O Estado de São Paulo (2020-06-03)

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H2 Especial QUARTA-FEIRA, 3 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]

João Luiz Sampaio
ESPECIAL PARA O ESTADO


Morreu, na madrugada da ter-
ça, 2, aos 71 anos, o diretor e ilu-
minador Iacov Hillel. Ele lutava
contra um câncer no fígado.
Atuando tanto no teatro adulto
como no infantil, além de diri-
gir espetáculos de dança, musi-
cais e óperas, que ocupa um pa-
pel especial em seu trabalho co-
mo encenador, ele teve uma tra-
jetória marcada pela diversida-
de. Não havia como ser diferen-
te: sua formação foi feita à luz
de um olhar multidisciplinar, o
que deu a seu trabalho um olhar
amplo, no qual cabia do cuida-
do com os intérpretes à com-
preensão da música ou da luz
em diálogo com o mundo psico-
lógico das personagens.
Nascido em Haifa, Israel, em
1949, Hillel mudou-se para o
Brasil ainda na infância, em



  1. “Quando eu tinha uns 8
    ou 9 anos, havia uma programa-
    ção no Teatro Municipal de São
    Paulo chamada Concertos Mer-
    cedes-Benz, todos os domin-
    gos às 10 horas da manhã, que
    era transmitida ao vivo pela ex-
    tinta TV Tupi Canal 3. Era a pro-
    gramação que o teatro apresen-
    tava durante a semana – com
    ingressos gratuitos aos domin-
    gos – e meu pai me levava a to-
    dos eles, portanto, os grandes
    concertos, as grandes óperas,
    os grandes balés... Assisti a tu-
    do isso muito jovem. Isso veio a
    ser a minha iniciação artística e
    cada um deles ficou impregna-
    do em minha memória. E for-
    jou meu gosto”, contou ele, em
    entrevista de 2011 ao site da SP
    Escola de Teatro.
    Em 1964, tendo já estudado
    piano, ele começou a cursar ar-
    tes plásticas na Faap. Mas, na


mesma época, seu interesse pe-
lo teatro já estava claro: no Tuca
e no Teatro de Arena, foi orien-
tado entre 1965 e 1969 por Euge-
nio Kusnet. Nos anos 1970, estu-
dou expressão corporal com
Maria Esther Stockler; balé
com Marilena Ansaldi; e dança
moderna com Ricardo Or-

doñez. E, no início dos anos
1980, terminou o curso de dire-
ção teatral na Escola de Comu-
nicações e Artes da USP.
“Não tive padrinhos, mas tive
grandes mestres – Eugenio Kus-
net, com quem tive aulas dos 16
aos 21 anos; Flávio Rangel, de
quem fui assistente em A Capi-

tal Federal; Fernando Arrabal,
com quem trabalhei em Torre
de Babel; Jacó Guinsburg, meu
professor na ECA junto de Sába-
to Magaldi; Marilena Ansaldi,
grande mestra de dança, que di-
rigi anos depois; Myriam Mu-
niz, amiga de muitos anos.”
Durante todo esse período,

já atuava como ator em monta-
gens históricas do teatro nacio-
nal, como Morte e Vida Severi-
na, baseada no poema de João
Cabral de Melo Neto, em 1965,
no Tuca, sob direção de Silnei
Siqueira. A estreia na direção
foi em 1971, com Assunta do 21,
de Nery Gomide. Em 1977, fez
história com a produção de A
Filosofia na Alcova, do Marquês
de Sade. E não parou mais, par-
ticipando de montagens impor-
tantes, como Os Lusíadas, ba-
seada em Camões, e trazendo
ao Brasil textos marcantes co-
mo Angels in America, de Tony
Kushner.
José e Seu Manto Technicolor, de
Tim Rice e Andrew Lloyd We-
ber, marca sua estreia como dire-
tor de musicais, em 1982, renden-
do a ele o Grande Prêmio da Críti-
ca no Prêmio Molière. A música
nunca o abandonaria. Dirigiu O
Lago dos Cisnes, de Tchaikovski;
Tuhu – O Villa-Lobos das Crian-

ças, de Guida Borghoff, O Violinis-
ta no Telhado, de Joseph Stein, e a
Ópera do Malandro, de Chico
Buarque, entre outros.
Sua estreia na ópera foi com
uma produção de O Elixir do
Amor, de Donizetti, no final dos
anos 1990, no Festival Amazo-
nas de Ópera; em seguida, diri-
giu Nabucco, de Verdi, no Tea-
tro Municipal do Rio de Janei-
ro, onde seria diretor responsá-
vel por óperas; e O Guarani, de
Carlos Gomes, mais uma vez
em Manaus.
Com o passar dos anos, acres-
centaria ao seu repertório
clássicos como Carmen, de Bi-
zet, no Rio de Janeiro, e Pelleas
et Mélisande, de Debussy, um de
seus principais trabalhos, apre-
sentado no Teatro Municipal
de São Paulo em 2012 e 2018,
com um cenário construído a
partir do uso da luz para recriar
a atmosfera da ópera, símbolo
da literatura simbolista.

lEm tempos de pandemia,
a mostra Modernos Eternos SP
2020 vai fazer as duas edi-
ções anunciadas em versão
100% virtual.

lO Zoom & Buscapé e
Malwee lançaram o site mas-
caraspelobem.org. A cada
máscara comprada, outra
será doada para ser distribuí-
da pelo Instituto da Criança
e pelo movimento União BR.

lO restaurante Casa Santo
Antônio comemora seu 7º
aniversário fazendo menu
delivery beneficente nos dias
5, 6 e 7 de junho, com renda
revertida ao projeto Chef
Aprendiz.

RESPONSABILIDADE
Sabine Lovatelli, SOCIAL
do Mozarteum,
conta que durante
a pandemia
intensificou a
presença da
associação cultural
nas redes, por meio
do programa Música
em Casa, que vem
disponibilizando
registros em vídeo
do festival Música
em Trancoso –
cancelado pela
pandemia. “A partir
de junho também
estarão na internet,
em nossas redes
sociais, muitos dos
concertos realizados
pelo Mozarteum ao
longo de quase
quatro décadas”, diz.

DIRETOR DE OLHAR


Encenador morre aos 71 anos; sua trajetória foi marcada


pela atuação no teatro, na dança, nos musicais e na ópera


POLAROID
Para ajudar na corrente do bem de
combate à covid-19 durante a quarentena,
Isabelle Tuchband postou uma de suas
pinturas, no Instagram, em busca de
doações. “Dez minutos depois recebi
mensagem querendo ajudar! A função do
artista é de doação”, explica a pintora.

Blog: estadão.com.br/diretodafonte Facebook: facebook.com/SoniaRacyEstadao Instagram: @colunadiretodafonte

Dentro do carro


Em tempos de isolamento so-
cial, a casa de shows Tom Brasil
vai abrir um drive-in. O espaço,
que tem pré-estreia prevista pa-
ra 16 e 17 de junho, apresentará
filmes de sucesso como De Vol-
ta Para o Futuro, Jurassic Park,
Meu Malvado Favorito e outras
atrações a céu aberto.

Capacidade? 159 carros.

Firma filmada


Desde a semana passada, é possí-
vel realizar divórcios, compra,
vendas, doações, partilhas e in-
ventários, entre outros, por meio
de videoconferência por todos
os Cartórios de Notas do País.

Elas serão conduzidas por tabe-
liões de notas que indicarão a
abertura da gravação, a data e
hora de seu início, o nome por
inteiro dos participantes e, no
fim, leitura da íntegra do ato.

Pensado


O DEM, que expulsou Sara
Winter ontem, já pensava em
tirá-la há tempos.

De acordo com fontes da colu-
na, a ativista bolsonarista já era
monitorada e sua expulsão só
não aconteceu antes porque o
partido não queria “chamar ain-
da mais atenção” para ela.

Avalanche


Dois movimentos recém-cria-
dos contra o bolsonarismo e em
favor da democracia – Estamos
Juntos e o #somos70porcento


  • geraram muito apoio, mas
    também confusão na ‘origem’.


Alexandre Frota, por exemplo,
ao postar seu apoio a Eduardo
Moreira, criador do #somos70-
porcento, usou outra hashtag, a
do manifesto Estamos Juntos –
ainda sem um criador identifica-
do. “Irmão, conte comigo em
SP ou BSB, o que precisar”, pos-
tou o deputado no Twitter.

Impedimento


Se o caso de Jair Bolsonaro
não é de impeachment, seria o
de impedimento? Em conver-
sa com esta coluna, FHC ad-
mite que essa poderia ser a
saída para o que considera o
âmago da atual – e urgente –
questão política nacional. Não
custa lembrar: há algumas se-
manas, o próprio tucano falou
em renúncia e Miguel Reale
Jr. chegou a sugerir...junta
médica. Ou seja, impedimento
por sanidade mental.

Impedimento 2


Sobre o manifesto que assi-
nou, o #EstamosJuntos, de
grande repercussão – ao qual
já se somaram vários outros,
Brasil afora –, o ex-presiden-
te avisa: “Você tem que des-
pertar a sociedade civil. Co-
mo fizemos em outras épo-
cas contra a ditadura”.

Impedimento 3


Cauteloso com as palavras,
FHC pondera que “aqui não
há ditadura ainda, temos li-
berdade” – e é preciso apro-
veitar essa liberdade “para
protestar, é preciso agitar a
sociedade civil”. A palavra de
ordem “é preservar a demo-
cracia, a imprensa livre, o jo-
go aberto, aproveitar para fa-
lar antes que fechem”.

Impedimento 4


O ex-presidente pontua que
a pandemia não permite ma-
nifestações de rua. Assim, as
pessoas ficam aflitas queren-
do fazer algo... “e torcendo pa-
ra que os militares não embar-
quem na onda Bolsonaro”.

FHC crê que não se chegará a
tal ponto. E conclui que o me-
lhor é esperar as eleições de


  1. O impeachment agora
    “traria confusão nacional”. Le-
    va em conta, ainda, que Bolso-
    naro “foi eleito sendo como é”.


SILVANA GARZARO/ESTADÃO – 19/12/2018

Caderno 2


IACOV HILLEL 1949 2020


MÚLTIPLO


SILVANA GARZARO/ESTADÃO

Iacov. Também
era iluminador

DENISE ANDRADE/ESTADÃO
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