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A2 Espaçoaberto SEXTA-FEIRA, 29 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Sem poder contar com torci-
da em seu retorno ao calendá-
rio da Fórmula 1, a organiza-
ção do GP da Holanda decidiu
cancelar a corrida marcada pa-
ra este ano. A reestreia da pro-
va, a ser realizada no Circuito
de Zandvoort, ficará para a
próxima temporada. A prova
holandesa é a quarta a ser can-
celada no atual calendário da
F-1, em razão da pandemia. An-
tes, foram cortados os GPs da
Austrália, de Mônaco e da
França. Outras seis corridas
foram suspensas. Primeira
prova confirmada do ano é o
GP da Áustria, em 5 de julho.
http://www.estadao.com.br/e/corrida
O
poeta Carlos Drum-
mond escreveu estes
versos: Deus me deu um
amor no tempo de madureza/
quando os frutos ou não são co-
lhidos ou sabem a verme. Con-
versando com um político da
minha geração, esta semana,
lembrei-me do poeta quando
ele disse: “Deus nos deu uma
luta pela democracia, nos últi-
mos anos de vida”.
Não esperávamos por essa.
No entanto, não dá mais para
ignorar que o sinal vermelho
do regime autoritário está ace-
so no Brasil.
De um lado, vê-se um presi-
dente falando em armar o po-
vo, como Mussolini ou Chávez,
e isso diante de uma plateia de
generais indiferentes à gravida-
de desse discurso; de outro, um
general falar em crise institucio-
nal porque um ministro do Su-
premo apenas cumpriu um arti-
go do regimento interno, despa-
chando um pedido para o pro-
curador-geral da República con-
siderar: a perícia no telefone do
presidente da República.
Nossa atenção estava toda
concentrada na pandemia, o
maior desafio depois da 2.ª
Guerra Mundial. Mas um minis-
tro diz na reunião do conselho
que é preciso aproveitar nossa
atenção no coronavírus para
passar uma boiada de medidas
que não suportam a luz do sol.
Pois muita coisa está se pas-
sando diante dos nossos olhos
consternados com a sucessão
de mortes e amedrontados
com a síndrome respiratória
aguda. Bolsonaro seduziu as
Forças Armadas com verbas
orçamentárias e uma suave re-
forma da Previdência. E mais
ainda, fez um apelo ao salvacio-
nismo que viaja no espírito de-
les desde a Proclamação da Re-
pública e abarrotou o governo
com militares.
Tudo indica que estão anes-
tesiados. Generais reagem
com sonolência a um projeto
de milícias armadas. Sabem
que Bolsonaro é homem de de-
nunciar fraudes nas eleições
que venceu, logo estará pron-
to para pegar em armas quan-
do for derrotado adiante.
A origem positivista marca-
da pela aliança com a ciência
foi jogada no lixo e um general
se adianta para substituir médi-
cos e inundar o Brasil com uma
cloroquina que a OMS não
aprova. Se as Forças Armadas
resolveram encampar a políti-
ca negacionista de Bolsonaro
diante do vírus, se aceitam que
milhares de mortes sejam debi-
tadas na sua conta, é porque já
decidiram mandar para o espa-
ço o tipo de credibilidade que
ganharam nos últimos anos.
Elas vêm pra cima com o
mesmo ímpeto com que os mi-
litares venezuelanos defen-
dem o seu governo autoritá-
rio. Por isso é preciso preparar
a resistência.
A primeira lição é não ver es-
sa luta, que para alguns se dá
no final da vida, com os mes-
mos olhos da juventude. Mes-
mo porque só generais incom-
petentes veem uma nova bata-
lha como se fosse a repetição
da anterior.
Nada de armas. Num confli-
to moderno, a superioridade
moral é decisiva. Eles vão se
enrolar nas benesses do gover-
no numa das crises mais pro-
fundas da História.
Olhar para o mundo. Não co-
mo no passado, exportando re-
latórios clandestinos e, com al-
guns contatos, denunciar des-
respeito aos direitos humanos.
Isso não é mais o principal.
Agora existe a internet, uma in-
finidade de contatos possíveis
com o planeta. Não precisa-
mos comover apenas com cor-
pos torturados, mas conven-
cer os outros povos de que um
governo cuja política destrói
sistematicamente a Amazônia
e favorece epidemias como a
do coronavírus é ameaça tam-
bém à existência deles.
Compreendo que ter o mun-
do a favor não basta para der-
rubar um regime autoritário. A
Venezuela é um exemplo de
que sem uma força coesa inter-
namente não se chega a lugar
nenhum. Aí está realmente o
problema central: o instrumen-
to. Ele precisa ser uma frente
democrática ampla, madura,
sem conflitos de egos, sem es-
túpidas lutas pela hegemonia,
tão comuns na esquerda.
Chegamos perto disso no
movimento pelas diretas. Can-
didatos a um mesmo posto
conviviam harmonicamente
no período de lutas e mais tar-
de buscavam caminho próprio
nas eleições. Mas o próprio
movimento das diretas é mui-
to velho para o momento. No-
vas forças surgiram. Atores po-
líticos menos experientes,
mas com a capacidade de falar
para milhões de pessoas, entra-
ram em cena.
Na conversa que tive com o
amigo disposto a lutar a última
luta da vida, chegamos à con-
clusão de que é preciso apenas
um núcleo que saiba contornar
as bobagens dos que só pen-
sam no poder e consiga estimu-
lar a criatividade social, diante
dessa ideia de que a democra-
cia não pode morrer no Brasil.
Não adianta ficar reclaman-
do que o Congresso e o Supre-
mo não conseguem frear a
marcha totalitária. Isso depen-
de de nós: é só querer. Na ver-
dade, milhares hoje dão sua pe-
quena contribuição, critican-
do, resistindo, às vezes até ridi-
cularizando pelo humor.
Todo esse esforço molecu-
lar está, na verdade, ligado en-
tre si. O que às vezes impede a
consciência dessa união é o
desprezo pela política, com-
preensível pelo que ela se tor-
nou no Brasil.
Mas não se trata de aderir a
um partido, militar no sentido
clássico. A luta contra o coro-
navírus, por exemplo, é uma
ampla frente pela vida que vai
do carregador de maca ao cien-
tista. As pessoas estão unidas
pela urgência do presente,
sem perguntar de quem é a cul-
pa pelo vírus.
Da mesma forma, não inte-
ressa agora saber de quem é a
culpa pela marcha do obscu-
rantismo. É preciso detê-la.
]
JORNALISTA
Boxeador faliu, em 2003,
após anos de uma vida de
gastos irrefreáveis.
http://www.estadao.com.br/e/tyson
PANDEMIA
Fórmula 1 cancela sua quarta corrida
Itens de proteção são assina-
dos por artistas renomados
e vêm impactando a vida de
pessoas da periferia e al-
deias indígenas.
http://www.estadao.com.br/e/mascaras
l“Desigualdades aparecem sempre. Infelizmente, as péssimas condi-
ções facilitam a propagação da doença.”
CARLA FÁVERO
l“Esses têm menos acesso à rede particular, onde a cloroquina é admi-
nistrada com sucesso.”
CRISTIANE OLIVEIRA
l“Culpa do governo que não tem programa de alfabetização nem
políticas de inclusão para negros.”
CLAU MENDES
l“Então, você que é branco e sabe ler e escrever pode respirar tran-
quilamente que não vai morrer fácil. O vírus sabe tudo isso de você.”
ANDRE LUIZ
INTERAÇÕES
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA
Filme brasileiro foi o mais
votado pelo público do festi-
val panamenho, que teve
que assistir às projeções em
uma plataforma online.
http://www.estadao.com.br/e/cinema
Espaço Aberto
N
os anos 1970 o Brasil e
a China, as maiores
economias da América
Latina e da Ásia, iniciaram re-
formas que colocaram os dois
países entre os quatro maio-
res produtores e exportadores
mundiais de produtos agrope-
cuários e alimentos.
Em 1978 Deng Xiaoping ini-
ciou reformas que levaram
mais de 200 milhões de chine-
ses a deixar a zona rural para
trabalharem nas novas manu-
faturas do país, formando a
maior classe média emergen-
te do planeta. Isso permitiu
que a agricultura chinesa se
modernizasse, incorporando
tecnologia, insumos moder-
nos e escala de produção. Ao
mesmo tempo, sabiamente o
país decidiu se especializar
em atividades intensivas em
mão de obra, como as de aqui-
cultura e de hortifrutigranjei-
ros, hoje os setores mais dinâ-
micos da pauta de exporta-
ções agrícolas da China. Mais
tarde, o impacto da chamada
indústria 4.0 sobre as cadeias
agroalimentares chinesas fi-
cou evidente, levando digitali-
zação, drones, estufas flexí-
veis, inteligência artificial, ro-
bótica e comércio eletrônico
para o campo.
Nesse mesmo período o
Brasil descobriu a fórmula pa-
ra vencer as dificuldades da
produção agrícola em regiões
tropicais dominadas por so-
los pobres e pragas abundan-
tes. A solução veio da combi-
nação de tecnologias inovado-
ras e agricultores capacitados
que migraram para os cerra-
dos do Centro-Norte do País,
ganhando produtividade e
combinando economia de es-
cala (grandes propriedades) e
de escopo (duas safras por
ano, integração lavoura-pe-
cuária). O Brasil especializou-
se em atividades intensivas
em terra e capital, a exemplo
do complexo integrado de
produção de grãos e carnes e
da produção eficiente de açú-
car, etanol e bioeletricidade
de cana-de-açúcar.
As profundas transforma-
ções do Brasil e da China se
casaram em 2000, quando a
demanda explosiva por proteí-
na animal (carnes, pescados e
lácteos) da classe média emer-
gente chinesa se encontrou
com a grande oferta de soja
do cerrado brasileiro. A soja,
uma planta originária da Chi-
na, é a principal fonte de pro-
teína da alimentação animal.
De 2000 a 2020 as importa-
ções chinesas saltaram de 2%
para 35% da pauta exportado-
ra do agronegócio brasileiro,
tornando a China, de longe, a
principal cliente global do Bra-
sil. E o agronegócio responde
por metade das exportações
totais do Brasil para a China.
No sentido inverso, o Brasil
tornou-se o principal fornece-
dor de produtos agropecuá-
rios para a China, responden-
do por cerca de 20% das im-
portações do país asiático e
ocupando o primeiro lugar
nas importações chinesas de
soja, celulose, açúcar, algodão
e carnes bovina e avícola.
O comércio do agronegócio
decolou entre os dois países,
mas muito ainda pode ser fei-
to para ampliá-lo nos dois sen-
tidos, aumentando volumes e
diversificando e diferencian-
do os produtos comercializa-
dos. Mas o comércio não é tu-
do. Há imensas oportunida-
des para maior cooperação en-
tre os dois países em áreas co-
mo investimentos, infraestru-
tura, sustentabilidade, ciência
e inovação.
A China poderia beneficiar-
se dos conhecimentos sobre
tecnologia tropical brasileira
na agropecuária e em bioener-
gia. O Brasil poderia conectar-
se à revolução digital, de dro-
nes e do comércio eletrônico
da China. O Brasil carece de
capital e investimentos na
agricultura e de melhorias na
infraestrutura de apoio ao se-
tor. Os dois países enfrentam
grandes desafios no tema da
sustentabilidade: o Brasil, nas
questões ligadas a desmata-
mento ilegal, biodiversidade e
uso da terra; a China, em te-
mas como falta de água, degra-
dação de solos, poluição do ar
e mau uso de pesticidas.
O tema da sanidade e segu-
rança do alimento tornou-se
central neste momento de
pandemia global. As cadeias
da proteína animal dos dois
países poderiam estar mais in-
tegradas, com a construção de
uma sólida parceria estratégi-
ca de longo prazo no setor.
Os temas acima listados fa-
zem parte do livro Parceria
Brasil-China para a Agricultura
e a Segurança Alimentar (Chi-
na-Brazil Partnership on Agri-
culture and Food Security), que
será lançado na próxima sema-
na pela Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiróz
(Esalq-USP) e pela China Agri-
cultural University (CAU),
sob a nossa coordenação.
São 12 capítulos em inglês
que trazem análises e perspec-
tivas chinesas e brasileiras de
24 especialistas ligados às
duas universidades. O livro
analisa a evolução da agricul-
tura e das políticas agrícolas
nos dois países, os casos de
maior sucesso internacional e
uma ampla discussão sobre te-
mas-chave da relação bilate-
ral, como comércio, infraes-
trutura, investimentos, inova-
ção e sustentabilidade.
O lançamento será feito
por meio de um debate vir-
tual organizado pela Esalq no
dia 3 de junho às 10 horas, em
seguida será posta à disposi-
ção a versão eletrônica do li-
vro para download gratuito.
Trata-se provavelmente da
mais completa obra já produ-
zida sobre as relações Brasil-
China no agronegócio.
]
RESPECTIVAMENTE, PROFESSOR
SÊNIOR DO INSPER E 2º TITULAR
DA CÁTEDRA LUIZ DE QUEIROZ DA
ESALQ-USP; PROFESSOR TITULAR E
EX-REITOR DA FACULDADE DE ECO-
NOMIA E ADMINISTRAÇÃO DA CHI-
NA AGRICULTURAL UNIVERSITY
(CAU); PROFESSORA ASSOCIADA E
VICE-DIRETORA DO CENTRO DE ES-
TUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA
APLICADA (CEPEA) DA ESALQ-USP
PUBLICADO DESDE 1875
LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)
FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
JOÃO FÁBIO CAMINOTO / DIRETOR DE JORNALISMO
MARCOS BUENO / DIRETOR FINANCEIRO
MARIANA UEMURA SAMPAIO / DIRETORA JURÍDICA
NELSON GARZERI / DIRETOR DE TECNOLOGIA
CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR:
FALE COM A REDAÇÃO:
3856-
[email protected]
CLASSIFICADOS POR TELEFONE:
3855-
VENDAS DE ASSINATURAS: CAPITAL:
3950-
DEMAIS LOCALIDADES:
0800-014-
VENDAS CORPORATIVAS: 3856-
PROTEÇÃO
Campanha distribui
máscaras com sorriso
‘A Vida Invisível’ leva
prêmio no Panamá
COMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK:
NANA MARTINS BRUNO MACHADO
]
Marcos Sawaya Jank, Pei Guo e Silvia H. G. de Miranda
Tema do dia
Plataforma terá programa-
ção especial todas as quin-
tas e sábados até julho.
http://www.estadao.com.br/e/libertadores
Parceria Brasil-China
para a segurança alimentar
O comércio bilateral
do agronegócio decolou,
mas muito ainda pode
ser feito para ampliá-lo
Algumas notas
para resistir
Depende de nós frear a
marcha totalitária,
deter o obscurantismo.
É só querer
AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)
AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
CEP 02598-900 – SÃO PAULO - SP
TEL.: (11) 3856-2122 /
REDAÇÃO: 6º ANDAR
FAX: (11) 3856-
E-MAIL: [email protected]
CENTRAL DE ATENDIMENTO
AO ASSINANTE
CAPITAL E REGIÕES METROPOLITANAS:
4003-
DEMAIS LOCALIDADES: 0800-014-77-
https://meu.estadao.com.br/fale-conosco
CENTRAL DE ATENDIMENTO ÀS AGÊNCIAS DE
PUBLICIDADE: 3856-2531 – [email protected]
PREÇOS VENDA AVULSA: SP: R$ 5,00 (SEGUNDA A
SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
R$ 5,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 8,00 (DOMINGO).
ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO
- SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.
Covid-19: Taxa de
morte é maior entre
negros e analfabetos
Pesquisa do Núcleo de Operações e
Inteligência em Saúde usou dados do
governo federal até 18 de maio
]
Fernando Gabeira
CINEMA
EFE
No estadao.com.br
BOXE
Como Mike Tyson
recuperou fortuna
FUTEBOL
Facebook vai reprisar
jogos da Libertadores