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A10 Metrópole SEXTA-FEIRA, 29 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Ricardo Galhardo
Cristiane Barbieri
Os setores da economia que
quiserem reabrir na cidade
de São Paulo terão de dar ga-
rantias de manutenção de em-
prego a mulheres com filho
em idade escolar. Segundo
fontes da Prefeitura, estes se-
tores terão de fornecer cre-
ches ou alternativa que per-
mita a elas trabalhar enquan-
to escolas seguem fechadas.
Ontem, o prefeito Bruno Co-
vas (PSDB) disse também
que o Município exigirá das
empresas protocolos de higie-
ne e testagem de funcioná-
rios para reabrir. O plano es-
tadual libera a retomada de
shoppings e lojas de rua a par-
tir de segunda-feira na cida-
de, mas a Prefeitura ainda
não definiu data para reabrir.
Apesar de a gestão João Doria
(PSDB) ter anunciado a flexibili-
zação da quarentena na capital
e em 14 macrorregiões do Esta-
do, a decisão sobre o que reabre
e quando é dos prefeitos, den-
tro dos critérios do novo plano.
A partir de segunda, quando en-
tra em vigor a proposta de Do-
ria, a Prefeitura começa a rece-
ber propostas de protocolos de
reabertura dos setores que se
encaixam no modelo.
Os planos precisam de aval
da Secretaria de Desenvolvi-
mento Econômico e Trabalho e
da Vigilância Sanitária. Entre os
requisitos estão medidas de hi-
giene e testagem, controle de
circulação, fiscalização e prote-
ção a funcionários e clientes.
Covas evitou dar prazos e vai
informar sobre a negociação
dos protocolos no dia 4. Se os
casos subirem após a retomada,
Covas promete nova restrição.
No plano de retomada gra-
dual, com cinco fases, as re-
giões do Estado são classifica-
das com base em critérios como
aumento de infecções, leitos de
UTI disponíveis e taxas de dis-
tanciamento social. A capital es-
tá na fase 2, que permite abrir,
com restrições, shoppings, lo-
jas, imobiliárias e concessioná-
rias. A região metropolitana se-
gue com bloqueio.
Indagado sobre por que São
Paulo é nível 2, apesar de ainda
ter alta de casos, Covas desta-
cou a criação de UTIs, e a ade-
são da população ao isolamen-
to. Ele falou que a taxa de trans-
missão na cidade deve cair na
próxima semana, sem dizer a
fonte da informação. Disse ain-
da ter pedido mais 2 mil ônibus
nas ruas após a retomada e
anunciou pesquisa sorológica
com 115 mil testes nos 96 distri-
tos da cidade para medir o índi-
ce de anticorpos da população.
A Prefeitura estuda medidas
para evitar que a reabertura le-
ve ao desemprego de mulheres,
que podem ser obrigadas a vol-
tar a trabalhar enquanto as esco-
las continuam fechadas. Nos
EUA, o desemprego entre mu-
lheres cresceu na pandemia.
Ainda não há previsão para rea-
brir escolas em São Paulo.
Covas não detalhou como vai
atuar nesse sentido. O Estadão
apurou que a Prefeitura preten-
de levar essa exigência para a
negociação com as empresas.
Testes. O governo estadual
vai incentivar empresas a testa-
rem voluntariamente seus fun-
cionários. O protocolo, previs-
to para ser apresentado nos
próximos dias, prevê testes em
larga escala para que focos de
contaminação sejam identifica-
dos rapidamente, segundo o Es-
tadão/Broadcast apurou. A
adesão das empresas será volun-
tária. O governo deve centrali-
zar a comunicação de casos e
informará fornecedores certifi-
cados para fazer testes. Tam-
bém são estudados estímulos
às empresas, como selos ou prê-
mios – é cogitado benefício fis-
cal, mas há pouco espaço para
reduzir imposto. Procurado, o
governo não se manifestou.
Márcia De Chiara
Os R$ 172 bilhões de vendas per-
didas pelo comércio varejista
brasileiro de meados de março
até hoje por causa do período
de isolamento social devem de-
morar para serem recuperados.
Nas cidades onde a reabertura
foi autorizada, lojas de shop-
ping estão vendendo até 70%
menos em relação ao período
anterior à quarentena. No co-
mércio de rua, a situação é me-
nos pior, com queda de até 40%.
A falta de ação coordenada de
reabertura de outros setores,
como escolas e transporte cole-
tivo, além do medo de contami-
nação da doença e a queda na
renda da população frearam
uma retomada mais forte do va-
rejo onde ele foi liberado.
Em Florianópolis, por exem-
plo, onde o comércio reabriu há
um mês, os varejistas ainda es-
tão cambaleantes. “Quem está
bem vende hoje 20% do que ven-
dia antes da pandemia”, conta
Rodrigo Rossoni, presidente da
Associação Comercial e Indus-
trial de Florianópolis (ACIF),
mencionando o varejo em ge-
ral. Ele explica que o comércio
foi reaberto, mas as escolas e o
transporte público, não. Essa
falta de coordenação entre os
setores impede o fluxo de con-
sumidores às ruas e às lojas.
Pesquisa da Confederação
Nacional do Comércio (CNC)
mostra que mesmo com a rea-
bertura, as vendas do comércio
de produtos não essenciais em
Santa Catarina continuaram no
vermelho em relação ao perío-
do pré-pandemia, embora com
perdas bem menores compara-
das a Estados que ainda enfren-
tam restrições. Nas contas do
economista-chefe da CNC, Fa-
bio Bentes, nas últimas quatro
semanas, já com o varejo autori-
zado a funcionar, o comércio ca-
tarinense deixou de vender R$
3,4 bilhões. Mato Grosso do Sul,
Rio Grande do Sul e Goiás, onde
está o Distrito Federal, Estados
onde o comércio já foi liberado,
também amargaram perdas.
Tito Bessa, dono da rede de
artigos de vestuário TNG, com
165 lojas no País, das quais 25
abertas e espalhadas por Santa
Catarina, Mato Grosso do Sul,
Paraná e Distrito Federal, no-
tou resultados distintos entre
lojas de shopping e lojas de rua
reabertas. Nos shoppings, a que-
da de vendas nas cidades onde o
comércio foi reaberto chega a
70% e nas lojas de rua, a retra-
ção varia entre 30% e 40%.
“A céu aberto, a tendência é o
consumidor se sentir mais segu-
ro, mas não sei por que está
acontecendo isso. Os empreen-
dedores de shopping estão to-
mando muito cuidado”, diz Bes-
sa, presidente da Associação
Brasileira dos Lojistas satélites
(Ablos). Nos quatro shoppings
reabertos do grupo Multiplan,
localizados em Canoas (RS),
Porto Alegre (RS), Curitiba
(PR) e Brasília (DF), o movi-
mento de consumidores está
50% menor do que o habitual,
diz o vice-presidente institucio-
nal, Vander Giordano.
Nabil Sahyoun, presidente da
Associação de lojistas de shop-
pings (Alshop) confirma o re-
cuo. Nas suas contas, os shop-
pings que reabriram nos últi-
mos 15 dias registram queda de
60% no número de pessoas cir-
culando em relação a maio de
- Giordano vê um ponto po-
sitivo no menor fluxo de pes-
soas. “Isso ajuda a garantir o
funcionamento das nossas me-
didas de preservação da saúde.”
Um ponto levantado pelo exe-
cutivo é o tempo de permanên-
cia de consumidores nos shop-
pings, que tem sido menor. O
reflexo é uma conversão de ven-
das maior. Esse movimento
também foi notado por Rosso-
ni. “Quando as pessoas vão ao
shopping, vão para comprar”.
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
lLocal aberto
Medo de infecção freia vendas mesmo após reabertura
Paula Felix
A reabertura parcial de shop-
pings e estabelecimentos co-
merciais em parte do Estado de
São Paulo, a partir da próxima
segunda-feira, não deve ser mo-
tivo para que as pessoas deixem
de adotar medidas de isolamen-
to social e de proteção contra o
coronavírus, segundo a secretá-
ria de Estado de Desenvolvi-
mento Social, Patricia Ellen. Es-
pecialistas em infectologia e
medicina do comportamento
recomendam que as pessoas
saiam de casa apenas em situa-
ções de necessidade. Eles tam-
bém orientam evitar visitas,
principalmente a pessoas que
fazem parte dos grupos de ris-
co, como idosos.
Segundo Patricia, este é um
momento para reforçar a prote-
ção. “O papel do cidadão é co-
brar de estabelecimentos o
cumprimento das regras e fazer
compras de forma breve, práti-
ca e com muito cuidado. Não
está na fase de sair para passeio.
Os grupos de risco têm de conti-
nuar em casa.” Patricia diz que
a abertura de parte do comércio
não deve ser um estímulo para
que as pessoas comecem a fazer
visitas nem organizar eventos
com parentes e amigos.
Celso Granato, professor de
infectologia da Universidade
Federal de São Paulo e diretor-
clínico do Fleury, alerta que a
retomada do funcionamento
dos shoppings e lojas coincide
com o período frio, de modo
que as pessoas precisam tomar
mais cuidado ao frequentar lo-
cais fechados. “Se precisar ir a
determinada loja, deve ir, com-
prar o que precisa e voltar para
casa. Não é para passear.”
Visitas a parentes e amigos de-
vem ser evitadas. “As pessoas
devem continuar lavando as
mãos, usando máscaras e fazen-
do compras pela internet. As fa-
mílias que podem evitar o conta-
to, devem manter isso, especial-
mente quem tem parentes no
grupo de risco. As pessoas preci-
sam ter bom senso, porque o ví-
rus não deixou de existir”, diz.
“Estamos em situação de
transição. Não é hora de sair vi-
sitando todas as pessoas, por-
que a flexibilização está buscan-
do reconfigurar uma nova vida,
mas as relações vão ser retoma-
das aos poucos”, diz Ricardo
Monezi, professor da PUC-SP e
especialista em medicina do
comportamento.
ORIENTAÇÕES
PERGUNTAS & RESPOSTAS
Como vai funcionar a flexi-
bilização da quarentena
em São Paulo?
Ocorrerá reabertura dividida
em cinco etapas. A primeira
fase, vermelha, é de alerta
máximo, com funcionamento
apenas de serviços essenciais.
A fase dois (laranja) é de con-
trole, de atenção, ainda com
medidas restritivas, mas on-
de já é possível iniciar a flexi-
bilização de alguns setores,
como atividades imobiliárias,
concessionárias, escritórios,
comércios e shoppings. Na
fase três (amarela), é possível
abrir bares, restaurantes e
salões de beleza, ainda com
restrições de horário e fluxo
de clientes. Na fase quatro
(verde), haverá abertura
maior, incluindo academias.
E a fase cinco, chamada de “o
novo normal controlado”, traz
a liberação total, mas com me-
didas de higiene.
Quais são os critérios para
definir cada fase?
A flexibilização vai levar em
conta a capacidade do sistema
de saúde, com a taxa de ocupa-
ção de leitos de UTI e o núme-
ro de leitos por 100 mil habi-
tantes, além da evolução da
epidemia, com números de ca-
sos, internações e óbitos. Uma
região só poderá passar a um
maior relaxamento após 14
dias da mudança de fase, man-
tendo os indicadores de saúde
estáveis por um período com-
pleto de incubação.
O que acontece se o núme-
ro de casos ou ocupação de
leitos aumentar?
Uma região pode ser reavalia-
da para fases mais restritas se
não atender aos critérios –
pode passar da fase 3 para a 1
se tiver piora em indicadores.
Já há definição sobre a re-
tomada das aulas?
A retomada de aulas presen-
ciais no setor de educação e o
retorno da capacidade total
das frotas de transportes se-
guem sem previsão.
Qual foi a reação ao plano
de reabertura?
A proposta, sem a clareza de
que estamos em uma curva
descendente de infecções, é
arriscada, segundo especialis-
tas. Além disso, pode desper-
diçar os resultados do isola-
mento já obtidos. Já os seto-
res econômicos aprovaram a
flexibilização da quarentena,
mas fizeram cobranças para a
retomada das atividades.
SC tem alta de contágio após liberar comércio. Pág. A11 }
Cidades que afrouxaram
quarentena registram
queda no varejo em
comparação com o
período pré-pandemia
“O comércio de rua tende a
engatar uma recuperação
antes dos shoppings.”
Fabio Bentes
ECONOMISTA-CHEFE DA CONFEDERAÇÃO
NACIONAL DO COMÉRCIO
Para especialistas,
momento não é de lazer
e deve-se evitar visitas a
parentes, principalmente
do grupo de risco
Flexibilização não é
motivo para sair de
casa sem necessidade
GOVERNO SP - 18/5/
Capital exigirá de
empresa garantia
para as mães
l Atividades imobiliárias
As visitas a imóveis devem ser
feitas por uma família de cada
vez com agendamento. Os corre-
tores devem portar álcool em gel
para uso próprio e de clientes.
l Concessionárias
Devem ser adotadas medidas
que evitam o fluxo de clientes,
como serviços leva e traz. O aces-
so deve ser controlado, com ofer-
ta de álcool em gel.
l Comércio e shoppings
Corredores das lojas devem ser
de “mão única”. A lotação máxi-
ma deve ser de 35% da capacida-
de habitual. Não deve haver pro-
moções e alarmes devem ser
instalados para lembrar funcioná-
rios de higienizar as mãos. Em
lojas de roupas e calçados, pro-
dutos devolvidos devem ficar em
quarentena por 72 horas.
l Escritórios
Deve haver distanciamento. Se
necessário, é recomendado que
o espaço seja reorganizado.
Protocolos de higiene e testagem serão requisitos para a retomada
das atividades; ainda não há data para reabrir shoppings e lojas
Acompanhamento. Covas diz que pode retomar restrições caso nº de casos volte a subir
Critérios serão
monitorados