O Estado de São Paulo (2020-05-29)

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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 29 DE MAIO DE 2020 A


Julia Lindner / BRASÍLIA


Mariana Hallal


Um dia pós anunciar a reabertu-


ra econômica, o Estado de São


Paulo bateu um novo recorde e


registrou 6.382 novos casos de


covid-19 em 24 horas ontem.


No cenário nacional também


houve recorde de novas infec-


ções: foram mais de 26 mil no-


vos casos nas últimas 24 horas.


O pico anterior registrado no


Estado de São Paulo, de 4.


casos novos em um dia, havia


sido alcançado no dia 15 de


maio. Com o aumento, o Esta-


do tem 95.865 pessoas infecta-


das pelo novo coronavírus. O to-


tal de mortes subiu para 6.980,


com 268 óbitos a mais do que


no dia anterior.


A taxa de ocupação dos leitos


de UTI reservados para atendi-


mento à covid-19 é de 77,4% no


Estado de São Paulo, contra


73,3% no dia anterior. Na Gran-


de São Paulo, o índice está em


89,2% — um dia antes, era de


86,7%. Atualmente, há 12,5 mil


pacientes internados em hospi-


tais de São Paulo, sendo 4.


em UTI e 7.805 em enfermaria.


Entre as vítimas em São Pau-


lo estão 4.091 homens e 2.


mulheres. Os óbitos se concen-


tram em pacientes com 60 anos


ou mais, que totalizam 72,8%


das mortes. Os principais fato-


res de risco associados à morta-


lidade são cardiopatia (58,7%


dos óbitos), diabete (43%),


doença neurológica (11,2%),


doença renal (10,4%) e pneumo-


patia (9,4%).


Nacional. O Brasil contabili-


zou ainda 1.156 novas mortes pe-


la covid-19 em 24 horas, elevan-


do o total de óbitos pela doença


para 26.754, segundo o balanço


divulgado ontem à noite Minis-


tério da Saúde. De anteontem


para ontem, houve registro de


26.417 novos casos de infecção


pelo novo coronavírus e agora


são 438.238 pessoas contamina-


das em todo o País.


Do total de óbitos confirma-


dos, 539 ocorreram nos últimos


três dias. O restante foi em pe-


ríodo anterior, mas só teve ago-


ra a confirmação. O ministério


informou que outros 4.221 óbi-


tos estão em investigação por


suspeita de covid-19. Ontem, o


Ministério da Saúde mais uma


vez deixou de fazer a entrevista


coletiva para prestar esclareci-


mento sobre as ações relaciona-


das ao combate da covid-19.


O Estado de São Paulo segue


liderando em número de casos,


seguido pelo Rio (44.886 casos


e 4.856 óbitos) e pelo Ceará


(37.821 casos e 2.733 mortes).


O Brasil segue ocupando a se-


gunda posição entre as nações


com mais casos de covid-19 no


mundo, atrás apenas dos Esta-


dos Unidos, que acumulam


mais de 1,7 milhão de infecta-


dos, segundo dados compila-


dos pela plataforma da Universi-


dade Johns Hopkins até as 19h


de ontem. Na lista das nações


com mais mortes acumuladas,


o Brasil ocupa a 6.ª posição. Só


fica atrás de Estados Unidos


(101.196), Reino Unido


(37.919), Itália (33.142), França


(28.665) e Espanha (27.119).


Fabiana Cambricoli


Das 191 cidades paulistas que


registraram alta de novos ca-


sos de covid-19 na última se-


mana, 165 delas (86%) serão


autorizadas pelo governo do


Estado a reabrir o comércio a


partir de segunda-feira. Mes-


mo com o aumento de novas


infecções, 124 desses municí-


pios foram incluídos na fase 2


do plano estadual de reaber-


tura, na qual lojas, shoppings


centers e imobiliárias, por


exemplo, podem funcionar.


Outras 41 dessas cidades esta-


rão na fase 3, em que até ba-


res, restaurantes e salões de


beleza podem ser reabertos.


Os números são de levanta-


mento feito pelo Estadão com


base em dados da Secretaria da


Saúde e da plataforma colabora-


tiva Brasil.IO, que reúne esta-


tísticas por município e por da-


ta desde o início da pandemia.


A reportagem comparou o to-


tal de novos casos registrados


em cada município nos sete


dias prévios ao anúncio do pla-


no de reabertura (20 a 26 de


maio) com as estatísticas da se-


mana anterior (13 a 19 de maio).


A flexibilização da quarente-


na mesmo em cidades com ten-


dência de alta da pandemia con-


traria afirmação do governo do


Estado de que a reabertura se-


ria iniciada em localidades com


queda consistente de casos.


Entre os municípios que fo-


ram incluídos nas fases 2 e 3 da


reabertura mesmo registrando


alta de infecções estão, além da


capital, outras cidades de porte


grande e com alta significativa


no número de novas infecções.


São José dos Campos é um


desses exemplos. Na última se-


mana, registrou 214 novos ca-


sos confirmados de covid, nú-


mero 86% maior do que os 115


notificados na semana ante-


rior. Mesmo assim, está na fase


2 de abertura.


Jundiaí tem situação seme-


lhante: o total de novas infec-


ções saltou 60% em uma sema-


na (passou de 176 para 283),


mas também poderá reabrir co-


mércios na segunda-feira.


Em Piracicaba, também in-


cluída na fase 2, a alta foi ainda


maior no período analisado:


137%. Os novos casos passaram


de 81 para 192. Taubaté, São Jo-


sé do Rio Preto, Ribeirão Preto,


Hortolândia, Limeira, Valinhos


e Bragança Paulista são outras


cidades na mesma situação.


Na cidade de São Paulo, a úni-


ca da região metropolitana a ser


poupada da fase 1 (na qual as


restrições mais rígidas conti-


nuam) e ser incluída na fase 2, o


número de novos casos cresceu


10%, passando de 8.958 para


9.914 no período analisado.


Araraquara e Jaú fazem parte


do grupo de municípios que,


apesar da alta de novos casos,


foram incluídos na fase 3, ainda


mais permissiva. Em ambos, o


total de novos registros cresceu


43% e 48%, respectivamente.


Risco. Para o epidemiologista


Paulo Lotufo, professor da Fa-


culdade de Medicina da Univer-


sidade de São Paulo (FMUSP),


a decisão de reabertura do co-


mércio em regiões com alta de


casos é “arriscada”. “É bastante


contraditório, os critérios não


foram bem definidos. A flexibili-


zação só tem de começar a acon-


tecer quando você tem uma re-


dução consistente nos núme-


ros. E são necessários pelo me-


nos sete dias seguidos de queda


para podermos afirmar isso.”


Já o médico Alexandre Nai-


me Barbosa, chefe da infectolo-


gia da Universidade Estadual


Paulista (Unesp) e membro ti-


tular da Sociedade Brasileira de


Infectologia, reconhece que o


cenário ideal seria de estabilida-


de no número de novos casos


para flexibilização, mas afirma


que o plano de reabertura pode


ser positivo ao dar autonomia


para que cada prefeitura defina


suas regras de acordo com seu


cenário epidemiológico.


“Mesmo que uma determina-


da cidade esteja em região de


flexibilização, o prefeito não é


obrigado a autorizar a reabertu-


ra. Ele tem de ser responsável e


avaliar a sua realidade. É impor-


tante que haja essa reavaliação


semana a semana para acompa-


nhar a situação de cada local”,


destaca.


Múltiplos critérios. Questiona-


da, a Secretaria Estadual da Saú-


de afirmou que a reportagem


“ignora os critérios definidos


pelo Estado para classificação


das fases” pois o plano de rea-


bertura é multifatorial, obser-


vando “não apenas número de


casos e óbitos, mas também ba-


lanços de internações e ocupa-


ção de leitos de UTI, com análi-


ses diárias”.


Os próprios dados da secreta-


ria, no entanto, mostram que a


taxa de ocupação das UTIs e o


número de pessoas internadas


vem aumentando nos últimos


dias. Ontem, o volume de leitos


de terapia intensiva ocupados


no Estado bateu recorde, che-


gando a 77,4%. Já o número de


pacientes hospitalizados com


covid-19 na rede estadual sal-


tou de 10,1 mil no dia 15 de maio


para 12,5 mil ontem.


A secretaria justificou ainda


que o plano “não observa os mu-


nicípios de forma isolada, pos-


suindo caráter regionalizado” e


que fará monitoramento contí-


nuo da medida, o que permitirá


“requalificação num período se-


manal para um cenário mais res-


tritivo conforme variação dos


índices”.


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Estado e Brasil registram lMortes


recorde de novas infecções


Em SP, 86% das cidades que tiveram


alta de casos poderão reabrir comércio


lPreocupação


Prefeitos da


Grande SP


criticam plano


Capital exigirá de empresa garantia para as mães. Pág. A10}


268


foi o número de mortes


registradas no Estado de


São Paulo em um dia






foi o número de óbitos em


apenas 24 horas no Brasil


São Paulo notificou


6.382 novos casos da


covid-19 em apenas um


dia; no País, foram 26 mil


infecções em 24 horas


●Cidades com alta de novos casos na última semana por


fase de flexibilização


AVANÇO DO VÍRUS


FONTE:SECRETARIA ESTADUAL DA SAÚDE DE SÃO PAULO E BRASIL.IO INFOGRÁFICO/ESTADÃO

FASE 1 FASE 2 FASE 3


SÃO PAULO

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

RIBEIRÃO PRETO

SÃO
SEBASTIÃO

LIMEIRA

VALINHOS

JUNDIAÍ

SÃO JOSÉ
DOS
CAMPOS

PIRACICABA

ARARAQUARA

DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

“Em muitas cidades do


interior do Estado, agora é


que está começando a


aumentar o número de


casos. Flexibilizar neste


momento é arriscado.”


Paulo Lotufo


EPIDEMIOLOGISTA DA USP


Capital e cidades de grande porte, como Ribeirão Preto, estão liberadas pelo Estado para afrouxar quarentena em junho mesmo com


aumento de infecções; especialista vê risco em flexibilizar. Governo diz que plano considera múltiplos critérios e promete monitoramento


Centro. Cidade de São Paulo foi a única da região metropolitana a ser poupada de fase 1 de flexibilização, em que as restrições mais rígidas foram mantidas


José Maria Tomazela


Prefeitos da região metropoli-


tana de São Paulo não concorda-


ram com a decisão do governo


estadual de reabrir parcialmen-


te o comércio na capital, en-


quanto as cidades vizinhas con-


tinuam com lojas e shoppings


fechados. Com a migração de


consumidores dessas cidades


para compras no comércio de


São Paulo, além da fuga de ren-


da, os prefeitos preveem queda


no isolamento social e risco de


aumento nos casos de coronaví-


rus. Alguns falam em mudar de


faixa por conta própria.


O prefeito de Guarulhos, Gus-


tavo Costa, o Guti (PSD), disse


que a cidade tem uma região


fronteiriça com a capital muito


extensa e o maior movimento


pendular – ida e volta de pes-


soas – do Brasil. “O morador da-


qui anda 200 ou 300 metros e


está na capital. Com a abertura


do comércio lá e não aqui, o flu-


xo para lá vai aumentar e as pes-


soas podem ser contaminar.”


Guti disse que a tese do gover-


no era de que toda região metro-


politana tomaria decisões em


bloco. “Se não houver um con-


senso, usaremos de nossa auto-


nomia para a retomada de for-


ma responsável, respeitando o


que a OMS (Organização Mun-


dial da Saúde) recomenda.”


O prefeito de São Caetano do


Sul, José Auricchio Junior


(PSDB), disse que vai às últimas


consequências para conseguir a


paridade com a capital. “Nos-


sos indicadores são para lá de


melhores.” Já o prefeito de


Osasco, Rogério Lins (Pode-


mos) disse que espera uma revi-


são de faixa e vai preparar a cida-


de para uma possível flexibiliza-


ção. O secretário de Saúde de


Vargem Grande Paulista, João


de Deus Santos Junior, disse


que o município está buscando


entender os critérios “Nem


acho que seria a hora de reabrir,


mas o que vale para o município


de São Paulo deveria valer para


todos do entorno.”


O secretário estadual de De-


senvolvimento Regional, Mar-


co Vinholi, disse ter passado a


quinta-feira dialogando com os


prefeitos. “O que causou algu-


ma diferença foi a capacidade


hospitalar. Há um pleito deles


pela subdivisão da região metro-


politana pelas seis regiões de


saúde que será avaliado.”


Metrópole
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