O Estado de São Paulo (2020-06-01)

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H6 Especial SEGUNDA-FEIRA, 1 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


86 ANOS DE GLÓRIAS E PERCALÇOS


História da marca criada em junho de 1934 inclui ascensão, queda, renascimento e escândalo


JornaldoCarro


Hairton Ponciano


Há 86 anos, a Nissan nascia no
Japão. Criada no dia 1º de junho
de 1934, a empresa viveu altos e
baixos. Ao longo de oito déca-
das, sua história teve ascensão,
queda, renascimento, escânda-
lo e glórias. Gloria, a propósito,
é o nome de um de seus carros.
Uma das principais diferen-
ças em relação às suas conterrâ-
neas Toyota e Honda é que, en-
quanto a primeira surgiu como
uma fabricante de teares e a se-
gunda começou fazendo moto-
cicletas, a Nissan já veio ao mun-
do produzindo automóveis.
Os primeiros veículos da em-
presa levavam o nome Datsun,
marca criada em 1914 e que, an-
tes de ser Datsun, era DAT. A
sigla era formada pelas primei-
ras letras dos sobrenomes dos
três investidores originais: Ken-
jiro Den (D), Rokuro Aoyama
(A) e Meitaro Takeuchi (T).
O objetivo era desenvolver
veículos especificamente para
as condições do Japão. O merca-
do era dominado até então por
fabricantes norte-americanas,
como Ford e General Motors.
O primeiro modelo de pas-
seio da marca foi um compacto
com motor de dois cilindros e
10 cv de potência. Pelas dimen-
sões, foi chamado de “Datson”,
o “filho da Dat”, em português.
Mas o uso da palavra inglesa
gerou um problema. A pronún-
cia de “son” é parecida com a da
palavra japonesa para “perda”.
Por isso, o nome foi alterado pa-
ra Datsun, que atualmente é a
marca de baixo custo da Nissan.
Embora a denominação Nis-
san Motor Co. tenha surgido
em junho de 1934, o primeiro
carro a sair da linha de monta-
gem da cidade de Yokohama,
em 14 de abril de 1935, foi deno-
minado 14. Outra curiosidade é
que, apesar do novo nome da
empresa, os carros mantiveram
a marca Datsun. O Datsun 14 ti-
nha 15 cv e foi produzido nas


versões roadster (conversível
de dois lugares) e picape.
O primeiro a receber o emble-
ma Nissan foi um furgão comer-
cial, em 1937. Segundo informa-
ções da empresa, o modelo era
“tão grande quanto os carros
americanos” e contrastava com
os Datsun, compactos.
Não se tratava de acaso. Ferra-
mental e projeto eram da marca
norte-americana Graham-Pai-

ge. A partir daí, alguns (poucos)
automóveis começaram a dei-
xar a linha de montagem com a
denominação Nissan, enquan-
to outros (a maioria) manti-
nham o emblema da Datsun.
Por causa da Segunda Guerra
Mundial, a produção foi parali-
sada em dezembro de 1943. Em
novembro de 1945 a linha vol-
tou a funcionar e os lançamen-
tos foram retomados.

Elétrico. O primeiro carro elé-
trico da Nissan surgiu em 1947.
Batizado de Tama, foi desenvol-
vido pela Tokyo Electro Auto-
mobile Co., rebatizada anos de-
pois como Prince Motors.
Em 1952, a companhia assi-
nou um acordo de cooperação
tecnológica com a inglesa Aus-
tin Motor Co. O “olhar para o
exterior” sempre esteve entre
os objetivos da marca.

Em 1958, a Nissan enviou o
primeiro lote de veículos para
os Estados Unidos. No ano se-
guinte, inaugurou sua primeira
fábrica no exterior, em Taiwan.
Em 1960, a marca mostrou,
durante o Salão de Turim, na Itá-
lia, o Prince Skyline Sport. Con-
siderado o primeiro carro japo-
nês com “estilo italiano”, o mo-
delo foi concebido pelo desig-
ner Giovanni Michelotti.

Foguete. Os anos 1970 marca-
ram o lançamento do Lambda
4E-5, o primeiro satélite japo-
nês, cujo foguete foi construído
pela Nissan. Nessa década, a em-
presa começa a intensificar a
oferta de modelos esportivos.
São dessa época o Nissan
R383 e o Datsun 240Z. Este últi-
mo, conhecido no Japão como
Fairlady Z, era um cupê com mo-
tor 2.4 de seis cilindros em linha
e 210 cv. Atualmente, o “herdei-
ro” da dinastia é o 370Z.
No começo dos anos 1980, a
Nissan fez um acordo com a ale-
mã Volkswagen para produzir o
sedã Santana no Japão. A essa
altura, a empresa tinha uma am-
pla gama, incluindo compactos
(como o March Collet, de 1985),
conversíveis de dois lugares (Fi-
garo), sedãs luxuosos (caso do
Cedric) e esportivos, como o
300ZX (confira alguns exem-
plos abaixo).

Recuperação. Mas a Nissan en-
trou em dificuldades financei-
ras. Para não quebrar, formou
uma aliança com a francesa Re-
nault em 1999. No mesmo ano,
foi anunciado um plano de recu-
peração financeira.
Poucos carros da gama da Nis-
san davam lucro. O brasileiro
Carlos Ghosn foi deslocado da
Renault para o Japão e incumbi-
do de recuperar a empresa.
O plano incluiu a demissão de
funcionários e o fechamento de
fábricas. A empresa saiu da situa-
ção falimentar e em 2002 pas-
sou a ser uma das mais lucrati-
vas do setor no mundo.
No fim de 2018, o executivo
foi preso no Japão, sob alegação
de falsificar a contabilidade e
desviar dinheiro. Após uma fuga
no ano passado, Ghosn foi para
o Líbano, onde vive atualmente.
A Nissan está no Brasil desde


  1. Em 2002, passou a fazer a
    picape Frontier, seu primeiro
    modelo nacional, em uma linha
    de montagem na planta da Re-
    nault em São José dos Pinhais
    (PR). Em 2014, inaugurou a
    fábrica em Resende (RJ), onde
    são feitos March, Versa e Kicks.


300ZX ESPORTIVO É DOS ANOS 80 LEAF ATUAL MODELO ELÉTRICO


SKYLINE NIPO-ITALIANO É DE 1960


Crônicas de SP*


TAMA ELÉTRICO ESTREOU EM 1947


FIGARO DE 1989, TEM ESTILO RETRÔ


A


cho que todo mundo conhece
a história do pacato cientista
Bruce Banner que, quando co-
locado em alguma situação de pres-
são, acaba se transformando no gigan-
te verde, o Hulk. Conhecem, não é?
Em tempos de pandemia, esta-
mos todos com o emocional por um
triz, todos verdes de raiva e a ponto
de rasgar as próprias calças, como o
já citado Hulk (não confundir com
Huck, o Luciano). Quer um exem-
plo? Dia desses, me peguei tentan-
do segurar o choro enquanto assis-
tia a um programa de viagem apre-
sentado pelo Bruno de Luca. Se cho-
rar com Bruno de Luca em Ibiza não
é o retrato de um ser humano per-
turbado e vivendo no seu limite, eu
não digo mais nada.
Agora, se o Bruno de Luca já me

faz chorar, imagina uma mensagem da
minha irmã listando as palavras que o
meu sobrinho de 1 ano e meio já apren-
deu a falar nesse período de isolamen-
to social: “Bolo, colo, cocô, acabou, pe-
ra, água, tá bom, panela, bola, gol, ba-
leia, leão, uva, melão, pão...” Certeza
que quando o isolamento acabar, e eu
puder encontrar meu sobrinho outra
vez, ele já vai estar falando três idiomas
e comandando sua própria startup.
Além do choro e das emoções fora de
lugar, também tenho perdido a calma
com mais facilidade. Já bati boca com
um sujeito no supermercado porque
ele estava usando a máscara no queixo:


  • Desculpe, o senhor por acaso é o
    Noel Rosa?

  • Não.

  • Pois parece, só é admissível usar
    máscara no queixo em duas hipóteses:


ou você é o Noel Rosa (o genial compo-
sitor de sambas clássicos que não ti-
nha queixo – na verdade, ele tinha um
defeito no maxilar) ou é um idiota.
O sujeito me olhou de um jeito estra-
nho, grunhiu alguma coisa e pediu pa-
ra que “eu cuidasse da minha vida”.


  • Amigo, é isso que eu estou fazen-
    do, cuidando da MINHA VIDA. Usa
    essa máscara direito...
    O sujeito deu de ombros. E eu larguei
    minha compra no chão e fui embora.
    Minha indignação com quem usa
    máscara no queixo me deixa verde, me
    transforma em Hulk. Uma pessoa que
    usa máscara no queixo não passaria
    em um psicotécnico simples para tirar
    carta de motorista (ok, eu também
    não dirijo e quase fui reprovado no psi-
    cotécnico quando tentei tirar carta de
    motorista. Mas não uso, e jamais usa-
    rei, minha máscara no queixo).
    Essa raiva me transformou naquilo
    que eu mais criticava: a pessoa que bri-
    ga com serviços de entrega pela inter-
    net. O que vou contar agora é totalmen-


te real, apenas vou subtrair o nome da
companhia para não ter dor de cabeça
ou qualquer outro sintoma que possa
vir a ser confundido com covid-19.
Comprei um produto xis pela inter-
net. O prazo de entrega era de 8 dias.
Óbvio, passadas duas semanas da pre-
visão de entrega, lá estava eu discutin-
do em um chat de atendimento ao
cliente. Depois da promessa de uma
ligação de uma agente de vendas para
esclarecer meu caso, comecei a perder
a paciência e a falar sozinho:
15h25 - Aguardo o contato então...
19h46 - São 19h46 e continuo aguar-
dando o contato prometido para hoje
sobre a entrega que não chegou.
20h17 - 20h17 e nada.
20h19 - A gravação no telefone de
vocês insiste que alguém vai me ligar
ainda hoje.
21h41 - Até agora o retorno prometi-
do por vocês não aconteceu. Devo
abrir um vinho e esperar mais?
21h44 - Claro, felizmente o vinho
não foi pedido pelo @#%&*&. Se fos-

se, nunca teria chegado. Bom, mas
abri aqui o vinho e estou aguardan-
do.
23h52 - 23h52. Dormi tonto de tan-
to vinho e no dia seguinte escrevi
no mesmo chat de atendimento ao
cliente: “Sonhei que o #@%&%# ti-
nha entregue o produto. Acordei e,
claro, nada. Acordei para o pesade-
lo que é o serviço de vocês”.
No fim das contas, desisti e cance-
lei a compra. Tinha razão de recla-
mar, mas o tanto de energia que des-
perdicei falando sozinho em um
chat disfuncional é reflexo do meu
isolamento. Era o meu Hulk interior
pedindo atenção, meu Hulk interior
querendo alguém para brigar.
O que eu quero dizer é que esta-
mos todos no limite, à flor da pele.
Emoção, choro, raiva e loucurinhas
são normais nesse período. Haja te-
rapia, bar, aglomeração e abraços pa-
ra nos restituir a normalidade. Isso
vai passar, mas, por ora, quem man-
da é o Hulk. E Hulk quer esmagar!!!

VAN PRIMEIRO ‘NISSAN’, É DE 1937


O incrível Hulk


GILBERTO AMENDOLA

l]


FOTOS: NISSAN/DIVULGAÇÃO

NISSAN,


Pioneiro. De 1934,
Datsun 14 tinha dois
lugares e 15 cv
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