O Estado de São Paulo (2020-05-31)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-3:20200531:


O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2020 Economia B3


Aplicativos para praticar exercí-


cios, pedir comida, fazer com-


pras de alimentos, de plantas


ou roupas. Lives, aulas à distân-


cia, eventos 100% online, de fes-


tas de casamento a consultas


médicas. Quem investiu na digi-


talização da empresa ou se digi-


talizou a tempo, tem consegui-


do fazer parte do novo mundo


criado pela pandemia.


“A crise do novo coronavírus


obrigou as empresas a serem


mais ágeis e inovadoras para


buscar novas formas de venda,


prestação de serviço, intera-


ções com colaboradores, forne-


cedores e clientes. A pandemia


fez com que elas tornassem


suas operações mais digitais ‘a


fórceps’”, diz o professor do Ins-


per Marcelo Nakagawa.


Segundo o superintendente


do Sebrae-SP, Wilson Poit, o te-


ma digitalização dos negócios é o


segundo mais buscado pelos em-


preendedores nesses dois meses


de crise, atrás apenas de “como


conseguir crédito”. A entidade re-


gistra recordes de público em li-


ves (média diária de 220 mil pes-


soas), consultorias agendadas


(450 por dia) e atendimentos diá-


rios na central telefônica (2.875).


Poit assegura que muitos dos


empreendedores atendidos


abriram seus negócios recente-


mente ou pensam em abrir a em-


presa no meio da pandemia.
“Tem gente que tinha vontade
de empreender e descobriu um
nicho agora”, completa.
Para Nakagawa, a pandemia
marcará o surgimento de novas
necessidades de consumo e o re-
torno de antigas demandas.
“Entre as novas, destaco a preo-
cupação com a saúde, com o au-
todesenvolvimento e novos
aprendizados. Entre as antigas,
e encontrando-se uma solução
eficaz para o combate ao novo
coronavírus, haverá maior de-
manda relacionada a indulgên-
cias pessoais (viagens, alimen-
tação, moda) e também à intera-
ção presencial com outras pes-
soas (eventos, happy hours, ser-
viços presenciais).”

Formação. De acordo com a
quarta edição do estudo Moni-
tor OIT: Covid-19 e o mundo do
trabalho, realizado pela Organi-
zação Internacional do Traba-
lho, mais de um em cada seis
jovens deixou de trabalhar des-
de o início da pandemia.
Para a coordenadora do
FAAP Business Hub, Alessan-
dra Andrade, os jovens universi-
tários são os mais afetados pe-
las mudanças nas relações de
trabalho e, por isso, veem no em-
preendedorismo uma forma de
aliar a formação universitária
com propósito.
“O emprego, como os nossos
pais conheceram, não vai existir
mais. Um estudo da Foundation
for Young Australians mostra
que 70% dos empregos de entra-
da para os jovens vão ser afeta-
dos pela automação e 60% dos
estudantes estão sendo treina-
dos para empregos que serão mu-
dados radicalmente”, conta ela.
“Os jovens vão ter uma percep-
ção diferente da carreira. E aí en-
tra o empreendedorismo, não só
para abrir um negócio, mas no
comportamento, no protagonis-
mo, na autorresponsabilidade.
Vai ser uma história de carreira
diferente para eles”, afirma. / L.G.

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PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


R


etomar um projeto de
startup disposto a dei-
xar o emprego no merca-
do financeiro. Foi esse o movi-
mento que Nelson Soares, de 33
anos, fez entre agosto de 2019 e
março deste ano. O criador e
CEO da Flatmatch, startup que
atua no setor imobiliário, diz
que já ouviu de muita gente a
expressão “que coragem”, quan-
do conta que retomou a empre-
sa criada em 2017 e passou a se
dedicar exclusivamente a ela
menos de 20 dias antes do isola-
mento social no Estado.
A história de Soares é comum
a muitos jovens que têm na tec-
nologia a base do negócio. Em
2017, quando trabalhava no se-
tor imobiliário, percebeu que
havia oportunidades de inova-
ção no segmento de residência
compartilhada.
Com a ideia de criar um apli-
cativo que proporcionasse o
“match” entre pessoas para divi-
dir apartamento, surgiu a Flat-
match. “Primeiro, eu entendo o
perfil das pessoas e, depois, elas
definem que tipo de imóvel bus-

cam. A partir desses dois perfis
de informação, faço um cruza-
mento com o algoritmo.”
Em agosto, ele se associou a
Mateus Gomes, de 21 anos, com
quem divide apartamento, e há
três meses eles lançaram o apli-
cativo. “Nesse contexto, foi real-
mente necessário a adaptabili-
dade, a perseverança e a estraté-
gia.” Um divisor de despesas do-
mésticas estava programado pa-
ra ser implementado dentro do
aplicativo no futuro, mas a nova
função se tornou o foco do negó-
cio. “Momentos de crise são si-
nônimo de surgimento de vá-
rios startups promissoras.”

N


atal, Ano Novo e carna-
val são consideradas da-
tas difíceis para alguns
negócios. Marcelo Lima, de 48
anos, passou por elas com êxito
em São José do Rio Preto (SP),
mesmo com um negócio jovem.
Inaugurada em 12 de dezembro,
a ‘fábrica-bar’ de cervejas Tama-
reira manteve-se ativa no perío-
do. Até o isolamento social.
O setor de bares e restauran-
tes é um dos mais afetados, e a
saída foi o delivery. “No meu pla-
no de negócio, que fiz no início
de 2019 com o Sebrae, a primei-
ra coisa que decidi foi excluir de-
livery. Por quê? Investi em mobi-
liário, ar condicionado, decora-
ção. Eu criei um lugar que entre-
ga uma experiência.”
Com estrutura para 155 pes-
soas, ele reformou o imóvel por
quase um ano. Construiu uma
área de fabricação de mil litros
de chope por mês. Fez cursos
de negócios em cerveja e som-
melier. Investiu do próprio bol-
so o dinheiro que conquistou
em 22 anos em multinacionais
do setor hospitalar. “Após 16

anos na capital, minha espo-
sa e eu decidimos voltar para
o interior. Empreender foi o
caminho que escolhemos pa-
ra termos renda.”
Após paralisar as ativida-
des em abril, Lima começou
a fazer delivery em maio. Dos
10 funcionários, quatro fo-
ram demitidos e 6 estão com
o contrato suspenso pela MP


  1. O empreendedor opera
    o delivery sozinho. “A minha
    maior frustração é que, pelo
    delivery, eu perco o meu dife-
    rencial. Não tive tempo de fi-
    car conhecido na cidade em
    tão pouco tempo.”


lOportunidade


Letícia Ginak







      1. Não se trata de um






código secreto ou algoritmo.


Essa sequência indica o nú-


mero de dias que três negó-


cios se mantiveram abertos


desde sua data de inaugura-
ção até o início do período de
isolamento social decretado
pelo governo de São Paulo,
no fim do mês de março.
Apesar de pouco tempo em
operação, as empresas carre-

gam décadas de experiência pro-
fissional dos empreendedores,
anos de planejamento e ajustes
no modelo de negócios, cifras
importantes para o investimen-
to e muitos desejos de mudan-
ça. A reportagem foi atrás de

companhias nascidas em São
Paulo para ilustrar os desafios
de se empreender e estabelecer
um negócio em meio à crise.
De acordo com a Fecomér-
cio-SP, o varejo no Estado con-
ta com mais de 310 mil empre-

sas, das quais 116 mil estão impe-
didas de realizar atendimentos
presenciais. A perda média de
receita diária chega a R$ 660 mi-
lhões. Para sobreviver a isso, as
empresas buscaram saídas co-
mo plataformas online e deli-

very, demitiram funcionários e
já fizeram adaptação no mode-
lo de negócios, de olho em co-
mo pode se dar a reabertura par-
cial do comércio no Estado, pre-
vista para começar agora em ju-
nho. Confira as histórias.

F


ernando Fiori, de 53
anos, é da geração em
que trabalhar décadas
em uma única empresa era si-
nônimo de sucesso profissio-
nal. Ele entrou para o em-
preendedorismo em 14 de fe-
vereiro deste ano, como fran-
queado da rede multinacio-
nal de lavanderias 5àsec.
A carreira na área de admi-
nistração em multinacionais
no Brasil soma 25 anos, o que
ele considerou fundamental
para ter base para encarar os
desafios do próprio negócio
numa pandemia. “Hoje, as
pessoas empreendem com
idades mínimas. Eu fiz isso
com experiência. Sempre
quis empreender, mas com
bagagem.”
A jornada começou em


  1. A ideia era abrir o negó-
    cio em Portugal, mas uma
    imersão no país mostrou que
    o Brasil era mais favorável.
    “Encontrei uma economia
    muito pequena lá.” No final
    de 2019, Fiori voltou para
    São Paulo e buscou uma op-


ção de marca no mercado, op-
tando pelo franchising. O isola-
mento social incluiu as lavande-
rias como serviço essencial. Ao
mesmo tempo, a rede 5àsec im-
plementou o delivery com frete
gratuito em todas as franquias.
Para Fiori, a palavra que des-
creve o período é a reinvenção.
“O que vivemos é novidade pa-
ra todo mundo.” Ele acredita
que sua experiência o faz sair na
frente como empreendedor
por dois motivos: calma e estra-
tégia. “Uma coisa que a gente
não pode ter quando se é dono
de um negócio é medo. O medo
inibe qualquer decisão.”

Na China, preço do minério dispara 24%. Pág. B4 }


Imobiliário. O sócio da
Flatmatch Nelson Soares

NILTON FUKUDA/ESTADÃO
PEDIU DEMISSÃO

PARA INVESTIR


EM STARTUP


90 dias de aplicativo


Artesanal. Marcelo Lima
passou a fazer entregas

ELOISA MATOS
CERVEJARIA

PARA 155


PESSOAS VAZIA


102 dias de chope


Crise obrigou


companhias a serem


mais ágeis e a buscarem


novas formas de venda e


de prestação de serviços


“Tem gente que tinha


vontade de empreender e


descobriu um nicho agora


(em meio à crise do novo


coronavírus)”


Wilson Poit


SUPERINTENDENTE DO SEBRAE-SP


Com pandemia,


empresas tiveram de se


digitalizar ‘a fórceps’


A crise nos primeiros meses de vida


Empreendedores que abriram negócios às vésperas da pandemia contam as mudanças de planos e as estratégias adotadas para sobreviver


TABA BENEDICTO/ESTADÃO
MARCA DE

SERVIÇO


ESSENCIAL


39 dias com franquia


Delivery. Fernando Fiori,
dono de lavanderia
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