O Estado de São Paulo (2020-05-31)

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H2 Especial DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


PANDEMIA TROUXE ALERTA AO OBESO


SAÚDE


Mauricio Hirata já está ex-
perimentando o tal “novo
normal” ante a pandemia da
covid-19 desde que reabriu
sua clínica, na Vila Olímpia,
no último dia 11, após dois
meses fechada. Lá, oferece
até máscara face shield aos
pacientes. “Tem gente com
receio ainda, faz parte”, diz
à coluna o endocrinologista,
especializado em obesidade,
conhecido como ‘médico
dos famosos’.

Ele não revela nomes, nem
valores. Conta que se sentiu
“emocionado” nesse retor-
no. “Porque a gente cria vín-
culo afetivo e a falta de con-
tato gera tristeza”, diz o en-
dócrino que mantém a tele-
medicina e integra o corpo
médico clínico do Einstein.

Outra clínica renomada, a
Ravenna – nome do conheci-
do método de emagrecimen-
to trazido ao Brasil em
2009 pelo argentino Máxi-
mo Ravenna – segue fecha-
da, em Pinheiros. Mas o tele-
medicina e os grupos de ati-
vidades diversas no Zoom
estão ‘bombando’. Exem-
plo? Moema Soares, sócia
das três filiais


  • SP, Rio e Ba-
    hia –, lotou
    turma de spa
    online, com
    100 pessoas.
    Quando? Na
    semana de 8 a
    11, véspera do
    Dia dos Namo-
    rados.


Moema, como
Hirata, não
revela valores
dos tratamen-
tos – mas diz
que SP e BSB

têm os preços mais caros.
Seu método consiste em
quatro etapas de reeduca-
ção alimentar até chegar ao
“clube”. É a fase ‘ouro’.
Quem chegou lá? Dilma
Rousseff, que perdeu 18 qui-
los em plena campanha à
reeleição para presidente.

O Ravenna atende também
quem não precisaria perder
peso. Caso de Adriane Galis-
teu que “quis massa muscu-
lar”. “Ela é meu orgulho”,
diz Moema, que é engenhei-
ra química e, com o méto-
do, perdeu 47 quilos. Faz
manutenção com o ‘cardá-
pio gourmet’. “Eu e a Baby
Consuelo adoramos o bobó
de camarão com abóbora. A
ideia é emagrecer sem so-
frer”, conta, citando a canto-
ra cliente. O delivery do res-
taurante da clínica, aliás,
duplicou a demanda.

Com a covid-19, Moema no-
tou que obesos, mulheres
com “ninho vazio” e pes-
soas que moram sozinhas
reapareceram à clínica. “Na
obesidade, tem muita soli-
dão e ansiedade. Com isso,
come-se mais também. Fica-

mos alertas com a covid-19,
mas sem estressá-los”. Esses e
outros motivos fizeram o cen-
tro médico reforçar equipes
de terapia – disponíveis online
nos três turnos, incluindo nos
fins de semana.

A incógnita sobre quando se
dará o fim do isolamento im-
pôs preocupação de ordem
prática, na opinião de Hirata:
como atender pacientes com
doenças crônicas, que preci-
sam de acompanhamento espe-
cial? É o caso da obesidade.

O Ministério da Saúde apon-
tou, em abril, uma tendência
relacionada às mortes por coro-
navírus: a obesidade estava
mais presente nos óbitos de jo-
vens que nos de idosos. “A pes-
soa obesa tem três vezes mais
chances de ter complicação por
covid-19. O obeso tem artérias
inflamadas e até o pulmão”,
alerta Hirata – acrescentando
que diabéticos, hipertensos e
cardiopatas também estão nes-
se grupo que pode sofrer ver-
sões mais graves de covid-19.
“A telemedicina pode até ser
irreversível, mas nada substitui-
rá o contato humano”.

Ele atesta que o isolamento já


causou danos psi-
cossomáticos.
“Nós médicos
teremos que do-
minar essas ques-
tões emocionais”.
Outro problema é
o aumento expo-
nencial do consu-
mo de álcool na
quarentena. Ele
tem dito aos pa-
cientes que bebi-
da alcoólica é um
“falso relaxante”
e, com o tempo, a
sensação será de
dependência.

Com a pandemia, Hirata ob-
servou também as pessoas
dando mais valor à vida. “Pa-
ciente viu que não dá nem
pra gastar o dinheiro que
tem se não tiver saúde. Está
errado em deixar pra se cui-
dar só pós-pandemia”. San-
sei – terceira geração de japo-
nês, ele menciona diferenças
culturais que a covid-19 acen-
tuou. “Brasileiro é emotivo,
gosta de beijar, abraçar, acho
que vamos rever isso. O japo-
nês não tem esse hábito do
contato físico. Em Tóquio, o
governo removeu o estado
de emergência esta semana”,
compara o médico.

Aos 58 anos, Hirata, ao con-
trário de muitos na pande-
mia, parou de beber, perdeu
o apetite. “Parece que o mun-
do vai acabar. Há uma epide-
mia de pessimismo tam-
bém”, diz ele, que se isolou
na casa de praia na Riviera
de São Lourenço. Já Moema,
58 anos, sem previsão de rea-
brir a clínica, não pode vol-
tar para sua casa, em Salva-
dor. “Eu fazia três voos por
semana. Tô sofrendo de abs-
tinência”. \CECÍLIA RAMOS

Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]

Mariane Morisawa


ESPECIAL PARA O ESTADO


LOS ANGELES


Óvnis, década de 1950, Estado


do Novo México. Essas eram


apenas algumas das muitas


ideias para um longa-metra-


gem que Andrew Patterson co-


meçou a desenvolver em rotei-


ro nos últimos anos. “Pode pare-


cer maluco dizer isso, mas eu


achava que era um filme que po-


díamos fazer muito facilmente


e com pouco dinheiro”, contou


o diretor estreante em entrevis-


ta ao Estadão. “Porque eu que-


ria algo simples, parecido com


uma peça de teatro, com três ce-


nários só.” Claro que, na práti-


ca, a filmagem de The Vast of


Night, que já está à disposição


no Amazon Prime Video, foi


bem mais complicada. “É duro


achar carros e centrais telefôni-


cas antigos”, explicou o cineas-


ta. Mas, mesmo com poucos re-


cursos – a produção foi financia-


da pelo próprio Patterson –, o


resultado impressiona.


Na noite de um importante


jogo de basquete da minúscula


cidade de Cayuga, Everett (Jake


Horowitz), o jovem DJ da rádio


local, e Fay (Sierra McCor-


mick), a telefo-


nista, caminham


e conversam pe-


las ruas da cidade


quase deserta.


Eles falam rápi-


do, e a câmera


não mostra seus


rostos a princí-


pio. “O que eles dizem no início


não é importante. Eu queria es-


tabelecer a época e o lugar”, ex-


plicou Patterson. “Sabemos


que os primeiros minutos são


decisivos para o espectador em-


barcar ou não no filme. Meu ob-


jetivo era que o público se incli-


nasse para prestar atenção.” Ba-


rulhos estranhos começam a


aparecer nas ligações telefôni-


cas feitas por Fay, e os dois in-
vestigam o assunto, enquanto
topam com desconhecidos que
falam que há alguma coisa no
céu da cidade. Um ouvinte (Bru-
ce Davis) liga para dizer que sa-
be de algo. Uma
outra moradora
(Gail Cronauer)
também parece
ter informações.
Patterson não
queria que The
Vast of Night pare-
cesse uma produ-
ção de 1958 nem de 2020. “Eu
não sou muito fã do que se faz
hoje, nem do estilo de atuação”,
afirmou o diretor. “Eu queria
que fosse atemporal. Em geral
os filmes que permanecem não
têm um estilo muito definido
da época em que foram feitos.
Evitei fazer muitos cortes, ângu-
los múltiplos de câmeras dife-
rentes. Minha missão era ser in-

teressante sem recorrer a esses
recursos, comuns em filmes de
ficção científica.”
Algumas das longas sequên-
cias são impressionantes. Pat-
terson teve a colaboração funda-
mental do diretor de fotografia

chileno Miguel Ioann Littin
Menz (Machuca). “Ele mergu-
lhou totalmente no projeto. Ti-
nha muita coisa para ele ilumi-
nar, um ginásio, campos, flores-
tas, ruas, estacionamentos, tu-
do à noite. Ele teve de criar toda

a luz e estava disposto ao risco,
porque eu queria que o filme fos-
se diferente dos outros passa-
dos nos anos 1950.”
A segurança para arriscar em
sequências longas com a câme-
ra passeando pela cidade veio

de anos de experiência. The
Vast of Night pode ser o primei-
ro longa de Patterson, mas ele
tem quase duas décadas traba-
lhando com audiovisual, com
sua produtora GED, baseada
em Oklahoma City. Lá, entre ou-
tras coisas, filma o time da NBA
Oklahoma City Thunder. “Não
só durante o jogo, mas antes e
depois também. São atletas de
renome, você não pode pedir pa-
ra eles amarrarem o tênis uma
segunda vez ou voltar e fazer al-
go de novo. É preciso pegar de
primeira.” Uma das várias ve-
zes em que ele esteve no Brasil,
teve apenas uma hora para fil-
mar no Estádio do Maracanã va-
zio. “Por isso não apenas tinha
os equipamentos necessários,
como câmeras, como consegui
rodar em apenas 17 dias.”
Sua paixão pelo cinema come-
çou ainda adolescente, traba-
lhando como projecionista
num cinema local. “Eu literal-
mente segurava latas de pelícu-
la 35mm nas mãos toda noite. E
um dos gerentes me disse uma
vez que eu poderia ser diretor
um dia. Fiquei com aquilo na ca-
beça. E comecei a fazer vídeos
sobre qualquer coisa, desde que
me pagassem.” Estando fora do
eixo Nova York-Los Angeles, se-
ria difícil conseguir dinheiro pa-
ra um longa. “Eu sabia que teria
de financiá-lo. Por isso queria
fazer algo bom.”
O sucesso nos festivais Slam-
dance e de Toronto levaram à
aquisição pela Amazon, que pre-
tendia lançar The Vast of Night
nos cinemas. “No último ano,
não me senti preterido por es-
tar em Oklahoma.” A pandemia
acabou atrapalhando os planos,
ainda que o filme tivesse tido
algumas sessões em drive-ins.
“Era um projeto criativo, pes-
soal e pequeno, nunca achei
que seria visto fora de festivais
de cinema. Claro que teria sido
lindo exibi-lo na tela grande.
Mas no streaming vai viver para
sempre, muita gente vai poder
ver. Então sinto gratidão.”

lO Sebrae SP bate recordes
de atendimento. Maioria das
mentorias por telefone são
orientações para sobrevivência
de pequenos negócios. Wilson
Poit reforça que o Sebrae está
apoiando os empreendedores
na busca por Microcrédito, as-
sim como Inclusão Digital.

lAs voluntárias da Na'amat


SP, junto ao grupo “Melhor
aos 50”, doarão de 7 mil másca-
ras de tecido. Estão sendo con-
feccionadas em duas oficinas.

lFernanda Souza, do Atma,
e Buffet Vivi Barros já distribuí-
ram 18 mil marmitas, 16,5 mil
máscaras e 7 mil aventais para
hospitais públicos e moradores
da comunidade de Heliópolis.

RESPONSABILIDADE
SOCIAL

POLAROID


O maestro João Carlos Martins elegeu o pijama co-
mo seu traje de confinamento – faz três trocas diá-
rias: ao acordar, após o banho e quando vai dormir.
“As máquinas de lavar estão trabalhando muito”,
brinca. Ele estuda piano sete horas por dia com
suas novas luvas biônicas e se prepara para uma
live no seu aniversário de 80 anos, em 25 de junho,
com participações de Jô Soares, Alexandre Nero e
Tom Cavalcanti, entre outros. A comemoração ofi-
cial aconteceria em outubro deste ano no Carnegie
Hall – mas ficou para 2021.

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ÓVNIS NO NOVO


Moema
Soares

ARQUIVO PESSOAL

Mauricio
Hirata

AMAZON STUDIOS

SILVANA GARZARO/ESTADÃO

‘EU QUERIA UM


FILME ATEMPORAL.


MINHA MISSÃO ERA


SER INTERESSANTE’


IKE LEVY

Caderno 2


Elogiado suspense de Andrew Patterson, que estreou no


streaming, foge do lugar-comum das ficções científicas


MÉXICO


Enxuto. Pouca verba no longa ‘The Vast of Night’, com Jake Horowitz (esq.), como DJ, e Sierra McCormick, a telefonista

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