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A14 SÁBADO, 30 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Após defender políticas de isola-
mento social durante a pande-
mia e enfrentar publicamente o
presidente Jair Bolsonaro, o go-
vernador João Doria (PSDB)
atendeu a apelos de prefeitos –
muitos do seu próprio partido,
como o da capital, Bruno Covas
- e de empresários ao apresen-
tar o plano de abertura gradual.
Embora tenha desagradado a
especialistas, a medida foi uma
tentativa de Doria evitar que
sua base eleitoral se volte con-
tra ele às vésperas da eleição mu-
nicipal e que o Estado enfrentas-
se processos judiciais em que
municípios cobrariam a reaber-
tura de empresas e comércio.
A avaliação de aliados de Do-
ria e prefeitos ouvidos pela re-
portagem é de que o governa-
dor enfrenta agora o momento
político mais difícil desde o iní-
cio da crise. Cobrado por prefei-
tos e empresários ligados à Fe-
deração das Indústrias de São
Paulo (Fiesp), Doria deixou de
seguir – pela primeira vez, se-
gundo aliados – a orientação es-
trita do comitê de especialistas
do governo para a pandemia.
O principal foco de tensão do
governo foi com a Prefeitura de
São Paulo. Covas insistiu em
reabrir após subprefeituras rela-
tarem dificuldade de manter
restrições. O diagnóstico foi de
que o bloqueio do comércio não
se sustentaria por mais uma se-
mana, e algo precisaria ser feito:
endurecer, com apoio do Esta-
do (lockdown), ou abertura con-
trolada. A palavra “desobediên-
cia civil” passou a circular no
WhatsApp dos gestores.
“A decisão de reabertura não
foi pressão política, mas técni-
ca”, disse Edson Aparecido, se-
cretário municipal de Saúde. “A
taxa de transmissibilidade (do
vírus) da capital é 1, e no Estado
é 1,5, sendo que o interior é 1,7.”
Já no interior, ao longo da pan-
demia, cidades grandes como
Ribeirão Preto, do prefeito tuca-
no Duarte Nogueira, e São José
dos Campos, do tucano Felicio
Ramuth, abriram seus comér-
cios, mas tiveram de recuar
após decisão da Justiça. O en-
tendimento foi de que prefeitos
não podem ser menos restriti-
vos do que o Estado. /B.R., P.V. e
PAULA REVERBEL
● Grande São Paulo foi dividida em 5 áreas, além da capital
REGIÕES
FONTE: GOVERNO DE SÃO PAULO INFOGRÁFICO/ESTADÃO
São Paulo*
Guarulhos
São Bernardo
do Campo
Santo
André
Mogi das
Cruzes
Suzano
Arujá
Santa
Isabel
Guararema
Biritiba
Mirim
Salesópolis
Mairiporã
Caieiras
Francisco
Morato
Pirapora do
Bom Jesus
Santana
de Parnaíba
Cotia
Osasco
São Lourenço
da Serra
Juquitiba
Itapecerica
da Serra
SUDOESTE OESTE NORTE LESTE SUDESTE
*LIBERADO PARA A FASE 2
Interior afrouxa
restrições e contraria
plano do Estado
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Bruno Ribeiro
Pedro Venceslau
Mesmo com ocupação de
88,9% dos leitos de UTI, cida-
des da Grande São Paulo se-
rão autorizadas a conduzir
projetos de abertura econô-
mica, segundo decisão do go-
vernador João Doria (PSDB).
A região metropolitana foi di-
vidida em seis áreas: a capital
e mais cinco, e cada uma apre-
sentará semana que vem estu-
dos sobre possível flexibiliza-
ção da quarentena. Apesar de
a capital ter recebido aval do
Estado para reabrir shop-
pings e lojas a partir de junho,
os 38 municípios da Grande
São Paulo haviam sido coloca-
dos na zona vermelha, de res-
trição máxima. A mudança
veio após pressão dos prefei-
tos dessas cidades.
A nova determinação esta-
dual foi antecipada ontem pelo
estadao.com.br. No plano origi-
nal de Doria de retomada gra-
dual, apresentado esta semana,
o Estado foi dividido em 18 re-
giões e há cinco fases de restri-
ção. A 1.ª, vermelha, libera só ser-
viços essenciais, como os de saú-
de, além da indústria e constru-
ção civil. Já a 2.ª fase, laranja,
prevê reabrir, com restrições,
shoppings, lojas, concessioná-
rias e escritórios em junho.
Conforme o governo, a mu-
dança de fase depende da análi-
se pelo Estado de uma série de
critérios, como a evolução de ca-
sos e óbitos por covid-19 e a dis-
ponibilidade local de leitos – a
metodologia só foi detalhada
ontem. O fato de a capital ser a
única das 39 cidades da Grande
São Paulo na zona laranja moti-
vou críticas de prefeitos e em-
presários (leia mais nesta pág.)
Um dos desafios, para críti-
cos do plano original, seria lidar
com a alta circulação de traba-
lhadores da capital vindos da re-
gião metropolitana, e com o
controle de divisas de São Pau-
lo e cidades vizinhas. Já cientis-
tas veem risco de qualquer flexi-
bilização na Grande São Paulo,
pois o Estado ainda não passou
pelo pico da pandemia – anteon-
tem houve recorde de novos ca-
sos. A Grande São Paulo tem 22
milhões de habitantes.
Parte dos 18 médicos do Cen-
tro de Contingência do Corona-
vírus do governo paulista se
opôs à ideia de mudar a divisão
da Grande São Paulo. O Estado
diz que o comitê foi plenamen-
te ouvido e apoiou a decisão. Do-
ria disse ontem não ter cedido a
pressões. “A gente não se sub-
mete a nenhuma forma de pres-
são, nem de prefeitos, nem de
parlamentares nem do presi-
dente. A orientação sempre foi
a da ciência. Foi sempre assim e
continuará sendo assim.”
Secretário estadual de Desen-
volvimento Regional, Marco Vi-
nholi ainda reforçou que a mi-
gração de fase não é imediata.
Disse ainda que áreas críticas
da região metropolitana vão
continuar sob restrição e que
mudanças de cenário de quaren-
tena dependem também de am-
pliação da estrutura hospitalar.
Reação. Por enquanto, a re-
gião metropolitana segue com
as mesmas regras de quarente-
na, em vigor desde 24 de março.
Ainda não está definido quais
sub-regiões poderão mudar de
fase. O Estadão apurou que a
zona do ABC – Santo André, São
Bernardo, São Caetano, Diade-
ma, Mauá, Ribeirão Pires, Rio
Grande da Serra – deve ter aval
do Estado para flexibilizar na
próxima semana. “Corrigir um
erro é o maior acerto em que
um gestor público pode mos-
trar sua grandeza”, disse Orlan-
do Morando (PSDB), prefeito
de São Bernardo e aliado de Do-
ria, que ficou internado na UTI
em abril por covid-19. Ele havia
sido um dos mais críticos ao pla-
no inicial. “Se é para ouvir a ciên-
cia, não é para liberar ninguém
da região metropolitana”, disse
ele, na quarta-feira.
Outro argumento de Moran-
do era a diferença de capacida-
de hospitalar entre cidades da
região. São Bernardo tem ocu-
pação de UTIs de 71% – índice
melhor do que o da capital, com
taxa de 83% nos hospitais muni-
cipais anteontem. Já Guarulhos
enfrenta situação grave, com
índice de ocupação de 101,3%
(com uso de leitos extras).
Após pressão, Doria divide Grande SP
em 6 áreas para flexibilizar quarentena
lMunicípios
Metrópole
José Maria Tomazela
Prefeitos do interior e do litoral
paulista têm reaberto setores
econômicos sem respeitar o pla-
no de flexibilização definido pe-
lo governo estadual. Em ao me-
nos três municípios, as regras
locais anunciadas pelas prefei-
tura contrariam o plano da ges-
tão João Doria (PSDB). O gover-
no informou que pode acionar
o Ministério Público. Na primei-
ra ação, após o anúncio do pla-
no esta semana, a Justiça deci-
diu a favor do governo estadual.
O prefeito de Marília, Daniel
Alonso (PSDB), anunciou on-
tem, em rede social, a reabertu-
ra de atividades econômicas
previstas só na fase 4 (verde) – a
cidade está na 2 (laranja). Ele
informou que publicaria os de-
cretos em edição extra. “Não ti-
vemos por parte do governo es-
tadual retorno ao nosso pedido
de reclassificação de faixa. O go-
verno é do meu partido e estou
alinhado com ele, mas não acei-
to o erro que sua equipe técnica
cometeu.” O Estado não in-
cluiu nenhum dos 645 municí-
pios paulistas na fase 4.
Os decretos preveem liberar
academias, salões de beleza e
clínicas de estética, além de lo-
jas de rua e shoppings com 40%
da capacidade, em dois turnos
diários. “Com nosso número de
casos, óbitos e capacidade de in-
ternação, Marília está em condi-
ções de dar como ponto de parti-
da a faixa verde, a 4”, disse. A
cidade tem 86 casos e 1 óbito.
A prefeitura de São Carlos rea-
briu o comércio em sistema de
rodízio anteontem, contrarian-
do o plano do Estado que previa
a retomada gradual a partir do
dia 1º. A Justiça determinou on-
tem o fechamento. A cidade
tem 122 casos e 4 mortes.
A Câmara de São Vicente, no
litoral, aprovou ontem projeto
de lei do executivo municipal
flexibilizando regras para o co-
mércio. O prefeito Pedro Gou-
veia (MDB) quer publicar as re-
gras hoje, para que vigorem se-
gunda. Toda a Baixada Santista,
com cerca de 7 mil casos e 400
mortes, tem restrição máxima.
O Conselho de Desenvolvimen-
to da Baixada Santista negocia
com o Estado migrar para a fase
2, que libera shoppings e lojas.
Em nota, o Estado informou
que o plano de reabertura “pre-
vê a retomada consciente da
economia”, por critérios técni-
cos e a classificação por fases é
regionalizada, com base na rede
hospitalar e na evolução local
de casos. As regiões podem ser
reclassificadas para fase de me-
nor restrição, a partir de 15 de
junho, se houver indicadores de
saúde estáveis.
Shoppings só poderão abrir por quatro horas. Pág. A16}
Prefeitos aliados e empresários
cobram reabertura do governo
lEstado
Plano original previa toda a região metropolitana, exceto capital, em zona de restrição máxima; nova configuração é definida após críticas
de prefeitos. Estado diz que critérios científicos orientam decisões e promete avaliar disponibilidade hospitalar de cada grupo de cidades
Estado quis evitar ações
judiciais de prefeitos
para retomar economia;
capital pressionou
por flexibilização
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Das 645 cidades paulistas terão
alguma flexibilização autorizada
pelo governo estadual a partir de
segunda-feira, conforme o plano
apresentado pela gestão João
Doria (PSDB). De 5 fases de qua-
rentena, nenhum foi classificado
nas duas etapas mais flexíveis.
Justiça ordenou
suspensão de rodízio do
comércio em São Carlos;
Baixada Santista negocia
flexibilização para fase 2
MINETO/FUTURA PRESS
“O trabalho em conjunto de
aumento de leitos (nas
sub-regiões da Grande São
Paulo) é fundamental para
que a gente possa fazer essa
retomada consciente com
eles (os prefeitos).”
Marco Vinholi
SECRETÁRIO ESTADUAL DE
DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Estação de Osasco. Região metropolitana segue em quarentena enquanto mudanças são avaliadas pelo Estado; cientistas temem relaxar isolamento