Valor Econômico (2020-05-28)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 6 da edição"28/05/20201a CADC" ---- Impressa por LGerardiàs 27/05/2020@20:10:14


C6| Valor|Quinta-feira, 28demaiode 2020

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O rasante do ‘cisne negro’ e o que ele nos ensina sobre proteção


Palavra dogestor


AnandKishore


S


e2020estásendo
umverdadeiro
pandemônioparaos
profissionaisde
investimento,
imaginocomotemsidoparao
pequenoinvestidor.
Justoagora,apósmaisdeum
milhãodepessoasse
aventuraremnomercadopela
primeiravez,atempestade
perfeitaseforma.Seesperavam
navegaremáguasplácidas,
essesmarinheirosdeprimeira
viagemtiveramlogoseus
nervostestados,aose
depararempoucodepoisda
entradacomalguns“cisnes
negros”.
Logonoiníciodoano,dois

eventoselevaramograude
tensãonosmercados:oataque
terroristanarefinariadaSaudi
Aramcoeamortedoprincipal
generaliranianonoIraque,por
umaaçãomilitardosEstados
Unidos.Quandopareciaqueo
quehaviadesustoasetomarjá
haviapassado,eisqueapareceo
grande“cisnenegro”, a
pandemiadecovid-19,com
consequênciassobrea
economiaglobalqueainda
estãosendocalculadas.
Noseuprimeiroato,a
pandemiaabateuaoferta,
quebrandoascadeiasde
suprimentoegerandoaparada
deváriasindústrias.No
segundo,devastouademanda
porbensdeconsumoeserviços,
emmeioàsinevitáveispolíticas
deisolamentosocial.
Provavelmente,oúltimoato
consistiránacontabilizaçãodas
perdashumanasenosdanos
financeirosprovocadosnos
balançosdasempresase
governos—essescertamente
estarãomaisendividadosao
fimdestacrise.
Masporqueessas
característicasconfiguramo
queclassificamoscomo“cisne
negro”?Otermofoicunhado
peloinvestidoreacadêmico

NassimNicholasTalebpara
ilustrar,pormeiodahistóriada
descobertadaespéciedecisnes
negros,afragilidadeeavisão
restritadoserhumano.
Nomundoantigo,
acreditava-sequeexistiam
apenascisnesbrancos.Coma
descobertadaAustrália,os
ornitólogossedepararamcom
cisnesnegros,rompendocom
umacrençabaseadaem
evidênciasdoqueseconhecia
atéentão.Comessaparábola,
Talebprocurouilustrarnossa
tendênciaaadotarpadrões
simplesparaprevereventos.Ea
falhar,eventualmente,diante
deimprevistos.
Paraqueumeventoseja
consideradoum“cisnenegro”,
Talebtraçoutrêsatributos:o
primeiroéserumoutlier,
escaparàsprevisões,ouseja,
quandonadaocorridono
passadoapontaparatal
possibilidade;osegundo
parâmetroéqueseuadvento
causeumimpactoextremo;e,
porfim,quesejasuscetívela
explicaçõesdesenvolvidas
posteriormentepelohomem,
queassimpensatê-lo
apreendidoetornado
previsível.
Essas“profeciasdopassado”

nãocontribuem,noentanto,
paraqueseeviteque“cisnes
negros”tornemapregarpeças
nosinvestidores.Nãosepode
anteciparalgoquetempor
naturezaserimprevisível,mas
pode-semontarproteçãopara
momentosemqueessetipode
coisaacontecee,assim,fazer
comqueseuefeitonãoseja
devastador. Aomenosdoponto
devistafinanceiro.
Aprimeiradicaéter—e
conservar—ahumildadede
aceitarquesabemosmuito
poucosobretudo.Lembra
aquelamáximadeSócrates,“só
seiquenadasei”?Apartirdo
momentoemqueassumimos
essapostura,evitamosumviés
cognitivomuitoimportanteem
finançascomportamentais
chamadosuperconfiança.Éela
quenoslevaadarmuitomais
valorànossaopiniãodoqueela
realmentevale.
Osacadêmicoseprêmios
NobelDanielKahnemane
AmosTverskysugeremquea
superconfiançaderivadoviés
daautoatribuiçãoedoviésda
retrospectiva.Oprimeirose
refereànossapropensãoem
justificaronossosucessopelas
nossashabilidadestécnicase
interpessoais,aopassoqueo

insucessoésempreculpados
outros,oufaltadesorte.
Jáoviésdaretrospectivanos
levaacrerque,depoisdeum
eventoocorrido,nósjáo
havíamosprevisto.Éofamoso
“engenheirodeobrafeita”.O
problemaéque,sepensamos
semprequepossuímosodom
depreveropassadomelhordo
querealmenteprevimos,
tenderemosaacreditar
tambémquepodemosprevero
futuromelhordoque
realmentetemoscapacidade
parafazer.
Pelamesmarazãoquenos
levaareconhecerquenão
somoscapazesdeantecipar
algunsacontecimentosde
grandeimpactonasnossas
vidas,tambémdevemos
admitirquemuitaconvicção
sobretalouqualativodeveser
tratadacomdesconfiança.
Emoutraspalavras,sempre
diversifiqueseusinvestimentos.
Quantomaisvariadaebem
distribuídaforumacarteira,
menoresaschancesdequetoda
elasejaabatidapelaocorrência
dealgoquepareciaimpossível,
masaconteceu.
Masuminvestidorquese
protegebemcontra“cisnes
negros”,aindaquejamaistenha

vistoum,tambémlevaem
consideraçãoqueénecessário
lançarmãodeestratégiasde
investimentoquesóum
profissionaldoramo,
preparadoecertificadopara
exerceressafunção,pode
montar.Umgestorsabecomo
utilizarinstrumentostaiscomo
opçõesecontratosfuturos
exatamentecomoum
profissionalsabeusaro
equipamentodeproteção
próprioparaasuaatividade.
Proteçãonãoéreduzirorisco
dequeacidentesocorram.
Imprevistosacontecematodoo
tempoealgunsdelesmoldama
nossatrajetóriaenosso
aprendizado.Proteçãoé
reduziroriscodequeesses
acidentessejamfataisou
deixemsequelasgraves.

AnandKishoreé gestordefundosda
Daycoval AssetManagement
E-mail:
[email protected]

Esteartigoreflete asopiniõesdoautor,e
nãodojornalValorEconômico.O jornal
nãoseresponsabilizae nempodeser
responsabilizadopelasinformações
acimaouporprejuízosdequalquer
natureza emdecorrênciadousodestas
informações.

InvestimentosCobrançadeimpostosemestralpodeficaremR$3bicomsaqueserentabilidademenornosfundos


‘Come-cotas’ de maio deve cair pela metade


Weruska Goeking
DeSãoPaulo

Cerca de R$ 3bilhões vão deixar
as contas de investidores de fun-
dos de rendafixa, DI, multimerca-
dos e cambiais na próxima sexta-
feira. Trata-se da cobrança do “co-
me-cotas”,oimposto de renda co-
brado dos cotistas duasvezes por
ano, sempre no último dia útil dos
mesesdemaioenovembro.
A mordidado Leão, contudo,
podeser consideradapequena.
Os R$ 3 bilhõescalculadospelo
economistaeblogueirodoValor
Investe,Marcelod’Agosto, repre-
sentammetadedo que foi arre-
cadadopelogovernoem 30 de
novembrode 2019.A quedapo-
de ser explicadatantopelossa-

ques quanto pelaredução da
rentabilidadenessesfundos.
A cobrança do imposto é feita
em cimados lucros e o patrimô-
niodosfundosderendafixa,cam-
biais e multimercadosde investi-
dorespessoas físicas caiu cercade
6,5%nosúltimosseismeses,ouse-
ja, desde aúltima cobrança. Le-
vantamento feito por Marcelo
d’Agosto aponta que 50% dosfun-
dos multimercado e 60% dos fun-
dos de créditoprivado tiveram
prejuízonosúltimosseismeses.
“Umapartedos valores que se-
riamrecolhidos por causado co-
me-cotasjá foi pago, devidoaos
resgatesdosfundosderendafixa
DI. Muitosinvestidoresencerra-
ram suasposiçõeseinvestiram
nos fundos do tipo ‘simples’,

maisconservadores. Ao resgatar,
o investidorpagao impostode
rendana fontesobreos rendi-
mentosde períodos anteriores”,
explicaoeconomista.
Alémda saídade investidores
edomenorretorno,vale lembrar
que ataxa básicade juros,a Selic,
passoude 5% em novembro para
3% em maio, o que impactou for-
tementearentabilidadedein-
vestimentosem rendafixa.“O
rendimentodo CDI [quesegue
de pertoda Selic]caiu 40% em re-
laçãoao semestreanterior”, des-
tacaMarcelod’Agosto.
No ano passado, foramreco-
lhidosde investidorescercade
R$ 11,519bilhõesem imposto
de rendados fundosimpactados
pelo come-cotasrelativoaos me-

ses de maioe novembro,segun-
do dadosda Receita Federal.
Vale destacaraqui que o paga-
mentode imposto de rendade-
vido aresgatestambémestá in-
cluídonessaconta. Em média,os
resgatesrenderamR$ 560,8mi-
lhõesem impostode rendapor
mês em 2019(comexceçãode
maioe novembro).
A arrecadaçãorelativaao mês
de maiodo ano passadosuperou
em muitoesse valormédiode
resgates,ao alcançar R$ 5,434 bi-
lhões.O impostode rendaarre-
cadadoem novembrofoi de R$
6,085bilhões,o dobrodo valor
esperadoparaestemês.
O come-cotas,na prática, re-
presentao pagamentoantecipa-
do do impostode rendapara

fundosdeterminados(rendafi-
xa, DI, multimercados e cam-
biais).A cobrançaé semestral e
automática.
Aalíquotacobradaé de 15%
para fundos de longo prazo,
com carteiraformada por títulos
com vencimentomédioacima
de 365 dias,e de 20% parafun-
dos de curtoprazo, comvenci-
mentomáximode 365 dias.
Oimpostode maioécobrado
combasenoganhoacumulado
desdedezembro. Já a cobrança
de novembroincidesobrea ren-
tabilidaderegistradaapartir de
junho.Se não houverganhono
período, não há cobrançade im-
postovia come-cotas.A tabelade
impostode rendaque incideso-
bre o ganhono momentodo res-

gatedoinvestimentoéaregressi-
va,emqueotamanhoda“mordi-
da” diminuiao longodo tempo.
Se o investidoropta por resgatar
seusinvestimentosno fundo,o
valorjá pagono come-cotasé
descontadodo impostode renda
queele irá pagarnomomentode
saídadaaplicação.
A mordida nos seusinvesti-
mentos não vem sem aviso.
Quemlê com atençãooprospec-
to de um fundoantesde investir
—aqueledocumento que resu-
me as informaçõesmais relevan-
tesdaaplicação—sabesee

Schroders traz fundo da


Contour para o Brasil


AdrianaCotias
DeSãoPaulo

Em plena paralisiadaecono-
miapor conta da crise provocada
pela covid-19, a gestora britânica
Schroders, que tem sob seu guar-
da-chuva US$ 565 bilhões, trouxe
paraoBrasilumfundodasuapla-
taforma global, aGaia, quereúne
portfóliosde butiques de investi-
mentos diversas. Coma tendên-
cia de aceleração do processo de
inovação nas empresas,aes colha
foi por uma carteira com foco em
tecnologia, mídia etelecomuni-
cações,ochamadosetorTMT.
Ofundovai investir na estraté-
gia “long short”(de arbitragem)
da Contour, gestora com sede em
NovaYork (EUA), com histórico de
dez anos e patrimônio de cercade
US$1,5bilhão.Acasacombinapo-
sições compradas evendidas —
apostandona alta ou na baixa —
em ações, a fim de obter retornos
relativos, descoladosde índices de
mercadooudocenáriomacro.
Aoferta do veículolocal vem
com “he dge”,ou seja, anulando as
variações cambiais. Segundo Da-
niel Celano, CEO da Schroders no
Brasil, há espaçopara ter produtos
com exposição direta, mas ele diz
que o investidorainda tem dificul-
dadepara separaroresultado do
investimento propriamente dito
dosimpactosdocâmbio.
Ao olharpeloretrovisor, são
justamenteos fundossem hedge
que têm performadobemneste
ano e atraídoaatençãodo inves-
tidorparaosfundosglobais.

“Obrasileirogostadecomprar
câmbiocaro,mas na situaçãode
umapessoaquetementreR$300
mil e R$ 1 milhãonão deveriater
zero reais em moedaforteecom-
prar, sim, algo que não seja fun-
do cambial,algumacoisaque
rendadólar. Multimercado, ren-
da fixa ou rendavariável, não im-
porta”,dizCelano.
Nos próximos dois ou três me-
ses, o mercadobrasileiro ainda vai
sentiros efeitos estruturais de o
real ter deixado de ser uma moeda
atrativadopontodevistado“carry
trade” —em que oestrangeiro ar-
bitravaodiferencialdejurosexter-
no elocal, o que pressiona o câm-
bio, cita o executivo.Mas numho-
rizonte de 12 e 24 meses,ele acha
que valeolhar acarteiracomo um
todo, sem separar o que érendafi-
xa local da internacional, oque é
bolsa aqui da carteira de rendava-
riávelláfora.“Vãosercaixinhas,vai
mudar acabeça da pessoa física,
não só do investidorprofissional
ouodealtarenda,issovaipermear
muitomaisosclientestodos.”
Mesmo nos paísesdesenvolvi-
dos, aexpectativa da Schrodersé
por umarecuperação maislenta
do que inicialmenteimaginado,
com a probabilidade de uma rea-
ção em “U” —com o freio por mais
tempo—ganhando forçaem rela-
ção a umavoltamais rápida, em
“V”.Elelembraque,apesardetoda
injeçãodeliquidez,odólarsevalo-
rizou. “Comoaumento da aversão
arisco,ostítulosdoTesouroameri-
canoandaram junto com o dólare
o ouro.Comoapandemiatem

uma característica diferenteadas
crisesfinanceiras, éuma crise na
economia real, algumas diversifi-
cações funcionaram, outras não”,
diz. “Com acrise, ter todos os ati-
vosnoBrasilnãoéumaboaideia.”
Do pontode vista fiscal, os gas-
tos paraatenuar os efeitos da co-
vid-19 vão representar oequiva-
lentea7% do PIB brasileiro neste
ano,mas se opaís carregar mais
despesas para 2021 enão apontar
um caminhopara aresponsabili-
dade,ospreçosdosativoslocaisse-
rão outros,afirma Celano. “A de-
penderdo esforço fiscal e do cres-
cimentoàvista,estácarooubarato
emfunçãodoquê?”, questiona.
De todo modo, a Schroders, que
voltou a fazer gestão de ações lo-
calmenteem2018, espera queo
Ibovespatermine o ano em 95 mil
pontos, aindaque sujeito arevi-
sões. Celano diz haver descontos
emalgunssetoreseachaqueesteé
omomento da gestão ativa. Ele ci-
ta, por exemplo, ter feito compra-
do ação do setor de construção ci-
vil, não por estarotimista com o
segmento, mas por um caso espe-
cífico de empresa poucoalavanca-
da, comnívelde caixa altonum
momentodejurosparabaixo.
ASchroderséuma das cinco
maiores investidoras da bolsa bra-
sileiraemrendavariável,commais
deR$19bilhõessobgestãoemati-
vos domésticoseinternacionais,
alémdeadministrarR$2,5bilhões
de investidoresbrasileiros em fun-
dos derendafixa, multimercado,
açõeseativosnoexterior.
Aestratégiaque aContourtraz

para o Brasil agora, se estivesse
rodando aqui desde o início, em
setembrode2010,teriaumretor-
no anualizado de 18%,já com o
hedge, diz Fernando Cortez, dire-
torcomercial paraoBrasil. Avo-
latilidade cairia de 12% no fundo
originalpara 10% no local. Ages-
tão costumaficar comprada em
cerca de 30 ações,com a parcela
vendidadispersaematé50.
Um fundo de fundos entrou
comcapital inicial de R$ 12 mi-
lhõese,nasaída, oportfóliovai es-

tar disponível numaúnica plata-
forma.Acarteiraédestinadaaoin-
vestidorqualificado,compelome-
nos R$1milhãoem patrimôniofi-
nanceiro,mascomaportesapartir
de R$ 5 mil. A taxa de administra-
çãoéde0,75%aoano.
Enquanto aparticipação ecapi-
talização de mercadodo setorde
tecnologia se multiplicou na últi-
ma década, a US$ 6,5 trilhões, no
Brasil osetor époucorepresentati-
vo, diz Cortez. Só que comparan-
do-se as cinco maiores em valor de

mercado hoje com 2009, só uma
estáaindaentre as top 5, mostran-
do que éumsegmentoem cons-
tantemudança. Ofundopodein-
vestir nas gigantes de tecnologia,
como Amazon, Netflix ou Facebo-
ok, mas “o grande moteénavegar
emnomesmenosóbvios”,afirma.
Comessaestratégiaeoutrasque
planejatrazerparaoBrasil—entre
soluçõesemandatospara clientes
institucionais ou plataformas—, a
Schroders esperacaptar maisde
R$500milhõesnesteano.

Celano,daSchroders:seo Brasilnãomostrarcaminhodaresponsabilidadefiscal,preçodosativosvãoseroutros

. SILVIAZAMBONI/VALOR


.

VAI CORINTHIANSSSSSSSSS

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