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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 30 DE MAIO DE 2020 Economia B9
O salão de beleza Retrô Hair, em São Paulo, está fechado há mais de
dois meses. Cerca de 160 funcionários e profissionais autônomos tive-
ram os contratos suspensos. "Sabemos que daqui depende o sustento
de muitas famílias”, diz Andréia Silva, diretora operacional do salão.
‘Daqui depende o sustento de famílias’
FELIPE RAU/ESTADÃO
FELIPE RAU/ESTADÃO
FELIPE RAU/ESTADAO
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Sem festas de casamen-
to e outros eventos pro-
gramados, a florista Éri-
ca Tiburcio enfrenta a
queda de 70% na de-
manda por suas flores.
“O que tem segurado
um pouco são os clien-
tes que compram arran-
jos e dão flores de pre-
sente.” Sem familiarida-
de com plataformas onli-
ne de venda, ela conta
com a ajuda do filho de
13 anos para gerenciar
conta no Instagram.
A
paralisação da econo-
mia após a adoção de
medidas de isolamento
para tentar conter o avanço do
novo coronavírus derrubou o
Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro no primeiro trimes-
tre de 2020.
A atividade econômica teve
retração de 1,5%, afetada pelo fe-
chamento de indústrias e co-
mércio a partir da segunda meta-
de de março e também pela que-
da no consumo das famílias.
Além da perda de renda generali-
zada, o isolamento impediu que
os brasileiros saíssem de casa
para fazer compras – o consu-
mo se limitou ao essencial.
A rotina da população mu-
dou e todos tiveram de procu-
rar soluções para atravessar es-
se momento inédito na vida do
brasileiro e da população mun-
dial em geral. Queda na ativida-
de econômica e aumento no de-
semprego não são exclusivida-
des do Brasil.
O baque atingiu tanto as
grandes empresas – que têm re-
corrido à suspensão de contra-
tos de trabalho, redução de jor-
nada e salários e, no extremo, a
demissões – quanto os médios
e pequenos negócios.
No entanto, as grandes em-
presas, geralmente, têm mais
fôlego antes de chegarem a de-
mitir os funcionários, ou mes-
mo a fechar as portas.
Cresceu o comércio online
com o uso de aplicativos. Com
medo do contágio, o brasileiro
está evitando aglomerações e a
rotina de ir a supermercados
tem sido trocada pelas com-
pras pela internet. Bares e res-
taurantes incrementaram seus
serviços de delivery.
Os motoboys entregam de
documentos a comida. Os mi-
croempreendedores usam as
redes sociais na busca de clien-
tes. Artistas recorrem a lives.
Mas tudo isso não conseguiu
evitar que a taxa de desempre-
go subisse para 12,6% em abril e
quase 5 milhões de brasileiros
perdessem o emprego no País.
A reportagem do Estadão
foi ouvir a história desses brasi-
leiros que buscam caminhos
para atravessar um dos mo-
mentos mais difíceis da econo-
mia do País. / FELIPE SIQUEIRA E
LUISA LAVAL
Setor público fecha abril com rombo de R$ 94,3 bilhões. Pág. B11}
Filho ajuda
com redes
sociais
WERTHER SANTANA/ESTADÃO
‘Quero poder vender em loja’
Quando a covid-19 chegou ao Brasil, Raquel Azevedo tinha recém-aberto
a Colí Doces, confeitaria que mantém em casa, e precisou mudar o es-
quema de vendas, que têm o Instagram como base. “Antes, eu combina-
va as entregas no metrô, era mais fácil e barato. Agora, faço tudo de car-
ro", conta. “Quando essa loucura passar, quero poder vender em loja.”
WERTHER SANTANA/ESTADÃO
Concorrência na rua aumentou
Caíque Alves, de 27 anos, faz entregas de moto – de documentos a comi-
da – por aplicativos e percebeu o aumento na concorrência durante a
pandemia. “Tem de ficar mais tempo na rua e trabalhar mais para ga-
nhar o mesmo de antes.”
ALEX SILVA/ESTADÃO
‘Divulgo um novo cardápio por semana’
O chef Matheus Zanchini fechou uma das duas unidades de seu restau-
rantes de comida italiana e demitiu oito funcionários. O Borgo Mooca
não fazia delivery, mas as entregas sob encomenda se tornaram inevitá-
veis. “Aproveito a rede de clientes no WhatsApp que já tinha e divulgo
um novo cardápio a cada semana.”
‘Cultura
é a 1ª
atividade
a parar’
O maestro e
empresário
Delphim Rezen-
de Porto cance-
lou todas apre-
sentações des-
te semestre. “A
cultura é a pri-
meira atividade
a parar e a últi-
ma a voltar,
porque é consi-
derada não es-
sencial."
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
Renda aumentou. E o medo também
Trabalhando em uma pizzaria e em um restaurante em São Bernardo
do Campo, o motoboy Lucas Souza Ferreira, de 22 anos, viu crescer a
correria das entregas desde o início do isolamento. Mas todo dia tem de
lidar com o medo de ser contaminado pelo coronavírus e passar para o
filho, de seis meses.
O brasileiro e o momento econômico atual
Pandemia do novo coronavírus mudou a rotina do empresário e do trabalhador; todos tiveram de se reinventar para superar a crise
‘É triste ver
o espaço vazio’
O chef Cristiano Xavier, que traba-
lha no grupo de organização de
eventos El Dorado, sente falta do
movimento de antes. “É triste ver
um espaço vazio onde servíamos
refeições para até 8 mil pessoas.
Eu me sinto um pouco impotente,
sem poder fazer nada.” Xavier é
um dos 75 funcionários da empre-
sa que foram mantidos. Outros
250 intermitentes ficaram sem
trabalho.
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
‘Venda de vouchers foi o que salvou’
Antes mesmo da decretação da quarentena, Igor Bueno, de 39
anos, fechou o estúdio de música que administra com o irmão em
Santo André (SP). Conseguiu um respiro nas contas ao oferecer ser-
viços a preços promocionais, para quando reabrir. “A venda de vou-
chers foi o que salvou.”