Valor Econômico (2020-05-28)

JornalValor--- Página 6 da edição"28/05/20201a CADA" ---- Impressa por VDSilva às 27/05/2020@21:25:

A6|Valor| Quinta-feira, 28 de maiode 2020

Brasil

Fonte:Caged/MinistériodaEconomia

Tomborecordenomercadoformal

Paístemmaiorfechamentode vagasda históriaem abril

Saldoparamesesde abril

Saldoem 2020 Setoresem abril

Setor Saldo

Agricultura

Indústria

Construção

Comércio

Serviços

-4.

-195.

-66.

-230.

-362.

1992

Jan Fev Mar Abr

1995 2000 2005 2010 2015 2020

-1.

• 
  


• 
  


• 
  

0

250

500

-63.

88.069 125.

266.095 305.

-97.

-860.

• 
  
  
  
  • 
    
  
  
  • 
    
    
    
    • 
      
    
    
    
    
  
  
  
  

0

300

600

113.155 224.

-240.

-860.

Massa de renda cai6,4% no 2

o

tri, projeta Bradesco

Mêsregistrou

quedarecorde

naatividade,

projeta Ipea

BrunoVillasBôas

Do Rio

Como impactodas medidas

de isolamentosocialadotadas

paraenfrentarapandemia,oIns-

tituto de Pesquisa Econômica

Aplicada(Ipea)divulgouontem

um boletim comestimativasde

perdasrecordesem abril para in-

dústria,comércioeserviços—to-

dascomquedasmaisintensasdo

que20%emrelaçãoamarço.

Nos cálculosdo Ipea,ovolume

de produçãoda indústria brasi-

leira,por exemplo, deveter re-

cuado36,1%em abril, na compa-

raçãoa março,com ajustesazo-

nal. Quando confrontado ao

mesmomês do ano passado, o

volumeproduzidode bensdeve

terencolhido44,6%.

Se aprevisão for confirmada

na semanaque vem,quandoa

produçãode abril será divulgada

pelo Instituto Brasileirode Geo-

grafiae Estatística (IBGE), a que-

da da indústriaterá sido recorde

na série históricado setor, inicia-

daemjaneirode2002.

Até agora,opior desempenho

da indústriabrasileira foi regis-

trado em dezembro de 2008,

quando houverecuode 11,3%

em relação anovembro, pela sé-

rie livre de efeitos sazonais.

Aquelaqueda refletia as incerte-

zas de empresários dianteda cri-

sefinanceirainternacional.

José Ronaldo de CastroSouza

Júnior, diretor de Estudos e Polí-

ticasMacroeconômicas do Ipea,

lembrouque as medidasde iso-

lamentoperduraram por todoo

mês passado eprovocarampara-

lisaçãode partedo parquefabril,

com anúncios em sériede férias

coletivasnasempresas.

“O choque maisabruptosobre

aindústriaveiodaoferta,ouseja,

da necessidadede interrompera

produção por causa do isola-

mentosocial.Mas tambémhou-

ve cortesna produçãopor causa

daperspectivadeumamenorde-

manda, diantedo cenário que se

desenhoude reduçãode empre-

goerenda”, disseele.

A baixaprevista paraa indús-

triadeveterreflexossobreosetor

de serviços.O Ipea prevêestima

que areceitareal do setorenco-

lheu 23,7%na passagem de mar-

çoparaabrildesteano,comajus-

te sazonal. Tambémnestecaso, a

queda, se confirmada,será a

maiorda sériehistóricada Pes-

quisa Mensalde Serviços (PMS),

doIBGE,iniciadaem2011.

“Variadossegmentos de servi-

ços com pesorelevanteatendem

à indústria,comoosetor de

transportes”, afirmou SouzaJú-

nior, acrescentando, porém, que

os serviços voltadosàs famílias

também devem ter registrado

forte perdano mêspor causa

das medidasde isolamento,co-

mo o de alimentação.

O Ipea prevêaindaretraçãode

34,7%das vendasdo varejoam-

pliado (conceitoque inclui as

vendasde veículosematerialde

construção) em abrilna compa-

raçãocom março.Essa perda vai

se somarà quedade 13,7%do va-

rejo em marçopassado, atual-

menteo pior resultadoda série

históricainiciadaem2003.

Mesmoo setordesupermerca-

dos, que evitouuma perdaainda

maiordo varejoem março, ao

crescer14,6%,umrecordenapes-

quisa,devemrecuar.Nas proje-

ções do Ipea,as vendasreaisdo

setordevem recuar5% em abril.

Parte da explicaçãoda baixaé

exatamentea basede compara-

çãomaiselevada.

“Emabrilnão houve corrida

ao supermercadocomoaconte-

ceu em março. Mas ademanda

continuou alta, apesardessaaco-

modaçãode abril. Pessoasainda

estãotrocando alimentaçãoem

restaurantesporcozinhardentro

de casa”, explicouoeconomista,

responsávelpelasprojeções.

Comquedastão fortesdos in-

dicadoresconjunturaisde ativi-

dade de abril,ele acreditaque al-

guns setorespodemter melhora

marginalem maior.“Na compa-

raçãode maiocom maiodo ano

passado,os resultadosseguirão

negativos,masnamargemépos-

sívelvermosalguma melhora”,

acrescentouSouzaJúnior.

ConjunturaMaisde1milhãodevagasformaisforamperdidasnopaíscomchegadadacovid-

Corte de mais de 860 mil vagas faz

Caged ter o pior abril da história

Lu Aiko Otta,MarianaRibeiro e

AnaïsFernandes

De Brasíliae São Paulo

Coma economiaparcialmente

paralisadadevido àpandemia,o

Brasil perdeu 860,5 mil postos de

trabalhoformalemabril,opiorre-

sultadoda sériehistóricado Ca-

dastroGeral de Empregados e De-

sempregados(Caged),iniciadaem

1992. Somados os númerosde
      março, mês em que começaram as
      medidas de isolamento eque re-
      gistrou corte líquido de 240,7 mil
      vagas, acrise da covid-19 já levou
      ao fechamento de 1,1 milhão pos-
      toscomcarteiraassinada.
      Só o resultado de abril é equiva-
      lenteapoucomenosdeumquarto
      dos empregosformais destruídos
      em doisanos inteiros (2015 e

2016. da maisrecente crise,refor-
      çando que a recessãoatualnão
      tem paralelo, observa Thiago Xa-
      vier, economista da Tendências
      Consultoria Integrada.Aperda de
      abrilétambémtrêsvezesototalde
      postos fechados na curta crisede
      2008-2009,destacaoGoldmanSa-
      chsemrelatório.
      Em abril, 1,5 milhãode brasi-
      leiros perderamo emprego com
      carteira. As demissões superaram
      as contratações em todos os seto-
      res e Estados.“Não é oresultado
      maisnegativo, é omais diferente”,
      disse osecretário especial de Pre-
      vidência e Trabalho,BrunoBian-
      co. “Estamospreservando empre-
      gos, mas não dá para ter o mesmo
      nívelde contratações”, afirmou ao
      comparar a situaçãodo Brasil
      com a dos Estados Unidos.
      As admissões somaram 598,
      mil no mêspassado, umaredução
      de 56,5% ante abril de 2019. Na
      mesmacomparação,as demissões
      avançaram 17,2%. Segundo Xavier,
      houve uma antecipação dos desli-
      gamentos paramarço, que subi-
      ram22%ante2019.“Alémdasitua-
      ção financeira edaatividade em si,
      há um componente de expectati-
      va. Março já mostra as empresas se
      antecipandoaochoque”, diz.
      Osetormaisafetadoemabrilfoi
      ode serviços (-362,4 mil postos),
      seguidoporcomércio(-230,2mil),
      indústria (-196 mil), construção
      (-66,9 mil) e agricultura (cerca de
      -5.000). OCagedpassaatrabalhar
      comcincoagrupamentos, assim
      comooIBGE.Ocrescimentodode-
      semprego foi generalizado no
      país,sendomaisagudonos Esta-
      dos maisricos. São Paulo lidera o
      saldonegativo(-260,9mil).Depois
      vêm MinasGerais (-88,3 mil)eRio
      deJaneiro(-83,6mil).
      Especialistas chamam a atenção
      parao avanço no salário médio
      real de admissão, que subiude
      R$ 1.687,01 em marçopara
      R$ 1.814,62 em abril—efoide
      R$ 1.496,92 em abril de 2019. Lon-
      ge de ser umanotícia positiva, o
      número indica mais comoocho-
      que da covid-19 podeser hetero-

gêneo eregressivo. “As pessoas

maisvulneráveis foram as mais

afetadas, as que tiverammaisem-

pregos perdidos”, diz RafaelLeão,

economista-chefe da Parallaxis.

Outrofatordiz respeito às vagas

queaindasãoabertas.“Quemcon-

seguecontratar na crise, basica-

mente,são setores em que o traba-

lho a distância é possível. Geral-

mente, são pessoas,namédia,

maisqualificadas e com salários

maiores”,afirmaXavier.

Dejaneiroaabril,osaldodeem-

pregos formais está negativo em

763,2 mil. No mesmo período de

2019, foram criadas 313,8 mil va-

gas. O fechamento de postoscom

carteiraassinada nosquatropri-

meirosmesesdoanosuperouatéo

registradoem2016(378,5milcor-

tes líquidos,segundooMinisté-

rio),até entãoopior “início de

ano” da série, de acordo comrela-

tóriodaMCMConsultores.

A divulgação de ontem do Ca-

ged foi a primeira no ano com da-

dos de 2020.A publicação foi sus-

pensaemmarço,apósoMinistério

da Economiaalegar que empresas

não estavam prestandoinforma-

çõescompletaspelonovosistema.

Segundoeconomistas, ocho-

que da covid-19ocorre em um

mercado de trabalho que dava si-

nais de resiliência mesmodiante

de uma economiafraca. Em janei-

ro e fevereiro,houve criaçãode

postosformaiseemvolumesatéli-

geiramente superiores aos de

2019, levando aum saldo positivo

de 338 mil vagasno primeiro bi-

mestre. Somente no segundo bi-

mestre, porém,onúmero de pos-

tos fechadosfoi “equivalente a to-

das as vagas liquidamente criadas

entre abril de 2018 e fevereiro des-

te ano—emoutraspalavras,quase

todos os postosrecuperados após

aúltimacrise”,dizaMCM.

O governo acredita ter conse-

guidofrear as demissões com o

ProgramaEmergencial de Manu-

tenção do EmpregoeRenda

(BEm), que permite suspender

contratos de trabalhoou reduzir

proporcionalmente jornada esa-

lários. Até ontem,o númerode

empregados atendidos chegava a

8,2 milhões. Apreservação desses

empregoscontribuirá parauma

retomadamais rápidada ativida-

de, disseo secretário de Trabalho,

BrunoDalcolmo. Para ele, a queda

nasadmissõesestádiretamentere-

lacionada a medidas de reação à

pandemia. Quando as restrições

de funcionamento da economia

forem relaxadas, a expectativaé

queoempregoreajarapidamente.

Bruno Ottoni, pesquisadorda

consultoria iDados, considera ex-

pressiva a adesão de 8 milhões. “É

difícil tirar uma conclusão objeti-

va, mas comoevidência anedótica,

quando juntamos tudo, parece

sim queos programasestão aju-

dando”,afirma. Para maio, no en-

tanto,aperspectiva éde um resul-

tadoainda“bemnegativo”,elediz.

“As medidasde isolamentoper-

sistiramehámuitoincertezanesse

cenário. Algumas empresas terão

de fechar as portasou demitir,eis-

so vai aparecer no Caged”, diz. Um

resultado negativo poderá ser ob-

servadotambémemjunho,segun-

do Ottoni, já que,mesmo com cer-

ta flexibilização, ograu de isola-

mentodevepermanecerelevado.

“Talvezonúmerofossepiorsenão

houvesse os programas, mas chega

uma situação emque,se você nãoti-

ver a demanda retornando numní-

vel mínimo parasustentara produ-

ção,vai ter de demitir.Espero que as

demissõesaumentemnas próximas

leituras, principalmentepensando

nas pequenas e médias empresas”,

afirma Carlos Pedroso, economista-

sêniordoMUFGBrasil.

Para julhoeagosto, comme-

nosrestriçõessociaisedeativida-

des etambémas pessoasse sen-

tindomaisconfiantesparasair,

conforme os casosda doençare-

cuemna margem,“a gentepode

observar um retornoparcial,tal-

vez aindacom saldosnegativos,

mascadavezmenos”,dizOttoni.

Bianco não descartou aprorro-

gaçãodo BEm,mas disseque ade-

cisão será tomadaem momento

oportunoeem discussão como

ministro da Economia, Paulo Gue-

des,eopresidenteJairBolsonaro.

O governoestuda também me-

didas estruturais para estimular a

geração de empregos, informouo

secretário,sem dar detalhes.Ques-

tionado sobreadesoneração da

folha,antigaprioridadede Gue-

des, ele afirmouqueamedidatem

impactopositivosobreoemprego,

mas precisa ser discutida no âmbi-

todareformatributária.

O pagamento do auxílio emer-

gencial, que revelouao governo

umaparceladapopulaçãoforados

programas de assistência, resultou

numaboabasededadosparadese-

nhar políticas públicas, disseBian-

co. Amissãoquea criseapresentaé

encontrarformasde trazeressas

pessoas para a formalidade. OVa-

lorapurou que circulamno gover-

noestimativasdeaumentodeaté

milhões de desempregados até

agosto. Por isso,aelaboração de

políticas paraageraçãode empre-

goeumprogramafortederedução

da pobreza passaramaser preocu-

pação central da equipe econômi-

ca. Simplificaçãodas contratações

e formação de frentes de trabalho

estãoentreelas.

BrunoOttoni: programade manutenção do emprego parece ter segurado demissões, massaldode vagas formaisaindadeve ser bastante negativo em maio

LUCIANAWHITAKER/VALOR

IMPACTOSDO

CORONAVÍRUS

AríciaMartins

De São Paulo

Oimpactoda pandemiade co-

vid-19 sobreo mercadode traba-

lho brasileiroocorrerá de manei-

ra heterogênea nos setores, mas

as medidasdo governodevem

amortecer parte da perdade ren-

da da população previstaparao

segundotrimestre.

A avaliação é da equipeeconô-

micadoBradesco,queprojetare-

cuo de 11,6%damassa de renda

do trabalhono períodosobreos

primeirostrês mesesdo ano.Jáa

massa ampliadade rendimentos

—queincluiastransferênciasgo-

vernamentais, como aposenta-

dorias e pensões,seguro-desem-

prego, Bolsa Famíliaeoauxílio

emergencialde R$ 600 —deve

cair menosem igualintervalo,ao

mostrarretraçãode6,4%.

“Por não sofreremos choques

relacionadosao mercadode tra-

balho,essas outrasfonteslimi-

tamoimpactosobreamassaam-

pliada”,afirmam os economistas

Thiago AngeliseFernandoHo-

norato,autoresdoscálculos.

Ao consideraremque 95% das

famílias elegíveisao Bolsa-Famí-

lia vão recebero auxílioemer-

gencial, com valoresque, em al-

gunscasos, superamos R$ 600,

AngeliseHonoratoestimamque

a massade rendade outrasfon-

tesvaisubir8,8%deabrilajunho,

expansãomaisfortedo que a ha-

bitualparaoperíodo.

“O aumentoda massa de ren-

dimentos relacionadosa progra-

mas sociais,em especialo Bolsa-

Famíliaeoseguro-desemprego,

deve contar com um volume

maiordebeneficiados”,dizem.

Em uma série dessazonalizada

pelo Bradesco, foramregistrados

cercade700 mil pedidosde se-

guro-desempregoem abril, alta

de 22,1%anteomesmomês de

2019. Esse volumepodeaumen-
      tar nos próximosmesesna visão
      do banco.Ainstituição destaca
      que o próprioMinistérioda Eco-
      nomiaestimaque por voltade
      250 mil requerimentosficaram
      “represados” no mês passado.Se
      incluídos na amostra,fariamas
      solicitações atingirem o recorde
      dasériehistórica.
      Os dados do seguro-desem-
      prego indicam que,por ora, a
      construçãocivil eaagropecuária
      são os segmentosem que onovo
      coronavírusmenosafetouonível
      de ocupação, apontamAngelise
      Honorato. Nessesdois setores,os
      pedidosdobenefíciocaíram8%e
      19,2%, respectivamente,na com-
      paração com abrildo ano passa-
      do. Já na indústria,os requeri-
      mentosavançaram37,2%,segui-
      dos de alta de 34,1% nos serviços
      ede16,9%nocomércio.
      Segundoo Bradesco, os efeitos
      da covid-19no mercadose darão

de formadistinta entreascate-

goriasde ocupados.Para os tra-

balhadores por conta-própria,

sem carteirae empregadores,o

ajuste para baixodeveser maior

nos rendimentos, enão na quan-

tidadedepessoasempregadas.

Já para os empregadosfor-

mais,categoriaem que há rigi-

dez nominal de salários, é espe-

rado o efeitocontrário. A Medida

Provisória936, que estabeleceua

possibilidade de reduçãode jor-

nadae saláriosou de suspensão

do contratode trabalho,intro-

duziualguma flexibilidade no

segmento, edeve limitaro ajuste

viademissões,ponderaobanco.

No setorformal,aredução da

massa de rendadeveser de 12%

entreoprimeiro eosegundotri-

mestres,com recuo de 6% no nú-

mero de ocupados, calculamAn-

gelis eHonorato. Já amassa de

rendimentos de trabalhadores

informaiseporcontaprópriade-

ve encolher 13%, enquanto o

contingente de pessoas no setor

deveficarestável.

Para os funcionários públicos,

oseconomistasdoBradescoproje-

tam estabilidade, tanto no nível de

ocupação, quanto na massa de

rendimentos. Na outra ponta, a

massaderendadosempregadores

formais deve diminuir 34% na pas-

sagem trimestral, comqueda de

5%nocontingentedeocupados.

Angelise Honoratoponderam

queatrajetóriadaforçadetraba-

lho(somadeocupadosedesocu-

pados)usadapelo banconessas

hipótesespodevariarna crise,

sobaformadeaumentododesa-

lento. “A possibilidadede que o

volumede requerimentos do se-

guro-desempregoaindanão re-

flita completamenteapiora vista

no mercadode trabalhonas últi-

mas semanasse colocacomoum

riscoparaimpactossuperiores

aoestimado”, acrescentameles.

.

VAI CORINTHIANSSSSSSSSS