O Estado de São Paulo (2020-05-28)

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B10 Economia QUINTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Mariana Durão
RIO


A turbulência detonada pelo
novo coronavírus levou a Pre-
vi, maior fundo de pensão do
País, a rever sua estratégia de
investimentos em 2020. Dian-
te da crise nos mercados, o
fundo dos funcionários do
Banco do Brasil suspendeu
até segunda ordem a decisão
de vender ativos da carteira
de renda variável – ações em
bolsa e participações em em-
presas – e o plano de investir
quase R$ 5 bilhões na diversi-
ficação de seu portfólio.
Com um patrimônio total de
R$ 184,58 bilhões, o fundo já tra-
balha com uma queda do Produ-
to Interno Bruto (PIB) superior
a 6% no ano para o Brasil. O dire-
tor de Investimentos da Previ,
Marcelo Wagner, não descarta
fechar o ano com déficit, sem
bater a meta atuarial (de rentabi-
lidade). “É possível que isso
aconteça com todo o segmento
(de fundos de pensão)”, disse o
executivo, em entrevista ao Es-
tadão/Broadcast.
Classificada pela instituição
como “a maior crise do último


século”, a pandemia levou a Pre-
vi a amargar no primeiro trimes-
tre resultado negativo de R$
23,6 bi no Plano 1, de benefício
definido, que detém a maior fa-
tia de seus recursos.
O segmento mais afetado
nos três primeiros meses do
ano foi o de renda variável, com
queda de 26% na rentabilidade.
Embora significativo, o recuo
foi menor que o do Ibovespa (-
36,86%), principal índice do
mercado de ações brasileiro.
A alocação da carteira de seu
principal plano ao fim de março
era dividida em renda fixa
(49,44%), renda variável
(39,81%), investimentos imobi-
liários (6,71%), operações com
participantes (3,34%), investi-
mentos estruturados (0,56%) e
investimentos no exterior
(0,13%).
“A Previ tem um portfólio de
empresas extremamente sóli-
do e uma carteira de títulos pú-
blicos muito aderentes aos nos-
sos passivos. Essas duas pré-
condições (liquidez e qualidade
da carteira) fazem com que a
gente consiga passar com certa
tranquilidade pela crise”, disse.
Hoje, os 12 maiores ativos de-
tidos pela Previ – como Vale, Pe-
trobrás, Neoenergia e Banco do
Brasil – somam 89% do valor da
carteira de ações. Wagner expli-
cou que o projeto de desconcen-
tração está parado por hora. Co-
mo tem compromissos de lon-
go prazo, a Previ não pretende

vender participações abaixo do
valor justo.
O mesmo raciocínio vale pa-
ra o plano de diversificação, que
previa investimentos de quase

R$ 5 bilhões em fundos imobiliá-
rios, multimercados e investi-
mentos no exterior. “A trajetó-
ria de diversificação, a crise não
muda. O que fizemos foi sus-
pender por ora, até que o am-
biente de incerteza melhore e
haja condição de ver a retoma-
da com mais clareza”, afirmou
Wagner.

Teste de estresse. A fundação
tem monitorado de perto tam-
bém sua liquidez. Testes de es-
tresse mostram que, se ficasse
sem receber dividendos e alu-
guéis, a Previ poderia honrar o
pagamento mensal de R$ 1 bi-

lhão em aposentadorias até o se-
gundo semestre de 2021. Segun-
do Wagner, mesmo que a crise
avance por 2022 há meios para
evitar a venda de ativos na “ba-
cia das almas”, isto é, na baixa.
Com investimentos em imó-
veis e shoppings centers como
o Morumbi e o Parque da Cida-
de, em São Paulo, a Previ não
tem enfrentado renegociações
relevantes de aluguéis. No caso
dos shoppings, fechados em ra-
zão do isolamento social, Wag-
ner admitiu que haverá redução
de fluxo de caixa a curto prazo.
Na renda fixa, o fundo tem
apostado na compra de títulos

do Tesouro NTN-B. Até aqui fo-
ram R$ 2,5 bilhões. Para a Previ
faz sentido investir nesses pa-
péis por terem baixo risco e ven-
cimentos que casam com seu
passivo.
O diretor de investimentos
adiantou que, se o Brasil tiver
uma trajetória de recuperação
mais lenta, a Previ poderá inves-
tir mais no exterior para captu-
rar ganhos em economias com
retomada em V (forte queda,
mas recuperação rápida). No
mercado de ações o que está
mais no radar é o potencial cres-
cimento da Ásia, que já ensaia
uma recuperação.

A aérea britânica Virgin Atlan-
tic, do bilionário Richard Bran-
son, vai encerrar os contratos
de trabalho da equipe brasileira
nesta sexta-feira. A decisão foi
informada aos colaboradores
restantes na semana passada,
apurou o Estadão. Procurada, a
Virgin Atlantic confirmou que
cancelou os planos de atuar no
Brasil sem nunca ter saído do
chão. Depois de um ano de pla-
nejamento, a companhia havia
recebido o aval da Agência Na-
cional de Aviação Civil (Anac)
para sua operação em fevereiro
de 2020.
As companhias aéreas estão
entre os segmentos mais afeta-
dos pela pandemia de coronaví-
rus. A Virgin, que vinha traçan-
do planos de expansão até re-
centemente, agora luta pela so-


brevivência no Reino Unido, on-
de demitiu mais de 3 mil funcio-
nários. Ela não é a única aérea
em dificuldades. No Brasil, o
Banco Nacional do Desenvolvi-
mento Econômico e Social (BN-
DES) prepara um pacote de aju-
da ao setor. A Latam pediu recu-
peração judicial nos EUA.
Inicialmente, o primeiro voo
da Virgin entre São Paulo e Lon-
dres estava programado para
acontecer na segunda quinzena
de março. Com a covid-19, a Vir-
gin havia adiado o início dos
voos para outubro até resolver

cancelar a operação.

Saída. Segundo fontes, a cri-
se transformou os planos da
marca no País – que incluíam
também uma empresa de pa-
cotes turísticos – em pó. Pro-
curada, a Virgin disse, em no-
ta: “Em reposta à rápida ace-
leração e severo impacto da
covid-19, (...) tomamos a di-
fícil divisão de reverter nos-
so serviço entre Londres
Heathrow e São Paulo, que
estava marcada para 6 de ou-
tubro.” / FERNANDO SCHELLER

Cynthia Decloedt


A emissão de US$ 3,25 bilhões
em bônus da Petrobrás reali-
zada ontem – a primeira de
empresa brasileira pós-pan-
demia de coronavírus – deve
abrir caminho para outras
companhia e bancos do País
buscarem recursos no merca-
do financeiro internacional.
A operação mostrou apetite
dos estrangeiros por nomes
de peso em meio à necessida-
de de alocar recursos, en-
quanto as taxas de juros das
grandes economias seguem
no chão.
Antes da fase da turbulência
nos mercados, havia expectati-


va de que o segundo trimestre
fosse recheado de novas capta-
ções de emissores brasileiros,
em antecipação às eleições nor-
te-americanas.
A fila, no entanto, ficou conge-
lada. Nela estavam algumas
grandes companhias frequen-
tes e novos emissores, além de
instituições financeiras. O Ban-
co Pan, controlado pela Caixa
Econômica Federal e pelo BTG
Pactual, abortou sua emissão
que seria colocada no exterior
justamente na semana seguinte
ao carnaval brasileiro, que mar-
cou o início de um forte descom-
passo nos preços dos ativos, em
virtude da expansão do corona-
vírus, à época, pela Europa.

Mesmo com o forte impacto
do vírus nos EUA e no Brasil nes-
te momento, a demanda pelos
papéis da Petrobrás, que supe-
rou os US$ 15 bilhões, surpreen-
deu. A cifra acima de US$ 10 bi-
lhões não era vista há bastante
tempo nas captações feitas por
emissores brasileiros.
Os esforços demonstrados
pela petroleira para adequar
suas operações ao impacto da
covid-19 e à queda no preço do
petróleo, assim como o ajuste
feito em seu balanço do primei-
ro trimestre para contabilizar
perdas previstas, agradaram o
mercado de modo geral.

Pedágio. A companhia, entre-

tanto, pagou o pedágio da crise
sem precedente que o mundo
vive, uma vez que, no dia 21 de
fevereiro, que antecedeu a revi-
ravolta de preços nos mercados
financeiros, o título da compa-
nhia oferecia com prazo de dez
anos um retorno ao investidor
de 3,66%.
Os preços de negociação dos
papéis no mercado secundário
são referência para novas capta-
ções. Mesmo assim, o custo da
emissão de ontem ficou perto
dos bonds emitidos em março
de 2019, quando a estatal levan-
tou US$ 750 milhões em papéis
com vencimento em 2029 a
5,95%, e US$ 2,25 bilhões com
vencimento em 2049, a 6,9%.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Facebook ignorou alerta


sobre polarização na rede


Instagram lança


função para


fãs de ‘lives’


ADRIANO MACHADO/REUTERS–3/10/2019

Fundo previdenciário do


BB suspende ideia de


vender ações em Bolsa


em meio à pandemia


do novo coronavírus


Crise faz Previ


adiar projeto de


diversificação


Virgin Atlantic deixa o Brasil


sem nunca ter realizado um voo


Em meio à pandemia de coronavírus, estatal vê demanda acima do esperado; movimento pode abrir porta a outras empresas nacionais


No chão. Virgin Atlantic demitiu 3 mil no Reino Unido

Era para o Facebook nos unir,
mas ele nos separou. Uma re-
portagem do jornal americano
Wall Street Journal publicada
nesta semana mostrou que estu-
dos internos da companhia con-
cluíram que o seu algoritmo de
distribuição de conteúdo con-
tribuíram para a polarização e
segregação das pessoas. Pior: se-
gundo a reportagem, o coman-
do da companhia ignorou o aler-
ta por considerar que mudan-
ças poderiam reduzir o engaja-
mento dos usuários, o que pos-
teriormente resultaria em per-
das comerciais.
“Nossos algoritmos explo-
ram a atração do cérebro huma-
no por divisão”, diz um dos do-
cumentos obtidos pelo jornal.
Junto dele, havia um alerta de
que o sistema continuaria a ser-
vir conteúdo com potencial de
criar segregação se nada fosse
feito, pois isso aumentaria o
uso e tempo gasto na platafor-
ma. Um outro documento de
2016 mostrou que 64% das pes-
soas que entraram para algum
grupo extremista no Facebook
fizeram isso por conta do algo-

ritmo da empresa.
Segundo a publicação, um
dos principais responsáveis
por minimizar os danos do al-
goritmo seria Joel Kaplan, vi-
ce-presidente política públi-
ca global. Ele é acusado por
críticos de manter a agenda
conservadora dentro da plata-
forma. Ele seria, por exemplo,
o responsável pela postura da
empresa de permitir que po-
líticos façam propagandas en-
ganosas na rede social.
Após a publicação da repor-
tagem, o Facebook se mani-
festou: “Aprendemos muito
desde 2016 e não somos a
mesma companhia atualmen-
te. Criamos uma equipe ro-
busta de integridade, reforça-
mos nossas políticas e práti-
cas para limitar conteúdo da-
noso, e usamos pesquisa para
entender o impacto da nossa
plataforma na sociedade pa-
ra continuarmos a melhorar.
Apenas em fevereiro US$ 2
milhões em financiamento
para apoiar propostas de pes-
quisa sobre polarização”. /
AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os criadores de conteúdo terão
mais uma forma de ganhar di-
nheiro com o Instagram. A rede
social começou a testar ontem,
nos EUA, uma nova ferramenta
chamada Badges. Ela permitirá
que fãs paguem para ter um co-
mentário destacado em uma
transmissão ao vivo. A previsão
da empresa é de que a função
chegue em breve ao Brasil, disse
o diretor de parcerias do Insta-
gram na América Latina, Gonza-
lo Arauz, ao Estadão.
Os criadores de conteúdo ou
marcas que iniciarem uma live
poderão vender as Badges (me-
dalhas ou distintivos, em portu-
guês) com três valores diferen-
tes – US$ 1, US$ 2 e US$ 5. Em
troca, o público terá seus co-
mentários ressaltados, como
“fãs de carteirinha”.
A ideia não é nova: já é usada
há alguns anos por serviços que
fazem transmissões ao vivo, co-
mo o YouTube e site especializa-
do em games Twitch, da Ama-
zon. Segundo Arauz, o Face-
book não vai cobrar comissão
pelas Badges. / BRUNO CAPELAS

lParada técnica
“A crise não muda a
trajetória de diversificação.
O que fizemos foi suspender
por ora, até que o ambiente
de incerteza melhores e haja
condição de ver a retomada
com clareza.”
Marcelo Wagner
EXECUTIVO DA PREVI

Força. Mesmo que recuperação da economia seja lenta, Previ teria caixa para pagar aposentadorias até meados de 2021

Afetada pelo coronavírus,


aérea britânica demitiu


funcionários da operação


local e cancelou planos


de voar de SP a Londres


FABIO MOTTA /ESTADÃO -18/12/2018

Petrobrás capta US$ 3,25 bi no exterior


À frente. Petrobrás é 1ª captação brasileira após covid-19

TOBY MELVILLE/REUTERS–5/5/2020
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