O Estado de São Paulo (2020-05-28)

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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2020 Economia B5


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Camila Turtelli
Adriana Fernandes/ BRASÍLIA


A votação da medida provisó-
ria que permite acordos para
suspensão de contrato ou re-
dução de jornada e salário na
crise do novo coronavírus foi
adiada para hoje por falta de
acordo com o governo sobre
o aumento da compensação
da perda salarial pela União.
“Não houve acordo com o go-
verno. É muito importante me-
lhorar a renda dos trabalhado-
res. Vamos tentar um acordo
até a última hora, se não tiver
jeito a definição vai ser no vo-
to”, disse o deputado Orlando
Silva (PCdoB-SP), relator da
proposta.
Silva elevou a taxa de recom-
posição salarial dos trabalhado-
res que tiverem jornada e salá-
rio reduzidos ou contratos sus-
pensos. Seu relatório prevê o te-
to do benefício a três salários
mínimos (R$ 3.135). No texto
editado pelo governo, o limite
do benefício emergencial pago
aos trabalhadores com carteira
assinada afetados pelas negocia-
ções é o mesmo do seguro-de-
semprego (R$ 1.813,03).
Na prática, quem ganha até
três salários mínimos teria ga-
rantia de reposição integral pe-
lo governo federal. Já os traba-
lhadores que ganham acima dis-
so teriam o benefício calculado
sobre esse novo teto de R$ 3.135,
ou seja, também receberiam
uma parcela maior do benefí-
cio.
A MP já está em vigor e mais
de 8,1 milhões de trabalhadores
já foram atingidos por uma das
duas modalidades. O texto pre-
cisa, porém, ser aprovado por
deputados e senadores para
que não perca a validade. Caso a
compensação paga pelo gover-
no seja elevada pelo Congresso,
os trabalhadores que já a rece-
bem teriam direito à diferença
dos valores.


Gasto adicional. Os técnicos
resistem a essa mudança, que
poderia custar de R$ 22 bilhões
a R$ 25 bilhões adicionais. O
programa já tem custo estima-
do em R$ 51,2 bilhões com o pa-
gamento de compensações aos
trabalhadores atingidos. Quan-
do lançou o programa no dia 1º
de abril, o governo estimou
atender a 24,5 milhões de traba-
lhadores formais, 73% do total
de trabalhadores com carteira
assinada.
Silva também incluiu no tex-


to a possibilidade o Executivo
prorrogar a validade da medida
provisória. Essa mudança era in-
clusive defendida pelo presi-
dente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ).
“Tenho certeza que nós con-
seguiremos chegar a um acordo
de hoje (quarta) para amanhã
(quinta) ou, então, a nova base
do governo vai impor uma der-
rota à oposição, fazendo valer
essa ajuda de que milhões e mi-
lhões de brasileiros precisam”,
afirmou o líder do governo na
Câmara, Major Vitor Hugo
(PSL-GO).
O relator também prorrogou

a desoneração da folha de salá-
rios para 17 setores da econo-
mia por mais dois anos como
uma tentativa de manter empre-
gos no momento pós-pande-
mia. A desoneração termina no
fim de 2020, e sua extensão en-
frenta resistências na equipe
econômica, que prefere discu-
tir uma política geral de estímu-
lo à geração de empregos.

Entre os setores que ainda
são beneficiados pela desonera-
ção da folha estão call centers,
tecnologia da informação, cons-
trução civil, calçados, indústria
têxtil e comunicação. Neste
ano, a previsão é que o governo
abra mão de R$ 10,4 bilhões
com a política.
O chefe da Assessoria Espe-
cial de Relações Institucionais

do Ministério da Economia, Es-
teves Colnago, disse que o go-
verno vê com o preocupação o
parecer final de Silva porque po-
de aumentar em R$ 43,4 bilhões
os custos com o programa. Col-
nago disse ainda que o governo
não quer a prorrogação da deso-
neração até o fim de 2022, classi-
ficada por ele como “puxadi-
nho”.

Adriana Fernandes / BRASÍLIA


O Ministério da Economia rece-
beu informações que o presi-
dente Jair Bolsonaro sancionou
a lei que garante socorro de R$
60 bilhões a Estados e municí-
pios. Segundo três fontes quali-
ficadas da área econômica, o
presidente atendeu aos pedi-
dos de veto recomendados pelo
ministério, entre os quais bar-
rar a possibilidade de reajustes
para servidores públicos até o
fim de 2021.


O clima foi de alívio depois
que o ministro da Economia,
Paulo Guedes, colocou pressão
para garantir que o presidente
vetasse artigo do texto que “sal-
vava” várias categorias do con-
gelamento, incluindo as de se-
gurança pública. Em meio à tra-
mitação do socorro no Congres-
so Nacional, a economia com o
congelamento dos salários ha-
via caído de R$ 130 bilhões para
R$ 43 bilhões, considerando os
impactos para União, Estados e
municípios. Como mostrou o
Estadão/Broadcast, foi o próprio
Bolsonaro que deu aval para
que o Congresso aumentasse a
lista de categorias que ficariam
de fora do alcance da proibição.
Depois, o presidente mudou
de ideia e disse que atenderia
100% ao pedido de Guedes. Pa-

ra investidores do mercado,
uma derrota do ministro na san-
ção da lei poderia arranhar o seu
prestígio no governo, passando
a imagem de que Guedes, visto
antes com superministro de Bol-
sonaro, estaria enfraquecido.
Outro artigo que a equipe eco-
nômica recomendou o veto foi
o que impede o governo de exe-
cutar as garantias e contraga-
rantias, em 2020, das dívidas de-
correntes dos contratos dos Es-
tados e municípios que forem
renegociadas durante a pande-
mia, inclusive empréstimos ex-
ternos.
Os governadores pediram a
Bolsonaro que não vetasse, mas
o Ministério da Economia justi-
ficou que o texto estava mal re-
digido e poderia, inclusive, le-
var ao entendimento que as ga-

rantias dos bancos aos em-
préstimos não poderiam ser
executadas. Em reunião na ter-
ça-feira, os bancos multilate-
rais alertaram que poderiam
acabar cortando as linhas de fi-
nanciamento para os Estados
por conta do risco de default
com esse artigo. “Foi um gran-
de passo”, resumiu um assessor
de Guedes.

Fôlego para Estados. O prazo
para a sanção do projeto, que
ao todo permite fôlego de R$
125 bilhões a governadores e
prefeitos (porque inclui sus-
pensão de dívidas com a União
e bancos oficiais), terminou on-
tem, mas o Palácio do Planalto
ainda não divulgou os quatro
vetos – três recomendados pe-
lo Ministério da Economia e

um da Advocacia-Geral da
União (AGU).
Segundo fontes, Bolsonaro
não atendeu o pedido dos servi-
dores públicos para vetar parte
do projeto que proíbe que os
meses até dezembro de 2021 se-
jam contabilizados para a con-
cessão de anuênios (adicionais
por ano trabalhado), triênios

(três anos), quinquênios (cin-
co anos) e licenças-prêmio (li-
cença remunerada concedida a
cada cinco anos de serviço; ex-
tinta para novos servidores des-
de 1997).
Antes de sancionar o texto, o
presidente deu reajustes de 8%
a 25% aos policiais civis e milita-
res do Distrito Federal ao custo
de R$ 505 milhões ao ano. Os
salários das polícias do DF são
pagos com recursos da União.
Como antecipou o Estadão,
Bolsonaro segurou o veto até o
último dia para permitir que go-
vernadores dessem reajustes a
seus servidores, a exemplo do
que ocorreu em Mato Grosso e
na Paraíba.
Além disso, o tempo também
foi essencial para que a reestru-
turação da Polícia Federal com
gratificações à cúpula fosse
aprovada e para chamar 600 no-
vos agentes da Polícia Rodoviá-
ria Federal.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Bolsonaro atende Guedes e veta parte de ajuda a Estados


União Europeia anuncia programa de ¤ 750 bi para a economia. Pág. B6}


lNo acordo ou no voto

Dólar tem 6ª


queda seguida e


fecha em R$ 5,27


lAlívio

R$ 125 bi
é o montante total do
pacote de socorro do
governo federal a
governadores e prefeitos;
ajuda inclui a suspensão
de dívidas com a União
e com bancos oficiais

Presidente garante


socorro de R$ 60 bi, mas


barra possibilidade de


reajustes para servidores
até o fim de 2021


MARYANNA OLIVEIRA/ AGENCIA CAMARA

Adiada para


hoje votação


da MP que


corta salário


“Não houve acordo com o
governo. É muito
importante melhorar a
renda dos trabalhadores.
Sem acordo definição vai
ser no voto.”
Orlando Silva (PCdoB-SP)
RELATOR DA MP

Relator tenta elevar para três mínimos teto


de benefício para quem tem salário cortado


Corte menor. Deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), relator da MP, disse que vai insistir para ampliar recomposição salarial

O dólar engatou ontem a sexta
sessão consecutiva de baixa
diante do real, ao cair 1,47%, a
R$ 5,2790 – menor valor desde
17 de abril. A última alta foi na
terça-feira da semana passada,
quando fechou em R$ 5,7564.
Desde então, a divisa cedeu
8,3%. Ontem, além do otimis-
mo com as reaberturas da eco-
nomia, fatores técnicos tam-
bém pesaram no câmbio, com
investidores desmontando po-
sições contra o real no mercado
futuro. Além disso, uma capta-
ção externa da Petrobrás, de
US$ 3,2 bilhões (ler na pág. B10),
contribuiu para a baixa, ajudan-
do o real a ir na contramão de
outras moedas emergentes.
O Ibovespa, ao contrário de
terça-feira, passou o dia mais
forte do que as Bolsas de Nova
York e acelerou ainda mais no
fim, quando os principais índi-
ces americanos se firmaram no
território positivo. Entre os pa-
péis, destaque para as siderúrgi-
cas brasileiras, todas com ga-
nhos superiores a 10%, em meio
a algum otimismo com a reto-
mada na China, ainda mais após
o país registrar menor deterio-
ração do lucro industrial no
mês de abril em comparação
com março.
Assim, o principal índice à vis-
ta da Bolsa subiu 2,90%, aos
87.946,25 pontos, fechando na
máxima do dia e passando a acu-
mular alta de 9,24% no mês. No
ano, porém, a queda é de 23,95%
/ALTAMIRO SILVA JUNIOR E LUÍS
EDUARDO LEAL
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