O Estado de São Paulo (2020-05-31)

(Antfer) #1

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H8 Especial DOMINGO, 31 DEMAIODE 2020 OESTADODES.PAULO


Bianca Gomes


Marina Cardoso


ESPECIAL PARA O ESTADÃO


Da creche ao pós-doutorado, to-


dos os níveis da Educação sofre-


ram com o avanço da pandemia


no Brasil e no mundo. Às pres-


sas, escolas e universidades tive-


ram de adaptar um novo plano


pedagógico para dar seguimen-


to ao aprendizado dos alunos


mesmo longe do espaço esco-


lar. Passados dois ou até três me-


ses desde o início das respecti-


vas quarentenas, agora países


começam a ensaiar a retomada


das aulas presenciais e tentam


lidar com os impactos desse ce-


nário emergencial e completa-


mente novo. Mas descobrir


qual o plano ideal está longe de


ser uma tarefa fácil.


Um exemplo claro desse com-


plexo desafio aconteceu na


França. Uma semana após a vol-


ta às aulas de um terço das crian-


ças do país, o governo mapeou


novos casos de coronavírus em


70 escolas rea-


bertas e deci-


diu fechá-las.


Parte do


problema é


simples de


identificar,


mas difícil de


resolver. É


complicado obrigar crianças


que passaram meses sem conta-


to físico a encarar uma realida-


de em que as carteiras estão


mais separadas, as turmas, redu-


zidas, e máscara e álcool em gel


ainda são itens obrigatórios.


Mesmo assim, países do su-


deste asiático, como Cingapu-


ra, já dão exemplo de que, com o


tempo, essas medidas podem


ser incorporadas à rotina dos es-


tudantes. A brasileira Gisele Bir-


se mora no país há pouco mais


de um ano e conta que medir


temperatura, conferir as mãos e
a boca dos alunos e fazer a desin-
fecção das mãos com álcool em
gel antes do início das aulas já
eram medidas adotadas na esco-
la do filho mais velho, Ian, de 5
anos, antes da pandemia.
Em Portugal, creches e tur-
mas dos últimos anos do ensino
médio voltaram em 18 de maio,
também com turmas reduzidas
e rodízio de professores. Já as
turmas de ensino fundamental
devem finalizar o ano letivo, em
junho, a distância.
Christiane Gameiro, de 39
anos, é professora de inglês em
Lisboa e mãe de duas meninas,
Sofia, de 7, e Helena, de 2 anos.
A mais nova voltou à creche na
semana passada. A brasileira
conta que a escola mandou um
comunicado antes de retomar
as aulas para montar um horá-
rio conforme a demanda. As au-
las agora são num pátio aberto,
a sala de descanso foi ampliada,
as refeições são feitas no mes-
mo lugar que as classes e os pais
não podem
mais acompa-
nhar as crian-
ças até a sala.
Há recomen-
dações para
evitar o com-
partilhamen-
to de brinque-
dos e manter a distância de 1,5
metro entre as crianças.

Volta às aulas no Brasil. Aqui,
uma das unidades da rede Ma-
ple Bear, em Sinop (MT), reto-
mou as aulas presenciais no iní-
cio de maio, após a publicação
de decreto municipal que auto-
rizava a retomada gradual.
Os protocolos incluem mu-
danças nos espaços de refei-
ções e higienização bucal. Para
a chegada dos estudantes, por
exemplo, a escola delimitou um

espaço como área suja, onde cal-
çados, bolsas e mãos são higieni-
zados e é feita a medição da tem-
peratura corporal, que não po-
de passar de 37,7°C. Só após es-
se processo os alunos entram e
vão direto para a sala.
“Na primeira semana, houve
o retorno de 58% dos alunos.
Agora (terceira semana), esta-
mos com 78%”, conta Danicler
Bavaresco, franqueado da rede.
A escola mantém o ensino a dis-
tância para as famílias que opta-
rem pelo isolamento social.
Em São Paulo, o governo esta-
dual anunciou um plano de fle-
xibilização da quarentena divi-
dido em cinco fases, mas Educa-
ção e Transporte ainda são ativi-
dades sem definição de como se-
rá a retomada. Em nota, a Secre-
taria Estadual de Educação afir-
ma que vem realizando reu-
niões com instituições públicas
e privadas para organizar a reto-
mada planejada das aulas pre-
senciais e que a volta será gra-
dual e regionalizada.

Diferenças. Analisar o que ou-
tros países estão fazendo é im-
portante e pode até auxiliar no
planejamento aqui, mas é preci-
so considerar as evidentes dife-
renças estruturais.
Claudia Costin, diretora do
Centro de Excelência e Inova-
ção em Políticas Educacionais
(CEIPE-FGV), reforça a impor-
tância de uma busca ativa dos
alunos para identificar possí-
veis casos de abandono dos estu-
dos. “A tendência é de uma eva-
são escolar grande”, diz. Os mo-
tivos, segundo ela, vão desde o
medo dos pais de mandarem os
filhos para a escola até o jovem
ter se desinteressado após ficar
muito tempo longe dos estudos
ou ter optado por trabalhar na
informalidade porque a família
perdeu uma fonte de renda.

Marina Cardoso


ESPECIAL PARA O ESTADÃO


“Criança saudável ou doente?”


Essa é a primeira de uma série


de perguntas que agora fazem


parte do protocolo para a marca-


ção de horário no consultório


pediátrico onde a brasileira Pris-


cila Elsbach, de 32 anos, costu-


ma levar seus três filhos. A famí-


lia mora em Hessen, na Alema-


nha, um dos países em que as


medidas para relaxar o confina-


mento já começaram.


Triagens detalhadas como es-


sa passaram a fazer parte da no-


va rotina para clínicas médicas


e odontológicas em todo o mun-


do após a pandemia provocada


pelo coronavírus. Assim como a


obrigatoriedade de aumentar o


intervalo de atendimento entre


os pacientes, tanto para promo-


ver uma desinfecção cuidadosa


quanto para evitar muitas pes-


soas nas salas de espera.


A assistente escolar Priscila,
que é casada com um alemão,
conta que o atendimento no
consultório do pediatra é feito
de acordo com a necessidade
de cada criança. “Aqui, os horá-
rios agora são separados para
crianças que estão em busca de
tratamentos preventivos ou va-
cinas e para as que estão doen-
tes ou apresentam algum pro-
blema aparente”, diz.
Os pais também são orienta-
dos para que apenas um adulto
acompanhe a criança e os aten-
dimentos devem ser agendados
por telefone. “Caso contrário,
há um aviso de que ‘infelizmen-
te’ seremos mandados de volta
para casa se aparecermos no
consultório sem uma consulta
marcada”, conta. No site do pe-
diatra, há também aviso de que
até o fim de setembro a espera
por um atendimento ou um exa-
me pode demorar mais tempo
do que o normal. Tudo para re-
duzir a lotação e o tempo gasto
nas salas de espera.
No Brasil, a preocupação co-
meçou antes do fim da quaren-
tena. Patrícia Savoi é médica nu-
tróloga e parte da sua agenda
agora é preenchida por teleaten-
dimentos, que foram regula-

mentados pelo Ministério da
Saúde. O consultório em São
Paulo ficou reservado apenas
para atender os casos mais ur-
gentes. “Além do reforço nos
equipamentos de proteção, co-
mo máscaras e viseiras, eu fazia
tudo sozinha”, conta Patrícia.
Agora, são no máximo dois pa-
cientes por hora.
A estratégia também está nos
planos da dermatologista Gise-
le Torok. Ela se prepara para me-
didas mais rígidas, como aferi-
ção de temperatura e uso obriga-
tório de máscaras e propés (tou-
ca colocada nos pés calçados)
para pacientes e funcionários.
Já no consultório da oftalmope-
diatra Sophia Zanatta, o espaço
da brinquedoteca está fechado
desde março. “E deve conti-
nuar assim por um tempo.”
Nos consultórios odontológi-
cos, o retorno às atividades é
um desafio à parte. A área é uma
das que mais oferecem riscos e,
por isso, precisa de atenção re-
dobrada, como explica Rodrigo
Beltrão, coordenador de pós-
graduação em Odontologia da
Imed, em Porto Alegre.
O Conselho Federal de Odon-
tologia (CFO) orienta que ape-
nas casos urgentes sejam atendi-
dos e reforça o uso de protetor
facial, óculos de proteção, aven-
tal e luvas descartáveis, gorros e
máscaras N95. “A preocupação
decorre da inevitável proximi-
dade entre paciente e dentista e
frequente uso de aparelhos com
aerossóis. Isso pode espalhar go-
tículas de saliva e de sangue pe-
lo consultório”, explica Beltrão.

FRANÇA TEVE DE FECHAR


70 COLÉGIOS DEPOIS DE


MAPEAR NOVOS CASOS


DE CORONAVÍRUS


Estações de desinfecção e salas com capacidade reduzida


foram adotadas em outros países, mas logística é complicada


Vidas em Quarentena*


ESCOLAS:


VOLTA COMPLEXA


E DESAFIADORA


Itália.
Cliente
durante
curso
individual
com
personal
trainer em
Roma, após
academias e
piscinas
reabrirem Polônia. Antes de entrar em escola em Rzeszow, alunos têm temperatura verificada

Portugal. Sapatos das
crianças são guardados em
sacos plásticos antes de
entrar na sala de aula

Paris. O designer
francês Christophe
Gernigon (D) prova
sua criação Plex’Eat,
bolha de plexiglas
que protege da covid

ESTELA SILVA/EFE

LUCIANO DEL CASTILLO/EFE

Médicos e dentistas


estabeleceram medidas


de segurança para o


‘novo normal’ das


consultas


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