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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2020 Metrópole A
Falecimentos
Roberta Jansen / RIO
A epidemia de covid-19 apro-
fundou ainda mais as desi-
gualdades brasileiras, como
revela a última nota técnica
do Núcleo de Operações e In-
teligência em Saúde (NOIS).
E a de raça é a maior delas.
Em qualquer recorte empre-
gado a chance de um negro
morrer por causa do novo co-
ronavírus é sempre maior
que a de um branco. O ápice
dessa diferença ocorre entre
os negros analfabetos e os
brancos com nível superior:
80% contra 19%.
O grupo usou dados do Minis-
tério da Saúde atualizados até o
último dia 18 de maio e avaliou
cerca de 30 mil casos confirma-
dos de covid-19 que já tenham
tido um desfecho – ou seja, alta
médica ou morte. As taxas de
óbito refletem diretamente as
desigualdades socioeconômi-
cas, além da pirâmide etária e
da distribuição geográfica.
“A progressão de casos confir-
mados de covid-19 tem sido in-
fluenciada por fatores socioeco-
nômicos, além da dinâmica de
contágio própria de uma epide-
mia”, afirmaram os cientistas,
no estudo. “A taxa de letalidade
do Brasil é muito alta, influen-
ciada pelas desigualdades no
acesso ao tratamento.”
Conforme os dados analisa-
dos, aproximadamente dez mil
pacientes foram identificados
como brancos e quase 9 mil co-
mo pretos ou pardos, de acordo
com as categorizações do Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Apesar do
número parecido de casos,
quando apenas as mortes são
avaliadas a diferença é brutal:
55% dos pretos e pardos falece-
ram, contra 38% dos brancos.
A diferença de escolaridade
também se reflete nos óbitos.
Os que não têm escolaridade
apresentam taxas três vezes
maiores (71%) dos que têm ní-
vel superior (22,5%). As desi-
gualdades de renda e de acesso
a serviços sanitários básicos e
de saúde explicam as diferen-
ças no impacto.
Quando os cientistas combi-
naram raças e escolaridade, as
desigualdades ficaram ainda
mais evidentes, e sempre com
um maior porcentual de óbitos
para pretos e pardos em todos
os níveis de escolaridade. Em
média, essa diferença é de 37%.
No nível superior, no entanto,
está a maior diferença: 50%.
Quando todos os fatores são le-
vados em conta, os negros sem
escolaridade apresentam uma
proporção quatro vezes maior
de mortes do que os brancos
com nível superior (80% contra
19%).
Entre os cerca de 30 ml casos
avaliados, aproximadamente
55% tiveram alta. A maioria dos
casos era de pessoas entre 50 e
70 anos, sendo que, para aque-
les acima de 60 anos, o porcen-
tual de mortes ficou acima de
50% e, entre os que tinham
mais de 90 anos, 84%. Há mais
mortes conforme a faixa etária
aumenta.
A localização geográfica dos
pacientes também tem um im-
pacto direto nas suas chances
de sobreviver à doença. O estu-
do do NOIS mostrou que num
município com baixo ou médio
Índice de Desenvolvimento Hu-
mano (IDH) a chance de morte
é quase o dobro do que numa
cidade com IDH muito alto.
“As análises evidenciam dis-
crepâncias”, concluíram os
cientistas, “verificando-se que
a proporção de óbitos entre pre-
tos e pardos foi maior do que a
de brancos, seja por faixa etária,
nível de escolaridade e em mu-
nicípios de IDH elevado, confir-
mando as enormes disparida-
des no acesso e qualidade do tra-
tamento no Brasil.”
O NOIS é formado por cien-
tistas da Pontifícia Universida-
de Católica (PUC), da Fiocruz,
da UFRJ e do Instituto Dor de
Pesquisa.
Renata Okumura
Prática já adotada pela popula-
ção de países asiáticos para se
proteger de doenças respirató-
rias transmitidas principalmen-
te no inverno, o uso de másca-
ras se mostrou um instrumento
eficaz na prevenção ao novo co-
ronavírus. Mas crianças peque-
nas não devem usá-las. Especia-
listas lembram que para quem
tem menos de 2 anos de idade, o
uso da máscara facial pode difi-
cultar a respiração e até aumen-
tar o risco de asfixia.
A Associação Pediátrica do Ja-
pão fez um apelo aos pais sobre
esse perigo em um momento de
reabertura da economia no
país. O Centro para Controle de
Doenças (CDC) dos Estados
Unidos e a Academia America-
na de Pediatria também já emiti-
ram notas similares.
No Brasil, a Sociedade Brasi-
leira de Pediatria (SBP) e a So-
ciedade de Pediatria de São Pau-
lo (SPSP) concordam com os
médicos japoneses sobre a im-
portância de orientar sobre os
riscos aos menores de 2 anos e
também crianças com doenças
pulmonares e portadores de dis-
túrbios neurológicos.
“O sufocamento é o principal
risco. Não somente em crianças
menores de 2 anos, mas crian-
ças com doenças pulmonares,
como asmáticos em crise, ou
com distúrbios neurológicos
não devem usar máscaras. No
último caso, independentemen-
te da idade, o uso não é recomen-
dado. A máscara deve ser evita-
da por aqueles que não conse-
guem manejar, ou seja, tirar a
própria máscara do rosto”, afir-
ma o infectologista Renato
Kfouri, presidente do Departa-
mento Científico de Imuniza-
ções da SBP.
“Não temos dados de segu-
rança sobre o uso de máscaras
em crianças menores de 2 anos.
Existe o risco de sufocamento,
principalmente em crianças
com quadro respiratório”, afir-
ma o pediatra e infectologista
Marco Aurélio Safadi, presiden-
te do Departamento de Imuni-
zações da SPSP.
Durante consultas online
também chegam muitas dúvi-
das sobre o uso correto de más-
caras em crianças. “Os pais de
bebês ficam muito preocupa-
dos. Orientamos o uso para
maiores de 2 anos de idade e a
higienização correta das mãos.
As crianças menores não têm
autonomia com relação ao con-
trole do uso da máscara. Além
disso, como babam muito, elas
podem molhar a máscara e per-
der a efetividade contra a doen-
ça”, acrescenta Rafael Placeres,
pediatra da clínica de atenção
integral à saúde da Central Na-
cional Unimed (CNU).
O recomendado é ficar em ca-
sa, mas caso precise sair com
menores de 2 anos, deve-se
manter distância de um metro e
meio de outras pessoas e lavar
as mãos com frequência. “No ca-
so de crianças menores de 2
anos, precisam ser levadas no
colo. Quando retornar da rua,
todas as roupas precisam ser re-
tiradas e colocadas para lavar”,
orienta Placeres.
Em casa. Os pais relatam difi-
culdades. “Estamos cumprindo
a quarentena em casa, mas tive-
mos de sair recentemente. Per-
cebi que minha filha de 1 ano e 11
meses estava com dificuldade
para respirar com a máscara de
algodão”, disse o gestor de Faci-
lities Fábio Araújo, pai da Sofia.
A partir dos 2 anos, a criança
já começa a ter mais autonomia
e fica mais fácil explicar a forma
correta de usar a máscara. Mes-
mo assim, no início desse pro-
cesso, é preciso ter supervisão.
“Tudo é hábito e treino. No ‘no-
vo normal’ vamos conviver
com uso de máscara por muito
tempo até tudo ser realmente
normalizado”, diz Kfouri.
“A gente não tem saído muito
de casa. Quando precisamos cir-
cular pelo prédio ou retirar co-
mida na portaria, ela vai junto,
mas não aceita muito bem. Re-
clama que não dá para enxergar
direito. A gente procura expli-
car o que é o coronavírus, que a
máscara vai mantê-la segura. Fa-
lando desta forma, usando coi-
sas mais lúdicas, como uma
brincadeira, acaba aceitando”,
afirma a publicitária Kátia Oli-
veira, mãe da Laura, de 3 anos.
Para incentivar a criança, vale
a criatividade. “Máscaras com
personagens têm ajudado bas-
tante e quando elas olham ou-
tras pessoas usando, entendem
que se tornou uma prática do
dia a dia”, diz Safadi. Gabriel Xa-
vier, de 4 anos, já entendeu. “Eu
gosto de usar máscara. Tem que
usar por causa do vírus”, diz o
menino que só sai de casa com a
mãe eventualmente para ir ao
supermercado ou à farmácia.
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
lRecomendações
Médicos aconselham evitar máscara em crianças pequenas
PARA PUBLICAR ANÚNCIO FÚNEBRE: BALCÃO IGUATEMI – SHOPPING IGUATEMI 1A - 04, TEL. 3815-3523 / FAX 3814-0120 – ATENDIMENTO DE 2ª A SÁBADO, DAS 10 ÀS 22 HORAS, E AOS DOMINGOS, DAS 14 ÀS 20 HORAS. BALCÃO LIMÃO – AV. PROF. CELESTINO BOURROUL, 100, TEL. 3856-2139 / FAX
3856-2852 – ATENDIMENTO DE 2ª A 6ª DAS 9 ÀS 19 HORAS. SÓ SERÃO PUBLICADAS NOTÍCIAS DE FALECIMENTO/MISSA ENCAMINHADAS PELO E-MAIL [email protected], COM NOME DO REMETENTE, ENDEREÇO, RG E TELEFONE.
Celso Athayde, fundador da
Central Única das Favelas
“A máscara não deve ser
compartilhada entre as
crianças, nem entre irmãos,
para a segurança delas.”
Marco Aurélio Safadi
PEDIATRA E INFECTOLOGISTA
“Com a retomada das aulas,
o uso de máscara será
obrigatório mesmo dentro
da sala de aula.”
Akira Suzuki
JAPONESA DE 27 ANOS, MÃE DA YUA,
DE 6 ANOS
MLADEN ANTONOV / AFP-25/5/
Associação de pediatras
do Japão alertou sobre
perigo; no Brasil,
especialistas temem
sufocamento
Risco. Máscara pode dificultar respiração de crianças
Antonia Maria Carmago – Dia
- Era viúva. Deixa as filhas Elaine,
Alessandra, parentes e amigos. O
enterro foi realizado no Cemitério e
Crematório Primaveras.
Benedita de Souza Moraes –
Dia 24. Era viúva. Deixa os filhos
Darci, Sueli, José, Madalena, Apa-
recida e Rosana. O enterro foi rea-
lizado no Cemitério e Crematório
Primaveras.
Cezarina Correia Alves – Dia
- Era solteira. Deixa parentes e
amigos. O enterro foi realizado no
Cemitério e Crematório Primaveras.
Orlanda Gonçalves de Aquino
- Dia 25. Era solteira. Deixa o filho
Lucas, parentes e amigos. O enter-
ro foi realizado no Cemitério e Cre-
matório Primaveras.
Antonio Acácio Gonçalves –
Dia 26. Era viúvo. Deixa os filhos
Fernando, Adelina Maria, paren-
tes e amigos. O enterro foi reali-
zado no Cemitério e Crematório
Primaveras.
Daniel Siebner – Aos 61 anos. Fi-
lho de Wolfgang Stephan Siebner e
Bluma Siebner. Deixa a filha Maria-
na Mokrejs Siebner, parentes e ami-
gos. O enterro foi realizado no Cemi-
tério Israelita de Embu.
Germano Almeida Araújo – Dia
- Era casado. Deixa os filhos Ma-
theus, Luiza, parentes e amigos.
A cerimônia de cremação foi reali-
zada no Cemitério e Crematório
Primaveras.
Natal do Nascimento Pereira –
Dia 21. Era viúvo. Deixa os filhos
Marli, Sueli, Roserci, Noeli, paren-
tes e amigos. A cerimônia de crema-
ção foi realizada no Cemitério e Cre-
matório Primaveras.
Roberto da Silva Santos – Dia
Era viúvo. Deixa as filhas Rena-
ta, Adriana, parentes e amigos. O
enterro foi realizado no Cemitério e
Crematório Primaveras.
Sergio Sylvio Mode – Dia 21. Era
solteiro. Deixa parentes e amigos.
A cerimônia de cremação foi reali-
zada no Cemitério e Crematório
Primaveras.
Que características uma
favela tem que facilita o
contágio do coronavírus?
Mais da metade das pessoas
vive de maneira autônoma ou
informal, ou seja, elas têm ren-
da zero. Então não conse-
guem viver (se sustentar) por
15 dias.
A pandemia escancara as
desigualdades?
Quando alguém que
faz home office pede comida,
quem está cozinhando é um
favelado. Essas pessoas estão
mais expostas e a relação que
têm com o vírus é de se acos-
tumar ao medo. Quando vol-
tam para casa, ainda estão em
um espaço muito pequeno,
num território que 26% das
pessoas não tem água e o sa-
neamento básico é precário.
Qual a solução?
Há pouco a se fazer
quando o Estado diz
para ficar em casa, pois a vida
é um bem maior. Então é pre-
ciso transferir renda. São pes-
soas que pagaram imposto a
vida inteira. / MARIANA HALLAL e
PAULO FAVERO
3 PERGUNTAS PARA...
Por raça/cor
● Proporção de mortes por coronavírus é maior entre pretos e pessoas com baixa escolaridade
DESIGUALDADE
FONTE: NÚCLEO DE OPERAÇÕES E INTELIGÊNCIA EM SAÚDE INFOGRÁFICO/ESTADÃO
ÓBITOS RECUPERADOS
ÓBITOS RECUPERADOS
38% 62%
Branca
Negra
Por escolaridade
Sem
escolaridade
Fund. 1 Fund. 2 Ensino
Médio
Superior
ÓBITOS RECUPERADOS
55% 45%
71% 59% 48% 35% 23%
29%
41%
52%
65%
77%
WERTHER SANTANA/ESTADÃO –18/5/
Taxa de morte é
maior entre negros
e analfabetos
Pesquisa foi realizada pelo Núcleo de Operações e Inteligência em
Saúde com base nos números do governo federal até 18 de maio
Desigualdade. Negros analfabetos têm 80% mais risco de morrer pela covid, revela estudo