O Estado de São Paulo (2020-06-01)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-2:20200601:
B2 Economia SEGUNDA-FEIRA, 1 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Primeira Pessoa


E-MAIL: [email protected]

A


o falar sobre as medidas a se-
rem adotadas pelo governo pa-
ra reparar os estragos econô-
micos provocados pela covid-19, o mi-
nistro Paulo Guedes voltou a defen-
der a recriação da CPMF, agora traves-
tida de contribuição sobre pagamen-
tos digitais, para financiar a desonera-
ção total dos encargos patronais so-
bre a folha de salários. Com isso o mi-
nistro espera incentivar o emprego e
reduzir a informalidade.
É incrível como a CPMF vai e volta
nos planos da atual equipe econômi-
ca, apesar de todos os argumentos
contrários já expostos por vários reno-
mados economistas. Parece uma
ideia fixa. No entanto, ela é completa-
mente equivocada.
É enganoso o argumento de que tal
tributo incide mais sobre as pessoas
de alta renda, dado que estas realizam
transações financeiras de elevado va-
lor. Na verdade, trata-se de um tribu-
to indireto, que onera o processo de
produção e distribuição de bens e ser-
viços, com incidência cumulativa em
todas as suas fases. Quanto desse cus-
to será repassado ao consumidor final
depende das condições de oferta e de-
manda, tanto da economia como um
todo como de cada setor específico.
Ora, após a pandemia, com a maior
parte das atividades produtivas fragili-
zada, é o pior momento para aumen-
tar impostos indiretos.
Os efeitos nocivos da CPMF para a
alocação eficiente de recursos e, por-
tanto, para a redução da produtivida-
de da economia já foram sobejamente
discutidos, e não tratarei deles aqui.
A ideia de zerar a contribuição previ-
denciária sobre a folha de pagamen-
tos também é equivocada. Há, sim, jus-
tificativa econômica para reduzir tal
incidência, mas sua extinção comple-
ta não pode ser feita. A previdência
social deve ser, necessariamente, con-
tributiva. Se assim não fosse, poderia
haver arbitragens danosas ao equilí-
brio financeiro do sistema, na medida
em que se estimularia a declaração de
salários superiores aos efetivos.
Além disso, a eliminação total dos
encargos patronais incidentes sobre a
folha de salários implicaria perda de
receita superior a R$ 300 bilhões por
ano, segundo minhas estimativas. Pa-
ra ser compensada inteiramente pela
CPMF, seria necessário que o novo tri-
buto tivesse alíquota próxima a 1,5%.

Pela sua natureza cumulativa, incidin-
do nas várias fases do processo produ-
tivo, tal alíquota seria insuportável e
geraria fortes estímulos à evasão fis-
cal e à desintermediação financeira.
Mas isso não invalida o argumento
de que se taxa excessivamente o salá-
rio no Brasil. Se considerarmos as con-
tribuições previdenciárias do empre-
gado e do empregador, o FGTS, o se-
guro-desemprego e os vários penduri-
calhos como Incra, salário-educação
e sistema S, essa tributação supera
40%, muito acima da média interna-
cional, e se constitui em forte desestí-
mulo para a formalização do trabalho.
No entanto, há formas mais inteli-
gentes de financiar a redução desses
encargos.
Entre elas, vale destacar a institui-
ção do imposto sobre o carbono
(carbon tax), defendido por institui-
ções como o FMI, o Banco Mundial
e por economistas renomados co-
mo Nicholas Stern e Joseph Stiglitz.
Não é nada absurdo pensar numa
arrecadação de 1% do PIB com tal
tributo. Outras medidas que devem
ser estudadas incluem o fim dos pri-
vilégios de profissionais de alta ren-

da propiciados pelo atual regime de
tributação pelo lucro presumido e a
redução de pelo menos parte das re-
núncias fiscais.
Por fim, é preciso aprovar a PEC 45
(Imposto sobre Bens e Serviços). Ela
não se propõe a aumentar a carga tri-
butária, mas tem impactos positivos
significativos no crescimento econô-
mico, pois desonera investimentos,
acaba com a guerra fiscal, simplifica o
sistema tributário e melhora o am-
biente de negócios. O economista
Bráulio Borges (Ibre/FGV) estima
que tal reforma provocaria aumento
acumulado do PIB potencial de 25%,
em 15 anos.
A área econômica do governo preci-
sa abandonar suas ideias fixas e apoiar
medidas que, de fato, estimulem o
crescimento.

]
ECONOMISTA, DIRETOR-PRESIDENTE DA
MCM CONSULTORES, FOI CONSULTOR DO
BANCO MUNDIAL, SUBSECRETÁRIO DO TE-
SOURO NACIONAL E CHEFE DA ASSESSORIA
ECONÔMICA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA

Com a atividade produtiva
fragilizada, é o pior
momento para aumentar
impostos indiretos

A


pós concluir a aquisição de ativos da Nufarm no Brasil, a Sumitomo
Chemical investe em sua estrutura para impulsionar as vendas de de-
fensivos químicos e biológicos no País. A empresa prevê aplicar aqui
de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões por ano até 2025. A capacidade de produ-
ção de herbicidas na fábrica de Maracanaú (CE) será ampliada de 25% a 30%,
e o espaço para armazenamento, em 20%. Também serão construídos dois
centros de distribuição em Ariquemes (RO) e Querência (MT) e ampliados
os laboratórios do Centro de Pesquisa para América Latina em Mogi-Mirim
(SP). Todos os projetos foram mantidos independentemente da pandemia
de covid-19. A empresa prevê aumentar em 50% a receita no País em cinco
anos. “Quando o negócio cresce nessa proporção, tem que expandir estrutu-
ra, produção e pesquisa”, justifica Juan Agustin Ferreira, presidente da Sumi-
tomo Chemical na América Latina. Na área agrícola, o Brasil representa 15%
do faturamento global e pode chegar a 35% em 2025.


CPMF, uma ideia fixa


»Grão de ouro. A aposta para os
próximos anos no Brasil está na soja.
A Sumitomo desenvolveu um fungici-
da contra ferrugem, em avaliação pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitá-
ria, que pode chegar ao mercado na
safra 2021/2022. “Acreditamos que o
produto vá gerar um crescimento im-
portante das vendas”, conta Ferreira.


»Vem aí. O executivo diz que cultu-
ras como soja e milho devem ter bom
desempenho este ano. “Nos grandes
cultivos voltados à exportação acredi-
tamos que o produtor se beneficiará
da desvalorização do real.” Do lado da
importação de matérias-primas, que
no caso da Sumitomo Chemical vêm
de Japão, China e Estados Unidos, a
empresa relatou não ter tido proble-
mas até o momento com a pandemia.


»Penduricalhos. A Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA) foi atrás da Federação Brasilei-
ra de Bancos (Febraban) para buscar
meios de reduzir “penduricalhos” co-
brados de produtores na contratação
de crédito. Em reunião na semana
passada sobre o Plano Safra 2020/21,
Bruno Lucchi, superintendente técni-


co da CNA, disse que agricultor rara-
mente paga só a taxa do crédito.
“Além de uns 2% referentes à análise
de projeto, há imposto, outros juros,
fora a venda casada.” Com o Plano
prestes a ser lançado, ele diz que há
pontos que cabem ao governo flexibili-
zar; outros estão nas mãos dos bancos.

»Cadê? A venda casada – quando
gerentes condicionam a liberação de
crédito à compra de produtos bancá-
rios – é queixa recorrente. A prática
de atrelar títulos de capitalização, se-
guros, consórcios ao contrato é proibi-
da, mas produtores em geral aceitam,
temendo comprometer a relação com
sua agência, explica Lucchi. “Criamos
canal de denúncia anônima em no-
vembro de 2019 e choveu denúncia.”

»Na palma da mão. O AgriHub, po-
lo de inovação tecnológica da Federa-
ção da Agricultura e Pecuária do Esta-
do de Mato Grosso (Famato), lança
hoje uma plataforma para conectar
produtores a novas soluções. O Agri-
Hub Play terá início como um canal
no Youtube com influenciadores digi-
tais e técnicos do setor, conta Otávio
Celidônio, coordenador do Agrihub.

»Pelos trilhos. A Brado, subsidiária
da Rumo que atua em logística de con-
têineres, está transportando mais algo-
dão por ferrovia. Douglas Goetten, di-
retor comercial, conta que o pico de
movimentação foi no primeiro trimes-
tre, com volume 200% acima de igual
período do ano passado. De agosto de
2019 a abril deste ano a companhia
movimentou 10.500 TEUs (medida
padrão de contêineres) entre o termi-
nal de Rondonópolis (MT) e o Porto
de Santos (SP). O mercado externo
tem demandado mais algodão do Bra-
sil nesta temporada.

»Na onda. A Tópico, empresa de ar-
mazenamento, calcula que pode fe-
char maio com 260% mais contratos
com o setor sucroalcooleiro que em
igual período de 2019. Na crise, o eta-
nol está cedendo espaço para o açú-
car nas usinas e dobrou a demanda
de locação dos galpões flexíveis da
empresa na safra 2020/21. “O período
de maio a julho deste ano deve ser
um dos melhores na história da Tópi-
co, especialmente porque estamos
suprindo o déficit de armazenagem
para o açúcar”, conta Sergio Gallucci,
diretor comercial.

»Mais dinheiro. A Banca Ética Lati-
noamérica, ligada ao europeu Tríodos
Bank, chega ao Brasil como um fundo
com ambição de virar banco e que de-
ve contribuir para o financiamento da
agropecuária. De imediato, aplicará
recursos de gestores de fundos do País
em projetos de educação e cultura, de-
senvolvimento social e meio ambiente


  • braço que abarca agricultura e cria-
    ção de animais. “Somos uma institui-
    ção rentável, que aplica dinheiro nas
    necessidades da sociedade”, diz Sebas-
    tián Cantuarias, diretor executivo da
    Fundação Dinheiro e Consciência, à
    frente da iniciativa.


»Tem para todos. A Banca Ética de-
ve investir em seus primeiros 12 meses
de Brasil cerca de US$ 10 milhões em
projetos piloto, segundo Cantuarias.
Agricultura orgânica e convencional,
além de pecuaristas que desejem me-
lhorar suas práticas, estão no foco. A
estimativa é de que, em 14 anos, a Ban-
ca movimente mais de US$ 131 bilhões
no mercado brasileiro.

POR LETICIA PAKULSKI, CLARICE COUTO,
ISADORA DUARTE e JULLIANA MARTINS

C


riada há 3 anos, a fintech Moe-
da nasceu oferecendo progra-
ma de microcrédito e acelera-
ção voltados para agricultoras, peque-
nas cooperativas e artesãs, com obje-
tivo de fomentar a agricultura fami-
liar e comunidades quilombolas.
Idealizadora do projeto, Taynnah
Reis, 32 anos, levantou US$ 20 mi-
lhões por meio de uma oferta inicial
de criptomoedas (ICO, na sigla em
inglês), com investidores chineses,
interessados no projeto de inclusão
de Taynnah. Um pouco antes da qua-
rentena, a Moeda lançou uma plata-
forma marketplace para fomentar a
venda de alimentos orgânicos e arte-
sanato. O negócio foi impulsionado
durante a crise da covid-19 e deverá
superar a meta de R$ 500 mil em

vendas no primeiro ano de operação.

lO que é a Moeda?
É uma fintech com foco ambiental e
segurança alimentar, que busca traba-
lhar não só com microcrédito, mas
com um grupo de empresas com fo-
co ambiental e segurança alimentar.

lComo a Moeda faz a ponte entre os
empreendedores e o consumidor?
Criamos uma plataforma de market-
place que coloca o produtor direto
com o consumidor final. O pagamen-
to é feito online e cai direto na conta
do empreendedor.

lO que é comercializado?
São produtos agrícolas orgâni-
cos e artesanatos locais.

lO projeto não foi altera-
do por conta da covid?
Pelo contrário. A pan-
demia sensibilizou as
pessoas, que passa-
ram a ajudar o pe-
queno produtor lo-
cal e passaram a
comprar dessa co-
munidade porque
entendem que as
grandes redes de
varejo têm con-

dições de atravessar a crise. A nossa
meta é de atingir R$ 500 mil em ven-
das no primeiro ano de operação. Só
nesses dois meses, atingimos R$ 100
mil. O delivery era a nossa segunda
opção, mas virou tema principal por
conta da crise.

lEm quais regiões a Moeda atua?
Atuamos em cinco Estados – Goiás,
Minas Gerais, Ceará, Paraná e São
Paulo, além do Distrito Federal.

lOriginalmente, o projeto da Moeda era
oferecer microcrédito a pequenos em-
preendedores. Quanto já foi alocado?
Temos alocados R$ 5 milhões em
crédito e microcrédito em 23 proje-
tos iniciados. Temos uma carteira de
50 projetos e pretendemos captar
ainda este ano entre R$ 50 mi-
lhões e R$ 100 milhões com fun-
dos de impacto social.

lDe onde vem a inspiração do
seu projeto?
Trabalhei 16 anos fornecen-
do serviço de tecnologia
ao governo. Também me
inspirei no meu pai, que
trabalhou com agricultu-
ra familiar e cooperati-
vas. / / MÔNICA
SCARAMUZZO

Opinião


l]
CLAUDIO ADILSON
GONÇALEZ

lAvançando

15%
é a projeção de crescimento da Tópico
este ano, em receita total, mesmo
sob a pandemia de coronavírus

Sumitomo investe para


ampliar vendas no País


coluna do


O Mapa da Bolsa


‘De sementinha


em sementinha a


gente cresce e


conquista espaço’


SUMITOMO CHEMICAL

Azul PN

Multiplan ON

Suzano S.A. ON

GOL PN

Iguatemi ON

21,54%

35,08%

31,75%

-5,90%

14,29%

● As ações que mais subiram e as que mais caíram
na semana passada

FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO

OBS.: EMPRESAS QUE FAZEM PARTE DO ÍNDICE IBOVESPA

Melhores

Usiminas PNA

Via Varejo ON

Sabesp ON

Cogna ON

SID Nacional ON

Piores

Na semana Em 1 mês

-16,59%

-7,51%

-2,22%

-9,82%

-8,61%

0

30,30%

27,84%

22,98%

22,33%

21,41%

-3,51%

-2,36%

-1,94%

-1,64%

-0,37%

Fábrica em Maracanaú (CE). Produção de herbicidas será ampliada


Taynnah Reis,
Presidente e fundadora da fintech Moeda

RAFAELA JOAO - 11/4/
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