O Estado de São Paulo (2020-06-01)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-2:20200601:
A2 Espaçoaberto SEGUNDA-FEIRA, 1 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Milhões de brasileiros vão às
urnas em 2020 para escolher
os prefeitos e vereadores que
assumem o Legislativo e o Exe-
cutivo municipais pelo País a
partir do ano que vem.
O pleito conta com regras
novas. A principal delas, o fim
das coligações para vereado-
res, deve ter um impacto ex-


pressivo na corrida eleitoral.
Outra medida que deve ser vo-
tada em breve pelo Congresso
é o adiamento da votação por
causa da pandemia.
Regras do fundo partidário
e criminalização de fake news
também mudam a dinâmica.

http://www.estadao.com.br/e/naurna

E


mpurrado pela tecnolo-
gia, o mundo transfor-
ma-se em ritmo frenéti-
co. As mudanças no jornalis-
mo, ao contrário, vêm a con-
ta-gotas. Nas redações somos
diariamente submergidos pe-
la enganosa ideia de que para
acompanhar o compasso das
novidades que surgem do la-
do de fora é preciso, antes de
mais nada, um poderoso su-
porte financeiro. Não discor-
do que o dinheiro seja neces-
sário. No entanto, algumas
medidas capazes de reacen-
der esse potente, mas sono-
lento motor da mídia indepen-
dem de grandes fortunas.
Comecemos por derrubar
os padrões culturais que há
décadas ditam o trabalho nas
redações. Na prática, dentre
outras coisas, trata-se de en-
tender que a produção da notí-
cia começa pelo leitor. Nessa
lógica, a audiência deixa de
ser simples destinatária da in-
formação para ser também
sua proponente. Um proces-
so fácil de ser descrito, mas,
como em toda mudança de pa-
radigma, altamente complexo
em sua execução.
Nós, profissionais da im-
prensa, por mais absurdo e
contraditório que isso possa
parecer, nos acostumamos a
trabalhar de costas para a au-
diência. Uma frase que circu-
la na classe é que “jornalistas
escrevem para jornalistas”.
Ainda que dita quase sempre
em tom de brincadeira, reve-
la a sombria face da vaidade
da nossa profissão. Será que,
de fato, por vezes não temos
esquecido nossa função so-
cial para buscar a admiração
de colegas que, seguramente,
terão acesso ao material que
publicamos?
No jornalismo abalado pela
avalanche digital e que aos
poucos se reergue não há lu-
gar para a presunção. A única
obsessão permitida são os lei-
tores. Eles são a peça-chave
do trabalho editorial. Precisa-
mos descobrir quem são, suas
demandas reais, suas circuns-
tâncias, seus interesses. Preci-
samos confessar a nós mes-
mos, ruborizados, que desco-

nhecemos seus rostos.
Por muito tempo, enquanto
a publicidade ainda pagava as
contas dos veículos, ter aces-
so ao perfil médio do leitor
servia unicamente como su-
porte para a venda de anún-
cios. O levantamento ficava
normalmente sob a responsa-
bilidade das áreas comerciais
e raras vezes chegava às reda-
ções a ponto de impactar o
conteúdo. Com a queda da re-
ceita publicitária, o caminho
da monetização mudou: os lei-
tores deixaram de ser vistos
como meros consumidores
de produtos anunciados e pas-
saram a ser considerados po-
tenciais assinantes, futuros
adeptos dos modelos de asso-
ciação que se começam a vis-
lumbrar pelas redações do
mundo. O resultado financei-
ro dos veículos depende ago-
ra, em grande parte, daqueles

que não sabemos chamar pe-
lo nome e com os quais não
nos comunicamos.
Abrir canais de diálogo é ou-
tra forma simples e barata de
fortalecer os vínculos com a
audiência. A barreira para que
isso seja feito é, uma vez mais,
puramente cultural. A pesqui-
sa Potencial de membership e de
relacionamento com o público
nas redações brasileiras, encabe-
çada pela Orbis Media Review,
revela que nem todos os pro-
fissionais da mídia estão com-
pletamente abertos ao conta-
to com o público. Dentre os
entrevistados, 11% afirmaram
não ter o hábito de ler os co-
mentários dos leitores sobre
suas matérias. Outros 14% afir-
maram que nunca responde-
ram a tais comentários e 17%
não se lembravam de quando
havia sido a última vez que o
fizeram. A boa notícia é que
porcentagem relativamente al-
ta já demonstra ter incorpora-
do o hábito: 14% haviam se co-
municado com a audiência no
mesmo dia em que estavam

respondendo à entrevista e ou-
tros 21% afirmaram que na-
quela semana haviam entrado
em contato com os leitores. O
dado mais preocupante talvez
seja o tempo que afirmam es-
tar dispostos a dedicar a essa
tarefa: 51% disseram que reser-
variam uma hora por semana.
Muito pouco para quem tem
agora uma necessidade vital
de cativar o público. Os resul-
tados completos serão divul-
gados no webinário realizado
pela Orbis Media Review, um
hub de produção de conheci-
mento e análise de tendências
do Master em Jornalismo em
parceria com a Associação Na-
cional de Jornais (ANJ) e a As-
sociação Nacional de Editores
de Revistas (Aner), agendado
para o próximo dia 9.
Fortalecer os laços entre re-
dação e audiência não deve
ser entendido como uma es-
tratégia utilitarista. Ações de
motivação meramente finan-
ceira nesse campo nascem
com os dias contados. Os veí-
culos não necessitam apenas
de assinantes que nos pa-
guem as contas. Desejamos o
relacionamento porque nele
encontramos a razão de ser
de nossa profissão. Não exis-
tem jornalistas sem leitores.
Simples assim.
Demoramos muito para en-
tender que o digital não era
um concorrente em nosso se-
tor. Ficamos mais preocupa-
dos em defender a sobrevivên-
cia dos meios tradicionais e,
trancados em nossas convic-
ções, não percebemos que to-
do o entorno passava por pro-
funda transformação. Estáva-
mos certos de que éramos es-
senciais na vida da sociedade.
E, de fato, parece-me que so-
mos. Mas precisamos nos
abrir para o público, para que
também ele reconheça o valor
do jornalismo que faz diferen-
ça em sua vida. Desta vez a so-
lução parece depender apenas
de nós. Precisamos correr. Do
contrário, corremos o risco de
perder o bonde da história.

]
JORNALISTA. E-MAIL:
[email protected]

Jogador dos Celtics dirige 15
horas, de Boston a Atlanta,
para liderar ato contra a
morte de George Floyd.
http://www.estadao.com.br/e/floyd

URNAS


Regras eleitorais: o que muda em 2020


Empresária é acusada de su-
perfaturar contas de sua em-
presa de cosméticos para
superar os 10 dígitos na sua
conta bancária aos 21 anos.

http://www.estadao.com.br/e/forbes

l“Em que ponto o STF desrespeitou a Constituição? Eles estão agindo
dentro da lei.”
DIOGO LOURENÇO BONALDI CABRAL

l“Todo sábado o cara que está na Presidência sai para algum lugar,
provoca aglomeração, contrariando a OMS e seu próprio Ministério.”
LEANDRO ASSIS

l“Ditadura jamais. Agora, que podiam implodir o STF, isto sim. Só
julgam seus próprios interesses. Só estão lá por indicação.”
MARCELO POEPPL

l“Exigir ditadura militar não é liberdade de expressão, é crime. Que
os participantes desse ato sejam criminalmente responsabilizados.”
CARLOS ORTENBLAD

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Medida ocorre em meio à
explosão de novos casos de
covid-19 no país: em 24h,
foram registrados quase 8
mil infectados.

http://www.estadao.com.br/e/covidnaindia

Espaço Aberto


M


erecem reflexão as
palavras do ministro
da Educação da Fran-
ça sobre o retorno às aulas: as
consequências de não abrir
as escolas são muito mais sé-
rias do que a alternativa. Jun-
tamente com dois pesquisa-
dores da consultoria IDados,
Thaís Barcellos e Matheus
Souza, fizemos uma extensa
revisão das evidências cien-
tíficas sobre o que se pode es-
perar e aprender de situações
similares à presente. Aqui vai
uma brevíssima síntese.
Primeiro, há danos. Eles
tendem a incidir de maneira
desigual sobre pessoas e gru-
pos. Primeira infância e alu-
nos ainda não alfabetizados
serão os mais afetados no lon-
go prazo. São os menos autô-
nomos para aprender. Há um
momento certo para certas
aprendizagens, especialmen-
te no início da vida. No curto
prazo, os que concluem eta-
pas de ensino – especialmen-
te o ensino médio e superior



  • terão mais dificuldade de in-
    gressar no mercado de traba-
    lho. As perdas de aprendiza-
    gem pela paralisação de aulas
    são menos graves do que pare-
    ce. Na verdade, o que aconte-
    ce é mais interrupção de ga-
    nhos do que perdas propria-
    mente ditas. Quanto à desi-
    gualdade, seu eventual aumen-
    to no curto prazo tende a se
    recuperar ao longo dos anos.
    Segundo, a recuperação se
    dá em longo prazo, não no
    imediato. Aumentar dias e ho-
    ras de ensino não se confirma
    como estratégia promissora,
    especialmente se consistir em
    mais do mesmo e, pior ainda,
    se implicar doses maciças que
    acabam prejudicando a reten-
    ção e fixação das novas apren-
    dizagens. As evidências tam-
    bém não corroboram a fé ili-
    mitada no potencial das tec-
    nologias educacionais, embo-
    ra seu uso se torne crescente
    dentro e fora da escola.
    Terceiro, as estratégias que
    promovem saltos qualitativos
    de qualidade dependem de
    uma série de condições que
    não se encontram presentes
    no cenário educativo brasilei-


ro e, particularmente, no ce-
nário e no horizonte das po-
líticas educacionais e dos pa-
râmetros dentro dos quais
operam as redes públicas de
ensino. A eficácia das pedago-
gias – inclusive com media-
ção de tecnologias – está for-
temente associada ao nível de
preparo acadêmico dos pro-
fessores e de um currículo ro-
busto. O Brasil não dispõe
desses elementos.
Resta a evidência sobre as
estratégias que podem funcio-
nar com ou sem pandemia. A
principal delas tem que ver
com o uso do tempo disponí-
vel. É fundamental assegurar
a frequência escolar – a mais
barata e mais eficaz de todas
as estratégias, especialmente
com alunos de maior risco de
reprovação e deserção. De-
pois dela, há um conjunto de
estratégias associadas com

pedagogias mais estrutura-
das, que envolvem materiais
e orientações mais específi-
cas, associadas a um proces-
so de avaliações pertinentes e
frequentes, implementadas
de forma articulada para
orientar o trabalho do profes-
sor. Nesse contexto, o uso
dos deveres de casa também
pode ser um valioso instru-
mento – mas sua eficácia va-
ria de acordo com o nível de
ensino e a pertinência do re-
torno dado a partir dele. Ou
seja, o que funciona é ofere-
cer algo bem feito e que o pro-
fessor consiga fazer, com ba-
se em currículos robustos e
materiais estruturados de al-
ta qualidade.
Também existe alguma evi-
dência a respeito de estraté-
gias eficazes para atender os
alunos com maior nível de di-
ficuldade. A depender dos re-
sultados da Prova Brasil, isso
incluiria metade ou mais dos
alunos. Soluções eficazes fo-
ram experimentadas em situa-
ções intensivas, como as fé-

rias alongadas ou o uso do
contraturno. Elas incluem
um tutor altamente prepara-
do, materiais adequados e de
implementação flexível para
atender às diferenças indivi-
duais, quatro a seis alunos
por tutor e um processo in-
tensivo de sessões diárias.
Ou seja: isso pode funcionar
para corrigir os problemas de
falta de base, mas exige recur-
sos e talentos de custo e com-
plexidade relativamente ele-
vados. Aqui também há espa-
ço para uso de tecnologias
adequadas.
Sobre as habilidades socioe-
mocionais, há mais evidên-
cias indiretas do que diretas.
A mais relevante é animado-
ra: as pessoas são resilientes
e capazes de se superar e de
melhorar em face das adversi-
dades. Traumas profundos
causam estresse continuado,
e este pode afetar funções es-
senciais para a aprendizagem
como a atenção e a memória.
Mas para a maioria das pes-
soas a volta progressiva à roti-
na num ambiente acolhedor
e o estímulo dos colegas e
professores serão suficientes
para que se dê a volta por ci-
ma. A mera possibilidade de
ir à escola já apresenta estí-
mulos saudáveis para enfren-
tar o dia a dia.
Até aqui o que se tem visto
é muita improvisação, busca
de soluções inviáveis, promes-
sas e cobranças impertinen-
tes: repor integralmente o ca-
lendário escolar e as horas-au-
la previstas na lei, apelar para
as tecnologias. Nada disso pa-
rece ter chances de ajudar de
maneira significativa a recu-
perar o tempo perdido. As evi-
dências sugerem caminhos
que, se bem planejados e im-
plementados, podem ajudar a
reduzir os prejuízos. E, quem
sabe, fugir da improvisação,
da mediocridade reinante, e
promover estratégias mais efi-
cazes, até mesmo para a ope-
ração regular das escolas no
longo prazo.

]
PRESIDENTE DO INSTITUTO
ALFA E BETO

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
JOÃO FÁBIO CAMINOTO / DIRETOR DE JORNALISMO
MARCOS BUENO / DIRETOR FINANCEIRO
MARIANA UEMURA SAMPAIO / DIRETORA JURÍDICA
NELSON GARZERI / DIRETOR DE TECNOLOGIA

CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR:
FALE COM A REDAÇÃO:
3856-
[email protected]
CLASSIFICADOS POR TELEFONE:
3855-
VENDAS DE ASSINATURAS: CAPITAL:
3950-
DEMAIS LOCALIDADES:
0800-014-
VENDAS CORPORATIVAS: 3856-

E-INVESTIDOR
Forbes diz que Kylie
Jenner mentiu

Índia flexibiliza
confinamento

COMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK:

DANNY MOLOSHOK/REUTERS EFE/EPA

]
João Batista Oliveira


Tema do dia


Após ato do grupo “300 pelo
Brasil” contra o STF, deputa-
da pediu fim de “ações ex-
cêntricas”.
http://www.estadao.com.br/e/paschoal

Incertezas sobre


a volta às aulas


O que se tem visto é
improvisação, busca de
soluções inviáveis,
questões impertinentes

Um brinde


aos leitores


Eles são a peça-chave do
trabalho editorial. Não
existem jornalistas sem
leitores. Simples assim

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
CEP 02598-900 – SÃO PAULO - SP
TEL.: (11) 3856-2122 /
REDAÇÃO: 6º ANDAR
FAX: (11) 3856-
E-MAIL: [email protected]
CENTRAL DE ATENDIMENTO
AO ASSINANTE
CAPITAL E REGIÕES METROPOLITANAS:
4003-
DEMAIS LOCALIDADES: 0800-014-77-
https://meu.estadao.com.br/fale-conosco

CENTRAL DE ATENDIMENTO ÀS AGÊNCIAS DE
PUBLICIDADE: 3856-2531 – [email protected]
PREÇOS VENDA AVULSA: SP: R$ 5,00 (SEGUNDA A
SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
R$ 5,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 8,00 (DOMINGO).
ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Apoiadores de


Bolsonaro pedem


intervenção militar


Durante manifestação em Brasília,
presidente sobrevoou Esplanada de
helicóptero e acenou a participantes

]
Carlos Alberto Di Franco

DIDA SAMPAIO/ESTADÃO PANDEMIA

No estadao.com.br


EUA

Jaylen Brown adere a
protesto antirracista

BRPOLÍTICO

Janaina critica
bolsonaristas
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