O Estado de São Paulo (2020-06-02)

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B8 Economia TERÇA-FEIRA, 2 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Fernanda Nunes
Mariana Durão / RIO

Í


cone dos charmosos anos
1920 e também da derroca-
da do Estado do Rio de Ja-
neiro na última década, o Ho-
tel Glória, na zona sul, tem no-
vo dono. O Opportunity Fun-
do de Investimento Imobiliá-

rio, do banqueiro Daniel Dantas,
fechou acordo para comprar o
imóvel do fundo árabe Mubada-
la, que há mais de seis meses bus-
cava investidores para o prédio.
Nas mãos do Opportunity, o
Glória vai ser transformado em
edifício residencial. Os primei-
ros desenhos do projeto serão en-
tregues à Prefeitura e órgãos de

patrimônio nos próximos me-
ses. “Há muito a ser feito ainda.
Queremos preservar a memória
do hotel que completará cema-
nos em breve. Vamos trabalhar
para resgatar um patrimônio
muito importante da cidade”,
afirmou Jomar Monnerat de Car-
valho, gestor do fundo, ao Esta-
dão/Broadcast. O projeto deve
contar com a parceria da incorpo-
radora e construtora SIG Enge-
nharia.
Inaugurado em 1922 para ser o
primeiro cinco estrelas do Brasil,
o Glória, em quase um século de
existência, foi prestigiado por 19
chefes de Estado, além de artis-
tas e políticos do mundo todo. O

prédio entrou para a história do
carnaval do Rio por sediar um tra-
dicional desfile de fantasias por
34 anos, tendo Clovis Bornay co-
mo o eterno “hors concours”
dos eventos.
Em 2008, foi comprado por R$
80 milhões pelo empresário Eike
Batista, com a promessa de refor-
mar o prédio e devolver o gla-
mour ao hotel. O prédio foi ad-
quirido em 2016 pelo Mubadala,
como parte da reestruturação de
uma dívida de US$ 2 bilhões do
empresário com o fundo sobera-
no dos Emirados Árabes. O hotel
hoje está abandonado, cercado
por tapumes, num dos pontos
mais nobres da capital carioca. Rio. Hotel Glória, hoje abandonado, foi sinônimo de luxo

MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO

Fundo de Daniel Dantas compra edifício icônico


André Vieira

A startup especializada
em análise de dados Cor-
tex anunciou ontem ter
recebido um aporte de
R$ 120 milhões. A roda-
da de investimentos foi liderada
pelo conglomerado japonês
Softbank e teve ainda a partici-
pação da gestora Redpoint even-
tures e do fundo Endeavor Ca-
talyst, informou a companhia,
em comunicado à imprensa.
A empresa desenvolveu uma
plataforma voltada a marketing
e vendas que usa dados de merca-
do e informações internas de
clientes, gerando previsões e re-
comendações para a tomada de
decisões. Segundo a Cortex, a pla-
taforma atende clientes como
Unilever, Fiat Chrysler, L’Oreal,
Roche, Carrefour, Visa e Claro.
“Estamos entusiasmados
com nossa parceria com a Cor-
tex, que tem a grande oportuni-
dade de ajudar empresas em to-
da a região”, disse o boliviano-
americano Marcelo Claure, pre-
sidente executivo do grupo Soft-
Bank Internacional, em nota.
A Cortex foi fundada pelos
empresários Daniel Pires e Leo-
nardo Rangel e possui escritó-
rios no Rio de Janeiro e em São
Paulo. Apesar de concentrar
clientes no Brasil, a empresa
também atende outros países
da América Latina e Europa. Se-
gundo Pires, o investimento vai
possibilitar o desenvolvimento
do produto e acelerar ainda
mais o crescimento da empresa.
“Com esse novo investimen-

to, seremos mais fortes para
continuar crescendo e buscan-
do nosso objetivo de dissemi-
nar a cultura analítica no País
por meio de nossas soluções de
inteligência de dados”, afirmou
Pires, também em nota.

Atividades. Dono de um dos
maiores fundos já agrupados pa-
ra investir em empresas de tec-
nologia, o SoftBank também
tem sido um apoiador ativo de
startups na América Latina.
Esse movimento, iniciado há
alguns anos, se intensificou em
2019, quando a empresa criou
um fundo de US$ 5 bilhões volta-
do para startups da região. Só
no ano passado o grupo japonês
aplicou quase duas dezenas de
cheques em empresas do conti-
nente, ajudando a gerar unicór-
nios (startups avaliadas em pe-
lo menos US$ 1 bilhão) como a
colombiana Rappi e as brasilei-
ras Loggi, QuintoAndar e Gym-
pass. Em 2020, o principal inves-
timento da empresa no Brasil
foi no e-commerce especializa-
do em animais Petlove.

HOTEL GLÓRIA SERÁ


PRÉDIO RESIDENCIAL


Bruno Capelas / SÃO PAULO
Marlla Sabino / BRASÍLIA


O projeto de lei 2630/2020, que
ganhou o apelido de “lei das
fake news”, deve sofrer altera-
ções para ser votado hoje no Se-
nado Federal. Apresentado pe-
lo senador Alessandro Vieira
(Cidadania-SE), o texto propu-
nha regular a forma como redes
sociais e aplicativos de mensa-
gens funcionam no País com a
meta de impedir a dissemina-
ção de desinformação, notícias


falsas e manipulação. O texto,
porém, foi alvo de críticas por
especialistas e entidades de di-
reito digital, que alegaram que a
proposta poderia levar à censu-
ra e ao aumento do monitora-
mento na internet brasileira.
Dessa forma, o projeto, que
tem coautoria dos deputados Ta-
bata Amaral (PDT-SP) e Felipe
Rigoni (PSB-ES), deverá ganhar
um substitutivo de autoria do se-
nador Ângelo Coronel (PSD-
BA). Segundo os parlamentares,
o novo texto retira o enfoque à
desinformação e traz apenas de-
terminações relacionadas à
transparência das empresas de
redes sociais e sobre ferramen-
tas que são usadas para espalhar
notícias falsas.
A nova proposta, dizem os
parlamentares, também vai de-
terminar quais assuntos ficarão
a cargo de um grupo criado e
coordenado pelo Comitê Ges-
tor da Internet. Caberá ao cole-
giado formular uma proposta le-
gislativa para definir o conceito

de desinformação e criar um
código de conduta para verifica-
dores.
De acordo com a deputada Ta-
bata Amaral, o texto também
foi modificado para que as em-
presas de redes sociais sejam
obrigadas a fazer uma notifica-
ção antes de rotular uma publi-
cação como fake news. A pro-
posta também dá ao usuário o
direito de recorrer da decisão.

Polêmica. Na semana passada,
o projeto foi elogiado pelo presi-
dente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ). “As plataformas pre-
cisam ter responsabilidade e as

pessoas que usam de informa-
ções falsas precisam ter respos-
tas mais fortes da Justiça”, dis-
se, em entrevista coletiva.
Mas, na visão de entidades de
direito digital e especialistas no
assunto, a ideia de responsabili-
zar as plataformas, presente no
primeiro texto do projeto, pode
ser uma má ideia. É algo que vai
contra o que está posto no Mar-
co Civil da Internet, sanciona-
do em 2014 – segundo a lei, um
conteúdo só pode ser retirado
do ar mediante ordem judicial.
“Com o risco que venham a
ser responsabilizadas por da-
nos causados por conteúdo de-
sinformativo, essas empresas
ganham estímulo ainda maior
para controlar o conteúdo que
passa por suas plataformas”,
afirmou o Instituto de Tecnolo-
gia e Sociedade do Rio de Janei-
ro (ITS-Rio), em nota.
Em comunicado divulgado
na manhã de ontem, o Comitê
Gestor da Internet (CGI.br) pe-
diu mais tempo para o debate
sobre o projeto. Já a Associação
Brasileira de Provedores de In-
ternet e Telecomunicações (A-
brint) também se posicionou
contra o projeto, frisando que a
mudança pode “causar prejuí-
zos às empresas provedoras de
aplicação devido à insegurança
jurídica”.

Cleide Silva


O mercado de veículos novos
continuou em significativa
desaceleração em maio, com
queda de 74,7% das vendas na
comparação com o mesmo
mês de 2019. Entre automó-
veis, comerciais leves, cami-
nhões e ônibus foram licencia-
das 62 mil unidades, segundo
dados preliminares do merca-
do. É o pior resultado para me-
ses de maio em 28 anos.
O porcentual de queda no
comparativo anual é próximo
ao registrado em abril (primei-
ro mês completo de medidas
restritivas em razão da crise do
coronavírus), que foi 76% infe-
rior ao de abril do ano passado.
Já na passagem de maio deste
ano para abril o setor apresen-
tou melhora de 11,3%. No acu-
mulado dos cinco meses do ano
as vendas somam 613,8 mil veí-
culos, queda de 37,7% ante o
mesmo período de 2019, quan-
do o mercado já tinha ultrapas-


sado a marca de 1 milhão de uni-
dades vendidas.
Paulo Cardamone, presiden-
te da Bright Consulting, avalia
que há pequenos sinais de me-
lhora no mercado, puxado em
parte pelas condições ofereci-
das pelas empresas (de paga-
mento de prestações só em
2021, por exemplo), e da reaber-
tura de revendas em vários Esta-
dos. Também há carros vendi-
dos nos dois últimos meses
que, segundo ele, não foram li-
cenciados em razão da suspen-
são de atividades de Detrans
em várias localidades.
Para ele, os resultados deste
mês deverão dar ideia melhor
do mercado. “Estamos preven-
do vendas perto de 100 mil auto-
móveis e comerciais leves, me-
tade do que era registrado antes
da pandemia, mas melhor do
que os dados de abril e maio.”
Em maio, a General Motors
manteve a liderança em vendas,
com quase 10 mil unidades, en-
quanto Volkswagen e Fiat em-

pataram no segundo lugar, com
quase 8,8 mil unidades cada. A
Toyota vem na sequência, com
4,6 mil carros, seguida por
Hyundai (4,5 mil), Renault

(4,48 mil), Ford (4,42 mil), Jeep
(2,57 mil) e Honda (2,43 mil).

Fábricas reabrem. Apesar do
mercado fraco, boa parte das fa-

bricantes já retomou ativida-
des, após paradas superiores a
um mês. Ontem, a Volkswagen
voltou a operar integralmente
em um turno na fábrica de São
Bernardo do Campo (SP), com
2,6 mil trabalhadores.
Os funcionários devem atuar
principalmente na produção do
Nivus, utilitário-esportivo com-
pacto desenvolvido no Brasil e
lançado na semana passada. A
fábrica tem ainda 2,2 mil funcio-
nários em lay-off (contratos
suspensos), mas 1,2 mil deles re-
tornam dia 22, quando, na ex-
pectativa do Sindicato dos Me-
talúrgicos do ABC, a planta vol-
tará a operar em dois turnos.
A filial da Volkswagen em
Taubaté (SP) também retomou
atividades ontem com um tur-
no. Já a do Paraná voltou em 18
de maio e a de São Carlos (SP),
onde são feitos motores, no dia
26, ambas em dois turnos. To-
das as unidades, contudo, vão
operar com jornada reduzida
em 30%, conforme acordo pre-

visto pela MP 936.
Outra que voltou a ligar as
máquinas ontem foi a
Caoa/Chery, de Jacareí (SP),
que estava parada desde 23 de
março. Segundo o presidente
do grupo, Marcio Alfonso, as
fábricas de São Paulo e de Aná-
polis (GO) serão preparadas pa-
ra produzir dois novos mode-
los, um para cada linha.
Até o fim de mês vão reabrir as
fábricas a Ford (Camaçari), Hon-
da, Jaguar Land Rover, Nissan e
Toyota. A PSA Peugeot Citroën
e algumas plantas da GM ainda
não têm datas para retorno.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


SoftBank lidera


aporte de R$ 120 mi


na startup Cortex


lAdvertência

lMarcha lenta

Resultado foi pior para o mês em 28 anos, com licenciamento de 62 mil unidades; no acumulado de 2020, retração do setor é de 37,7%


Cinco estrelas

BRENDAN MCDERMID / REUTERS

Dona de plataforma para
marketing e vendas,
empresa atende clientes
como Unilever, Carrefour
e Fiat Chrysler

Força. Claure, do SoftBank:
mais de 20 aportes na região

EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO - 2/5/2020

“As plataformas precisam ter
responsabilidade e as
pessoas que usam de
informações falsas, respostas
mais fortes da Justiça.”
Rodrigo Maia (DEM-RJ)
PRESIDENTE DA CÂMARA

Projeto a ser votado no


Senado perderá trechos


polêmicos; ontem,


entidades alegaram que


proposta levaria à censura


Após críticas, lei das fake


news terá texto revisto


Autor. Vieira (Cidadania-SE) assina o projeto de lei, que será votado sem passar por comissões por conta da pandemia


VOLKSWAGEN

Retorno gradual. VW voltou a operar em um turno no ABC

Venda de veículos cai 74,7% em maio


100 mil
é a expectativa da Bright Consul-
tin para as vendas neste mês

50%
deve ser a queda ante 2019
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