O Estado de São Paulo (2020-05-31)

(Antfer) #1

OESTADODES.PAULO DOMINGO, 31 DEMAIODE 2020 Especial H9


COMER FORA,


SÓ COM RESERVA


Gilberto Amendola
Luísa Laval

De forma controlada, a Europa
começa a reabrir restaurantes,
bares e cafés. Em países como
Itália e Espanha, aos poucos, a
vida social vai se adequando ao
mundo pós-pandemia. Esse mo-
vimento tem sido acompanha-
do de perto por empresários
brasileiros, que também já co-
meçam a vislumbrar medidas
para uma futura reabertura.
Proprietária de casas emble-
máticas em São Paulo, como Ca-
sa do Porco, Bar da Dona Onça e
Hot Pork, Janaína Rueda tem
mantido contato com outros
donos de restaurante pelo mun-
do. “O que a gente percebe é
que a retomada tem de aconte-
cer seguindo uma série de
ações”, diz. Essas medidas in-
cluem distanciamento de me-
sas, medição de temperatura
dos clientes na porta e algo que
a Casa do Porco não imaginou
que um dia fosse implementar:
o sistema de reservas – um dos

protocolos sanitários do gover-
no de São Paulo para a volta des-
se tipo de estabelecimento, a
partir da fase 3 (o Estado entra
em 1.º de junho na fase 2). “Va-
mos ter de adotar o sistema pa-
ra evitar a formação de filas.”
Proprietário de casas como
Riviera e Bar dos Arcos, em São
Paulo, Facundo Guerra lembra
que, assim como aconteceu na
Espanha, apesar dos protoco-
los, ainda será necessário en-
frentar o fator psicológico e o
medo das pessoas de sair de ca-
sa. Ainda assim, Facundo já co-
meça a imaginar formas de rece-
ber clientes em um espaço co-
mo o Bar dos Arcos (localizado
embaixo do Teatro Municipal).
“Uma das ideias é vender a en-
trada antecipada, como se fosse
para um musical, com sessões e
horários específicos, que po-
dem ser divididos entre 19h e
22h, por exemplo – com um in-
tervalo para higienização do es-
paço”, afirma Facundo.
Boram Júlio Um, proprietá-
rio do Um Coffe Co., já dese-
nhou um protocolo próprio de
reabertura para as unidades do
seu negócio. “Vamos desenvol-
ver, por exemplo, um cardápio
com coisas mais fáceis de levar
e itens descartáveis”, diz. Além
disso, ele pensa em medidas efe-
tivas como o espaçamento

maior entre mesas e painéis de
acrílico para separá-las. “Tam-
bém vamos criar estações de hi-
gienização.”
A proprietária do Ambar Julia
Fraga defende um relaxamento
nas restrições para mesas e ca-
deiras nas calçadas. “Ao menos
nesse período, essa medida se-
ria importante para o setor.”

Self-service na mira. Mudan-
ças nos cardápios ou, pelo me-
nos, na forma de servi-los pare-
ce ser uma das saídas encontra-
das por diversos estabelecimen-
tos. Chef e proprietária do Ca-
pim Santo, Morena Leite não
volta com o bufê de almoço pe-
lo menos durante a primeira fa-
se de reabertura – o governo de
São Paulo recomenda que res-
taurantes com esse tipo de servi-
ço coloquem um funcionário pa-
ra servir os clientes, mantendo
o distanciamento. “Vamos estu-
dar outro formato”, diz ela.
O presidente executivo da As-
sociação Brasileira de Bares e
Restaurantes (Abrasel), Paulo
Solmucci, acredita que, ao me-
nos em um primeiro momento,
restaurantes e bares devem ope-
rar com metade ou até um terço
da capacidade. Ele fala ainda
em pagamentos sem contato,
cardápios escritos em lousa, ser-
viços de retirada nos próprios
restaurantes e oferecimento de
luvas para os clientes de self-ser-
vice. Mas Solmucci aposta tam-
bém no papel do cliente nessa
retomada. “O consumidor pre-
cisa ajudar nos procedimentos
de distanciamento.”

Beatriz Bulla
CORRESPONDENTE / WASHINGTON
Paulo Beraldo

Era difícil ver americanos com
drinques ou um copo de cerveja
nas mãos, circulando pelas ruas
de grandes cidades como Nova
York e Washington antes da
pandemia. As autoridades esta-
duais restringem o consumo de
bebida alcoólica em locais públi-
cos. Mas dois meses de isola-
mento social depois, e com tem-
peraturas de quase verão, o ce-
nário mudou. Se há algo que se
mostra como consenso no “no-
vo normal” das diferentes re-
giões dos Estados Unidos, país
que tem cerca de 100 mil víti-
mas do novo coronavírus, é que
a vida nos próximos meses será
nas áreas externas.
Nos últimos dois fins de se-
mana, calçadas ficaram cheias
em frente a bares que vendiam,
às vezes por uma janela, “bebi-
das para viagem” em Nova
York. A preocupação dos poli-
ciais que transitam pelas ruas
da cidade agora não é a de che-
car quem carrega bebida alcoóli-
ca nos parques, mas evitar que
os pequenos grupos formem
aglomerações.
Com os primeiros sinais de
que o número de novas infec-
ções por coronavírus está dimi-
nuindo, os Estados Unidos co-
meçaram no fim de maio a dar
passos em direção à reabertura
econômica. Assim como o pro-
cesso de isolamento, a retoma-
da das atividades é bastante di-
ferente entre os Estados.
A vida “do lado de fora” foi
adotada pelos americanos an-
tes mesmo que as autoridades a
estimulassem. Uma pesquisa
do Instituto Gallup divulgada
no fim de maio indicou que 44%
dos americanos estão usando o
serviço de retirada na calçada
para buscar comida em restau-
rantes. O resultado é 18 pontos
porcentuais acima do que foi
medido entre o fim de março e o
início de abril. A tendência é
que os serviços desse tipo ga-

nhem ainda mais força.
Fechar as ruas para o tráfego
de carros tem sido uma opção
em cidades com alta densidade
populacional, como Nova York,
para garantir que pedestres ca-
minhem com distância de ao
menos 2 metros uns dos outros.
Em parques e no chão de ruas
comerciais de grandes cidades,
é comum a marcação com tinta
colorida, que indica onde cada
cliente deve esperar para reti-
rar seu produto, garantindo dis-
tanciamento nas filas. Nos res-
taurantes que reabriram, a
maior parte das mesas precisa
ficar desocupada, bufês de sala-
das e comidas estão suspensos
e ainda não é permitido ficar em
pé próximo ao bar. Na Flórida,
os restaurantes podem receber
25% da capacidade máxima. No
centro de Las Vegas, a permis-
são para colocar mesas e aten-
der clientes na calçada faz parte
da primeira fase de reabertura
de restaurantes.

‘Serviços de calçada’. A Apple
anunciou que pretende reabrir
100 das pouco mais de 200 lojas
nos EUA ainda nesta semana. A
reabertura é vista como um mo-
vimento importante para a
energização de centros comer-
ciais. Por enquanto, a maioria
das lojas vai operar em “servi-
ços de calçada”. Isso significa
que os clientes poderão buscar
um produto previamente com-
prado pela in-
ternet ou con-
seguir atendi-
mento e apoio
técnico do la-
do de fora.
Nos espa-
ços que tive-
rem atendi-
mento interno, a empresa vai
oferecer máscaras e limitar o nú-
mero de clientes.

Europa. Na Europa pós-coro-
navírus, funcionários desinfe-
tam ruas de madrugada, merca-
dos têm avisos no chão exigin-
do distanciamento social e a
maior parte dos negócios que
voltaram a funcionar tem re-
gras novas. Após quase 60 dias,
os franceses agora podem sair
de casa, mas a vida está longe do
que era há alguns meses. Másca-
ras são obrigatórias no transpor-
te público e para viajar por mais

de 100 km pelo país é preciso
autorização. Fronteiras perma-
necem fechadas. “A abordagem
será didática, mas em caso de
recusa, a pessoa pode ser multa-
da”, explica Gilles Pecassou, en-
carregado de negócios da Em-
baixada da França no Brasil.
A Espanha também flexibili-
za medidas após o lockdown im-
posto em 14 de março – só farmá-
cias e mercados funcionavam.
Padarias, açougues e restauran-
tes voltaram a funcionar, mas
somente para retirada ou deli-
very. As lojas funcionam de um
jeito novo.
“Tudo com muitas medidas
restritivas e de segurança. Está
muito diferente”, compara a
brasileira Pamela Van Melis, de
25 anos, que mora em Barcelo-
na, na Catalunha, segunda re-
gião mais afetada, depois de Ma-
dri. Pamela vive em uma movi-
mentada avenida e viu o fluxo
de turistas e espanhóis cair.
Na Espanha não é obrigatório
o uso de máscaras nas ruas, mas
nas lojas e mercados, sim. Al-
guns feirantes só aceitam car-
tão para não pegar em dinheiro.
Outros vendem hortifrúti em
pacotes fechados. Desde o dia
26 de maio, cinemas e teatros
podem funcionar, mas com um
terço da capacidade. O mesmo
vale para espaços religiosos.
Na Alemanha, a reabertura es-
tá mais avançada, e a maior eco-
nomia europeia permitiu até
mesmo a volta
das partidas
do campeona-
to de futebol,
a Bundesliga.
Sem torcida. A
Itália, dura-
mente atingi-
da pela pande-
mia, está reabrindo aos poucos
após mais de dois meses de con-
finamento. Salões de cabeleirei-
ro, comércios e bibliotecas fun-
cionam com regras variadas.
Na Dinamarca, que está na se-
gunda fase de reabertura, a lição
é clara: tudo depende do cuida-
do das pessoas. O varejo está
aberto, bem como restaurantes,
cafés e escolas. “O que mais im-
porta é como cada um se com-
porta”, diz o embaixador da Di-
namarca no Brasil, Nicolai
Prytz. “Se a situação epidemioló-
gica piorar, os planos (de reaber-
tura) podem ser renunciados.”

44% DOS AMERICANOS


ESTÃO USANDO O


SERVIÇO DE RETIRADA NA


CALÇADA, DIZ PESQUISA


EUA REDESCOBREM


A VIDA AO AR LIVRE


Para reabrir, bares e


restaurantes devem


adotar medidas como


venda de pacotes com


horários determinados


Na Europa, comércio


é retomado aos poucos,


com regras rígidas
para evitar segunda

onda da doença


DAREK DELMANOWICZ/EFE

Itália.


Cliente


durante


curso


individual


com


personal


trainer em


Roma, após


academias e


piscinas


reabrirem Polônia. Antes de entrar em escola em Rzeszow, alunos têm temperatura verificada


THIBAULT CAMUS/AP
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