O Estado de São Paulo (2020-06-03)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 3 DE JUNHO DE 2020 NotaseInformações A


O


ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Celso de Mello re-
jeitou, a pedido da Procuradoria-
Geral da República, um requeri-
mento de partidos de oposição
para que o celular do presidente
Jair Bolsonaro fosse apreendido na investigação
sobre sua suposta tentativa de interferir politica-
mente na Polícia Federal. Ao fazê-lo, o decano
do STF apenas seguiu o que está na lei, que limi-
ta ao Ministério Público a prerrogativa de reque-
rer diligências desse tipo em investigação penal,
assim como havia meramente seguido a praxe
ao encaminhar tal requerimento para análise do
Ministério Público.
Como se sabe, esse foi um dos casos que servi-
ram de pretexto para que o presidente da Repú-
blica ameaçasse descumprir ordens judiciais que
considerasse “absurdas”. Quando o pedido de
apreensão do celular de Bolsonaro foi encami-
nhado pelo ministro Celso de Mello à Procurado-
ria-Geral, o ministro do Gabinete de Segurança
Institucional, Augusto Heleno, emitiu uma “no-
ta à Nação” para dizer que “o pedido de apreen-
são do celular do presidente da República é in-
concebível e, até certo ponto, inacreditável” – co-


mo se Celso de Mello tivesse aceitado o requeri-
mento – e para declarar que a atitude do minis-
tro do Supremo poderia resultar em “consequên-
cias imprevisíveis” – uma explícita ameaça de
ruptura institucional. Para não haver dúvidas so-
bre a disposição hostil do bolso-
narismo, o próprio presidente avi-
sou: “Me desculpe, senhor minis-
tro Celso de Mello. Retire o seu
pedido, que meu telefone não se-
rá entregue. Ninguém vai pegar o
meu telefone”.
Diante desse comportamento
irresponsável, de afronta explícita
às instituições, o ministro Celso
de Mello aproveitou seu despa-
cho sobre o pedido de apreensão
do celular de Bolsonaro para lem-
brar ao presidente sobre o dever
primário de todos e de cada um
dos brasileiros de cumprir as ordens da Justiça.
De singelo indeferimento de uma solicitação, o
despacho de Celso de Mello tornou-se poderoso
manifesto em defesa da Constituição contra seus
ruidosos inimigos que hoje, por infelicidade elei-
toral, ocupam os mais altos postos no Executivo.

Primeiro, o ministro Celso de Mello declarou
que o Supremo “não transigirá nem renunciará
ao desempenho isento e impessoal da jurisdição,
fazendo sempre prevalecer os valores fundantes
da ordem democrática e prestando incondicio-
nal reverência ao primado da
Constituição, ao império das leis e
à superioridade político-jurídica
das ideias que informam e ani-
mam o espírito da República”. Em
outras palavras, o STF não se inti-
midará diante dos arreganhos dos
camisas pardas do bolsonarismo.
Cabe ao Judiciário, escreveu
Celso de Mello, entre outras coi-
sas, “repelir condutas governa-
mentais abusivas” e “impedir a
captura do Estado e de suas insti-
tuições por agentes que desconhe-
cem o significado da supremacia
da Constituição e das leis da República”.
O ministro salientou que “o ato de insubordina-
ção ao cumprimento de uma decisão judicial”, co-
mo ameaçou fazer o presidente Bolsonaro, “tra-
duz gesto de frontal transgressão à autoridade da
própria Constituição da República”. Para Celso de

Mello, “é tão grave a inexecução de decisão judi-
cial por qualquer dos Poderes da República” que,
“tratando-se do chefe de Estado, essa conduta pre-
sidencial configura crime de responsabilidade”.
Por fim, o ministro Celso de Mello recordou
que “a condição da guarda da Constituição da Re-
pública foi outorgada a esta Corte Suprema pela
própria Assembleia Nacional Constituinte, que
lhe conferiu a gravíssima responsabilidade de
exercer, em tema de interpretação de nossa Car-
ta Política, o monopólio da última palavra”. As-
sim, as decisões do Supremo, goste ou não o pre-
sidente da República, devem ser cumpridas, mes-
mo que se discorde delas.
Deveria ser desnecessário enfatizar essa obri-
gação, que é de todos os cidadãos, a começar pe-
lo chefe de Estado. Mas, nestes tempos estra-
nhos, nunca é demais lembrar que descumprir
uma ordem emanada do Supremo equivale a des-
respeitar a Constituição. Mais do que isso: Celso
de Mello, lembrando as palavras do deputado
Ulysses Guimarães por ocasião do encerramen-
to da Assembleia Constituinte, advertiu que des-
cumprir ou afrontar a Constituição é ato de trai-
ção – e “traidor da Constituição”, disse Ulysses,
“é traidor da Pátria”.

S


usto nos merca-
dos, fuga de capi-
tais e dólar em alta
têm prejudicado
os emergentes em
todo o mundo,
mas o Brasil foi “o país que
mais sofreu com a desvaloriza-
ção cambial”, disse o presiden-
te do Banco Central (BC), Ro-
berto Campos Neto, em depoi-
mento no Congresso. Em dis-
parada, a moeda americana
tem pressionado os custos em-
presariais, corroído os lucros e
inflado a dívida externa de
muitas companhias. Mas por
que este país tem sofrido mais
que outros? A resposta é dada
por economistas estrangeiros,
investidores de fora e grandes
órgãos da imprensa internacio-
nal: o principal espantalho do
capital externo mora no Palá-
cio da Alvorada e seu nome é
Jair Messias Bolsonaro.
A insegurança criada pelo
presidente – na política, na
saúde e na economia – tem
afetado os fluxos de capitais e
provocado forte instabilidade
cambial. O problema agra-
vou-se quando a ação presi-
dencial dificultou o combate
ao coronavírus e o País per-
deu dois ministros da Saúde
em menos de um mês. Mas an-
tes disso o real já se deprecia-
va. A alta do dólar foi impor-
tante fator de redução dos lu-
cros, segundo estudo sobre
183 empresas com ações nego-
ciadas na Bolsa de Valores de
São Paulo, a B3.
A análise, realizada pela Eco-
nomática e divulgada pelo Es-
tado, mostra companhias com
bom desempenho operacional
e grande redução de lucro por
causa dos custos financeiros.


Esses custos, inflados princi-
palmente pelo câmbio, poda-
ram R$ 39 bilhões dos ganhos
e derrubaram o resultado líqui-
do. O impacto da pandemia,
sensível na última quinzena de
março, afetou limitadamente
os números do trimestre.
O dólar subiu cerca de 30%
em relação ao real nos primei-
ros três meses. A alta acumula-
da até a primeira quinzena de
maio chegou a 45%, impondo
perdas maiores a muitas em-
presas. Houve algum recuo,
depois disso, mas nos últimos
dias a valorização acumulada
se manteve na vizinhança de
30%, confirmando o destaque
do Brasil entre as economias

afetadas pela depreciação
cambial. Entre fevereiro e
maio investidores internacio-
nais sacaram US$ 11,8 bilhões
da bolsa brasileira. Entre feve-
reiro e abril US$ 18,7 bilhões
foram retirados do mercado
de títulos, segundo o Institu-
to de Finanças Internacionais
(IIF, na sigla em inglês), com
sede em Washington. Esse ins-
tituto, mantido por cerca de
500 dos maiores bancos de to-
do o mundo, acompanha, en-
tre outros assuntos, a movi-
mentação de capitais.
Parte do dinheiro retirado
no primeiro trimestre já vol-
tou aos emergentes, mas o Bra-
sil continuou perdendo recur-
sos. A singularidade brasileira
ficou mais evidenciada em no-
vo estudo publicado pelo IIF.

De modo geral, a saída de capi-
tais, neste ano, foi muito pare-
cida com a observada na crise
internacional de 2008-2009,
mas, no caso do Brasil, a perda
foi quase o dobro, como taxa,
da ocorrida naquele período.
Segundo o economista-chefe
do IIF, Robin Brooks, os inves-
tidores foram afugentados pe-
las condições políticas do País
e também por detalhes da po-
lítica monetária, como a autori-
zação para a compra de títulos
do governo pelo BC.
A insegurança e as tensões
criadas pelo presidente Bolso-
naro já foram citadas em pes-
quisas conduzidas no merca-
do brasileiro, em declarações
de dirigentes de bancos nacio-
nais e em comentários de gran-
des investidores estrangeiros.
Não há invencionice, portan-
to, nas notícias e comentários
publicados pela imprensa es-
trangeira. O presidente Bolso-
naro, assinalou o Financial Ti-
mes em edição recente, está no
centro de uma crise política e,
além disso, continua ignoran-
do a seriedade do surto de co-
ronavírus, apesar de mais de
500 mil casos de infecção e de
cerca de 30 mil mortes confir-
madas. A saída de dois minis-
tros da Saúde e do ministro da
Justiça, acrescentou o jornal,
desagradou aos investidores.
Ao mencionar a maior saída
de capitais a partir de março, o
jornal londrino citou as dúvi-
das – já existentes – dos inves-
tidores quanto às promessas
de disciplina fiscal de Bolsona-
ro. O risco Bolsonaro passou a
ter mais peso que a confiança
no ministro da Economia, Pau-
lo Guedes. O presidente ofus-
cou o Posto Ipiranga.

N


a campanha de
2018, Jair Bolso-
naro reconheceu
abertamente sua
ignorância sobre
economia. A pro-
messa era de que, se eleito, a
condução da política econômi-
ca do seu governo estaria intei-
ramente nas mãos de Paulo
Guedes, que realizaria um am-
plo programa de reformas do
Estado e da economia. A cam-
panha do então candidato do
PSL não apresentou um míni-
mo programa de governo, com
metas e propostas, mas o fato é
que, para chegar ao Palácio do
Planalto, Jair Bolsonaro prome-
teu um governo reformista.
Era um elemento importante
para atrair o eleitor antipetista;
afinal, ao longo dos 13 anos em
que esteve no governo federal,
o PT foi acintosamente omisso
em dar continuidade às refor-
mas estruturais iniciadas no go-
verno de Fernando Henrique.
No entanto, apesar do discur-
so eleitoral reformista, a pauta
das reformas foi esquecida pe-
lo governo de Jair Bolsonaro.
No segundo semestre de 2019,
o Congresso aprovou a refor-
ma da Previdência, mas depois
disso não houve nenhum avan-
ço significativo. No final do
ano, a equipe econômica ainda
apresentou o Plano Mais Bra-
sil, com as PECs do pacto fede-
rativo, emergencial e dos fun-
dos públicos. Esse ímpeto re-
formista se limitou à apresenta-
ção das propostas, aliás, de efi-
cácia discutível.
Além disso, duas das princi-
pais reformas, a tributária e a ad-
ministrativa, não foram sequer
apresentadas ao Congresso,
apesar das promessas da equi-

pe econômica. No caso da refor-
ma administrativa, o presidente
Bolsonaro foi claro. Não faria
nenhum movimento que pudes-
se causar-lhe dificuldades eleito-
rais, em exata imitação do jeito
lulopetista de governar.
Outro exemplo de indiferen-
ça com as reformas foram as
privatizações. Em vários mo-
mentos, a equipe econômica
reafirmou o compromisso de
levar adiante um audacioso pla-
no de venda das empresas esta-
tais. Haveria uma ampla e ime-
diata privatização em nome da
eficiência, do livre mercado e
da diminuição do tamanho do
Estado. Tal promessa não foi
cumprida e não se viu nenhum

indício de que Jair Bolsonaro
esteja preocupado com o tema.
Conforme se pôde constatar
nas imagens da reunião minis-
terial do dia 22 de abril, o presi-
dente da República está mais
preocupado com quem vai
mandar na Polícia Federal do
Rio de Janeiro e com a distribui-
ção de armas à população.
Assunto fundamental para a
modernização da economia e
o aumento da produtividade,
a abertura comercial não só
foi deixada de lado, mas é avil-
tada impunemente pela entou-
rage do governo. De forma
completamente estúpida, inte-
grantes do primeiro escalão
do governo e familiares de
Jair Bolsonaro insistem em in-
sultar a China, maior parceiro
comercial do País.

A pandemia da covid-19 não
é desculpa para negligenciar as
reformas estruturais. Em pri-
meiro lugar, muito antes de se
ter no País o primeiro caso de
infecção pelo novo coronaví-
rus, o presidente Bolsonaro já
protelava a agenda reformista.
Em segundo, a pandemia não
foi óbice para que ele levasse
adiante assuntos completamen-
te estranhos à questão sanitá-
ria, como a mudança, sem ne-
nhuma razão plausível, do dire-
tor da Polícia Federal Maurício
Valeixo. Se o governo pode cui-
dar de interesses familiares e de
amigos, não há motivo para não
se dedicar às reformas, que inte-
ressam a todos os brasileiros.
Além disso, a crise causada
pela covid-19 reforça a necessi-
dade e a urgência das reformas.
Se antes da pandemia as refor-
mas já eram necessárias para o
desenvolvimento social e eco-
nômico do País, com os efeitos
devastadores do novo coronaví-
rus sobre produção, emprego,
renda e consumo, elas se torna-
ram ainda mais decisivas.
Isso é especialmente grave
em relação às contas públicas.
Em função da pandemia, foi ne-
cessário realizar muitos gastos
emergenciais. Era – e continua
sendo – preciso salvar vidas, e
o ajuste fiscal deixou de ser mo-
mentaneamente uma priorida-
de. Mas o maior desequilíbrio
das contas públicas gerado pe-
la pandemia reforça a necessi-
dade de conter a pressão por
novos gastos públicos perma-
nentes – e isso só será possível
com as reformas estruturais.
Enquanto isso, o presidente
Jair Bolsonaro participa, mon-
tado a cavalo, de manifestação
contra o Supremo.

‘Traidores da Pátria’


ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

Apesar do discurso
eleitoral reformista, a
pauta foi esquecida pelo
governo Bolsonaro

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Notas & Informações


O espantalho de capitais


Presidente assusta o
investidor, provoca
alta do dólar e
prejudica a economia

Reformas negligenciadas


lDesgoverno Bolsonaro
O raiar da esperança
Finalmente se alevanta a nossa
sociedade civil. Pelo desmonte
do Circo do Cavalão, com seus
coices e relinchos diuturnos;
pelo desmanche de sua guarda
pretoriana, de abanadores servi-
çais; pela persecução de seus
milicianos meliantes e malfeito-
res sinistros e covardes, fonte
de falsidades sempre deleté-
rias; pela demissão de seus auxi-
liares incompetentes e idiotas
estabulados no Ministério, que
destroem a educação, a saúde,
o meio ambiente, a política ex-
terna, a ciência e a cultura. Pa-
ra salvar o Estado de Direito e
a República vamos todos jun-
tos, de forma muito firme, mui-
to serena e muito pacífica, cons-
truir um movimento invencível
e irresistível na defesa da demo-
cracia, da ordem e do progres-
so do Brasil!
GERALDO DE F. FORBES
[email protected]
SÃO PAULO


Salvação nacional
O presidente Jair Messias Bol-
sonaro, com seus arroubos de
molde castrista, conseguiu acor-


dar e unir o povo brasileiro, da
direita à esquerda. Sua hora já
está chegando.
MAURÍCIO LIMA
[email protected]
SÃO PAULO

Movimento suprapartidário
Sem dúvida notável o caráter
suprapartidário das manifesta-
ções de domingo passado, ape-
nas esperamos que não prevale-
ça o espírito de confronto!
FRANCISCO JOSÉ SIDOTI
[email protected]
SÃO PAULO

Resistência democrática
A convocação feita pelo edito-
rial Resistir é preciso (27/5, A3)
está sendo acatada. Parabéns
ao Estadão! Hordas democráti-
cas e pacíficas acorreram à Ave-
nida Paulista. Espera-se a am-
pliação em nível nacional, exi-
gindo a deposição o mais rápi-
do possível do presidente. Co-
mo instado no histórico edito-
rial, seguir a Constituição da
República não é fácil, mas há
que resistir. À luta, pois!
RENATO POPPL
[email protected]
CAPÃO DA CANOA (RS)

Extirpar o mal
Quanto antes esse tumor malig-
no que veio de helicóptero e
seguiu a cavalo for extirpado,
sempre à luz da Constituição,
menor será a metástase.
GUTO PACHECO
[email protected]
SÃO PAULO

Memória
“Vão morrer alguns inocentes.
Tudo bem. Em toda guerra,
morrem inocentes. Eu até fico
feliz se morrer, mas desde que
vão 30 mil junto comigo” – Jair
Bolsonaro, 1999 (em defesa da
guerra civil). Bingo!
JORGE JOÃO BURUNZUZIAN
[email protected]
SÃO PAULO

Bandeira sequestrada
Os bolsonaristas sequestraram
o símbolo máximo do País, a
Bandeira Nacional, reduzin-
do-a a símbolo do bolsonaris-
mo. Os não bolsonaristas, hoje
a maioria, nos sentimos cons-
trangidos em usar nosso emble-
ma. Pode?! Ainda mais, os bol-
sonaristas colocam nossa Ban-
deira ao lado e em igual impor-
tância, com forte vínculo ideo-

lógico, da bandeira dos EUA e
de estandartes fascistas e le-
mas nazistas e racistas. Pode?!
Tão ou mais grave: a defesa de
nossa Bandeira é atribuição das
Forças Armadas, logo, numa
mensagem subliminar, ao aliar
a Bandeira ao bolsonarismo,
este se apossa dela como sím-
bolo de seu projeto de poder, o
que nos causa a impressão de
que, ao final, as Forças Arma-
das defendem Bolsonaro – que,
aliás, tem a certeza expressa de
que ele é, sim, o Brasil, de que
ele é a Constituição. Pode?! Fi-
ca a pergunta: a quem caberá
resgatar a Bandeira Nacional
para todos os brasileiros? Ou
perdemos a nossa Bandeira?
LUCIA LACERDA
[email protected]
SÃO PAULO

Tentáculos nos Estados
Dar aumento aos policiais não
é uma fraqueza de Bolsonaro,
ao contrário, é uma estratégia
clara (e custosa para nós) para
ter o domínio nos Estados (A
fraqueza de Bolsonaro, 1.º/6, A3).
Em São Paulo, por exemplo,
não se encontra um policial mi-
litar que não o apoie fortemen-

te. E ai do governador João Do-
ria Júnior se precisar testar a
fidelidade da polícia num emba-
te contra o governo federal: vai
perder toda a autoridade que
pensa ter.
JOSÉ NORBERTO DE SOUZA
[email protected]
SÃO PAULO

lAntipetismo
Estratégia lulista
A ausência do apoio de Lula
aos movimentos suprapartidá-
rios em defesa da democracia,
vista como miopia, é, na verda-
de, estratégia. Bolsonaro foi
eleito por um forte sentimento
anti-PT. Sua eleição só se con-
cretizou porque seus eleitores
tinham um inimigo comum, o
PT, e Bolsonaro era o nome
forte para derrubá-lo. Assim,
como estratégia de manuten-
ção dessa base de apoio, desde
a sua eleição Bolsonaro tem
procurado o conflito para con-
firmar a existência de uma
ameaça constante ao seu man-
dato e à volta de um governo
“inimigo”. Caso Lula decidisse
se unir ao movimento contra
Bolsonaro agora, poderia rea-
cender a chama antipetista e

enfraquecer ou dividir os movi-
mentos populares. Mais do que
isso, a figura de Lula nos pro-
testos poderia fortalecer o pró-
prio Bolsonaro, corroborando a
narrativa de haver uma conspi-
ração de esquerda em busca de
um golpe contra seu governo.
THAÍS PINHEIRO
[email protected]
SÃO PAULO

lCorreção
Memória das Arcadas
Há um equívoco histórico de
citação no maravilhoso e opor-
tuno artigo Inércia é cumplicida-
de (31/5, A2), de A. C. Mariz de
Oliveira, mencionando meu
pai, Luis Soares de Mello Ju-
nior, ali grafado Luiz Soares de
Melo, como professor da Facul-
dade de Direito do Largo de
São Francisco. O grande profes-
sor de Direito Penal referido
era, em verdade, meu tio José
Soares de Mello. Meu pai, à
época com 16 anos de idade, se
tornaria aluno da Faculdade de
Direito apenas em 1947.
LUIS SOARES DE MELLO NETO, vice-presi-
dente do TJSP
[email protected]
SÃO PAULO
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