O Estado de São Paulo (2020-05-28)

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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2020 Especial H3


Daniel Martins de Barros


UM CLÁSSICO DA COZINHA FRANCESA


Paladar


C


hega uma hora em que a pes-
soa precisa criar coragem
de invadir o depósito de
suas emoções. A gente vai levando
a vida no dia a dia, passando por
cima do que sente, evitando pen-
sar no que incomoda, usando o no-
ticiário como distração, e enquan-
to isso as emoções vão ficando
uma bagunça. Tem tristeza que fi-
ca guardada na caixa da raiva, ale-
gria misturada com saudade, me-
do escondido debaixo de tapete. E
toda vez que lembramos daquele
depósito sentimos um certo frio
na barriga. “Eu precisava dar uma
olhada ali. Deve estar cheio de coi-

sas que eu não precisaria mais guar-
dar. Talvez tenha outras que seriam
bem úteis nesse momento. Uma hora
eu mexo”, pensamos. E seguimos fa-
zendo o que quer que fosse.
Bem, esse é um dos momentos bas-
tante propícios para essa organiza-
ção. Sem sair, ou saindo com menos
trânsito, sem precisar levar os filhos
à escola, se quisermos certamente
conseguimos pôr essa tarefa em nos-
sa lista de afazeres. Até poderíamos
continuar usando o trabalho como
desculpa, mas a covid-19 trouxe tan-
tas emoções à tona que estamos sem
lugar para guarda-las. Teremos que
pôr ordem nas coisas.

É interessante que mexer com nos-
sas emoções parece assustador no co-
meço, mas pode se tornar algo imen-
samente tranquilizador.
Enquanto não fazemos isso vamos
levando os dias com uma vaga sensa-
ção de desconforto, às vezes mais in-
tensa, as vezes menos, e não nos da-
mos conta de como esse pano de fun-
do emocional interfere na nossa vida.
Explodimos do nada, irritamo-nos
com coisas pequenas; estranhamos
como pequenos problemas nos dei-
xam tão inquietos. Como quando es-
tamos pensando numa situação preo-
cupante, tentando resolvê-la mental-
mente, e algo nos distrai por poucos
segundos, o bastante contudo, para
atrapalhar nosso raciocínio. “No que
eu estava pensando mesmo?”, nos
perguntamos sem lembrar. Somos
deixados com a preocupação, mas

sem saber com o quê.
Mas quando fazemos o inventário
das emoções e as colocamos no lugar
muito dessa energia negativa se dissi-
pa. Ou pelo menos vai para a direção
certa.
Comece separando as coisas. Isso
aqui é magoa. Isso é raiva. Essa outra
está no lugar errado, trata-se de uma
tristeza. E o que esse orgulho está
fazendo aí com as vergonhas? Só de
fazer isso já podemos no livrar de
muita tranqueira. “Puxa, estava há
tanto tempo alimentando um ódio
que, olhando bem, é muito mais uma
decepção. Melhor deixar para lá”.
Em seguida, avalie muito bem se
elas ainda têm algum sentido. Emo-
ções que foram úteis no passado ago-
ra podem estar só atrapalhando:
“Gente. Porque ainda estou manten-
do esse medo de me relacionar? Já

tive tantos relacionamentos bons
depois de ter adquirido esse me-
do. Vai para a reciclagem”.
Por fim, veja aquelas que estão
drenando energia inutilmente. A
raiva, por exemplo, tem sentido se
nos impele a brigar por algo que
cremos ser nosso direito, se canali-
zada uma indignação para a mu-
dança.
Mas de que adianta ficar na jane-
la alimentando a raiva do povo fu-
rando a quarentena? Mesma coisa
com o medo: ele nos assusta para
evitar ameaças. Se vislumbramos
uma crise econômica fora do nos-
so controle à frente, de que vale
ficar com medo?
Sobretudo atualmente, não é
possível não sentir emoções ruins.
Mas podemos ao menos evitar que
sua bagunça nos atrapalhe tanto.

facebook/danielbarrospsiquiatra
ESCREVE QUINZENALMENTE

l]


Danielle Nagase


Era para ter sido um erro culiná-
rio. No corre-corre da cozinha do
pequeno restaurante em Lamot-
te-Beuvron, na França, as irmãs
Stéphanie e Caroline Tatin “nada-
ram” no preparo de uma torta, es-
quecendo de colocar a massa na
forma antes do recheio de maçã e
caramelo.
Diante da falha, tinham duas
saídas: descartar o que já haviam
feito e começar a receita toda ou-
tra vez; ou improvisar, dispondo


a massa folhada por cima da fruta
caramelada. Desse “jeitinho fran-
cês”, nasceu a tarte tatin, uma tor-
ta assada ao contrário, que é qua-
se obrigatória em bistrôs.
No Ici Bistrô, ela é a queridinha
da clientela e costuma esgotar to-
das as noites. “Fazemos sete tor-
tas por serviço. Se acabar, aca-
bou”, conta o chef Benny Novak.
Feita à lá minute, como alerta o me-
nu, leva 20 minutos para ficar pron-
ta, mas quem é fã da tal torta inver-
tida dá de ombros – ou pede com
antecedência, junto aos pratos
principais, para agilizar o preparo.
Como o Ici está temporaria-
mente fechado por conta da qua-

rentena, Benny topou abrir seu
caderno de receitas e comparti-
lhar o modo de preparo da tarte
tatin com o Paladar (veja ao lado).
“É fácil de fazer em casa, mas tem
algumas pegadinhas que podem
desmantelar a torta”, entrega.
Primeiramente, é preciso ter
uma fôrma ou frigideira antiade-
rente que possa ir ao forno. E o
truque mais importante: jamais
desenforme a torta quente. É pre-
ciso esperar alguns minutos até
que o caramelo esfrie e firme um
pouco; se a calda estiver líquida, o
recheio vai desmoronar.

Tutti-frutti. O modo de prepa-

ro da clássica tarte tatin tem sido
aplicado com outras frutas. O
confeiteiro Arnor Porto, que assi-
na as sobremesas do restaurante
Loup, fez graça ao oferecer uma
versão com peras no delivery de
Dia das Mães. Fez tanto sucesso
que, no meio do serviço, tiveram
de tirar a opção de cartaz no
iFood. “Fizermos 90 porções e es-
gotou”, conta. Atualmente, a tor-
ta pode ser pedida sob encomen-
da (11-95852-0133).
Como o tempo de cocção da
pera é maior, Arnor cozinha os
quartos da fruta (já descascada e
sem o cabinho) em calda com
água, açúcar, suco de limão e ca-

nela em pau até ficar ao dente, an-
tes de levar para assar. A massa
que ele usa também é diferente:
um crumble de farinha de amên-
doas no lugar da versão folhada.
Já Fernando Martins, d’A Tor-
teria, que já testou alternativas sal-
gadas de tarte tatin (como a com
metades de cebolas roxas), conse-
guiu emplacar no cardápio das lo-
jas a versão com tomates rechea-
dos com queijo de cabra e manjeri-
cão. “Fez muito sucesso, mas co-
mo se trata de um preparo delica-
do e trabalhoso, ficou só por uma
temporada em cartaz”, conta. Se-
gundo ele, a opção pode voltar em
breve, em datas especiais.

De pera, do Loup
Ingredientes
(1 fôrma de bolo inglês)
10 peras Willians descascadas e
cortadas em quatro
1,5 litro de água
300g de açúcar refinado
30 ml de suco de limão
Canela em pau a gosto
Para a massa
200g de farinha de trigo
60g de farinha de amêndoas
180g de manteiga sem sal
85g de açúcar refinado

1 fava de baunilha
Para o caramelo
250g de açúcar
70 ml de água
Preparo
1 Leve a água ao fogo com 300g
do açúcar, a canela e o suco de
limão. Assim que começar a fer-
ver, adicione as peras e deixe cozi-
nhar por seis minutos.
2 Coloque a panela dentro de uma
tigela ou assadeira com bastante
gelo para dar um choque térmico.
Reserve.
3 Misture todos os ingredientes da
massa e reserve.
4 Leve ao fogo baixo os ingredien-
tes da calda até formar um cara-
melo.
5 Despeje o caramelo em uma
fôrma de bolo inglês. Escorra as
peras, seque levemente com papel
toalha e arrume as fatias da frutas
em cima do caramelo.
6 Cubra com a massa e leve ao
forno preaquecido (180º C) por 20
minutos.
7 Espere alguns minutos para de-
senformar. Sirva morna com sorve-
te de creme.

Caqui com pimenta caiena,
por Patrícia Ferraz
Ingredientes
(4 minitortas)
13 caquis vermelhos maduros
150g de açúcar
80g de manteiga sem sal
2 pitadas de pimenta caiena
Suco de 1 limão
1 massa folhada pronta
Preparo
1 Lave e descasque os caquis com
cuidado. Corte-os em 4 partes, es-
prema o limão sobre eles, polvilhe
a pimenta e misture.
2 Ponha a manteiga e o açúcar
numa frigideira ou numa caçaroli-
nha de lateral baixa, que possa ir
ao forno. Leve ao fogo baixo e me-
xa até derreter a manteiga. Pare de
mexer e deixe formar uma calda.
3 Tire a panela do fogo, acomode
as fatias de caqui sobre a calda,
até preencher a panela toda.
4 Volte a panela ao fogo e deixe
cozinhar por mais alguns minutos,
até a calda engrossar e se mistu-
rar (naturalmente) com o suco do
caqui. Tire do fogo.
5 Abra a massa folhada e corte


um círculo do tamanho da paneli-
nha. Cubra os caquis com a massa
folhada e leve ao forno preaqueci-
do a 180°C.
6 Asse até dourar a massa. Tire do
forno, ponha um prato sobre a pa-
nelinha e vire rapidamente a torta,
deixando a massa embaixo e o ca-
qui em cima.
7 Prepare as outras três tortas da
mesma maneira.
8 Sirva morna ou em temperatura
ambiente. Se quiser, acompanhe
com sorvete de creme.

A clássica, do Ici Bistrô
Ingredientes
(1 torta)
70g de açúcar refinado
2 colheres (sopa) de
açúcar cristal
70g de manteiga em
temperatura ambiente
7 maçãs tipo granny smith
320g de massa folhada
comprada pronta
1 ovo
Preparo
1 Preaqueça o forno a 220°C.
2 Cubra a fôrma com manteiga
amolecida e açúcar.
3 Descasque as maçãs, tire as
sementes, corte em quartos e
ajeite-as na fôrma.
4 Leve ao fogo (de médio a baixo)
por 40 minutos. Deixe esfriar e,
então, leve à geladeira por
40 minutos.
5 Corte o disco de massa folhada
de maneira que possa cobrir as
maçãs na fôrma. Resfrie a massa
na geladeira por aproximadamente
15 minutos.
6 Bata o ovo com a ajuda de um
garfo. Reserve.
7 Cubra as maçãs carameladas
com a massa e, com a ajuda de um
garfo, fure a massa. Pincele um
pouco do ovo batido e salpique o
açúcar cristal.
8 Asse por 15 minutos ou até a
massa estar dourada.
9 Espere esfriar por aproximada-
mente 5 minutos. Então, tente gi-
rar a massa com a mão para ver se
as maçãs e o caramelo estão sol-
tos da fôrma. Por fim, coloque o
prato no qual irá servir sobre a tor-
ta e vire para desenformar.


  1. Sirva, ainda morna, sozinha ou
    com sorvete de creme.


DE PONTA-CABEÇA


Inventário emocional


CODO MELETTI/ESTADÃO

Na época. Receita da colunista Patrícia Ferraz leva caqui

DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Torta invertida de maçãs, a tarte tatin ganha versões com outras frutas nas mãos de chefs


De sal. Versão com tomates

Disputada. Torta
do Ici Bistrô
costuma esgotar
todas as noites

VICTORIA ROMAN

Tomates, d’A Torteria
Ingredientes
(1 torta de 20cm)
500g farinha de trigo
200g manteiga gelada cortada em
cubos
1 colher (chá) de sal
2 ovos
8 tomates italianos maduros
250g cebola
500g queijo de cabra
250g ricota macia
80 ml creme de leite fresco
1 colher (sopa) de alecrim
1 colher (sopa) de tomilho
1 colher (sopa) de manjericão
1/2 dente de alho picado
100 ml de azeite
Pimenta-do-reino moída a gosto
Sal e noz-moscada a gosto
Preparo
1 Misture a manteiga com a fari-
nha de trigo e o sal com as pontas
dos dedos até virar uma farofinha.
2 Acrescente os ovos batidos e
misture até formar uma bola.
3 Embrulhe em plástico filme e
deixe por 1h na geladeira.
4 Refogue as cebolas com azeite
em fogo médio por 40 minutos.

Mexa às vezes até tomar cor. Tem-
pere com sal e pimenta. Reserve.
5 Corte a tampa do tomate e retire
a polpa com cuidado.
6 Misture o alho com metade das
ervas picadas, azeite e pimenta,
e tempere os tomates.
7 Asse os tomates com a boca
virada para baixo por 10 minutos
em forno a 180°C. Reserve.
8 Misture com um garfo os quei-
jos, o azeite, o restante das ervas
picadas, a noz-moscada e o creme
de leite. Reserve.
9 Abra a massa em uma super-
fície enfarinhada ou entre dois fil-
mes plásticos – o disco deve ter
uns 23 cm de diâmetro.
10 Unte a forma (20 cm) com azei-
te. Recheie os tomates com a pas-
ta de queijos e disponha na forma
com a parte aberta para cima.
11 Cubra com a cebola carameliza-
da e, na sequência, com a massa.
12 Ajeite, com a faca, a massa que
ficou de fora para dentro da forma
(como um lençol na cama).
13 Pincele a massa com gema de
ovo e leve ao forno por 30 minutos.
Espere esfriar para desenformar.
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