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A4 SEXTA-FEIRA, 29 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
COLUNA DO
ESTADÃO
Política
»SINAIS
PARTICULARES.
Jair Bolsonaro,
presidente da
República
»Pera lá. Questionados se
concordam com as críticas
feitas pelo ex-ministro ao
presidente, 27,3% disseram
que não e 63,8%, que sim.
Antes do vídeo, eram 19,1%
e 72%, respectivamente.
»Traduzindo. Para o cien-
tista político Andrei Roman,
do Atlas Político, a conclu-
são é que o centro está redu-
zindo e, portanto, está au-
mentando a polarização.
»Metodologia. A pesquisa
foi feita online, com 2 mil
pessoas, entre os dias 24 e
26 de maio. A anterior foi
feita em abril, depois da de-
missão de Moro.
»Free... Em mais um sinal
de desgaste interno de Au-
gusto Aras, procuradores
estão se mobilizando por
um abaixo-assinado para
garantir a “independência
do MPF na Constituição”.
»...PGR. Já foram coleta-
das pelo menos 265 assina-
turas de procuradores que
defendem a obrigatoriedade
de se seguir a lista tríplice.
»Demora. A Confederação
Nacional da Indústria enca-
minhou à Casa Civil um pe-
dido para que o governo
acelere o envio do Acordo
de Facilitação de Comércio
do Mercosul ao Congresso,
assinado em dezembro.
»No bolso. Cálculos da
CNI mostram que a promul-
gação do acordo significará
uma redução de cerca de
US$ 500 milhões com paga-
mentos de taxas por ano
para países do bloco.
»The flash. De acordo
com a entidade, o Brasil de-
mora, em média, quatro
anos para promulgar acor-
dos negociados com outros
países e ressalta que a medi-
da é muito importante nes-
te momento de forte crise
econômica causada pela
pandemia de covid-19.
»De olho... Ex-ministro da-
Defesa, Raul Jungmann afir-
mou que há uma “dificulda-
de crescente” de separar as
Forças Armadas dos milita-
res que hoje estão no po-
der. Mas reforçou que a ins-
tituição não está inserida
no jogo da política.
»...na lei. “De modo algum
estão envolvidas em tentati-
va não constitucional de
encontrar qualquer saída,
seja o que for. O papel de-
las é de buscar a estabilida-
de”, disse à Coluna.
»Ops. O general da reserva
Paulo Rocha Paiva, chama-
do de “melancia” por Bolso-
naro, deu razão ao presiden-
te no embate com o STF.
“Estamos vivendo a ditadu-
ra da toga no Brasil. Isso é
inadmissível”, disse, refor-
çando que fala só por si.
»Calma. A mensagem de
paz levada por Davi Alco-
lumbre a Jair Bolsonaro foi
referendada por senadores
como um “ultimato”. Parla-
mentares de diversos parti-
dos acham que o presidente
radicalizou e que a tensão
entre os Poderes chegou ao
limite. Avaliam ser preciso
ir além das conversas.
COM MARIANNA HOLANDA.
COLABOROU RAFAEL MORAES
MOURA.
A
divulgação pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
da reunião ministerial do dia 22 de abril teve pouco
impacto na imagem de Jair Bolsonaro, que conse-
guiu manter sua parcela de apoio mais fiel. Essa é a leitura
de duas pesquisas feitas pela consultoria Atlas Político an-
tes e depois do vídeo. O estudo desta semana mostra que
12,9% dos entrevistados acham que a saída do ex-juiz da
Lava Jato melhora sua avaliação sobre Bolsonaro; 31,2%,
que não altera; e 52,7%, que piora. Antes de a reunião vir a
público, os números eram, na ordem: 4,2%, 27,8% e 66,1%.
Vídeo de reunião não
afeta fiéis bolsonaristas
MARIANNA HOLADA (INTERINA*)
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KLEBER SALES/ESTADÃO
Bolsonaro ameaça não
cumprir decisões do STF
Executivo. Ao criticar ação contra seus apoiadores, presidente diz que ‘ordem absurda’
não deve ser seguida; declaração preocupa militares e aumenta tensão entre Poderes
BRASÍLIA
Um dia depois de o Supremo
Tribunal Federal (STF) fe-
char o cerco contra o “gabine-
te do ódio”, bunker ideológi-
co que atua no Palácio do Pla-
nalto, o presidente Jair Bolso-
naro ameaçou a Corte e disse
que “ordens absurdas não se
cumprem”, agravando a crise
institucional. Em tom exalta-
do, Bolsonaro criticou a ope-
ração da Polícia Federal, que
foi deflagrada na quarta-feira
e atingiu seus aliados no âmbi-
to do inquérito das fake news,
conduzido pelo Supremo.
“Acabou, porra!”, esbravejou.
A tensão entre os Poderes
preocupa os militares. Depois
do tom assumido por Bolsona-
ro e por seus filhos, o vice-presi-
dente Hamilton Mourão e o mi-
nistro do Gabinete de Seguran-
ça Institucional, Augusto Hele-
no, ambos generais da reserva,
foram a público para dizer que
rechaçam o golpe. “Quem é que
vai dar golpe? As Forças Arma-
das? Que é que é isso, estamos
no século 19? A turma não enten-
deu. O que existe hoje é um es-
tresse permanente entre os Po-
deres”, disse Mourão (mais in-
formações na pág. A5).
A cúpula do Congresso tam-
bém procurou apaziguar os âni-
mos. Em um dia de muitas arti-
culações políticas, o presidente
do Senado, Davi Alcolumbre
(DEM-AP), se reuniu com Bolso-
naro e virou uma espécie de
“bombeiro” da conflituosa rela-
ção entre o Executivo e o Supre-
mo. (mais informações na pág. A6).
A avaliação de Bolsonaro, po-
rém, é a de que o STF “esgarçou
a corda”, cometeu “abusos” e ex-
trapolou de suas funções. Para o
Palácio do Planalto, o desfecho
da crise dependerá das próxi-
mas decisões da Corte. “Que-
rem me tirar da cadeira para vol-
tar a roubar”, afirmou.
Nos últimos dias, o governo
tem sofrido uma sucessão de
derrotas no Supremo, a maioria
delas por decisões individuais
dos ministros Celso de Mello e
Alexandre de Moraes. O esto-
pim para a nova crise ocorreu,
no entanto, após a ação determi-
nada por Moraes, relator do in-
quérito das fake news, que inves-
tiga ameaças, ofensas e calúnias
dirigidas a integrantes do STF.
Na operação de anteontem, a PF
apreendeu documentos, compu-
tadores e celulares em endere-
ços de apoiadores do presiden-
te. “Mais um dia triste na nossa
história. Mas o povo tenha certe-
za: foi o último”, afirmou Bolso-
naro, dizendo ter as “armas da
democracia” nas mãos.
Empresários, políticos e blo-
gueiros bolsonaristas são alvo
da investigação aberta no STF
em março de 2019. Comandado
pelo vereador Carlos Bolsona-
ro (Republicanos-RJ), filho do
presidente, o “gabinete do
ódio” – com influência nas re-
des sociais do governo – foi clas-
sificado por Moraes como “as-
sociação criminosa”. “Querem
tirar a mídia que eu tenho a meu
favor, sob o argumento mentiro-
so de fake news. Idiotas inventa-
ram gabinete do ódio. Outros
imbecis publicaram matérias
disso e lamento julgamento
em cima disso”, disse Bolsona-
ro. “Ordens absurdas não se
cumprem e nós temos que bo-
tar um limite nessas questões.
Não dá para admitir mais atitu-
des individuais de certas pes-
soas, tomadas de forma quase
que pessoais”, emendou.
Ministros. Bolsonaro defen-
deu os ministros Abraham
Weintraub (Educação) e Ricar-
do Salles (Meio Ambiente),
que fizeram afirmações polê-
micas na reunião ministerial
do dia 22 de abril, e culpou Cel-
so de Mello, decano do Supre-
mo, pela divulgação do vídeo
com o conteúdo do encontro.
“A responsabilidade de tornar
público aquilo é de quem sus-
pendeu o sigilo de uma sessão
cujo vídeo foi chancelado co-
mo secreto”, disse.
A reunião integra o inquéri-
to aberto por Celso de Mello
para investigar denúncia feita
pelo ex-ministro da Justiça Sér-
gio Moro de que Bolsonaro ten-
tou interferir politicamente na
PF. Na reunião, Weintraub afir-
mou que, se dependesse dele,
“botava esses vagabundos to-
dos na cadeia, começando pe-
lo STF”. Salles, por sua vez, su-
geriu que o governo aproveitas-
se o momento de “tranquilida-
de” na cobertura de imprensa
- atualmente com foco na pan-
demia do coronavírus – para
passar a “boiada” de medidas
que simplificam normas no
Meio Ambiente.
Na terça-feira, Alexandre de
Moraes deu cinco dias para
Weintraub prestar depoimen-
to à PF sobre suas declarações.
O governo recorreu e impe-
trou, perante o próprio Supre-
mo, um habeas corpus para
tentar impedir o depoimento.
Com a assinatura do ministro
da Justiça, André Mendonça, o
pedido de liminar se estendeu
a “todos aqueles que tenham
sido objeto de diligências” no
inquérito das fake news.
Em transmissão ao vivo na
noite de anteontem, o deputa-
do Eduardo Bolsonaro (PSL-
SP), tratou a ruptura institucio-
nal como algo inevitável. “Até
entendo quem tem uma postu-
ra moderada para não chegar
num momento de ruptura, de
cisão ainda maior, de conflito
ainda maior. Mas, falando aber-
tamente (...), não é mais uma
opinião de se, mas de quando
isso vai ocorrer”, afirmou o de-
putado, ao lado de alvos da in-
vestigação.
Eduardo disse ontem que o
poder moderador para restabe-
lecer a harmonia entre os Pode-
res não é o Supremo, mas, sim,
as Forças Armadas. Bolsonaris-
tas têm compartilhado mensa-
gens sobre o artigo 142 da Cons-
tituição, segundo o qual as For-
ças Armadas são subordinadas
ao presidente. / VERA ROSA e
THIAGO FARIA
BRASÍLIA
Depois de impor uma série de re-
veses ao Palácio do Planalto, o
Supremo Tribunal Federal
(STF) está acompanhando com
atenção se o presidente Jair Bol-
sonaro vai cumprir a promessa
de desobediência de decisões ju-
diciais. A avaliação neste mo-
mento é a de que apesar das de-
clarações do chefe do Executivo,
que inflamam a militância bolso-
narista, o governo tem seguido
dentro do caminho do direito,
respeitando as regras do jogo de-
mocrático até aqui. Ministros
do STF, no entanto, não descar-
tam a possibilidade de Bolsona-
ro radicalizar ainda mais e colo-
car em prática o seu discurso.
Integrantes da Corte apon-
tam que, mesmo contrariado, o
Planalto decidiu entrar com um
habeas corpus no STF contra a
determinação para que o minis-
tro da Educação, Abraham Wein-
traub, preste depoimento à Polí-
cia Federal sobre as declarações
na reunião ministerial de 22 de
abril. Na ocasião, Weintraub dis-
se que, se dependesse dele, “bo-
tava esses vagabundos todos na
cadeia, começando no STF”.
Uma das preocupações dentro
do STF é saber até onde o gover-
no vai esticar a corda e desistir
dos instrumentos legais para con-
frontar o Judiciário, o que eleva-
ria a crise a outro patamar. Um
ministro do STF ouvido reserva-
damente pela reportagem avalia
que não há risco de ruptura demo-
crática e definiu a fala de Bolsona-
ro como “as bravatas de sempre”.
A opinião é compartilhada
por outros magistrados, mas há
um clima de apreensão na Corte
com o recrudescimento da pos-
tura do chefe do Executivo. O
Supremo está em alerta com o
“jogo de cena” do Planalto. O re-
lator do habeas corpus é o minis-
tro Edson Fachin, que decidiu
pedir informações ao ministro
Alexandre de Moraes antes de
decidir sobre o pedido do gover-
no para trancar o inquérito das
fake news e barrar o depoimen-
to do titular do Ministério da
Educação (MEC).
O atual entendimento do STF
é o de que não cabe habeas cor-
pus contra decisão individual
de um outro ministro da Corte –
no caso, quem determinou o de-
poimento de Weintraub foi Mo-
raes, relator do inquérito que
apura ameaças, ofensas e fake
news contra integrantes do STF
e seus familiares. / RAFAEL
MORAES MOURA
Janaína Paschoal
Supremo vê retórica
para inflar militância
PRONTO, FALEI!
lEm transmissão ao vivo, na
noite de ontem, o presidente Jair
Bolsonaro criticou o pedido de
apreensão de seu celular, feito
por partidos, e encaminhado pelo
ministro do STF Celso de Mello
ao procurador-geral da Repúbli-
ca, Augusto Aras. Para Bolsona-
ro, isso “não tem cabimento”
ALBERTO BOMBIG
*O colunista está em férias.
Integrantes da Corte
avaliam que governo,
por ora, estimula aliados
bolsonarista, mas pode
radicalizar discurso
“Creio que o presidente não deva chamar para si na-
da que diga respeito ao inconstitucional inquérito
das ‘fake news’. Cada um que cuide da sua defesa.”
Deputada estadual (PSL-SP)
Presidente critica
pedido por celular
»CLICK. Contrariando as
recomendações da Saú-
de, Abraham Weintraub
abraçou o blogueiro Al-
lan dos Santos em gesto
de solidariedade por ele
ter sido alvo da PF.
REPRODUÇÃO/TWITTER
EDU ANDRADE/FATOPRESS
Alvorada. Jair Bolsonaro fala com simpatizantes e profissionais da imprensa em frente à residência oficial da Presidência