O Estado de São Paulo (2020-06-03)

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A14 QUARTA-FEIRA, 3 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Renata Cafardo


As escolas devem voltar a fun-
cionar em São Paulo no início
de agosto, com 20% dos alu-
nos. O plano que será anun-
ciado na sexta pelo Estado va-
lerá para estaduais, munici-
pais, particulares, universida-
des, Fatecs e até cursos de in-
glês. Ainda se discute se será
um grupo de 20% dos alunos
frequentando aulas todos os
dias da semana ou se grupos
diferentes de 20% dos estu-
dantes irão uma vez por sema-
na, completando 100% na sex-
ta-feira.
Segundo apurou o Estadão,
o esquema funcionaria por
duas semanas e depois o núme-
ro de crianças e jovens aumenta-
ria aos poucos. O governo do
Estado descartou a possibilida-
de, antes aventada, de iniciar as
aulas com os alunos mais no-
vos, da educação infantil (zero
a 5 anos). O protocolo da volta
prevê também uso de máscaras
e distanciamento de 1,5 metro
dentro das salas de aula. Quem
não estiver nas aulas presen-
ciais teria de continuar com ati-
vidades a distância, tanto em
instituições públicas quanto
nas particulares. O plano vale
para o todo o Estado, mas cada
região paulista poderá determi-
nar uma data de reabertura.
São Paulo, que tem a maior
rede de ensino do Brasil, cami-
nha para uma solução diferente
de outros Estados. “Já é pratica-
mente unanimidade começar a
voltar pelas pontas, e principal-
mente pelo 3.º ano do médio
por causa do Enem”, diz o vice-
presidente do Conselho Nacio-
nal de Secretários de Educação
(Consed) e secretário de Per-
nambuco, Fred Amâncio, com
relação ao conjunto de Estados.
Depois, segundo ele, voltariam
o 9.º ano e o 6.º ano, ou seja,
quem está no fim dos ciclos.
“Não dá para colocar todo mun-
do dentro da escola, é um dos
ambientes de maior risco”, diz.
No sábado, o secretário de Es-
tado da Educação, Rossieli Soa-
res, reuniu-se por videoconfe-
rência com representantes de
todos os segmentos para discu-
tir as medidas, que devem fazer
parte de um decreto. No caso de
prevalecer a opção de voltar ape-
nas um grupo de 20% de cada
instituição, ainda se discute
qual será o grupo prioritário. Es-
colas particulares, por exem-
plo, poderiam ter liberdade pa-
ra escolher quais séries ou estu-
dantes incluiriam nos 20%.
As universidades públicas
(USP, Unesp e Unicamp) e as
Fatecs (faculdades de tecnolo-
gia) pediram prioridade na vol-
ta às aulas presenciais para os


alunos que estão no último ano,
para não prejudicar a formatu-
ra. Nas Fatecs, muitos estudan-
tes precisam cumprir ativida-
des práticas em laboratórios es-
senciais para formação.
Já os representantes de esco-
las particulares (Sieeesp) requi-
sitaram o retorno da educação
infantil. “Se não voltarem, nem
que seja em dias alternados,
muitas vão falir”, diz o presiden-
te do Sieeesp, Benjamin Ribeiro
da Silva. Como a lei não exige
que crianças de até 3 anos este-
jam matriculadas em institui-
ções de ensino no Brasil, 30%
dos pais, segundo estimativa do
sindicato, já tiraram os filhos da
escola. Outros grupos, de esco-
las particulares da capital, que-
rem prioridade para os alunos
do 3.º ano do médio.

Exterior. As experiências inter-
nacionais têm tanto os que opta-
ram pela volta dos alunos mais
velhos que estão terminando a
escola, como a China, quanto
outros que preferiram iniciar
com os menores, como a Dina-
marca. A opção pelas crianças,
em vez dos adolescentes, é justi-
ficada pelo fato de os pais tam-
bém começarem a voltar ao tra-

balho e não terem com quem
deixá-las. Lá fora, os protoco-
los, em geral, incluem rodízio
de alunos, distanciamento, más-
caras e impedimento de os pais
entrarem nas escolas. “Além do
Enem, voltar com os alunos do
ensino médio tem um propósi-
to de desenvolver o protagonis-
mo juvenil. Eles podem ser par-
ceiros dos professores para
conscientizar os menores”, diz
o secretário de Educação do Es-
pírito Santo, Vitor de Angelo.

As crianças teriam mais difi-
culdade em cumprir as novas re-
gras sanitárias nas escolas, afir-
ma ele. O plano no Espírito San-
to é voltar às aulas em julho, divi-
dindo as turmas de ensino mé-
dio em duas metades e alternan-
do as semanas. Depois de 15
dias, começariam a retornar o
ensino fundamental, também
com revezamento.
Em Minas, não há data defini-
da para retorno porque o Esta-
do entende que o pico de casos

de covid-19 deve ocorrer em ju-
lho. Mesmo assim, a ideia tam-
bém é recomeçar as aulas pelo
3.º ano do ensino médio. “Nos-
so foco será em quem está con-
cluindo a educação básica e os
mais vulneráveis, que não estão
tendo acesso ao ensino a distân-
cia”, diz a secretária de Educa-
ção de Minas, Julia Sant’Anna.
O Ceará informou que ainda es-
tá elaborando seu plano, mas
também deve dar prioridade pa-
ra os alunos do 3.º do médio.

Escolas públicas e privadas de São Paulo


devem retomar aula presencial em agosto


Bruno Ribeiro


A cidade de São Paulo negocia
protocolos de reabertura co-
mercial com 50 setores da eco-
nomia, mas já enfrenta entra-
ves de ordem financeira para
conseguir dar fôlego a empresá-
rios e trabalhadores sem colo-


car em risco a capacidade do sis-
tema de saúde de atender pa-
cientes com a covid-19.
A Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo do Es-
tado de São Paulo (Fecomér-
cio) é uma das participantes da
negociação. A entidade divul-
gou comunicado ontem, deta-
lhando parte das sugestões à ci-
dade, mas destacou o posiciona-
mento contrário a uma das prin-
cipais medidas solicitadas pela
gestão Bruno Covas (PSDB):
que o setor privado faça testes
de covid em seus funcionários.
“A federação enviou ofício (à

Prefeitura) questionando o
ônus da realização de testes la-
boratoriais para covid-19 ao se-
tor privado, tal como proposto
no decreto publicado pela Pre-

feitura de São Paulo, uma vez
que o empresariado já passa pe-
la crise e tem tido dificuldade
de manter os negócios”, diz o
texto.
Entre as medidas que a Feco-
mércio entende ser possível aca-
tar estão “uso de equipamentos
de proteção por funcionários e
clientes; oferta de álcool em gel
e cartilha com as diretrizes sani-
tárias; distanciamento social de
1,5 metro; orientação para que
não haja contato físico; horário
de atendimento diferenciado
para grupo de risco; restrição
de viagens de negócios; proibi-

ção de eventos em larga escala;
separação de lixo com poten-
cial de contaminação; restri-
ções aos serviços de valet nos
estacionamentos, dentre ou-
tras”, ainda segundo o docu-
mento.
A Prefeitura foi questionada
pelo Estadão sobre o ofício,
mas não respondeu. Deve divul-
gar amanhã balanço dos três pri-
meiros dias de negociações
com a iniciativa privada para de-
finir a retomada, e há possibili-
dade de anunciar as datas da rea-
bertura. Técnicos das áreas de
Saúde e da Secretaria Munici-

pal de Desenvolvimento Econô-
mico e Trabalho deveriam en-
viar entre ontem e hoje respos-
tas às propostas já apresenta-
das, para a finalização dos proto-
colos ainda nesta quarta.
A capital está na etapa laranja
(fase 2) do plano de reabertura
do governo do Estado. O setor
de bares e restaurantes, que não
pode reabrir na atual fase (man-
tém apenas delivery), tem dois
pleitos em negociação: que ba-
res possam colocar mesas nas
calçadas da frente dos estabele-
cimentos para garantir distân-
cia entre os clientes e os comer-
ciantes sejam isentos da taxa do
Termo de Permissão de Uso (T-
PU), paga anualmente por
quem usa as calçadas.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lSocorro

Particular se


prepara e prevê


modelo híbrido


lUm mês após o Conselho Na-
cional de Educação (CNE) apro-
var as diretrizes para o ensino
durante a pandemia do coronaví-
rus, o Ministério da Educação
(MEC) homologou o texto, com
exceção do item que sugere a
alteração de datas de provas co-
mo o Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem). O despacho foi
publicado no Diário Oficial da

União de anteontem.
O documento sugere que as
instituições, desde a educação
infantil até o ensino superior, bus-
quem alternativas para minimi-
zar a necessidade de reposição
presencial das aulas. As escolas
podem somar atividades não pre-
senciais para cumprimento de
carga horária. Plataformas vir-
tuais, redes sociais, programas
de televisão ou rádio e material
didático impresso entregue aos
responsáveis são algumas das
alternativas possíveis. Caso haja
necessidade de repor a carga
horária ao fim do isolamento so-

cial, a diretriz indica a utilização
do período de férias, dos sába-
dos, da ampliação da jornada es-
colar diária e do contraturno.
O MEC se baseou em uma nota
técnica que utiliza o Enem como
justificativa para vetar o trecho
sobre adiamento de exames. En-
tre os motivos elencados, o MEC
argumenta que cabe ao Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira ela-
borar o cronograma. Após pres-
são de diversas áreas, o governo
decidiu postergar o exame – o
prazo, de 30 ou 60 dias, ainda
será definido. / ÉRIKA MOTODA

País tem novo recorde diário e passa da marca dos 30 mil mortos. Pág. A15 }


WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Plano que será anunciado na sexta-feira valerá para estaduais, municipais, particulares, universidades, Fatecs e até cursos de inglês.


Ainda se discute se 20% dos alunos vão frequentar as aulas todos os dias ou grupos diferentes se revezarão uma vez por semana


Apostila na mão. Em outros Estados, deve-se priorizar as turmas em finais de ciclo e sobretudo quem vai prestar o Enem

“Quem pagou o TPU neste
ano e não pode trabalhar
precisa de algum tipo de
indenização, como
desconto no ano que vem.”
Rodrigo Goulart
VEREADOR E REPRESENTANTE DA ASSOC.
BRAS. DE BARES E RESTAURANTES

Testes são entrave na negociação para reabertura em SP


Setores do comércio


alegam não ter como


arcar com o exames de


covid nos funcionários,


como exige a Prefeitura


Escolas particulares de elite
aguardam as determinações ofi-
ciais do governo para organizar
melhor a volta, mas já começa-
ram a elaborar planos. Muitas
acreditam que o segundo se-
mestre terá modelo híbrido de
ensino, com aulas presenciais e
também a distância.
O grupo que inclui os Colé-
gios Oswald de Andrade, Elvira
Brandão e Piaget já está com-
prando medidores de oxigena-
ção e termômetros para que a
temperatura dos alunos seja me-
dida na porta da escola. A ideia
também é voltar às aulas divi-
dindo as turmas pela metade e
escalonando os dias de aulas
presenciais.
Quem fica em casa poderia
ver a mesma aula pelo computa-
dor. “Estamos lendo protoco-
los de todos os países para mon-
tar o nosso, mas é tudo muito
novo. Por exemplo, vai ter re-
creio ou não, como será o lan-
che da cantina?”, diz o diretor
da rede, Claudio Giardino.
No Colégio Bandeirantes, a
preocupação maior também é
com os alunos do 3.º ano do ensi-
no médio que precisam con-
cluir a etapa. Segundo a direto-
ra pedagógica da escola, Mayra
Ivanoff, eles devem ser os pri-
meiros a voltar. O Bandeirantes
também está organizando gru-
pos com psicólogos para o aco-
lhimento emocional de profes-
sores e alunos por causa da pan-
demia. “Tudo ainda é muito in-
certo. Como vamos fazer um
discurso de não interação para
os adolescentes?”
“É importante olhar para as
pontas, como o 3.º ano, para os
alunos poderem aproveitar me-
lhor essa despedida da educa-
ção básica, ainda com os mo-
mentos de incertezas pelo
Enem”, diz a diretora pedagógi-
ca da Escola da Vila, Fernanda
Flores. A escola montou um gru-
po com professores, pais, alu-
nos e funcionários para plane-
jar como será a volta.
Fernanda diz se preocupar
também com os pequenos, da
educação infantil, que aprovei-
tam pouco o ensino a distância
e cujos pais precisam da escola
para voltar a trabalhar. “Esta-
mos tentando reduzir o núme-
ro de crianças nas turmas, para
5 ou 8. Mesmo assim, quanto
menores eles são mais comple-
xa é a questão de distanciamen-
to e uso de máscara.” / R.C.

MEC aprova regras


para o período, sem


alterar exames


Metrópole

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