O Estado de São Paulo (2020-05-28)

(Antfer) #1

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A16 QUINTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


PLANEJAMENTO

FONTE:GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO INFOGRÁFICO/ESTADÃO

Alerta
Máximo
FASE DE
CONTAMINAÇÃO,
COM LIBERAÇÃO
APENAS PARA
SERVIÇOS
ESSENCIAIS

Controle

FASE DE
ATENÇÃO,
COM
EVENTUAIS
LIBERAÇÕES

Flexibilização

FA S E
CONTROLADA,
COM MAIOR
LIBERAÇÃO DE
ATIVIDADES

Abertura
parcial
FA S E
DECRESCENTE,
COM MENORES
RESTRIÇÕES

Normal
controlado
FASE DE
CONTROLE DA
DOENÇA,
LIBERAÇÃO DE
TODAS AS
ATIVIDADES COM
PROTOCOLOS

FA S E 1 FA S E 2 FA S E 3 FA S E 4 FA S E 5

Retomada das atividades econômicas de SP será em fases de
acordo com cada setor

Nível de restrição

Espaços públicos

SETORES TEMÁTICOS

LIBERADO

Atividades imobiliárias

Concessionárias

Escritórios

Bares, restaurantes e similares

Comércio

Shopping center

Salão de beleza

Academia

Teatros e cinemas
Promover eventos que geram
aglomeração, como os esportivos
Indústria não essencial

Construção civil

Educação

Transporte

FASES 12345

ABERTO COM A DEFINIR
RESTRIÇÃO

FECHADO

Panorama atual do Estado de São Paulo – visão por
Departamento Regional de Saúde (DRS)

FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 FASE 5

SÃO PAULO

GRANDE
SÃO PAULO

CAMPINAS

PIRACICABA
BAURU

RIBEIRÃO
PRETO

BARRETOS FRANCA

SÃO JOÃO
DA BOA
VISTA

SOROCABA

PRESIDENTE
PRUDENTE

ARAÇATUBA

SÃO JOSÉ
DO RIO PRETO

MARÍLIA

TAUBATÉ

REGISTRO

BAIXADA
SANTISTA

ARARAQUARA/
SÃO CARLOS

A cidade de São Paulo poderá
abrir, com restrições, shop-
pings, escritórios, lojas de
rua, concessionárias e imobi-
liárias a partir de junho, se-
gundo o plano de reabertura
do Estado anunciado ontem
pelo governador João Doria
(PSDB). A saída da quarente-
na, em vigor desde 24 de mar-
ço, terá cinco fases, da mais
restritiva (atual) para a mais
flexível e varia para cada re-
gião do Estado, que segue
com o uso obrigatório de más-
caras. Na capital, as ativida-
des ainda não serão retoma-
das na segunda-feira porque
a reabertura depende de acor-
dos com cada setor econômi-
co e aval de órgãos munici-
pais de saúde, o que só vai co-
meçar na semana que vem, se-
gundo a Prefeitura.
O local que for autorizado a
reabrir terá de seguir regras, co-
mo limitar acesso de clientes e
oferecer álcool em gel. Shop-
pings, por exemplo, precisarão
agir para evitar aglomerações.
Stands de venda de prédios de-
verão seguir recomendação pa-
ra serem ventilados.
Segundo Doria, a retomada
será nas cidades com redução
consistente de casos, com dis-
ponibilidade de leitos nos hospi-
tais públicos e privados e nas
que obedecerem o distancia-
mento social. Especialistas
veem riscos na flexibilização na
capital e em outras cidades, no
momento em que ainda há alta
de mortes e alta ocupação de
UTIs (leia mais nesta pág.) Para
Doria, “não é relaxamento, mas
um ajuste fino” conforme ne-
cessidades regionais. “E temos
dados técnicos para garantir es-
sa retomada segura” afirmou.
O prefeito Bruno Covas
(PSDB) disse que nada abre na
segunda na capital e os planos


específicos para a cidade serão
detalhados hoje. “A partir do
dia 1.º vamos começar a receber
propostas de acordo setorial.
Essas propostas serão valida-
das pela vigilância sanitária mu-
nicipal e somente quando assi-
nados pela entidade representa-
tiva do setor e a Prefeitura é que
o setor poderá reabrir.”
Mas nas 38 cidades da Grande
São Paulo, a situação ainda é
considerada crítica. Embora mi-
lhões de moradores da região
metropolitana trabalhem na ca-
pital, o que torna a fiscalização
difícil, Covas disse se basear em
critérios técnicos. “Os resulta-
dos mostram estabilidade em
relação a número de casos, con-
taminação, óbitos semanais,
ocupação de leitos de UTI.”

Por etapas. No plano de Doria
para a reabertura, o Estado foi
dividido em 18 regiões e há cin-
co fases de restrições. A 1.ª eta-
pa, vermelha, vigente hoje em
todo o Estado, libera o funciona-
mento só de serviços essen-
ciais, como os de saúde e limpe-
za pública, além da indústria e
da construção civil. Três re-
giões do Estado continuam no
alerta máximo – Grande São
Paulo, Baixada Santista e Regis-

tro.
A fase 2, laranja, prevê flexibi-
lização em alguns setores, co-
mo shoppings e lojas de rua.
Além da capital, mais 10 estão
nesse patamar. No nível 3, ama-
relo, já é possível reabrir bares,
restaurantes e salões de beleza,
mas ainda com restrições de ho-
rário e fluxo de clientes. Quatro
regiões do Estado são amarelas.
Nenhuma região atingiu os
dois últimos níveis. No quatro
(verde), haverá abertura maior,
incluindo academias, mas ain-
da com restrições. E o cinco,
chamado de “novo normal con-
trolado”, traz a liberação total –
incluindo teatros, cinemas e
eventos, mas com medidas de
higiene. A retomada de aulas
presenciais no setor de educa-
ção e o retorno da capacidade
total das frotas de transportes
seguem sem previsão.
A flexibilização vai levar em
conta a capacidade do sistema
de saúde, com a taxa de ocupa-
ção de leitos de UTI e o número
de leitos por 100 mil habitantes,
além da evolução da epidemia,
com números de casos, interna-
ções e óbitos. Na primeira ver-
são do plano de reabertura, apre-
sentada em 8 de março, esses cri-
térios teriam metas fixas, como
isolamento de 55%, ocupação
de 60% de UTIs e duas semanas
na queda de novos casos. Agora,
esses critérios foram relaxados,
mas seguem monitorados pelo
Estado. Não foram detalhados
patamares específicos.
Segundo a economista Ana
Carla Abrão, coordenadora do
comitê econômico de São Pau-
lo, a cada sete dias haverá reava-
liação das classificações e as re-
giões poderão regredir de fase.
A cada 15 dias, pode haver avan-
ço para fase menos restritiva.
Os prefeitos vão conduzir e fis-
calizar a flexibilização dos seto-

res, segundo os critérios estabe-
lecidos. Com isso, Doria cedeu a
apelos de prefeitos do interior e
de seus próprios auxiliares. Se-
rão as próprias prefeituras em

cada cidade que fiscalizarão as
atividades econômicas e, even-
tualmente, aplicar punições. /
BRUNO RIBEIRO, PEDRO VENCESLAU,
PALOMA COTES e MARIANA HALLAL

A proposta de iniciar a reabertu-
ra, sem a clareza de que esta-
mos em uma curva descenden-
te de infecções, é arriscada, se-
gundo especialistas ouvidos pe-
lo Estadão. Além disso, pode
desperdiçar os resultados do
isolamento social obtidos du-


rante a quarentena.
Na capital, a taxa de ocupa-
ção das UTIs era de 92% ontem.
A Prefeitura argumenta, po-
rém, que é possível ampliar a re-
de disponível se houver aumen-
to da demanda, uma vez que po-
de alugar leitos da rede privada,
o que já tem sido feito. Na últi-
ma semana, o total de mortes
na cidade aumentou 18,2%, pas-
sando de 3.252 para 3.844.
“Como a rede hospitalar já es-
tá bem ocupada, o provável é
que o governo tenha de segurar
ou mesmo rever essa reabertu-

ra em algumas semanas. Por-
que a tendência é aumentar o Rt
(índice de transmissão) e conse-
quentemente mais caso”, diz
Daniel Dourado, médico e advo-
gado sanitarista, do Núcleo de
Pesquisa em Direito Sanitário
da USP. “O que precisa fazer
agora é cobrar do governo esta-
dual para mostrar essa avalia-
ção entre Rt e casos esperados
diante da capacidade da rede.”
Professora da Faculdade de
Ciência Médicas da Santa Casa
de São Paulo, a epidemiologista
Maria Amélia Veras diz ter rece-

bido a notícia da reabertura
com “preocupação”. Ela alerta
que, para o plano dar certo, o
monitoramento da pandemia
não pode falhar – hipótese pou-
co provável diante do cenário
de subnotificação de casos, da
ausência de dados conclusivos
sobre prevalência (a chamada
“imunidade de rebanho”) e até
da possível pressão política em
alguns municípios.
“É racional adotar medidas di-
ferenciadas de acordo com a
transmissão de cada região,
mas tenho certa dúvida sobre o

calibre dos dados existentes
que podem fundamentar essa
decisão”, afirma Maria Amélia.
“Para revisar toda semana, pre-
cisa haver um monitoramento
muito fino que permita inter-
venção rápida. Se o diagnóstico
falhar ou as informações dispo-
níveis não forem suficientes, po-
de acontecer um desastre.”
Professor de administração
pública da FGV, Nelson Marco-
ni, lembrou que Coreia do Sul,
China e Vietnã só começaram a
flexibilizar o isolamento após
queda no nível de contágio. Em

comum, também haviam testa-
do a população em massa e usar
a tecnologia para monitorar as
pessoas em locais públicos.
“Somos atualmente o epicen-
tro da doença do mundo. Enten-
do a reabertura como risco e me
parece que foi tomada sob pres-
são do setor do comércio. O mo-
mento, na minha opinião, era
de pressionar o governo federal
para que colocasse à disposição
um programa de renda mais am-
plo e linhas de créditos mais fá-
ceis para o pequeno empresá-
rio. A reabertura pode gerar
uma segunda onda e piorar o sis-
tema público de saúde.”/JOÃO
PRATA, FELIPE RESK e LUDIMILA
HONORATO

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Doria libera abrir shoppings e lojas de


rua na capital paulista a partir de junho


Metrópole


Especialistas veem riscos; mortes sobem 18% em 1 semana


Ribeirão abre; Grande SP segue fechada. Pág. A17 }


Setores ainda


querem maior


flexibilização


RESTRIÇÕES

l Shoppings e lojas
Lotação máxima deve ser de
35% da capacidade habitual, mes-
mo em área externa. O Estado
desaconselha promoções.

l Imobiliárias
Visitas a imóveis de uma família
de cada vez e com agendamento.
Corretores devem ter álcool em
gel 70% para ele e os clientes.

Plano de reabertura do Estado foi anunciado pelo governo e terá cinco fases. Capital poderá abrir, com restrições, após acordo dos setores


econômicos e a Prefeitura. Todos deverão seguir regras, como limitar acesso de clientes, oferecer álcool em gel e evitar aglomerações


Comércio. Lojas de rua fechadas na região do Cambuci: regras rígidas para voltar a abrir


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Professores apontam


chance de 2ª onda de


contágio e dificuldade de


monitorar; capital têm


92% das UTIs ocupadas


Guilherme Amaro

Os setores econômicos aprova-
ram a flexibilização da quaren-
tena a partir do dia 1.º de junho,
mas fizeram cobranças para a
retomada das atividades. Segun-
do os representantes ouvidos
pelo Estadão, há detalhes que
não foram esclarecidos.
O presidente da Associação
Brasileira de Lojistas de Shop-
ping, Nabil Sahyon, reclama da
restrição de quatro horas para o
funcionamento dos estabeleci-
mentos. Em outros Estados
que liberaram a abertura dos
shoppings, são oito horas.
“Entendemos que é impor-
tante voltar a abertura para co-
meçarmos a respirar um pouco,
porque os lojistas já estão mui-
to prejudicados. Mas gostaría-
mos que mudasse a restrição do
horário. É muito complicado
abrir a loja e chamar o funcioná-
rio para atender por apenas qua-
tro horas. Quanto mais tempo,
menos aglomeração”, disse Sa-
hyon, que calcula prejuízo de
R$ 26 bilhões nos 577 shop-
pings espalhados pelo Brasil.
A Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo do Es-
tado de São Paulo cobrava uma
posição do governo para dar
“um horizonte” aos empresá-
rios, de acordo com o assessor
econômico da entidade, Altami-
ro Carvalho. “O prejuízo foi con-
tundente em atividades varejis-
tas e consequentemente em to-
do o setor econômico”, afirmou
Carvalho, que falou em perdas
de R$ 45 bilhões.
A FecomercioSP conversa
com o governo para haver medi-
das de amparos, como o proces-
so burocrático rápido para a re-
tomada e a postergação das obri-
gações tributárias. “É preciso
dar fôlego aos comerciantes.
Os que não quebraram vão es-
tar muito fragilizados para reto-
mar. Esperamos que haja sensi-
bilidade”, reforçou Carvalho.
O presidente da Associação
Brasileira de Incorporadoras
Imobiliárias, Luiz França, co-
memorou o fato de os stands de
vendas de apartamentos pode-
rem voltar a funcionar. Ele diz
que o setor manteve 94% das
obras em funcionamento na
quarentena, com “normas sani-
tárias bastante rígidas”. “Acha-
mos que vai aparecer uma nova
classe de comprador, que quer
um conforto maior por passar
mais tempo em casa.”

ANANDA MIGLIANO/O FOTOGRÁFICO
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