Valor Econômico (2020-05-28)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 6 da edição"28/05/20201a CADB" ---- Impressa por cgbarbosaàs 27/05/2020@21:27:03


B6| Valor|Quinta-feira, 28demaiode 2020

Empresas|Te n d ê n c i a s & C o n s u m o


IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


ComércioFluxodevisitantesemcentroscomerciaisquevoltaramaoperarchegaa50%damovimentaçãonormal


Iguatemi chega a 5 shoppings reabertos


RodrigoCarro
DoRio

Com5de seus16 shopping
centers reabertos, a Iguatemi viu
o fluxo de visitantes oscilar entre
40%e50% do patamar habitual
desde o reiníciodas atividades.
Masaexpectativa da companhia
é que a quedanas vendas seja in-
ferior à diminuiçãodomovimen-
to em seuscentros comerciais. O
Iguatemi Brasíliafoi reaberto na
tarde de ontem, enquanto outros
três shoppingsno Rio Grandedo
Sul voltaramafuncionarem
maio eoFashion Outlet Santa Ca-
tarina,aindaemabril.
A companhia ensaiaum retor-
no à normalidadecom aadoção
de medidaspreventivas contraa
covid-19que incluema redução
dos horáriosde funcionamento,

a aferiçãoda temperaturade co-
laboradorese lojistas,asuspen-
são dos serviçosde valetparking
eoajustedaspraçasdealimenta-
ção para o distanciamentosegu-
ro,entreoutras.
“A gentetem vistocomporta-
mentosmuitos similares,da or-
demde 40%,50% do fluxo,com
gente muitodedicada à conver-
são [compra]. Sai para fazer
compras.Entãonós temosaex-
pectativaem relaçãoaalgumas
operaçõesqueaquedadeven-
das seja menosdo que aqueda
de fluxo”, esclareceuontemCar-
los JereissatiFilho, diretor-presi-
dente da Iguatemi, em telecon-
ferênciapela manhãcom analis-
tas de mercado.
Onzedos dezesseiscentrosco-
merciaisda Iguatemiestãositua-
dos no Estadode São Paulo. Na
conversacom analistas, para de-
talharresultadosdoprimeirotri-
mestredesteano,Jereissatiche-
gou a dizerque esperava que a
reaberturadosshoppingspaulis-

Lojasdamoda,comoa ChristianDior,emParis,terãodesecontentarcoma clientelalocale concederdescontos

CHRISTOPHEMORIN/BLOOMBERG

Umnovo


código para


centros


comerciais


DeBeloHorizonte

AAssociaçãoBrasileiradeShop-
pingCenters (Abrasce)informou
ontem que o Hospital Sírio-Liba-
nês, de São Paulo, endossou um
conjuntode medidaspara evitar
que funcionários e clientes sejam
contaminados com coronavírus
num momento emque governose
prefeiturasestãopermitindoarea-
berturadosshoppings.
Segundo a associação,dos 577
shoppings que operamno país, 155
já estãofuncionando, principal-
mente nos Estados da região Sul, no
Espírito Santo,em MinasGerais,no
Rio de Janeiro, MatoGrosso e Mato
GrossodoSuleemBrasília.
Apartir da semanaque vem,
shoppingsem São Paulo deverão
serreabertos.
OpresidentedaAbrasce,Glauco
Humai,disse aoValorque ocon-
junto de regras desenvolvidopela
entidadecomendossodoSírioser-
ve como um protocolo de autorre-
gulação para os shopping centers
e que poderão ajudar anortear re-
grasparaareabertura.
São medidasque —além das
exigências de cada prefeitura ou
governos estaduais —envolvemo
monitoramento do público, como
medição de temperaturaeexigên-
ciadeusodemáscara,cuidadoses-
peciais de sanitização e limpeza
dos tubos de ar condicionado, re-
forçonas atividadesdelimpeza,
medidas para garantirque as pes-
soasfiquem distantesumas das
outras,redução de vagas nos esta-
cionamentos, fechamentode ele-
vadores e afastamentodas mesas
nas praças de alimentação. Cine-
maseteatrosestãofechados.
No ano passadoo setor faturou
R$ 192,8 bilhões. “Este ano agente
já perdeu R$ 25 bilhões em fatura-
mento”,disse Humai. Aprojeçãoé
que as vendastenham caído90%
ante2019.(MMS)

Capitais do luxo na Europa


confrontam a dura realidade


SilviaSciorilliBorrellie LeilaAbboud
FinancialTimes,deRomae Paris

Combalconistasusandomásca-
ras e os onipresentes frascos de ál-
cool em gel por todos os lados,o
efeitoda pandemia do coronaví-
rus éimpossível de não ser sentido
na loja de departamentospari-
sienseLeBomMarché.
Mas talvez aevidência maisfla-
grante esteja numsaguão do piso
superior onde clientes de fora da
União Europeia (UE) processam
suas restituições de impostos so-
bre vendas.Antes da pandemia,a
maisantigalojadedepartamentos
do mundo,controlada pelo grupo
de artigos de luxoLVMH, tinha
abertos 12 guichês para os turistas
reivindicarem seusimpostos.Na
semana passada, aúnica atenden-
te aserviçodisseque realizaria só
trêsrestituiçõesnaqueledia.
Com as capitaisda modaParis,
Romae Milãovoltandoaganhar
vida,aindústriados artigosde
luxo enfrentaumadurarealida-
de: os turistaschineses,que res-
pondiampordoisterçosdasven-
das do setorna Europaantesda
covid-19,estãoausentes enão
deverãoretornarnocurtoprazo.
Agora, marcas como Chanel,
GuccieLouisVuittonterãodecon-
templar maissua clientela local,
buscandoaomesmotempoenten-
der a gravidadecom que a emer-
gência de saúdepública alterou os
desejos dos clientese as preferên-
ciasdecompra.
RemoRuffini, CEO da marca ita-
liana de artigos de luxo Moncler,
dizqueochoquededemandapro-
vocará mudanças em tudo, do de-
sign às táticas de vendas. “A nor-
malidadeno momento éumhori-

zontedistante”, disseeleao“Finan-
cial Times”. Para aMoncler,mais
conhecida por seus luxuosos casa-
cosacolchoados,foi,segundoele,
“o momentodeestimularodigital,
redesenhar arede de varejo, esta-
belecer uma relação mais próxima
e construtivacom a cadeia de for-
necimento, inventarnovas manei-
ras de apresentar e venderas cole-
ções,e reconsiderar como se rela-
cionarcomosclientes”.
Mas Ruffini alertou quealguns
aspectos dos negócios não pude-
ram ser mudados: “A indústriada
moda émuito física, precisamos
dos estilistas, alfaiates, acessórios,
tecidos, nemtudo podeser mane-
jadoremotamente”. Para encora-
jar os funcionários avoltar ao es-
critório em Milão, aMoncler está
oferecendoaelesbicicletas, con-
sultasgratuitascommédicosetes-
tesdeanticorposparaacovid-19.

Falta mercadoria


no varejo popular


MarcosdeMoura e Souza
DeBeloHorizonte

Comas portasabertasdesde
segunda-feira, um dos principais
estabelecimentos do comércio
popular do centro de Belo Hori-
zonteainda não conseguiuse re-
encontrar com seus clientes.
Alémdisto,faltammercadorias.
Depoisde dois mesesfechado,
o ShoppingUai é um dos diver-
sos estabelecimentos do comér-
cio e de serviços da cidadeque
voltarama operar esta semana,
no primeiro passode flexibiliza-
ção das regrasde isolamentoso-
cialdadopelaprefeitura.
Mas, por ora, o que se vê nas pe-
quenas lojasdo Uaiéum retrato
das dificuldades queuma parte do
varejo do país –principalmente o
que é voltado para a baixa renda–
terápararecuperaropasso.
“A gente atende a compradores
que nessa pandemia ou perderam
emprego ou que estãocomseus

contratos suspensos”, disse aoVa-
loro empresário EliasTergilene,
proprietário do Uai. “As pessoas
nãotêmcomocomprar.”
Antesda crise,as duasunida-
desdoShoppingUaiemBeloHo-
rizonte—ado centroeadeVen-
da Nova,na periferia—recebiam
cercade 35 mil pessoaspor dia.
Nestaprimeirasemanapós-iso-
lamento,forammenosde 3mil
pordia,segundoTergilene.
Aos 48 de anos, o empresário
mineiro se especializou no varejo
popularetem outras unidades do
Uai em Manaus, São Paulo ena ci-
dadepernambucana de Toritama,
polodeconfecçõesdejeans.
Umaunidadeestava paraser
inauguradanaBahia,emFeirade
Santana, em março, mas a pan-
demiaatropelouosplanos.
Tergilene,que também atua
no ramode fabricaçãode mó-
veis, contater faturadoR$ 60 mi-
lhõesem 2019.Este ano,até ago-
ra,R$12milhões.

Dos seus 600 funcionários,
200 foramdemitidose300 tive-
ramseuscontratossuspensos.
Por enquanto,apenas seus
shoppings de Belo Horizontefo-
ram reabertos.Os clientesque se
aventuram,precisampassarpor
funcionário que faz averificação
da temperaturade todos; preci-
sam usar máscarasetêm àdispo-

DIVULGAÇÃO

Apósdoismeses fechado,shopping Uai,doempresárioEliasTe rgilene (demáscara branca)voltoua operarnasegunda-feira

tas começasse pelointerior,no
iníciodejunho.
No período da tarde, porém,o
governador JoãoDoria(PSDB)
divulgou plano de reabertura
das atividadesem São Paulo que
autoriza ofuncionamento —
comrestrições—de shopping
centers e outrosnegócios. Além
dos 16 shoppings(sendodois
outlets),acompanhiaédona de
trêstorrescomerciais.
Ainterrupçãodasatividadesem
março, por causa de medidas go-
vernamentais paraconter apan-
demia, afetou negativamente o in-
dicador de vendas totaisnos pri-
meirostrêsmesesdoano.Emcom-
paração com o mesmoperíodo de
2019,houveretração de 16%, para
R$ 2,6 bilhões. Excluídos da base
de cálculosos ativos vendidos em
2019 (dois shoppings),opercen-
tual de quedanas vendasfoi de
9,6%notrimestre.
A receita líquida da empresa so-
mouR$156,8milhões,entrejanei-
ro emarço, um recuo de 9,4% ante

igualperíodo de 2019. OEbitda
(siglaeminglêsparalucroantesde
juros, impostos, depreciação e
amortização) apresentou decrés-
cimode20,5%, encolhendo parao
patamardeR$102,9milhões.
O desempenho medidopelas
vendasem mesmaslojas —aque-
lasquejáseencontravamabertas
nomesmoperíododoanopassa-
do —diminuiu12,9%no trimes-
tre. Tambémcaíramos valores
dos aluguéiscobradosdos lojis-
tas, principalmentedevidoà de-
cisãodacompanhiadepostergar
a cobrançado aluguelde março.
Os valoresserãopagosde forma
parcelada pelosvarejistasapar-
tirdeoutubro.
Aindacomo formade amenizar
oimpacto da pandemia, aIguate-
mi concedeu descontos de 60% a
100%no valorreferente ao fundo
de promoção.Are dução nas taxas
de condomínio foi de 10% para o
mêsdemarço.Paraabril,odescon-
toficouentre40%e50%.
Diretorafinanceiraede rela-

ções com investidoresda Iguate-
mi, CristinaBettsexplicouque os
lojistasficamisentosdo paga-
mento de aluguelem abril e
maio desde que mantenham
pontualmente os pagamentos
das despesasde condomínio e
fundode promoção. O retornoà
cobrança do valorcheiodo alu-
guel vai se dar de formapontual,
comdescontosdecrescentes de
percentualaindanãodecidido.
Ofechamentodas lojasfísicas
acabou por dar fôlego à platafor-
ma de comércio eletrônico da
Iguatemi.Lançadonofim deoutu-
bro do ano passado,o“marketpla-
ce” (shopping virtual)Iguatemi
365 registrou alta de cinco vezes
na sua base de clientes nas últimas
semanas. Noperíodo, houveincre-
mentode 92%nonúmerode visi-
tas. Como consequência, acompa-
nhia anunciouque vai estendero
“ma rketplace”aoutras cinco capi-
tais ainda neste semestre. Atual-
mente, o serviço está disponível
apenasparaoEstadodeSãoPaulo.

siçãoálcoolemgelparaasmãos.
Além de um número reduzido
de clientes, oshopping tem outro
desafio: os lojistas do Uai estão
compoucoestoque. Durantea
quarentena, vários deles saíram
vendendo de portaem portapro-
dutos que antesvendiam em seus
estandes:eletrônicos,sapatos,bol-
sas, cintos, camisetas etc. E ainda

não conseguiram se reabastecer —
principalmenteem São Paulo,on-
de centros de distribuição seguem
fechados. Assim, cerca de 80% das
lojinhas do Uai do centro BH não
reabriram,dizTergilene.
“Essespequenosempreende-
doressão os que maissofrerame
podeser que venhama ter uma
recuperaçãosónoNatal”,diz.

nor visibilidade para queimar seus
estoques. Algumas, comoChanel e
LouisVuitton, chegaramaté mes-
mo a aumentar seuspreços em 5%
a 17%para compensaros custos
maisaltoseprotegerasmargens.
Hásinaisdequeosfechamentos
daslojasfísicasturbinaramasven-
das on-linedos artigos de luxo,
apesar das preocupações sobre co-
mo repetir virtualmenteaexpe-
riência de sofisticação. Umapes-
quisa commil consumidores de
artigos de luxo nosEUA e na Euro-
pa constatou que 24% deles com-
praram pela internet pelaprimei-
ra vez enquanto as lojas estavam
fechadas, e 76% disseram que a ex-
periência foi positiva. Oestudo foi
conduzido pela McKinsey paraa
CâmaraNacionaldaModaItaliana
eaPitti Immagine,uma organiza-
doradeeventoscomerciais.
ABain prevê que as vendason-
line,queresponderampor12%das
vendas de artigos de luxo no ano
passado, chegarão a algoentre
28%e30%domercadoaté2025.
Comaslojas reabrindo,aKe-
ring, cuja maior marcaéaGucci,
disseque os sinais iniciais da pri-
meira semanaapóso“lockdown”
(isolamentototal) na França fo-
ramencorajadores.
EmboraMoncler, LVMH e Ke-
ring tenhamreportadouma for-
te demandana Chinadesdeque
as lojasforamreabertasno país,
nofimdemarço, poucosnosetor
esperamuma recuperaçãoacele-
rada.OHSBCprevêqueasvendas
cairão17% nesteano, enquantoa
Bain prevêum declíniode 20% a
35%. Será preciso esperar até
2022 ou 2023para o retornodas
vendasaos€281 bilhõesre-
gistradosnoanopassado.

NoBrasil, grifes têmchance defaturar mais


CynthiaMaltae RodrigoCarro
DeSãoPauloe Rio

As grifes de luxo que operamno
Brasil têm a chance de atrair um
número maior de clientes de alta
rendanos próximosmeses. Obra-
sileiro endinheirado, que prefere
comprarroupaseacessóriosquan-
do viajaao exterior, deve reduzir
esse tipo de passeiopor causada
pandemia.
Os gruposJHSFe Iguatemi,do-
nos de centroscomerciaisespe-
cializadosnessetipo de comér-
cio,dizemque este éumcenário
provável. “É certoque as viagens,
pelomenosemumprimeiromo-
mento, estarãolimitadas.Este é
um fatorque podebeneficiaro
varejolocal.Contudo,não há co-
mo prevercomexatidãocomo
será comportamentodo consu-
midor”, dizRobertBruceHarley,
CEOdaJHSFMalls.
Adiretorafinanceirae de rela-

ções com investidoresda Iguate-
mi, CristinaBetts,diz que com
“menosapetitedo clientepara
viajar”, a expectativa é de um
efeitopositivoparaaslojasdear-
tigosde luxo no país “Já vimosis-
so antes,na crisedo subprime
[hipotecas de alto risco] em
2008.O shoppingacabasendoa
opçãode lazerede compras.É
bastanteprovável que isso acon-
teçamasédifícildizeragoraqual
vai ser otamanho[dessademan-
da]”,observaaexecutiva.
Enquantoas lojasfísicasnão
podemabriras portasem diver-
sas partesdo país,pois há risco
de a covid-19se alastrarainda
mais,IguatemieJHSF apostam
em suas plataformasdigitaispa-
ravenderprodutos.
A joalheriaTiffany eas grifes
Dolce& Gabanna e Polo Ralph
Lauren, por exemplo, já foram
integradasà plataformade e-
commerceIguatemi365.“E es-

tão indo muito bem”, afirma
Cristina,semdivulgarnúmeros.
Durantea pandemia, a platafor-
ma de comércioeletrônicotam-
bémganhouaadesãoda marca
tradicionalde cristaisBaccarat,
que não tem loja física em shop-
pingsda Iguatemi.
Harleydiz que oCJ Fashion,o
canaldevendasonlinedaJHSF,já
reúnemaisde 300 marcase que
nesteano, até agora,as vendas
cresceram334%,em relaçãoa
igualperíododoanopassado.
Adesvalorização do real frente
ao euroe ao dólar deve deixar os
produtos importados maiscaros.
“Éinevitável”,dizHarley.Masopú-
blicode alta renda, acostumado a
parcelar suascompras no cartão
de crédito, vai continuarcontando
com essa opção. Eventuais descon-
tosepromoções,alinhadoscomas
matrizesdasgrifes,também“serão
partede uma estratégia para con-
quistaroconsumidor”,dizHarley.

Turistaschineses,que
respondiampordois
terçosdasvendasem
Paris,Romae Milão,
sumiramcoma crise

Coma voltados trabalhadores,
a prioridade imediata será vender
osestoques,especialmentederou-
pas. Na Le Bom Marché,casacos da
Isabel Marant e mocassinsda Tod’s
já tiveram os preços reduzidos em
40%.“Osconsumidoresestãoespe-
rando os descontos como a nova
regrado jogo”, diz Claudia D’Arpi-
zio,analista do setor de artigosde
luxodaBain&Co.
Mas as marcas que têm lojas
próprias vão limitaresses descon-
tos e usar pontos de vendas de me-

.

VAI CORINTHIANSSSSSSSSS

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