O Estado de São Paulo (2020-06-03)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-2:20200603:
A2 Espaçoaberto QUARTA-FEIRA, 3 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






A maior coleção itinerante do
Museu Nacional de Arte da Ca-
talunha (MNAC) – incluindo
obras de Picasso, Miró e Dalí –
está em um armazém na capi-
tal japonesa depois do cancela-
mento de uma exposição pela
pandemia de coronavírus.
Com a falta de voos devido à
situação global da saúde, nem


os organizadores japoneses
da exposição podem devolver
as obras para a Espanha nem
os técnicos do MNAC podem
verificar pessoalmente suas
boas condições. A exposição
foi aberta em 8 de fevereiro e
cancelada 20 dias depois.

http://www.estadao.com.br/e/obraspicasso

O


tocante artigo Meu
Brasil brasileiro, de mi-
nha amiga Elena Lan-
dau, publicado neste jornal há
alguns dias (22/5), ativou em
mim umas memórias que en-
tendi que poderia ser apro-
priado compartilhar com os
leitores. O argentino Jorge
Luis Borges, um europeísta as-
sumido, tinha uma frase deli-
ciosa acerca de si mesmo:
“Soy un europeo nacido en el exi-
lio”. Essa foi, muito modesta-
mente, por analogia, minha
sensação acerca do Brasil. Pe-
la minha história, filho de
pais argentinos, tendo nasci-
do no Brasil e ido morar em
Buenos Aires aos 10 meses de
idade, eu era “um argentino
nascido no Rio”.
Quando vim para o Brasil,
na adolescência, eu o fiz dei-
xando para trás lembranças
associadas àquela época san-
grenta da Argentina, uma das
mais marcantes sendo a do su-
miço de um primo distante.
Ele engrossara a lista dos “de-
saparecidos” e, como quase
todos nela, nunca mais voltou
ao mundo dos vivos. Ao se es-
vair no ar, ele deixou a esposa


  • minha prima – grávida.
    O pai – agora falecido – des-
    sa minha prima era um presti-
    gioso cardiologista, que traba-
    lhava no Hospital Militar de
    Buenos Aires. Eram tempos
    terríveis e ele convivia com a
    suspeita de que, provavelmen-
    te, em algum momento deve
    ter tido como paciente um
    dos assassinos do seu genro.
    Vivendo minha prima, após
    o desaparecimento do mari-
    do, na incerteza do que Alen-
    car Furtado, em discurso fa-
    moso no Brasil, qualificara co-
    mo as “viúvas do quem sabe
    se talvez”, o pai dela, queren-
    do que a filha pudesse recons-
    tituir a sua vida e já com o ne-
    to no mundo, ativou contatos
    chave e solicitou uma entre-
    vista com o comandante de
    um dos principais comandos
    militares. Deste, dizia-se, ema-
    navam as decisões acerca de
    quem poderia ser considera-
    do preso oficial e quem estava
    destinado a algum dos temí-
    veis “voos da morte”, que des-


pejavam os cadáveres dos “de-
saparecidos” no Rio da Prata.
O comandante recebeu-o e
disse então a frase que, ouvi-
da no relato do pai da minha
prima, nunca mais me saiu da
memória e reapareceu algu-
mas vezes nos meus pesade-
los da juventude: “Doctor, está
usted hablando con la persona
justa. Yo soy el administrador
de la muerte”. Essa era a Ar-
gentina da qual minha família
escapou no já longínquo ano
de 1976.
Corta para o Brasil da mes-
ma época. Só soube do episó-
dio que vou relatar há poucos
anos, mas ele aconteceu na-
quela época e reflete com pre-
cisão o contraste da situação
dos dois países.
No tempo dos militares, no
Brasil, existia a “linha dura” e
o que esta chamava de “me-
lancias” (verdes por fora, ver-

melhas por dentro), na visão
de quem todo aquele que não
aderisse ao credo mais radical
era considerado “comunista”.
Em meados dos anos 1970, a
cúpula do PCdoB havia sido
dizimada, num evento que ti-
nha deixado sequelas negati-
vas para o governo. Depois
disso, um político, importan-
te liderança civil do governo
Geisel, recebeu a visita de um
desses representantes da “li-
nha dura”. Sem meias pala-
vras, este lhe disse o seguinte:
“Nós sabemos que você co-
nhece o pessoal do Partidão.
Pois bem, eles vão realizar
um encontro de cúpula mês
que vem. Eles não sabem que
nós sabemos, mas nós sabe-
mos. Se esse encontro ocor-
rer, não vai ter jeito: eles vão
ser mortos. E nós não quere-
mos isso. Portanto, peço-lhe
um favor: transmita essa infor-
mação a eles, para que esse en-
contro não ocorra”.
Esse líder civil do governo
militar entrou em contato
com emissários do Partido

Comunista Brasileiro (PCB) e
foi pessoalmente se encon-
trar dias depois, numa igreja
de Brasília, com um represen-
tante pessoal de Giocondo
Dias, o líder do partido na au-
sência de Luiz Carlos Prestes,
então no exílio. Cada um se
ajoelhou para rezar, a certa
distância um do outro para
não ser algo óbvio, e foi então
que esse deputado, liberal das
antigas, como Sobral Pinto,
transmitiu o recado. O encon-
tro não se realizou e a vida
dos membros do Comitê Cen-
tral do Partido Comunista foi
poupada.
Muitos anos depois, já
adoentado, ambos idosos, Gio-
condo Dias tocou a campai-
nha do apartamento daquele
político da Arena. Sua mensa-
gem: “Venho lhe agradecer
por ter salvado a minha vida
nos anos 70”. Sempre que con-
to a história me emociono.
Costumo dizer, pela expe-
riência de vida que já expli-
quei acima, que não sou ape-
nas brasileiro: eu virei brasilei-
ro. Sendo o país onde nasci
um desconhecido para mim
até os 14 anos, foi a terra que
acolheu a mim e minha famí-
lia. Por contraste com o infer-
no da Argentina daquela épo-
ca, o País pelo qual nos encan-
tamos é o retratado nessa be-
la história que relatei acima:
uma terra de nuances, de sen-
sibilidade, de humanidade, de
sentimentos nobres e de afe-
to. O país em que, mesmo
num governo autoritário, a
“turma” mais dura tentava mi-
tigar os conflitos e havia al-
gum respeito pela diferença,
cuidados a tomar, diálogo e
certa classe.
Hoje, neste festival diário a
que assistimos no noticiário,
que mistura agressividade,
grosseria, falta total de empa-
tia e a exacerbação do confli-
to, não reconheço mais o País
que nos recebeu. Quatro dé-
cadas e meia depois daquela
época, a pergunta que não
quer calar é: o que aconteceu
com o Brasil?

]
ECONOMISTA

Ideia da entidade é propor-
cionar aos 200 brasileiros
condições de treinos.

http://www.estadao.com.br/e/cob

JAPÃO


Obras de Picasso confinadas em Tóquio


Dez canais a cabo dos EUA
exibiram anteontem uma
tela preta com as palavras
“Não consigo respirar” por
8 minutos e 46 segundos.

http://www.estadao.com.br/e/homenagemfloyd

l“O presidente está liberando o pessoal da saúde para atender a popu-
lação. A parte administrativa fica com outros profissionais.”
ANGELA RUTH SALLES

l“Dono de franquias de curso de inglês vai coordenar pasta da Saúde.
Absurdo é pouco para o que acontece no Brasil.”
ANTONIO RIVALDO BRAGA MARTINS

l“Ministro ou secretário de Saúde não precisa ser médico. Temos
médicos excelentes, mas que não sabem gerenciar uma secretaria.”
ELTON CELIO DE OLIVEIRA

l“Ele é médico ou tem alguma especialização na área de saúde? Ou
apenas mais um amigo do presidente Bolsonaro?”
VIVIANNE GOMES

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Empresário da tecnologia
que fez fortuna antes dos 30
anos é dono da empresa de
engenharia aeroespacial e da
montadora Tesla.

http://www.estadao.com.br/e/elonmusk

Espaço Aberto


A


apresentação das últi-
mas manifestações con-
trárias ao governo co-
mo democráticas constitui um
abuso, por ferirem, literalmen-
te, pessoas e o patrimônio pú-
blico e privado, todos protegi-
dos pela democracia. Imagens
mostram o que delinquentes fi-
zeram em São Paulo, Rio de Ja-
neiro e Curitiba. Registros da
internet deixam claro quão
umbilicalmente ligados estão
ao extremismo internacional.
É um abuso esquecer quem
são eles, bem como apresen-
tá-los como contraparte dos
apoiadores do governo na ten-
tativa de transformá-los em
manifestantes legítimos. Ba-
derneiros são caso de polícia,
não de política.
Portanto, não me dirijo a
eles, sempre perdidos de ar-
mas na mão, os que em verda-
de devem ser conduzidos de-
baixo de vara às barras da lei.
Dirijo-me aos que os usam,
querendo fazê-los de arma po-
lítica; aos que, por suas posi-
ções na sociedade, detêm res-
ponsabilidades institucionais.
Aonde querem chegar? A in-
cendiar as ruas do País, como
em 2013? A ensanguentá-las,
como aconteceu em outros
países? Isso pode servir para
muita coisa, jamais para de-
fender a democracia. E o País
já aprendeu quanto custa es-
se erro.
A legítima defesa da demo-
cracia está fundada na prática
existencial da tolerância e do
diálogo. Nesse sentido, Tho-
mas Jefferson, o defensor das
liberdades que, como presi-
dente eleito, rejuvenesceu a
nascente democracia norte-
americana em momento de
aparente perda de seu elã igua-
litário, deixou-nos preciosa ci-
tação: “Toda diferença de opi-
nião não é uma diferença de
princípios”.
Uma sociedade que se orga-
niza politicamente em Estado
só pode tê-lo verdadeiramen-
te a seu serviço se observar os
princípios que regem sua vida
pública. Cabe perguntar se é
isso que estamos fazendo no
Brasil.
É lícito usar crimes para de-


fender a democracia? Qual
ameaça às instituições no Bra-
sil autoriza a ruptura da or-
dem legal e social? Por acaso
se supõe que assim será feito
algum tipo de justiça?
As cenas de violência, de-
predação e desrespeito que to-
maram as manchetes e telas
nestes dias não podem ser en-
tendidas como manifestações
em defesa da democracia,
nem confundidas com outras
legítimas, enquanto expres-
sões de pensamento e dissen-
so, essenciais para o debate
que a ela dá vida. Desde quan-
do, vigendo normalmente, ela
precisa ser defendida por fa-
ces mascaradas, roupas ne-
gras, palavras de ordem, bar-
ras de ferro e armas brancas?
Não é admissível que, a títu-
lo de se contrapor a exageros
retóricos impensadamente lan-
çados contra as instituições

do Congresso e do Supremo
Tribunal Federal, assistamos a
ações criminosas serem apoia-
das por lideranças políticas e
incensadas pela imprensa. A
prosseguir a insensatez, pode-
rá haver quem pense estar
ocorrendo uma extrapolação
das declarações do presidente
da República ou de seus apoia-
dores para justificar ataques à
institucionalidade do País.
Cabe ainda perguntar qual o
sentido de trazer para o nosso
país problemas e conflitos de
outros povos e culturas. A for-
mação da nossa sociedade, em-
bora eivada de problemas con-
tra os quais lutamos até hoje,
marcadamente a desigualdade
social e regional, não nos le-
gou o ódio racial nem o gosto
pela autocracia. Todo grande
país tem seus problemas, pro-
porcionais a seu tamanho, po-
pulação, diversidade e comple-
xidade. O Brasil também os
tem, não precisa importá-los.
É forçar demais a mão asso-
ciar mais um episódio de vio-
lência e racismo nos Estados

Unidos à realidade brasileira.
Como também tomar por mo-
delo de protesto político a
atuação de uma organização
nascida do extremismo que
dominou a Alemanha no
pós-1.ª Guerra Mundial e a fez
arrastar o mundo a outra guer-
ra. Tal tipo de associação, pra-
ticada até por um ministro do
STF no exercício do cargo,
além de irresponsável, é inte-
lectualmente desonesta.
Finalmente, é razoável com-
parar o regime político que se
encerrou há mais de 35 anos
com o momento que vivemos
no País? Lendo as colunas de
opinião, os comentários e até
despachos de egrégias autori-
dades, tem-se a impressão de
que sessentões e setentões
nas redações e em gabinetes
da República resolveram vol-
tar aos seus anos dourados de
agitação estudantil, marca-
dos por passeatas de que
eventualmente participaram
e pelas barricadas em que so-
nharam estar.
Não há legislação de exce-
ção em vigor no País, nem po-
lítica, econômica ou social, ne-
nhuma. As Forças Armadas,
por mais malabarismo retóri-
co que se tente, estão desvin-
culadas da política partidária,
cumprindo rigorosamente
seu papel constitucional. Mili-
tares da reserva, como cida-
dãos comuns, trabalham até
para o governo, enquanto os
da ativa se restringem a suas
atividades profissionais, a ser-
viço do Estado.
Se o País já enfrentava uma
catástrofe fiscal herdada de
administrações tomadas por
ideologia, ineficiência e cor-
rupção, agora, diante da so-
cial que se impôs com a pan-
demia, a necessidade de con-
vergência em torno de uma
agenda mínima de reformas e
respostas é incomensuravel-
mente maior. Mas para isso é
preciso refletir sobre o que es-
tá acontecendo no Brasil.
Quando a opinião se impõe
aos princípios, todos perdem
a razão. Em todos os sentidos.

]
VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
JOÃO FÁBIO CAMINOTO / DIRETOR DE JORNALISMO
MARCOS BUENO / DIRETOR FINANCEIRO
MARIANA UEMURA SAMPAIO / DIRETORA JURÍDICA
NELSON GARZERI / DIRETOR DE TECNOLOGIA

CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR:
FALE COM A REDAÇÃO:
3856-
[email protected]
CLASSIFICADOS POR TELEFONE:
3855-
VENDAS DE ASSINATURAS: CAPITAL:
3950-
DEMAIS LOCALIDADES:
0800-014-
VENDAS CORPORATIVAS: 3856-

TRIBUTO
Canais de TV fazem
homenagem a Floyd

Quem é Elon Musk, o
bilionário da SpaceX

COMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK:

CNBC JOE SKIPPER/REUTERS

]
Antonio Hamilton Martins Mourão


Tema do dia


App da Apple permite locali-
zar um dispositivo mesmo
que não esteja na internet.

http://www.estadao.com.br/e/iphoneperdido

Opinião e


princípios


A legítima defesa da
democracia está
fundada na prática da
tolerância e do diálogo

O que aconteceu


com o Brasil?


Neste festival diário de
agressividade, grosseria,
exacerbação do conflito,
não o reconheço mais

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
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SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
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ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Carlos Wizard vai


assumir secretaria no


Ministério da Saúde


Bilionário vai chefiar setor considerado
estratégico por coordenar parcerias
para fabricação de medicamentos

]
Fabio Giambiagi

JORGE ZAPATA/EFE E-INVESTIDOR

No estadao.com.br


ESPORTES

COB enviará 200
atletas para a Europa

TECNOLOGIA

Como encontrar um
iPhone perdido
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