O Estado de São Paulo (2020-05-28)

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OESTADODES.PAULO QUINTA-FEIRA, 28 DEMAIODE 2020 Política A


Alvo. Governador Wilson Witzel fala após operação da PF que apura desvios no seu governo

Adriana Fernandes / BRASÍLIA


Com o plenário dividido, os mi-
nistros do Tribunal de Contas
da União (TCU) mantiveram
ontem à noite a suspensão ime-
diata de qualquer veiculação de
publicidade do Banco do Brasil
em sites, blogs, portais e redes
sociais acusados de espalhar
fake news. A decisão ratifica a


medida cautelar determinada,
pela manhã, pelo ministro rela-
tor Bruno Dantas. “Tenho cer-
teza que o Banco do Brasil não
entrará em falência por não po-
der divulgar sua publicidade
em sites e blogs no prazo de 90
dias”, defendeu Dantas.
Pela decisão, ficam excluídos
da suspensão os portais, sites,
blogs e redes sociais vinculados
a empresas concessionárias de
serviços de radiodifusão. Tam-
bém ficam de fora veículos liga-
dos a jornais e revistas que exis-
tam há mais de dez anos.
A decisão ficará valendo até
que a Controladoria-Geral da
União (CGU) prepare, em 90

dias, um manual de boas práti-
cas que ser seguido por todos os
órgãos do governo federal, in-
clusive as empresas estatais. O
normativo deverá trazer certifi-
cação de sites, blogs, portais e
redes sociais que poderão rece-
ber recursos públicos via anún-
cios publicitários.
A CGU terá que montar um
grupo de trabalho com outros ór-
gãos para fazer esse normativo.
O TCU sugere que, entre os par-
ticipantes do grupo, estejam as
secretarias de Comunicação So-
cial da Presidência da Repúbli-
ca, do Supremo Tribunal Fede-
ral, do Conselho de Comunica-
ção Social do Congresso, além

de Associação Brasileira de Im-
prensa (ABI), Federação Nacio-
nal dos Jornalistas (Fenaj), Asso-
ciação Brasileira de Jornalismo
Investigativo (Abraji) e Associa-
ção Brasileira de Emissoras de
Rádio e TV (Abert).
Cópia do processo será enca-
minhada ao Supremo Tribunal
Federal (STF) como subsídio

ao inquérito que investiga a exis-
tência de notícias fraudulentas
(fake news), denunciações calu-
niosas, ameaças e infrações que
atingem a Corte e os ministros.

Família. O parecer atende a pe-
dido do Ministério Público para
investigar interferência indevi-
da da família do presidente Jair
Bolsonaro na gestão de publici-
dade do Banco do Brasil. O MP
cita twitter do secretário de co-
municação, Fábio Wajngarten,
sugerindo a intervenção no BB
para que o banco revisse a deci-
são de suspender anúncios no
site Jornal da Cidade Online, que
já foi condenado na Justiça pela

difusão de notícias falsas.
Como mostrou o Estadão, o
BB decidiu retirar o veto ao Jor-
nal da Cidade Online para rece-
ber publicidade do banco após o
vereador Carlos Bolsonaro (Re-
publicanos-RJ), filho do presi-
dente, ter criticado o bloqueio.
Na quarta-feira, Carlos publi-
cou mensagem na qual afirma
que a área de marketing do BB
“pisoteia em mídia alternativa
que traz verdades omitidas”.
“Até o momento o BB não re-
cebeu qualquer notificação do
Tribunal de Contas da União a
respeito das notícias veicula-
das, e tão logo seja oficialmente
notificado, prestará os necessá-
rios esclarecimentos, bem co-
mo cumprirá as determinações
emanadas da Corte de Contas”,
afirmou o BB, em nota.

Apuração contra


governadores é


natural, diz Doria


Rayssa Motta


O ministro Benedito Gonçal-
ves, do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), solicitou on-
tem ao Ministério Público Fe-
deral (MPF) que investigue o
suposto vazamento da opera-
ção realizada no Rio de Janei-
ro para apurar a ocorrência
de fraudes na Saúde e que te-
ve como alvo o governador
Wilson Witzel (PSC).
Autor do despacho que auto-
rizou os mandados de busca e
apreensão contra Witzel an-
teontem, o ministro Gonçalves
afirmou que, caso seja confirma-
do o vazamento, será necessá-
rio “responsabilizar penalmen-
te o autor da conduta ilícita, co-
mo forma de não prejudicar a
integridade das instituições”.
Na segunda-feira à noite, em
entrevista à Rádio Gaúcha, a de-
putada federal Carla Zambelli
(PSL-SP), indicou, que a PF es-
tava prestes a deflagrar opera-
ções para investigar irregulari-
dades cometidas por governa-
dores durante a pandemia. “A
gente já teve algumas opera-


ções da Polícia Federal que esta-
vam ali, na agulha, para sair,
mas não saíam. E a gente deve
ter, nos próximos meses, o que
a gente vai chamar, talvez, de
‘Covidão’”, disse.
Horas depois, ao Estadão, a
parlamentar afirmou que fez
apenas uma dedução, sem que
tenha tido acesso a qualquer in-
formação privilegiada. “Dia 21
de maio saiu um avião da PF da-
qui (de Brasília) para o Rio de
Janeiro. Houve uma operação
anterior a essa. Então, era meio
óbvio que fossem acontecer ou-
tras operações”, disse.
As declarações de Zambelli le-
varam o PSOL a pedir para a Pro-
curadoria-Geral da República
(PGR) investigação contra a
parlamentar e outros integran-
tes do governo Jair Bolsonaro
pelo suposto vazamento ilegal
de informações do inquérito.
Chamada de Placebo, a opera-
ção que incluiu mandados de
busca e apreensão em endere-
ços ligados ao governo flumi-
nense, como o Palácio Laranjei-
ras, tem origem em investiga-
ção que apura desvios de recur-
sos para atender emergência da
covid-19 no Estado.
Ontem, ao sair do Palácio do
Alvorada, Bolsonaro afirmou
que haverá mais operações da
PF no Rio. “Vai ter mais. En-
quanto eu for presidente, vai
ter mais. Isso não é informação
privilegiada, não”. /
COLABORARAM EMILLY BEHNKE e
PATRIK CAMPOREZ

Mateus Vargas / BRASÍLIA


O vice-presidente da Repúbli-
ca, Hamilton Mourão, disse on-
tem que é de “excelente nível” a
esteira ergométrica que o gover-
no federal pretende comprar
por cerca de R$ 44 mil para equi-
par o Palácio do Jaburu. Em en-
trevista à Rádio Gaúcha, Mou-
rão defendeu-se de críticas que
recebeu nas redes sociais pela
compra.
O general argumentou que a
licitação segue as regras da ad-
ministração pública e ele e sua
equipe contam apenas com um
aparelho emprestado para se


exercitar. “Não dá para conti-
nuar com algo emprestado.
Não é meu, é patrimônio públi-
co. É usado, além de por mim,
pela equipe que trabalha lá. A
gente tem de ter algo decente
para poder manter capacidade
física”, disse.
A Vice-Presidência abriu, na
segunda-feira, licitação para
compra do aparelho. A esteira
procurada vem com programas
pré-configurados de exercício
físico, tela touch screen de alta
definição, internet, TV e “cur-
sos interativos”.

A justificativa no edital para a
compra é que o Palácio do Jabu-
ru, residência oficial do vice-
presidente, não tem aparelho
“minimamente adequado” e
que atenda aos “princípios da
ergonomia e biomecânica”, pa-
ra prática de exercícios físicos.

Críticas. O deputado federal
Júnior Bozzella (PSL-SP) ironi-
zou a compra no Twitter: “A
‘boa’ notícia é que esse valor já
inclui o serviço de instalação da
esteira. Menos mal, hein?”. A de-
putada Margarida Salomão
(PT-MG) também criticou o
edital: “Acabou a m.a.m.a.t.a
taóquei”, escreveu no Twitter.
O governo afirma que a guar-
da do palácio também deve usar
o equipamento. A Vice-Presi-
dência ainda argumenta que a
“rotina institucional” força
Mourão a realizar exercícios fo-
ra do expediente, muito cedo

ou muito tarde. “Incapacitan-
do-o de fazê-lo fora de sua resi-
dência, sem comprometer e pre-
servando a intimidade, integri-
dade, segurança e lazer”, diz ao
justificar a compra.
Mourão é visto com frequên-
cia correndo ou pedalando no
caminho que liga o Jaburu ao
Palácio da Alvorada, onde vive
o presidente Jair Bolsonaro.
No fim de 2019, quando assu-
miu interinamente a Presidên-

cia durante uma viagem de Bol-
sonaro, uma entrevista do mili-
tar virou meme ao ser identifica-
do como “presidente em exercí-
cio”.
A ironia era Mourão de fato
estar “no exercício” do cargo,
mas concedendo entrevista
sem camisa, suado, com boné e
óculos escuro após jogar vôlei
com colegas em Brasília. Procu-
rada, a Vice-Presidência não se
manifestou.

Presidente precisa


de base, diz Ramos


sobre Centrão


Nicholas Shores
Pedro Caramuru
Elizabeth Lopes

O governador de São Paulo,
João Doria (PSDB), afirmou ver
com “total naturalidade” a in-
formação de que a Procurado-
ria-Geral da República (PGR)
investiga supostas irregularida-
des em contratos firmados pela
sua gestão e outros sete Executi-
vos estaduais durante a crise do
novo coronavírus.
Doria citou as apurações que
já são feitas pelo Ministério Pú-
blico de São Paulo (MP-SP) e
pelo Tribunal de Contas do Es-
tado (TCE-SP) e defendeu que
“investigar e verificar é parte do
procedimento democrático de
uma gestão transparente”. Ele
acresentou: “Não vejo (a investi-
gação da PGR) como ação de in-
cidência ou deliberação espe-
cífica em relação a São Paulo”.
Além de Doria e do governa-
dor do Rio, Wilson Witzel
(PSC) – que anteontem foi alvo
de mandados de busca e apreen-
são –, a PGR investiga as gestões
de Wilson Lima (PSC-AM), Hel-
der Barbalho (MDB-PA), João
Azevedo (PSB-PB) e outros três
chefes do Executivo que não ti-
veram nomes divulgados.
O vice-governador e secretá-
rio de Governo de São Paulo, Ro-
drigo Garcia (DEM), comple-
mentou que o Palácio dos Ban-
deirantes já prestou esclareci-
mentos ao MP-SP e ao TCE, e
disse que o pagamento antecipa-
do de 30% do valor total de uma
compra que inicialmente era de
3 mil respiradores está previsto
nas normas vigentes em estado
de calamidade pública.
Segundo Garcia, por não que-
rer receber os aparelhos depois
de julho, o governo paulista pe-
diu um redimensionamento da
aquisição de 3 mil para 1.280 uni-
dade, o que fez com que “30% se
tornassem quase o pagamento
integral” da compra. “Os respi-
radores já começaram a che-
gar”, disse. O vice lembrou ain-
da que o governo Doria criou
uma subcorregedoria específi-
ca para compras relacionadas
ao enfrentamento da covid-19.

lAssembleia
O Tribunal de Justiça do Rio de-
terminou que a Assembleia Legis-
lativa dê posse aos cinco deputa-
dos impedidos de assumir em
2018 por terem sido presos na
Operação Furna da Onça. Eles
estão soltos desde outubro.


lIronia

lO Superior Tribunal de Justiça
(STJ) negou por unanimidade a
federalização do caso Marielle
Franco. A decisão veio após ses-
são ordinária de mais de cinco
horas realizada por videoconfe-

rência ontem.
Com isso, a investigação sobre
o assassinato da vereadora e de
seu motorista, Anderson Gomes,
continuará sob responsabilidade
da Polícia Civil e do Ministério
Público do Rio (MP-RJ).
O pedido de federalização ha-
via sido feito em 2018 pela então
procuradora-geral da República
Raquel Dodge. Na ocasião, ela
ainda denunciou o conselheiro

afastado do Tribunal de Contas
do Rio, Domingos Brazão. O caso
foi resultado de uma “investiga-
ção da investigação” feita pela
Polícia Federal para apurar se a
Polícia Civil do Rio estava obstru-
indo o caso.
Familiares de Marielle e do mo-
torista Anderson Gomes, assim
como o próprio MPRJ, sempre se
manifestaram contra a federaliza-
ção do caso. / MARCIO DOLZAN

TCU suspende publicidade do BB em sites de fake news


Decisão vale até que


CGU prepare manual de


boas práticas indicando


quem pode receber


recursos públicos


NA WEB


Leia. As principais
notícias de Política
no portal

estadao.com.br/e/estadaopolitica
6

lResponsável pela articulação
política com o Congresso, o mi-
nistro-chefe da Secretaria de Go-
verno, general da ativa Luiz
Eduardo Ramos, se justificou
com os colegas do Exército pela
aproximação do Planalto com o
Centrão. Em mensagem enviada
aos integrantes da turma de
1979 da Academia Militar das
Agulhas Negras (Aman), Ramos
argumentou que o presidente
Jair Bolsonaro precisa de uma
base no Congresso, mas que não
há corrupção no governo e que,
por ele, “não passa nada que não
seja republicano, legal e ético”. A
explicação foi dada na terça-fei-
ra, após o Estadão mostrar que
militares passaram a negociar
cargos com partidos em troca de
apoio a Bolsonaro, que tenta evi-
tar a abertura de processo de
impeachment. / JUSSARA SOARES

“A ‘boa’ notícia é que esse
valor já inclui o serviço de
instalação da esteira. Menos
mal, hein?”
Júnior Bozzella
DEPUTADO FEDERAL (PSL-SP)

WILTON JUNIOR / ESTADÃO

STJ quer


investigar


vazamento


de operação


Ministro Gonçalves quer saber se deputada


foi informada antes de busca contra Witzel


DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Licitação para compra do


equipamento foi aberta


na segunda-feira;


vice-presidência diz que


será usado por equipe


Mourão justifica esteira de


R$ 44 mil: ‘É de excelente nível’


Interino. Mourão ganhou meme ‘presidente em exercício’

Justiça nega a


federalização do


caso Marielle

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