. Com a ‘cre-
dibilidade’ que eles gozam, só
vão me promover, mais nada.”
Presidente nacional do PTB,
Roberto Jefferson chamou de
“censura” o mandado de busca
e apreensão em sua casa. “Atitu-
de soez, covarde, canalha e inti-
midatória, determinada pelo
mais desqualificado Ministro
da Corte. Não calarei”, escre-
veu o político, que já se defen-
deu o ex-presidente Fernando
Collor de Mello antes de se tor-
nar bolsonarista.
A ativista Sara Winter xingou
e fez uma série de ameaças con-
tra Moraes. Em vídeo publica-
do nas redes sociais, Winter fa-
lou que, se estivesse na mesma
cidade que Moraes, chamaria o
ministro para “trocar socos”.
Ela também prometeu perse-
guir e “infernizar” a vida do ma-
gistrado, responsável por deter-
minar a ação da PF. O vídeo foi
encaminhado ontem para a Pro-
curadoria-Geral da República. /
BRUNO NOMURA, CLEIDE SILVA e
TÚLIO KRUSE

Luiz Phillipe
Orleans e Bragança
Deputado federal
Foi citado entre deputa-
dos que postaram men-
sagens contra o STF nas redes sociais.

Filipe Barros
Deputado federal
Publicou mensagens
identificadas como
exemplo de “alinha-
mento” com esquema de fake news.
Edson Pires
Salomão
Assessor parlamentar
Chefe de gabinete do
deputado estadual Dou-
glas Garcia (PSL-SP), é suspeito de
produzir e disseminar fake news.


Enzo Leonardo
Suzin Momenti
Youtuber
É apontado como um
dos responsáveis pela
produção e disseminação de notícias
falsas e mensagens contra a Justiça.

Marcos Dominguez
Bellizia
Ativista
Coordenador do movi-
mento Nas Ruas, é sus-
peito de disseminar notícias falsas e
mensagens contra a ordem.

Daniel Silveira
Deputado federal
Teve uma mensagem
em que diz contar
“com as Forças Arma-
das” selecionada no inquérito.

Geraldo Junio
do Amaral
Deputado federal
Citado na decisão de
Alexandre de Moraes
como autor de mensagem “ilícita”.

Otavio Oscar
Fakhoury
Empresário
É suspeito de financiar
a disseminação de notí-
cias falsas e propagação de mensa-
gens contraa ordem institucional.


Rodrigo Barbosa
Ribeiro
Auxiliar parlamentar
Funcionário do gabine-
te do deputado esta-
dual Douglas Garcia (PSL-SP), é sus-
peito de disseminar notícias falsas.

Douglas Garcia
Deputado estadual
Com dois de seus asses-
sores implicados na ope-
ração da PF, já foi apon-
tado como responsável por um “Gabi-
nete do Ódio” regional na Alesp.

Gil Diniz
Deputado estadual
Ex-assessor do deputa-
do Eduardo Bolsonaro
(PSL-SP), teve uma
mensagem contra o STF citada na de-
cisão de Alexandre de Moraes.

Sara Winter
Ativista
Suspeita de produzir e
disseminar mensagens
com “conteúdo de ódio
e de subversão da ordem”, em coorde-
nação com o “Gabinete do Ódio”.

Allan dos Santos
Blogueiro
Sócio do site conserva-
dor Terça Livre, é sus-
peito de produzir e dis-
seminar notícias falsas, calúnias,
ameaças e injúrias contra o STF.


Winston Rodrigues
Lima
Militar reformado
Suspeito de atuar no
financiamento de “inú-
meras publicações e vídeos com con-
teúdo difamante e ofensivo”.

Reynaldo Bianchi
Junior
Humorista e músico
Apontado como suspei-
to de financiar publica-
ções e vídeos que defendem a quebra
da ordem constitucional.

Roberto Jefferson
Presidente do PTB
Autor de textos contra
o STF, é suspeito de ca-
lúnia, injúria, difama-
ção, propaganda de atos ilegais e con-
tra o livre exercício dos Poderes.


Luciano Hang
Empresário
Dono da rede de lojas
Havan, é suspeito de
financiar esquema de
disseminação de fake news e mensa-
gens contra ordem institucional.

Bernardo Kuster
Palestrante
Diretor de opinião do
site bolsonarista Brasil
Sem Medo, é suspeito
de produzir e disseminar notícias fal-
sas e mensagens de ódio.

Bia Kicis
Deputada federal
Teve uma mensagem
citada na decisão de
Alexandre Moraes co-
mo exemplo de “indícios de alinha-
mento em mensagens ilícitas”.

Carla Zambelli
Deputada federal
Teve um “recado aos
ministros do STF” cita-
da na decisão de Alexan-
dre de Moraes e deve ser questionada
Marcelo Stachin sobre a disseminação das mensagens.
Empresário
É suspeito de produzir
e disseminar notícias
falsas, o que pode signi-
ficar calúnia, difamação, injúria ou
contra e crimes contra a ordem social.

Edgard Gomes
Corona
Empresário
Dono da rede de acade-
mias SmartFit, é suspei-
to de financiar o esquema de dissemi-
nação de notícias falsas.

‘Estadão Verifica’ já citou seis alvos da PF em checagens


Investigados negam crime e atacam STF


Empresários, políticos e outros apoiadores de Jair Bolsonaro criticaram medidas autorizadas ontem pelo ministro Alexandre de Moraes


Pedro Prata
Samuel Lima


Aliados do presidente Jair Bol-
sonaro que foram alvo de opera-
ção da Polícia Federal que apu-
ra propagação de fake news con-
tra o Supremo Tribunal Federal
(STF) já compartilharam boa-
tos posteriormente desmenti-
dos pelo Estadão Verifica. Seis
nomes bolsonaristas foram cita-
dos em 12 checagens. Entre
aqueles que publicaram alega-
ções sem evidências, informa-
ções tiradas de contexto ou boa-


tos inventados estão os deputa-
dos federais Bia Kicis (PSL-
DF), Carla Zambelli (PSL-SP) e
Daniel Silveira (PSL-RJ), o de-
putado estadual de São Paulo
Gil Diniz (PSL), o blogueiro Al-
lan dos Santos e o empresário
Luciano Hang.
Não há, porém, relação entre
os conteúdos checados e a ope-
ração da PF.
Em março deste ano, os depu-
tados Bia Kicis e Daniel Silveira
compartilharam vídeo que reti-
rava de contexto um trecho de
entrevista do diretor-geral da

Organização Mundial da Saúde,
Tedros Adhanom, para referen-
dar o discurso do governo fede-
ral contra o isolamento social.
O deputado Daniel Silveira
(PSL-RJ) ainda compartilhou
outras duas alegações falsas
checadas pelo Estadão Verifica.
A primeira em agosto de 2018,
quando era pré-candidato. Em
vídeo, o ex-policial militar afir-
mou que uma pesquisa de inten-
ção de voto em presídios brasi-
leiros teria apontado 100% de
rejeição ao então candidato à
Presidência Jair Bolsonaro. A

Justiça, que teria de autorizar
esse tipo de apuração entre os
detentos, negou a existência da
pesquisa. Em novembro de
2019, o Estadão Verifica desmen-
tiu o boato de que a soltura de
dois homens acusados de ma-
tar uma criança no Maranhão
teria relação com a decisão do
STF de derrubar a possibilidade
de prisão após condenação em
segunda instância.
Em 11 de abril deste ano, um
vídeo foi compartilhado com a
denúncia falsa de que o governo
do Pará estaria utilizando deten-

tos para vigiar a população. Na
verdade, a iniciativa do governo
colocou os presos para pintar
marcações no chão em pontos
de ônibus para promover o dis-
tanciamento de um metro en-
tre as pessoas. Diversos perfis
bolsonaristas no Twitter divul-
garam o boato, entre eles o do
vereador Carlos Bolsonaro, do
deputado estadual Gil Diniz e
da deputada federal Carla Zam-
belli, os dois últimos alvos da
operação desta quarta. Carla
Zambelli apagou o post.
Zambelli ainda compartilhou

vídeo na campanha eleitoral de
2018 no qual colocava em dúvi-
da a legalidade das candidatu-
ras de Dilma Rousseff (Senado
por Minas Gerais) e Lindbergh
Farias (reeleição no Senado pe-
lo Rio de Janeiro). No momen-
to da publicação, a Procurado-
ria havia pedido o indeferimen-
to do registro deles, mas a pala-
vra final seria da Justiça Eleito-
ral. Ambos acabaram concor-
rendo, e foram derrotados.
O blogueiro Allan dos Santos,
sócio do site conservador Terça
Livre, lidera o número de boa-
tos compartilhados e checados
pelo Estadão Verifica — no total
foram seis entre 24 de outubro
de 2018 e 4 de maio de 2020.

QUEM FOI ALVO DA OPERAÇÃO


DEPUTADOS QUE SERÃO OUVIDOS

TABA BENEDICTO/ ESTADAO

O INQUÉRITO DAS FAKE NEWS

l O inquérito
Aberto em 14 de março de
2019, o inquérito investiga
uma rede de divulgação de no-
tícias falsas, ameaças e ofen-
sas contra integrantes do Su-
premo e seus familiares.

l Ato de ofício
O inquérito foi instalado por
ato de ofício, assinado pelo

presidente do Supremo, Dias
Toffoli, sem que tenha havido
provocação do Ministério Públi-
co Federal. Embora incomum, a
prática não é ilegal.

l Escolha do relator
Toffoli escolheu o ministro Ale-
xandre de Moraes para coman-
dar a investigação sem que hou-
vesse sorteio ou consulta aos

demais ministros.

l Reação da PGR
A então procuradora-geral da
República, Raquel Dodge, consi-
derou a ação "inconstitucional".
Segundo ela, caberia à PGR pro-
por a investigação e ao STF,
apenas, julgar. Pediu o arquiva-
mento, mas não foi tendida. O
atual procurador-geral, Augus-

to Aras, posicionou-se inicial-
mente a favor da continuidade
da investigação. Ontem, pediu
suspensão do inquérito.

l Censura
No âmbito desse inquérito o
ministro Alexandre de Moraes
censurou reportagens publica-
das na revista digital Crusoé e
no site O Antagonista. Depois,

ele derrubou a própria decisão
ao receber informações de que
as reportagens eram fundamen-
tadas em um documento que
“realmente existe”.

l Lava Toga
A abertura do inquérito levou
senadores a proporem a abertu-
ra de uma Comissão Parlamen-
tar de Inquérito (CPI), apelida-

da de "Lava Toga”, para investi-
gar ações dos ministros do
STF, como suposto abuso de
poder. A ação não saiu do pa-
pel.

l Prorrogação
Em dezembro, o ministro Ale-
xandre de Moraes prorrogou o
inquérito por mais 180 dias,
medida que pode se repetir.
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