O Estado de São Paulo (2020-06-02)

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A16 Metrópole TERÇA-FEIRA, 2 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


ENTREVISTA


Bruno Ribeiro


A Prefeitura de São Paulo já ha-
via recebido ontem 33 propos-
tas de representantes do co-
mércio, de serviços e setores
como clubes esportivos, asso-
ciações estilistas e cosméticos,
para fechar acordos sobre co-
mo deverá ser a reabertura da
cidade, que ele afirma ser con-
trolada. “Não é abrir de qual-
quer forma”, disse ao Estadão
o prefeito Bruno Covas
(PSDB). Ele evitou dar data pa-
ra a retomada de cada setor, di-
zendo que esses prazos devem
ser anunciados até quinta-fei-
ra. Segundo o plano de reaber-
tura gradual do governo esta-
dual, a capital já está na fase 2
de flexibilização, em que é pos-
sível reabrir shoppings e lojas.


lNesta segunda (ontem), a Pre-
feitura começou a receber pro-
postas de reabertura. Como tem
sido o processo?
A Secretaria Municipal do Tra-
balho recebeu 33 propostas, en-
tre várias associações, e às ve-
zes tem até gente que manda
algo como ‘olha, quero reabrir,
qual é meu desconto de IPTU’.
Então hoje (ontem), a gente já
começou a analisar. Alguns se-
tores que já estavam autoriza-
dos a abrir, como farmácias, su-
permercados, também apre-
sentaram suas propostas de
protocolo.


lFarmácias e supermercados
também podem ter mudanças?
Sim. A gente discute com eles.


lNa quinta-feira serão anuncia-
das datas de reabertura?
Quinta a gente deve fazer o ba-
lanço e talvez já consiga dar al-


gumas datas das assinaturas.

lMas há expectativa de abertu-
ras já na semana que vem?
Calma. A expectativa é de fa-
zer com a maior tranquilidade
do mundo.

lComo o Município fiscalizará?
A gente continua com a fiscali-
zação de agentes da Vigilância
Sanitária e subprefeituras, e a
ideia desses protocolos é tam-
bém chamar o setor para autor-
regulação. Se a cidade voltar
aos níveis da fase 1, sai da fase
2 e aquilo que está autorizado
a abrir volta a ter de ficar fecha-
do. Ninguém mais interessado
que permaneça nessa fase 2 do
que os próprios setores.

lMas o que a Prefeitura irá fa-
zer? O infrator vai ser fechado?
Pode ser fechado, como já é fe-
chado hoje quem está aberto
sem as regras. Mas o setor po-
de ajudar levando informação.
Às vezes, tem ma pequena loja
que não tem informação. (Po-
de ajudar) credenciando aque-
les que estão com boas práti-
cas, com selo de boas práticas,
punindo quem é associado de-
le, e dentro do estatuto tiver
essa possibilidade de punição,
e apontando para a Prefeitura
quem é que precisa receber fis-
calização.

lCom o aumento de circulação,
a doença pode se espalhar mais.
De quem será a decisão de, even-
tualmente, voltar de fase? Prefei-
tura ou governo estadual?
O Estado já deu os critérios. O
próprio governo do Estado pre-
vê que isso possa acontecer, ao
dizer que você pode avançar
para fase 2, como pode retroce-
der para a 1. Faz parte do pla-
no. E isso está acontecendo
em todo o mundo. A Coreia,
que tinha reaberto, voltou a fe-
char algumas atividades. Se,
com a reabertura, ou com a ida
para a fase 2 ou 3 alguns índi-
ces piorarem, volta para a fase
anterior. Isso vai ser automáti-
co e vai por revisão semanal.

lJá era momento de falar nis-
so? A taxa de novos casos ainda
está crescendo.
Já, porque a gente atingiu uma
Rt (taxa de transmissão, ou o
número de pessoas que um
doente irá infectar) de 1 na ci-
dade, o Rt referência quando
se fala em reabertura. Conse-
guimos ampliar em mais de
mil leitos de UTI e este fim de
semana chegarão 380 respira-
dores. O fôlego que ganhamos
foi para que o sistema de saú-
de pudesse ser reforçado, para
reabrir com a devida cautela.

lHá até duas semanas, o que
vinha da Prefeitura eram sinais
de que seria preciso lockdown.
Depois, houve abertura. A tendên-
cia da pandemia não mudou no
período. O que mudou?
Mudou a partir do momento
que o secretário de Saúde nos
trouxe dados que mostravam
que a cidade tinha atingido cer-
ta estabilidade e que era possí-
vel discutir reabertura. Tudo o
que a gente fez foi seguindo a
orientação da secretaria.

lHouve atritos com a gestão
(João) Doria, como a fiscalização
do uso de máscaras e o rodízio.
Como está a relação?
As pessoas do entorno adoram

botar divisão na minha relação
com o governador. Mas a gen-
te tem tido excelente relação.
Por mais que a equipe técnica
possa divergir em um ou outro
detalhe, Prefeitura e Estado
têm trabalhando conjuntamen-
te desde o início da pandemia.

lHouve algum favorecimento do
governo à capital no processo de
abertura, pelo fato de ela ter sido
separada da Grande São Paulo?
Acho que não. Quem fez um
pleito oficial de dividir a gran-
de São Paulo foram os prefei-
tos e o governo do Estado aten-
deu. Não houve privilégio.

lO senhor teve de fazer recuos,
com a questão do bloqueio de
vias, do rodízio. Que lição tira?
Estamos atravessando uma
pandemia sem manual. Vamos
sair de uma pandemia sem ter
manual de como se sai de uma
pandemia. Tudo aquilo que es-
tava à disposição, resolvemos
implementar. Podem me acu-
sar de qualquer coisa, só não
podem me acusar de omisso.

lConseguiu de alguma forma
trabalhar na campanha?
Quase nada. Você imagina pa-
rar o enfrentamento a uma
pandemia para reunir com par-

tido para falar de eleição.

lComo vê os protestos pedindo
democracia e a organização da
sociedade em torno do tema?
Quanto mais as pessoas partici-
parem, melhor. Democracia
não é um ato que requer que a
pessoa vote de dois em dois
anos. Requer participação, co-
brança, permanente presença.
Desde que não haja, claro, con-
flito entre quem é a favor e
contra, e aqui em São Paulo te-
mos locais suficientes para
abrigar todo tipo de manifesta-
ção – não precisa todo mundo
escolher a Avenida Paulista.

José Maria Tomazela
SOROCABA


Depois de 72 dias fechadas para
os banhistas por causa do coro-
navírus, as praias do litoral nor-
te de São Paulo foram reabertas
ontem, mas voltam a fechar no
fim de semana. O objetivo é evi-
tar o fluxo de turistas, já que o
uso das faixas de areia continua
proibido. Os quiosques à beira-
mar permanecem fechados. Os
quatro municípios da região so-
mam 621 casos positivos de co-


ronavírus e 15 mortes, e estão
na faixa 2 (laranja) do plano es-
tadual, que prevê a reabertura
das atividades com restrições.
A prefeitura de Ubatuba libe-
rou a prática de surfe, esportes
aquáticos individuais, como na-
tação, vela e canoagem, e exercí-
cios físicos nas praias, apenas
de segunda a quinta-feira. Ca-
deiras e guarda-sóis nas faixas
de areia continuam proibidos.
É obrigatório o uso de máscara.
“Sabemos que a flexibilização
ainda é gradativa, mas estamos
trabalhando para sairmos bem
de tudo isso lá na frente”, disse
o prefeito Délcio Sato (PSD).
Em Caraguatatuba, frequen-
tar as praias continua proibido,
assim como estacionamento
nas orlas fora do trecho da Ave-
nida Arthur Costa Filho, entre o

Camaroeiro e a ponte do Rio
Santo Antônio. Os quiosques
só reabrem na próxima fase (a-
marela). Os ambulantes não po-
dem trabalhar. O comércio vol-
tou a funcionar com restrições
das 14 às 18 horas.
A prefeitura de São Sebastião
liberou a prática de atividades
físicas individuais nas praias,
mas somente de segunda a quin-
ta-feira. Continua proibida a co-
locação de cadeiras e guarda-
sóis na areia. Os hotéis preci-
sam de autorização da prefeitu-
ra para receber hóspedes.
Ilhabela reabriu as praias pa-
ra atividades ao ar livre, indivi-
duais ou em dupla, mas não se
pode tomar sol na areia. As mari-
nas voltam às atividades no dia
8, mas terão de seguir protoco-
los, como a não aglomeração

em barcos e lanchas. Também a
partir do dia 8 proprietários de
imóveis que estão fora poderão
cumprir o restante da quarente-
na no arquipélago.

Baixada. As praias da Baixada
Santista continuam fechadas
para banhistas, mas o respeito
ao bloqueio não é cumprido in-
tegralmente. Os nove municí-

pios da região registram 430
mortes e 8,3 mil casos de coro-
navírus e estão na faixa 1 (ver-
melha), a mais restrita. Confor-
me o Conselho de Desenvolvi-
mento da Baixada Santista, o go-
verno aceitou proposta de re-
ver a classificação – a região iria
para a faixa 2 (laranja) –, o que
deverá ser definido amanhã.
Contrariando o plano esta-
dual, São Vicente reabriu o co-
mércio ontem. Houve aglome-
ração no centro. A prefeitura
diz estar respaldada por lei mu-
nicipal, publicada na quinta-fei-
ra, e adotou medidas como o
uso obrigatório de máscaras. As
praias foram liberadas para ati-
vidades esportivas individuais.
Em Santos, o prefeito Paulo
Alexandre Barbosa (PSDB)
usou as redes sociais para la-
mentar o desrespeito à quaren-
tena no domingo, quando mui-
tas pessoas foram às ruas e à or-
la da praia para tomar sol.

l Com a flexibilização das regras
para retomada das atividades
comerciais no Estado de São Pau-
lo, 32 shopping centers foram
reabertos ontem, todos no inte-
rior, de acordo com levantamen-
to da Associação Brasileira de
Shopping Centers (Abrasce).

Com isso, 211 dos 577 centros
de compras do País funciona-
ram, segundo a Abrasce. O Esta-
do de São Paulo tem 182 shop-
pings. A capital tem 54 estabele-
cimentos, que ainda não volta-
ram às atividades. O plano anun-
ciado pelo governador João Do-
ria (PSDB) flexibilizou a quarente-
na na capital paulista, mas a deci-
são sobre o que reabre e quando
é dos prefeitos, mediante a apro-
vação de protocolos de seguran-
ça e higiene. / CIRCE BONATELLI

lEstratégia

Prefeitura já recebeu


33 propostas para fechar


acordos de reabertura;


prazos devem ser


anunciados até quinta


PERGUNTAS & RESPOSTAS

1.
Como vai funcionar a flexi-
bilização da quarentena
em São Paulo?
Ocorrerá reabertura em cinco
etapas. A primeira fase, verme-
lha, é de alerta máximo, com
funcionamento apenas de ser-

viços essenciais. A fase dois
(laranja) é de controle, de
atenção, mas onde já é possí-
vel iniciar a flexibilização de
alguns setores, como ativida-
des imobiliárias, concessioná-
rias, escritórios, comércios e
shoppings. Na fase três (ama-
rela), é possível abrir bares,
restaurantes e salões de bele-
za, com restrições de horário e
fluxo de clientes. Na fase qua-

tro (verde), haverá abertura
maior, incluindo academias. E
a fase cinco traz a liberação
total, com medidas de higiene.

2.
Quais são os critérios para
definir cada fase?
A flexibilização levará em con-
ta a capacidade do sistema de
saúde, com a taxa de ocupação
de leitos de UTI e o número de

leitos por 100 mil habitantes,
além da evolução da epidemia,
com números de casos, inter-
nações e óbitos. Uma região só
passará a um maior relaxamen-
to após 14 dias da mudança de
fase, mantendo indicadores de
saúde estáveis por um período
completo de incubação.

3.
O que acontece se o núme-

ro de casos ou ocupação
de leitos aumentar?
Uma região pode ser reavalia-
da para fases mais restritas se
não atender aos critérios.


  1. Já há definição sobre a
    retomada das aulas?
    A retomada de aulas presen-
    ciais e o retorno da capacidade
    total das frotas de transportes
    seguem sem previsão.


5.
Qual foi a reação ao plano
de reabertura?
A proposta, sem a clareza de
que estamos em uma curva des-
cendente, é arriscada, segundo
especialistas. Além disso, pode
desperdiçar os resultados do
isolamento. Já os setores eco-
nômicos aprovaram a flexibili-
zação, mas fizeram cobranças
para a retomada das atividades.

Oxford inicia a terceira fase de testes de vacina, com brasileira à frente. Pág. A17 }


Estado registra a


reabertura de 32


shopping centers


DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

“Não é abrir de qualquer
forma (...) A expectativa é
de fazer com a maior
tranquilidade do mundo.”

“Se, com a reabertura, ou
com a ida para a fase 2 ou 3
alguns índices piorarem,
você volta para a fase
anterior.”

“Estamos fazendo valer a
premissa básica que a
Prefeitura estabeleceu, que
é não deixar ninguém sem
atendimento.”

Fiscalização. Bruno Covas espera contar com os próprios setores para autorregulação

‘Se índice de saúde


piorar, SP volta


para a fase anterior’


Bruno Covas, prefeito de São Paulo


Litoral norte mantém praias fechadas no fim de semana


Principal objetivo é evitar


o fluxo de turistas; em


dias úteis, cidades


permitem acesso para
algumas atividades


Como será a


flexibilização

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