O Estado de São Paulo (2020-05-28)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto QUINTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






A Índia está se mobilizando pa-
ra encerrar o maior lockdown
do mundo, um experimento
sem precedentes que afetou
mais de 1,3 bilhão de pessoas.
As restrições causaram perda
massiva de empregos, insegu-
rança alimentar generalizada
e êxodo das cidades.
Nas últimas semanas, o go-


verno relaxou restrições de
transporte, comércio e indús-
tria. Mas especialistas dizem
que o número de casos de coro-
navírus deve aumentar ainda
mais rápido e pressionar os
hospitais do país, que já estão
à beira do limite.

http://www.estadao.com.br/e/india

U


ma das vigas-mestras
da mitologia bolsona-
rista é a afirmação fal-
sa de que, entre o fim do regi-
me autoritário e a o atual go-
verno, o País esteve entregue
aos interesses mesquinhos da
pequena política e à degenera-
ção moral da sociedade. Bolso-
naro seria o líder providencial
com a missão de restabelecer
o primado do interesse nacio-
nal, com maiúsculas, e dos va-
lores tradicionais, protetores
da vida.
Essa mitologia se esfarela a
cada dia com a expansão de
casos de covid-19 pelo territó-
rio brasileiro e o crescimento
do número de mortos. Em lu-
gar de se guiar pelo interesse
maior da sociedade, lideran-
do um esforço nacional de
combate aos efeitos sanitá-
rios e socioeconômicos da
pandemia, o mito se dedica a
agitar as suas hostes, em ma-
nifestações contra o Congres-
so e o STF, a proteger a si e
aos seus com investidas con-
tra a autonomia da Polícia Fe-
deral e a cerrar fileiras com a
pequena política para preser-
var o seu mandato. Um espe-
táculo de desgoverno como
nunca antes se viu na História
deste país.
Tão importante quanto
mostrar que o rei está nu é
desconstruir a sistemática
campanha de desmoralização
do período de conquista e
consolidação da democracia
no Brasil. Nada mais oportu-
no do que comparar a politiza-
ção descabida e a descoorde-
nação da resposta à covid-
com a construção da política
pública de combate à aids,
doença infecciosa que crescia
velozmente no Brasil no final
do século passado.
Não se trata de desconhe-
cer as diferentes formas de
transmissão e as distintas con-
sequências para a saúde públi-
ca e a economia provocadas
pelo HIV e pelo novo corona-
vírus, mas de destacar os fato-
res que levaram o Brasil a se
tornar um exemplo mundial
de sucesso no combate à aids.
Essa memória não pode ser
destruída, pois nos serve para

enfrentar o desafio atual.
O Brasil fez do combate à
aids uma política de Estado.
Contribuiu para tanto a demo-
cratização da sociedade, que
se tornou mais aberta e mais
engajada graças à liberdade
de imprensa e ao aprendizado
feito na luta contra o regime
autoritário. Particular impor-
tância teve o movimento gay,
que, defendendo o grupo so-
cial no qual era maior a preva-
lência da doença, soube fazer
alianças e tornar o combate à
aids um tema de interesse ge-
ral da sociedade. Contribuiu
também a implantação do Sis-
tema Único de Saúde (SUS),
previsto na Constituição de
1988, decisivo na distribuição
dos antirretrovirais quando
estes se tornaram disponíveis
na segunda metade dos anos


  1. Igualmente decisiva foi a
    compreensão por sucessivos


governos de que a doença não
deveria tornar-se objeto de
disputa política mesquinha.
Em 1996 o Congresso apro-
vou lei tornando gratuita a dis-
tribuição do chamado “coque-
tel antiaids” na rede do SUS e
governo federal, junto com Es-
tados e municípios, concreti-
zou a medida.
Ao contrário da previsão
do Banco Mundial, que previ-
ra 1,2 milhão de pessoas infec-
tadas, o Brasil tinha na virada
do século 600 mil indivíduos
com o vírus do HIV. Nos
anos seguintes, a taxa de mor-
talidade caiu a menos da me-
tade. A mudança drástica na
trajetória da doença não teria
sido possível se uma coalizão
ampla de forças não tivesse
vencido resistências conser-
vadoras que, desde o início,
procuram minimizar e estig-
matizar a doença como “um
câncer gay”.
Respaldado por bons resul-
tados, o Brasil ganhou prota-
gonismo na cena internacio-
nal, em particular quando se

colocou a questão da quebra
de patentes dos antirretrovi-
rais, detidas por grandes em-
presas farmacêuticas. Em
2001, na inauguração da Ro-
dada Doha da Organização
Mundial do Comércio, o Bra-
sil foi autor da proposta que
abriu caminho para que as
empresas se dispusessem a
reduzir o preço de venda da-
queles remédios.
Sem antiamericanismo,
mas também sem subserviên-
cia, o Brasil enfrentou a posi-
ção capitaneada pelos Estados
Unidos. A decisão favorável à
proposta brasileira tornou a
compra de antirretrovirais
acessível a muitos países que
de outra maneira não pode-
riam comprá-los em quantida-
de minimamente suficiente,
mesmo com os recursos a fun-
do perdido mobilizados pelo
programa das Nações Unidas.
Para que fique claro o custo
de decisões erradas tomadas
em momentos cruciais, recor-
ro, para concluir, ao exemplo
negativo da África do Sul, país
onde quase 20% da população
adulta se encontram hoje in-
fectados pelo HIV. Parte im-
portante da responsabilidade
por essa tragédia humanitária
se deve ao desatino do ex-pre-
sidente Thabo Mbeck, no po-
der entre 1999 e 2008. Alegan-
do que a compra de antirretro-
virais custaria muito dinheiro
e que não haveria comprova-
ção científica de que a aids
fosse causada pelo vírus HIV
ou suscetível à ação daqueles
remédios, Mbeck resistiu até
onde pôde às pressões inter-
nas e externas para fazer a coi-
sa certa. Só o fez depois que a
Corte Suprema do seu país,
acionada por movimentos da
sociedade civil, o obrigou a
tanto. Estima-se que a resis-
tência de Mbeck a comprar e
distribuir os antirretrovirais
tenha custado mais de 300
mil vidas.
Ainda é tempo de evitar
que o Brasil enverede por se-
melhante descaminho.

]
DIRETOR-GERAL DA FUNDAÇÃO FHC,
É MEMBRO DO GACINT-USP

Com pátios cheios, descon-
tos atraem consumidores
mesmo durante pandemia.

http://www.estadao.com.br/e/0km

PANDEMIA


Índia flexibiliza lockdown e gera temor


Produtores, empresas de
cinema e sindicatos buscam
aconselhamento sobre co-
mo reabrir com segurança
estúdios de TV e filmes.

http://www.estadao.com.br/e/estudios

l“Ótima atitude do governador. Algo trabalhado, estudado e pensado
com os prefeitos. Muitos criticam, mas não têm ciência do trabalho.”
JONATAS OLIVEIRA

l“Retomada do quê? Várias empresas já pediram falência e muitos es-
tão desempregados.”
FABIO SOUZA

l“Infelizmente se renderam à pressão dos grandes empresários e
da população inconsciente.”
JAQUELINE GOMES

l“A verdade é que a flexibilização está nas mãos da população. Se
vai contribuir ou não.”
EMILIA YAMAMOTO

INTERAÇÕES


CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Zezé Di Camargo e Luciano
tiveram de cancelar uma li-
ve, prevista para sexta, devi-
do a dois casos de covid-
diagnosticados na equipe.

http://www.estado.com.br/e/live

Espaço Aberto


N


inguém se torna dita-
dor de um dia para o
outro. Em primeiro lu-
gar, precisa desacreditar o re-
gime democrático e o siste-
ma representativo. Depois de
insuflar as massas insatisfei-
tas contra a democracia e os
representantes eleitos, o lí-
der populista procura demo-
lir as instituições e tudo o
mais que impõe limites entre
a sua vontade e a submissão
do povo ao seu desejo de po-
der absoluto, transmutado
em mito. O terceiro passo é
angariar recursos de poder,
apoio financeiro de setores
das classes dominantes, e ar-
mar seus seguidores. Tudo is-
so em nome da liberdade do
povo, supostamente usurpa-
da por autoridades legitima-
mente constituídas.
Jair Bolsonaro costuma ci-
tar a Venezuela como o perfil
preferido de seus adversários
dentro e fora do País. As evi-
dências de sua conduta políti-
ca mostram, entretanto, que
ele está, ao contrário, seguin-
do a cartilha bolivariana com
certa persistência.
É longa a transmutação de
um líder político, eleito por
voto popular, em figura míti-
ca onipotente. Hugo Chávez,
depois do fracasso de sua ten-
tativa de golpe armado, deu
um primeiro grande passo re-
vogando a Constituição vene-
zuelana e adotando uma
Constituinte unilateral. Sua
tarefa foi facilitada pelo boi-
cote de uma oposição mode-
rada muito fragmentada, a tal
ponto que boicotou as elei-
ções. Uma situação muito si-
milar à que se observou entre
nós quando, mesmo diante
da radicalização política dos
extremistas, as forças demo-
cráticas moderadas nem se-
quer tentaram se unir contra
a ameaça comum.
Seguiram-se a manipulação
populista da economia, a
cooptação das Forças Arma-
das e do setor produtivo, em
grande parte estatizado e ma-
joritariamente corrupto, e a
manipulação do câmbio para
beneficiar as elites. Apesar
disso, e incapaz de se unir, o


pouco que restou da oposi-
ção não podia ser tolerado e
Hugo Chávez reinventou a
Corte Suprema de Justiça, im-
pondo-lhe a missão de servir,
acima de tudo, à “revolução”
bolivariana.
O passo decisivo da ditadu-
ra chavista foi dado pela cria-
ção, em 2009, de milícias ar-
madas, a Guardia Civil Boliva-
riana, encarregada da defesa
contra a crescente organiza-
ção das oposições e neste ano
transformada em braço ofi-
cial das Forças Armadas. Dife-
rentemente das organizações
militares tradicionais, as milí-
cias são organizadas em gru-
pos armados dentro de empre-
sas e repartições e em comuni-
dades de residência. São prin-
cipalmente essas milícias, e
não as Forças Armadas, que
efetuam a repressão às mani-
festações, os sequestros, as

execuções, a invasão e ocupa-
ção da Assembleia Nacional,
tudo praticado em nome do
socialismo e da liberdade.
A opinião pública brasileira
e o debate político estiveram,
nos últimos dias, estupefatos
pelo conteúdo perturbador
de uma reunião entre as mais
altas autoridades do País.
Mas o que essa reunião põe a
nu de mais relevante não é a
suposta interferência de Bol-
sonaro em instituições de in-
vestigação e inteligência. É,
sim, o propósito anunciado
do presidente de armar o po-
vo para que o cidadão comum
ameace, com armas de fogo,
as autoridades constituídas
quando delas discordarem.
Nas palavras do presidente,
ouve-se: “Eu peço ao Fernan-
do e ao Moro que, por favor,
assine essa portaria hoje que
eu quero dar um p..a de um
recado pra esses b...a. Por
quê que eu estou armando o
povo” – sendo esses b...as go-
vernadores e prefeitos que
não lhe agradam. Não se trata

de um caso isolado. Os insul-
tos ao Parlamento e ao Judi-
ciário estão presentes desde
a campanha eleitoral, torna-
ram-se pauta normal do presi-
dente desde o fim de 2019 e,
agora, agenda dominical do
primeiro mandatário e de seu
Ministério.
Em maio de 2019 Bolsona-
ro deu um passo nas pegadas
de Chávez ao propor um pac-
to com os demais Poderes da
República, convidando o Judi-
ciário a colaborar com as
agendas de governo, reiteran-
do que era bom ter a Justiça a
seu lado, quando o que cabe a
ela é estar do lado da lei. Mais
significativamente, na se-
quência da proposta de pac-
to, após criticar o Supremo
Tribunal Federal por deci-
sões supostamente contrá-
rias às suas convicções políti-
cas e religiosas, prometeu no-
mear para a Suprema Corte
um evangélico, porque o Esta-
do pode ser laico, “mas”, res-
saltou, “eu sou cristão”.
Faltava, até agora, o mode-
lo de mobilização de fiéis se-
guidores, que substituiu o vo-
to popular, para manter no po-
der o sucessor de Chávez, der-
rotado nas eleições para a As-
sembleia Nacional. Trata-se
das milícias bolivarianas, que
o mantêm no poder mediante
ataques armados às manifesta-
ções populares, praticam se-
questros e execuções e inva-
dem e ocupam o Parlamento.
Não é à toa que a opinião
nacional e o Congresso têm
reagido contra as tentativas
do presidente de anular todas
as cautelas e restrições ao
acesso universal indiscrimina-
do a armas letais, sob o pretex-
to de garantir a segurança dos
indivíduos e de suas proprie-
dades. Por trás dessa agenda
existe, como esclarece o pró-
prio Bolsonaro, uma agenda,
até agora oculta, de armar
seus fiéis seguidores para que
possam resistir com armas na
mão contra autoridades públi-
cas que ousarem contrariar
seus desejos e interesses.

]
SENADOR (PSDB-SP)

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
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RETOMADA
Como será o trabalho
em Hollywood?

Por covid-19, Zezé e
Luciano cancelam live

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]
José Serra


Tema do dia


Atacante do Manchester
City e Fenômeno firmaram
sociedade na empresa R9.

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Receita


venezuelana


A conduta política de
Bolsonaro evidencia
que ele está seguindo
a cartilha bolivariana

Com democracia e bom governo


detivemos a aids


Essa memória não pode
ser destruída, porque
nos serve para enfrentar
o desafio da covid-

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
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E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Doria anuncia


‘retomada consciente’


a partir de 1º de junho


Plano conta com 5 fases e leva em conta o
momento da epidemia em cada região;
quarentena é prorrogada até dia 15

]
Sergio Fausto

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