O Estado de São Paulo (2020-06-02)

(Antfer) #1

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A4 TERÇA-FEIRA, 2 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»Estratégia. Desde que
deixou a pasta, num rompi-
mento traumático com o
governo Bolsonaro, tem
constantemente sido acon-
selhado a submergir. O que
fez, de certa forma: no seu
último mês no ministério,
fez 106 publicações no Twit-
ter; no mês seguinte após
sair, o volume caiu para 31.

»Aff. Para o entorno de
Moro, o problema é o teor
muito mais político dos tuí-
tes e sempre reativo a pro-
vocações. Interlocutores
disseram que, quando é pro-
vocado pelo ex-chefe, “ele
não se aguenta”.

»Caiu. Segundo levanta-
mento da consultoria Bites,
no dia da demissão, Moro
conseguiu, em dois posts,
552 mil interações no Twit-
ter – seu ápice. Ontem, no
mais recente embate com
Bolsonaro, chegou a 26 mil

»Cálculo. “Enquanto não
se colocar efetivamente co-
mo oposição, vai perder re-
levância. Nem mesmo os
bolsonaristas falam mais
dele”, disse o diretor da Bi-
tes, Manoel Fernandes.

»Na cola. Juristas vão acio-
nar a Comissão de Ética da
Presidência contra Moro. A
nova denúncia vai alegar,
entre outras coisas, suposta
divulgação de informações
privilegiadas em entrevistas
depois que deixou a pasta.
Esta já é a segunda ação
contra ele no colegiado.

»Vem pra cá. André Men-
donça (Justiça) escolheu o
advogado da União Claudio
de Castro Panoeiro para
assumir a Secretaria Nacio-
nal de Justiça. A nomeação
sairá nos próximos dias.

»Currículo. Panoeiro coor-
dena o Grupo de Defesa do
Patrimônio Público na Pro-
curadoria Regional da 2.ª
Região. Ele foi o primeiro
cego a fazer uma sustenta-
ção oral no STJ, em 2010.

»Esquece. Depois de ir a
público afastar a possibilida-
de golpe, o chefe do GSI,
Augusto Heleno, tem se
ocupado em dizer o mesmo
na arena favorita do bolso-
narismo, o WhatsApp.

»Canja de... Um áudio do
ministro, ao qual a Coluna
teve acesso, diz: “Algumas
medidas graves foram toma-
das em discordância com a
Constituição, mas precisa-
mos enfrentar isso com
muita, muita prudência”.

»...galinha. Falou ainda
sobre a necessidade de recu-
peração da economia e que
“precisamos ter juízo (...) e
não adotar posturas radi-
cais que possam nos afun-
dar mais ainda”.

»Calma, gente. O vento
mudou para o projeto de
fake news no Senado: mes-
mo parlamentares favorá-
veis agora dizem ser um ti-
ming ruim. Temem que o
projeto, na pauta para vota-
ção de hoje, fique com pe-
cha de perseguição ao go-
verno neste momento.

»Radical. O ministro do
STF Marco Aurélio Mello
esbarrou com a manifesta-
ção na Esplanada, enquanto
passeava de moto. Lamen-
tou as aglomerações.

COM MARIANNA HOLANDA.

A


liados do ex-ministro Sérgio Moro já veem seu ca-
minho na política como certo. Mesmo com uma
postura mais discreta, sem dizer explicitamente
suas intenções, Moro tem deixado claro, segundo esses
interlocutores, que o percurso mais provável no médio
prazo será mesmo o político-eleitoral. A intenção de se-
guir carreira como advogado ou palestrante enfrentará
obstáculos e será observada pela opinião pública com
uma lupa, afirmou um aliado. Até Rodrigo Maia disse:
“Não sei se ele é candidato, mas tem agido como político”.

Aliados já dão como


certo Moro na política


MARIANA HAUBERT (INTERINA*)
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
[email protected]
POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

‘Não há como o
Exército tomar decisão

ilegal.’ Pág. A


Santos Cruz


Bolsonaro paga recorde


de emendas parlamentares


Poderes. Governo federal empenhou em abril R$ 6,2 bilhões e repassou efetivamente no


período R$ 4 bilhões a congressistas; valores são os maiores para um único mês desde 2016


Vinícius Valfré / BRASÍLIA

Disposto a agradar ao Cen-
trão para barrar eventual pro-
cesso de impeachment e for-
çado a gastar para combater
o novo coronavírus, o gover-
no do presidente Jair Bolsona-
ro bateu recorde de liberação
de emendas parlamentares
durante a pandemia. Somen-
te em abril, R$ 6,2 bilhões fo-
ram empenhados (quando a
gestão se compromete com a
despesa) – trata-se do maior
valor para um único mês des-
de 2016, ano em que o monito-
ramento individual das emen-
das passou a ser possível.
O montante efetivamente pa-
go também foi o maior para um
único mês ao longo dos últimos
anos, R$ 4 bilhões. As emendas
são indicações feitas por deputa-
dos e senadores de como o go-
verno deve gastar o dinheiro do
Orçamento. Os parlamentares
costumam direcionar as verbas
para seus redutos eleitorais e,
com isso, ganham a paternida-
de de obras e ações que benefi-
ciam diretamente seus eleito-
res, o que acaba contribuindo
com suas reeleições. O dinheiro
vai para construções de praças,
pontes, hospitais, compra de
equipamentos hospitalares, dis-
tribuição de cestas básicas, en-
tre outras ações.
Em abril, por exemplo, o de-
putado Dimas Fabiano (PP-
MG) recebeu créditos na pági-
na oficial da prefeitura de Passa
Quatro, cidade mineira em que
tem influência. “Sabia que o mu-
nicípio de Passa Quatro vai re-
passar para a Casa de Caridade
(Santa Casa) R$ 225 mil, por
meio de emenda parlamentar
do deputado Dimas Fabiano?”,
destacava a publicação oficial.
Sabendo disso, o governo usa as
emendas para barganhar apoio
em votações no Congresso.
Os dados são do Sistema Inte-
grado de Administração Finan-
ceira do Governo Federal (Sia-
fi) e foram compilados a pedido
do Estadão pela ONG Contas
Abertas. O levantamento consi-
dera todos os tipos de emendas:
individuais, de bancada, de co-
missões e do relator. “É recorde
absoluto, de empenho e de paga-
mentos. Até então, o maior em-
penho tinha ocorrido no final
do ano passado. Em dezembro,
foram R$ 3,9 bilhões”, afirmou
o secretário-geral da ONG Con-
tas Abertas, o economista Gil
Castello Branco.
Embora seja obrigado a pagar
as emendas, o Executivo contro-
la o calendário de transferên-
cias. O histórico desses repas-
ses mostra que governos costu-
mam acelerar o ritmo do desem-
bolso quando precisam de
apoio na Câmara e no Senado
para aprovar projetos cruciais e
até mesmo para barrar proces-

sos de impeachment.
Apesar de não ter sido o úni-
co fator que explique a maior
liberação de emendas, o novo
canal de diálogo do governo
com o Centrão teve influência
nesses pagamentos, na visão de
Castello Branco. “Não é só o ‘to-
ma lá, dá cá’ (de cargos). Houve
volume atípico de emendas de
relator e tem a pandemia. As
emendas para Saúde são maio-
res, mas metade delas tem de
ser para Saúde mesmo. E em
abril, claro, estamos na fase do
Centrão, que está nadando de
braçada”, disse o economista.
Dos R$ 6,2 bilhões empenha-

dos em abril, R$ 3,7 bilhões es-
tão relacionados à Saúde. Ou-
tros R$ 2 bilhões, porém, dizem
respeito a demandas em minis-
térios da Infraestrutura e do De-
senvolvimento Regional. As
pastas controlam obras que des-
pertam interesse eleitoral.
O pagamento de emendas na
primeira metade deste ano é
fundamental para políticos. O
período de campanha impõe
restrições aos gestores, entre
elas a vedação de repasses a par-
tir de julho. Caso não ocorram
no primeiro semestre, os de-
sembolsos só podem ser feitos
após as eleições, o que seria um
problema para lideranças que
buscam holofotes nas disputas
municipais, seja para concorrer
ou para apoiar aliados.

Efeito. “Se deixasse para libe-
rar em novembro, poderia não
surtir o mesmo efeito”, admitiu
líder do DEM na Câmara,
Efraim Filho (PB).
Para técnicos da Câmara, é
comum ocorrer aumento dos

repasses em abril e maio por-
que o Executivo costuma usar
cerca de cem dias, a partir da
sanção da lei orçamentária, pa-
ra avaliar eventuais problemas.
Ainda assim, o dinheiro empe-
nhado em abril foi quase o do-
bro dos R$ 3,3 bilhões reserva-
dos no mesmo mês de 2018.
Em abril, os pagamentos
mais robustos foram, indivi-
dualmente, para parlamentares
de partidos do Centrão, que, até
então, não haviam conseguido
liberações. O maior beneficia-
do, com R$ 15,9 milhões, foi Josi-
mar Maranhãozinho (PL-MA),
homem da confiança de Valde-
mar Costa Neto.
Valor praticamente seme-
lhante foi liberado por emen-
das de Mauro Lopes (MDB-
MG), integrante do Conselho
de Ética da Câmara e conhecido
pela complacência com colegas
que são alvo de processos no co-
legiado. Em terceiro, com R$
15,7 milhões pagos em abril, Jua-
rez Costa (MDB-MT), bolsona-
rista que flerta com o Centrão.

BRASÍLIA

O governo nomeou o chefe do
gabinete do senador Ciro No-
gueira (Progressistas-PI), Mar-
celo Lopes da Ponte, para a pre-
sidência do Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação
(FNDE), que tem um orçamen-
to de R$ 54 bilhões neste ano. A
nomeação foi publicada ontem
no Diário Oficial da União. Ele
vai substituir Karine Silva dos
Santos, que ocupava o cargo
desde dezembro e é alinhada ao
ministro da Educação, Abra-
ham Weintraub.
A entrega do fundo a um no-
me indicado pelo Centrão faz
parte da estratégia do presiden-
te Jair Bolsonaro para ganhar
apoio no Congresso.

Vinculado ao Ministério da
Educação, o FNDE é um dos es-
paços mais cobiçados por políti-
cos. É responsável pela contra-
tação de livros escolares, trans-
porte de alunos e programa fe-
deral de financiamento estu-
dantil.
O governo já havia nomeado
na Diretoria de Ações Educacio-
nais do fundo um indicado do
PL, sigla do ex-deputado Valde-

mar Costa Neto, condenado no
mensalão. Garigham Amarante
Pinto, assessor do PL na Câma-
ra, assumiu em 18 de abril.
No ano passado, o órgão foi
alvo de uma disputa entre o pre-
sidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), e Weintraub.
Um indicado pelo deputado, Ro-
drigo Sérgio Dias, foi exonera-
do da presidência do fundo em
dezembro.

Banco. O PL também vai co-
mandar o Banco do Nordeste.
Como revelou o Estadão, a si-
gla emplacou Alexandre Cabral
na vaga de Romildo Rolim, que
se despediu do cargo ontem. Ro-
lim foi indicado pelo ex-sena-
dor Eunício Oliveira (MDB).

»SINAIS
PARTICULARES.
Marco Aurélio
Mello, ministro do
Supremo Tribunal
Federal

Fábio Trad

Nome do Centrão assume


fundo bilionário da educação


KLEBER SALES/ESTADÃO

BOMBOU NAS REDES!

l‘Atípico’

ALBERTO BOMBIG
*O colunista está em férias.

l‘Diálogo’
“O presidente tem de ter algum
diálogo com quem está ali (no Con-
gresso)”, disse o deputado Eduar-
do Bolsonaro (PSL-SP) sobre a
entrega de cargos ao Centrão.

Indicado pelo senador
Ciro Nogueira substitui
Karine Silva dos Santos,
alinhada ao ministro
Abraham Weintraub

“As manifestações a favor da democracia não po-
dem fazer o jogo de quem quer o pretexto da desor-
dem para justificar ataques à própria democracia.”

Deputado federal (PSD-MS)

Pagamento de emendas

●Comparação dos valores destinados a emendas parlamentares

REPASSES

FONTE: SIAFI, ELABORAÇÃO CONTAS ABERTAS INFOGRÁFICO/ESTADÃO

EM MILHÕES DE REAIS

Por ano De janeiro a abril
EM MILHÕES DE REAIS
4.
3.

2.

Meses com maiores volumes
EM MILHÕES DE REAIS

0

2.

4.

6.

8.

10.

2016 2020*

ABR
2020

JUN
2018

DEZ
2016

8.

0

2.

4.

6.

8.

10.

2016 2020

6.

*DADOS DE 2020, DE 1O DE JANEIRO A 18 DE MAIO

JOÉDSON ALVES / EFE

“Não é só o ‘toma lá, dá cá’
(de cargos). Houve volume
atípico de emendas de
relator e tem a pandemia. E
em abril, claro, estamos na
fase do Centrão.”
Gil Castello Branco
SECRETÁRIO DA ONG CONTAS ABERTAS

Máscara. Presidente Jair Bolsonaro com apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada

»CLICK. Luciano Huck
escolheu uma foto do co-
rintiano Sócrates para
demonstrar apoio aos
atos pró-democracia. A
torcida do time foi uma
das organizadoras.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
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