O Estado de São Paulo (2020-06-01)

(Antfer) #1

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A4 SEGUNDA-FEIRA, 1 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»Quem é. Para a oposição,
o fato de os atos terem sido
organizados por torcidas de
futebol, inclusive rivais (Co-
rinthians e Palmeiras), foi
positivo por mostrar que o
desgaste de Bolsonaro trans-
cende partidos e políticos.

»Ops. Só foi difícil para
esses dirigentes defende-
rem quem foi pra rua em
meio à pandemia. Todos
têm criticado o fato de o
presidente incentivar seus
apoiadores a irem aos atos.

»Radicalização. Governa-
dor do Maranhão, Flávio Di-
no (PCdoB) disse: “Pode ser
que resulte numa onda e ele
caia. Mas pode ser que crie
um quadro perigoso, dese-
nhado para justificar cha-
mar as Forças Armadas para
‘garantir a lei e a ordem’”.

»Cobrou. Carlos Lupi, pre-
sidente do PDT, avalia que
os atos devem continuar
crescendo e cobrou uma
defesa mais enfática da de-
mocracia por parte dos pre-
sidentes da Câmara e do
Senado: “Estão fazendo
uma defesa muito soft”.

»Taokey. Apesar dos con-
frontos, em especial na Ave-
nida Paulista, a Comissão
de Direitos Humanos da
OAB de SP disse que, nas
prisões, não houve nenhu-
ma infração de direitos.

»Drible. Técnicos da Eco-
nomia lamentaram não te-
rem sido informados da par-
ceria do Ministério da Ciên-
cia e Tecnologia com a em-
presa americana Cisco. O
acordo visa a “aceleração
da transformação digital
brasileira”.

»Drible 2. Embora não se-
ja obrigatório, acordos co-
mo essses costumam pas-
sar por uma análise conjun-
ta nos ministérios. A parce-
ria foi alvo de críticas por
esses técnicos da economia
e pela sociedade civil.

»Cangaço... A Escola de
Higiene e Medicina Tropi-
cal de Londres, em estudo
divulgado anteontem, disse
que a covid-19 está em traje-
tória ascendente no Brasil
todo, com quatro exceções.

»...power. O Ceará é o Es-
tado no qual o vírus está
diminuindo mais claramen-
te. Sergipe e Pernambuco
vêm em seguida. Já a Bahia
está como “incerto”, quan-
do o índice bate na trave
entre queda e aumento.

»Livre. Fora do Ministério
da Saúde, Nelson Teich
tem usado as redes sociais
para expor suas preocupa-
ções em relação à Covid-
de forma mais enfática do
que quando na pasta. Já de-
fendeu o isolamento e mais
investimentos científicos.

»Compasso... O Itamaraty
reconheceu que há cerca de
280 brasileiros no México
sem condições de voltar.

»...de espera. A pasta, em
um ofício apresentado pelo
PSOL, porém, não infor-
mou se pretende arcar com
os custos da repatriação de
quem não pode pagar pelo
voo de volta ao Brasil.

COM MARIANNA HOLANDA.

A


pesar de reconhecerem como positivo o fato de, pe-
la primeira vez, haver reação nas ruas ao governo
Bolsonaro, dirigentes e lideranças de oposição vi-
ram com preocupação os atos pró-democracia. Primeiro,
por causa dos confrontos físicos em São Paulo e no Rio de
Janeiro. Para eles, as polícias agiram de forma “desigual”
com os manifestantes pró e contra o presidente, mas a “es-
tética da imagem” reforçaria que em um lado há baderna
e no outro, ordem. Outro temor é que o confronto seja jus-
tamente o que presidente gostaria de ver para radicalizar.

Oposição teme efeitos


contrários de protestos


MARIANA HAUBERT (INTERINA*)
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
[email protected]
POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

Celso de Mello vê
busca por ‘ditadura

militar’. Pág.A


Decano


Manifestos pró-democracia


ganham força e unem rivais


Crise. Retórica do presidente Jair Bolsonaro e escalada da tensão política no País


estimulam série de atos, textos e movimentos da sociedade civil em defesa das instituições


Um ato contra o governo Jair Bol-
sonaro, autointitulado pró-de-
mocracia e antifascista e organi-
zado por grupos ligados a torci-
das de futebol na Avenida Paulis-
ta, terminou ontem em confron-
to entre manifestantes e apoia-
dores do presidente e também
com a Polícia Militar – que inter-
veio e usou bombas de gás lacri-
mogêneo para dispersar o início
de uma briga em frente ao Mu-
seu de Arte de São Paulo (Masp).
A confusão, que durou ao me-
nos uma hora, tomou conta da
avenida e deixou um rastro de
destruição: vidros quebrados,
caçambas de lixo e entulho revi-
rados e fogo ateado em objetos
no meio da via. Seis pessoas fo-
ram detidas, segundo a PM.
No início da tarde, os partici-
pantes do ato convocado pelos
coletivos se reuniram no Masp –
eles ocuparam boa parte da faixa
em frente ao museu. Os manifes-
tantes gritavam “democracia”,
vestiam preto e usavam másca-
ras em razão da pandemia do no-
vo coronavírus. A marcha teve
início por volta de 12h.
Integrantes da manifestação
levavam faixas com dizeres co-
mo “somos democracia”. Parte
dos participantes era da torcida
organizada Gaviões da Fiel, do

Corinthians. Eles cantaram
músicas da torcida e paródias co-
mo “doutor, eu não me engano, o
Bolsonaro é miliciano”. No ato,
também havia torcedores do Pal-
meiras, do São Paulo e do Santos.
A poucos metros dali, em fren-
te à sede da Federação das In-
dústrias de São Paulo, um grupo
de manifestantes pró-Bolsona-
ro realizava um ato no local. A
maioria vestia verde e amarelo.
A PM havia separado os grupos.
A briga em frente ao Masp envol-
vendo os manifestantes e a PM
começou por volta das 14h20.
De acordo com o organizador
do movimento Somos Demo-
cracia, o corintiano Danilo Pás-
saro, de 27 anos, a manifestação
no Masp transcorria de forma
pacífica e, segundo ele, já se en-
caminhava para o final, quando,

por volta das 14 horas, “três ou
quatro pessoas” com camisetas
com inscrições neonazistas se
infiltraram no grupo. Segundo
Danilo, além deles, chegaram
também três outras pessoas
com farda militar, o que teria ini-
ciado o tumulto. “Até então, es-
tava tudo calmo. Nossas faixas
eram pela democracia.”
A PM passou a usar bombas de
gás lacrimogêneo para dispen-
sar os manifestantes. A partir
daí a confusão aumentou e se es-
tendeu por boa parte da avenida
Paulista, em direção ao metrô
Consolação. Um grupo passou a
jogar pedras e outros objetos
contra os policiais. Outros fize-
ram barricadas com uma caçam-
ba de lixo. O disparo de bombas
durou ao menos 40 minutos.
O tenente-coronel André Ro-

sário da Silva, do 13° Batalhão
da PM, que atendeu a ocorrên-
cia, afirmou que a PM agiu para
dispersar um confronto que ha-
via ocorrido entre os integran-
tes dos protestos rivais.
O governador de São Paulo,
João Doria, defendeu a ação da
PM no ato deste domingo. “A Po-
licia Militar de São Paulo agiu ho-
je (ontem) para manter a integri-
dade física dos manifestantes, na
Avenida Paulista. Dos dois lados.
A presença da PM evitou o con-
fronto e as prováveis vítimas des-
te embate”, escreveu no Twitter.
O secretário executivo da Polí-
cia Militar, coronel Álvaro Cami-
lo, afirmou ao Estadão que a cor-
poração deverá agir nas próxi-
mas horas para tentar identificar
os responsáveis pelo confronto.

Rio. No Rio, um grupo de torce-
dores da Democracia Rubro-Ne-
gra também fez ato contra Bol-
sonaro, na orla da Praia de Copa-
cabana. Em meio à divisão en-
tre as duas manifestações, um
policial militar afirmou ao depu-
tado federal Daniel Silveira
(PSL-RJ) que tinha mandado
queimar uma bandeira do gru-
po contrário ao presidente.
Em Belo Horizonte, um grupo
de pessoas também organizou
um protesto contra o presiden-
te Bolsonaro. A manifestação
trazia cartazes de torcidas orga-
nizadas de futebol, como Resis-
tência Alvinegra e Galo Antifa. /
ALESSANDRA MONNERAT, BIANCA
GOMES, BRUNO RIBEIRO, HAIRTON
PONCIANO e VÍTOR MARQUES

KLEBER SALES/ESTADÃO

Em São Paulo, protesto


acaba em conflito com PM


Marcelo Ramos

»SINAIS
PARTICULARES.
Nelson Teich,
ex-ministro da Saúde

estadao.com.br/e/paulistaconfronto

BOMBOU NAS REDES!

ALBERTO BOMBIG
*O colunista está em férias.

A


escalada da tensão política no País em meio à retórica
persistente do presidente Jair Bolsonaro e aliados contra
instituições estimulou nos últimos dias uma série de ma-
nifestações em defesa da democracia. Em forma de mani-
festos, artigos ou mesmo de atos nas ruas, os alertas e as críticas ao
atual governo uniram segmentos diversos da sociedade, rivais na
política e até mesmo no futebol.
Em Brasília, o presidente voltou a participar ontem de um ato
crítico à atuação do Supremo Tribunal Federal. Alguns manifestan-
tes empunharam uma faixa pedindo “intervenção militar”. Como
tem feito nas manhãs dominicais, Bolsonaro sobrevoou ao ato de
helicóptero, acompanhado do ministro da Defesa, Fernando Azeve-
do. Ele chegou a montar em um cavalo ao se dirigir aos apoiadores.
Horas antes, o decano do Supremo – ministro Celso de Mello –
havia encaminhado mensagem a interlocutores na qual afirma que
bolsonaristas “odeiam a democracia” e pretendem instaurar uma
“desprezível e abjeta ditadura militar”. Ele associa nas mensagens o
momento político nacional à ascensão de Hitler na Alemanha. “É
preciso resistir à destruição da ordem democrática”, escreveu em
letras maiúsculas o ministro relator do inquérito que apura suspei-

ta de interferência do presidente na Polícia Federal.
Em artigo no Estadão, publicado ontem, Eros Grau, ex-ministro
da Corte máxima do País, tratou da separação dos poderes e concluiu
que “qualquer insurgência contra essa face do Estado que o Supremo
Tribunal Federal é afronta a ordem e a paz social, prenuncia vocação
de autoritarismo, questiona a democracia”. Juristas também publica-
ram manifesto intitulado Basta! no qual afirmam que Bolsonaro exer-
ce o mandato “para arruinar com os alicerces do nosso sistema demo-
crático. A defesa da “vida, liberdade e democracia” motivou também
a reunião de um grupo de mais de 1,6 mil personalidades de diferen-
tes setores da sociedade e diversos segmentos ideológicos, que subs-
creveram um manifesto chamado Estamos #Juntos, publicado no
sábado no Estadão e em outros jornais do País.
Uma manifestação organizada ontem por grupos ligados a torcidas
organizadas de futebol reuniu corintianos, palmeirenses, santistas e
são-paulinos na Avenida Paulista. Vestidos de preto, eles entoaram
coro pela democracia e contra Bolsonaro, fazendo contraponto a um
grupo menor de apoiadores do presidente presente na avenida. Hou-
ve confronto entre manifestantes e a Polícia Militar dispersou o gru-
po de torcedores com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.

FERNANDO BIZERRA/EFE

Rigor. PM usou gás lacrimogêneo para causar dispersão

Polícia usa bombas de
gás para dispersar ato
na Paulista; houve
confronto entre grupos
pró e contra governo

TABA BENEDICTO/ESTADÃO

Ato. Grupo protesta na
Av. Paulista contra
governo Bolsonaro

“O que aconteceu no Brasil ontem mostra que 70%
da população já não aceita 30% tentando se impor
como maioria. É uma questão aritmética”.

Deputado federal (PL-AM)

»CLICK. O secretário de
Política Econômica, Adol-
fo Sachsida, esteve on-
tem no ato pró-Bolsona-
ro na Esplanada. “A tem-
pestade é forte, mas o
timoneiro é firme”, disse.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

NA WEB
TV Estadão.
Imagens do
confronto na
Av. Paulista

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