O Estado de São Paulo (2020-06-03)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-4:20200603:
A4 QUARTA-FEIRA, 3 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS PARTICULARES.
Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República

»Resumo. O vídeo grava-
do pelo deputado Daniel
Silveira (PSL-RJ), no qual
um policial diz que mandou
queimar a faixa pró-demo-
cracia no ato do Rio, repre-
senta, segundo um conhece-
dor da polícia, a síntese do
sentimento na tropas.

»Cortina. A confusão nos
protestos favorece Bolsona-
ro também porque desvia o
foco do desastre federal no
combate à covid-19.

»Estamos... Jair Bolsonaro
aceitou o convite feito pes-
soalmente pelo governador
Ronaldo Caiado para parti-
cipar da inauguração do
hospital de campanha de
Águas Lindas de Goiás. O
evento será sexta-feira.

»...juntos de novo? O hos-
pital foi o primeiro do tipo
a ser construído pelo gover-
no federal e será gerencia-
do pelo Estado, focado nos
pacientes com covid-19.

»Recuerdos. Em abril, Bol-
sonaro visitou a unidade
com Caiado e o ex-ministro
da Saúde Luiz Henrique
Mandetta. Na ocasião, ele
foi criticado por ter se apro-
ximado de moradores e ter
causado aglomerações.

»Caminho... A publicação
do manifesto Basta! contra
ataques de Jair Bolsonaro
às instituições, foi custeada
com doações dos signatá-
rios, via Sindicato dos Advo-
gados de São Paulo.

»...da vaquinha... “O sindi-
cato não se omitirá frente
às constantes ameaças à de-
mocracia. Resistiremos”,
disse à Coluna o presidente
da entidade, Fábio Gaspar.

»...jurídica. O manifesto já
reúne mais de 25 mil assina-
turas, entre elas, a do presi-
dente da OAB nacional, Fe-
lipe Santa Cruz, e do reno-
mado Antonio Cláudio Ma-
riz de Oliveira.

»Vem, gente. PDT, PSB,
Rede, Cidadania e PV vão
convidar os signatários dos
manifestos contra Bolsona-
ro para participar da live
Janelas Pela Democracia,
no próximo dia 18.

»Costura... A nota que es-
tá sendo articulada também
pela oposição com partidos
de centro, em defesa da de-
mocracia, não vai citar dire-
tamente Bolsonaro.

»...fina. O objetivo é agre-
gar o máximo possível de
partidos. Rodrigo Maia
(DEM-RJ) acompanha tudo
bem de perto.

»O tempo... Ao rechaçar o
endosso a manifestos supra-
partidários, Lula explicitou
que só se preocupa com a
volta do PT ao poder. Deu
sinais de ter sido acometido
por grave miopia política.

»...passou e... Os tempos
mudaram após o mensalão
e o petrolão. Os petistas
deixaram de ter força para,
sozinhos, representar qual-
quer caminho de recupera-
ção e de união do País.

»...Carolina não viu. Lula
não quer ser “maria vai
com as outras”, mas pode
terminar como a moça que
ficou na janela e perdeu o
bonde da história.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

G


overnadores e autoridades estaduais de Segurança
manifestaram à Coluna grande preocupação com o
alinhamento das PMs a Jair Bolsonaro em meio ao
aumento da tensão nas ruas. A ligação dos praças com o
presidente não é de hoje, mas foi escancarada domingo
durante protestos. Em grupos de WhatsApp, policiais exal-
taram a truculência dispensada aos manifestantes contrá-
rios a Bolsonaro. O maior temor é quanto a um “poder pa-
ralelo” nos Estados. Em São Paulo, onde João Doria já so-
fria com a base da PM antes da crise, o clima está pesado.

Governadores temem


‘poder paralelo’ da PM


ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
[email protected]
POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

KLEBER SALES/ESTADÃO

Nome do Centrão para
instituição é alvo de

investigação. Pág. A


Banco do Nordeste


Organizações engrossam


manifestos pró-democracia


Protesto. Entre as 130 entidades que assinam documento estão grupos de renovação


política; texto diz que ameaça ‘à ordem democrática’ reside na Presidência da República


Pedro Venceslau

A onda de manifestos assina-
dos por personalidades brasi-
leiras de diferentes setores
da sociedade em defesa da de-
mocracia e em oposição à re-
tórica do presidente Jair Bol-
sonaro ganhou volume com a
articulação de organizações
da sociedade civil. Ontem,
130 entidades subscreveram
o documento “Juntos pela de-
mocracia e pela vida”, que diz
ser “preciso reconhecer de
forma inequívoca que a amea-
ça fundamental à ordem de-
mocrática e ao bem-estar do
País reside hoje na própria
Presidência da República”.
Entre os signatários estão gru-
pos de renovação e formação
política surgidos nos últimos
anos; entidades formadas a par-
tir do incremento do combate à
corrupção no País; movimen-
tos de transparência nas ativida-
des partidárias e na administra-
ção pública; institutos de ges-
tão da educação e outras áreas;
organizações ambientalistas,
contra o armamentismo, entre
outras. O manifesto foi divulga-
do pelo Pacto pela Democracia,
que abriga movimentos e gru-
pos de diferentes espectros po-
líticos e tradições – como Reno-
vaBR, Raps, SOS Mata Atlânti-
ca, a ONG Sou da Paz, a Rede
Nossa São Paulo, o Instituto
Vladimir Herzog, a Associação

Brasileira de Imprensa (ABI) e
o Instituto Ethos.
O manifesto foi lançado na es-
teira de iniciativas recentes co-
mo o Basta!, que reúne advoga-
dos e juristas, e o Movimento
Estamos Juntos, que agregou
centenas de personalidades –
do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) ao
deputado Marcelo Freixo (P-
SOL-RJ) – e o Somos 70% (mais
informações na pág. A8).
Segundo o sociólogo Ricardo
Borges Martins, coordenador
do movimento, o Pacto pela De-
mocracia não definiu se vai de-
fender o impeachment de Bol-
sonaro, mas pretende atuar em
três frentes. “Somar vozes na so-
ciedade, responder institucio-
nalmente às falas e atitudes do
presidente e suas bravatas, co-
mo dizer que tem provas de que
a eleição de 2018 foi fraudada, e
levar à série a nova dinâmica de
produção de informação nas mí-
dias sociais”, disse Martins ao
Estadão. O sociólogo reconhe-
ceu ainda que o “campo demo-
crático” precisa avançar muito
na dinâmica das redes sociais,
universo em que os bolsonaris-
tas conseguem exercer um diá-
logo de forma mais direta.
O grupo nasceu em 2017 com
o nome Nova Democracia e, ini-
cialmente, reunia apenas gru-
pos de renovação política como
Acredito, Agora!, RenovaBR e
Ocupa Política. No ano seguin-

te, após a eleição de Bolsonaro,
o coletivo arregimentou líderes
de esquerda e direita, além de
organizações para um movi-
mento mais amplo, que nasceu
em evento em junho daquele no
ano no Masp, em São Paulo.

‘Reação’. Atualmente, o Pacto
Pela Democracia é uma organi-
zação com sede própria, sete di-
retores executivos remunera-
dos e seis financiadores que pa-
gam R$ 150 mil cada por ano. En-
tre os patronos estão Maria Ali-
ce Setúbal, Beatriz Bracher, Fun-
dação Lemann e a National Envi-
ronment for Democracy, ONG
americana ligada ao Congresso.
“Quem defende a democra-
cia estava muito calado enquan-
to eles ocupavam espaço. Os
bolsonaristas são sempre bons
de rede”, disse o cientista políti-
co Luiz Felipe D’Avila, funda-
dor do Centro de Liderança Pú-
blica (CLP), uma das ONGs
que assinaram o manifesto do
Pacto pela Democracia. Para
D’Avila, o momento ainda é de
defender os princípios violados
da democracia.

Já o ambientalista Mário Man-
tovani, diretor do SOS Mata
Atlântica, que também integra
o pacto, acredita que um even-
tual processo de impeachment
do presidente “está amadure-
cendo”. “Estava na hora dessa
reação. A luta era muito desi-
gual, com robôs e um grupo mui-
to violento. Houve uma falên-
cia múltipla do governo, que
não entregou nada e só privile-
giou grupos de interesse.”
“A Presidência da República
age em ataques graves e siste-
máticos aos próprios fundamen-
tos da vida democrática; pois,
em lugar de união e paz na cons-
trução conjunta do País, dedica-
se a afirmar a cisão, a discrimina-
ção, o racismo e o caos como pi-
lares de seu projeto de poder”,
afirma o manifesto divulgado
ontem. “O governo incita aber-
tamente movimentos golpistas
na sociedade, enquanto alicia as
Forças Armadas e atores políti-
cos corruptos para o avanço de
um horizonte autocrático.”
A reação de grupos e persona-
lidades levou organizações tra-
dicionais a reagir. A Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) se
reuniu com representantes da
Conferência Nacional dos Bis-
pos do Brasil (CNBB) e das seis
maiores centrais sindicais em
videoconferência para articular
um ato em defesa da democra-
cia com a participação de dife-
rentes setores da sociedade.

Simone Tebet

A


s ruas não são mais território exclusivo dos apoiado-
res do presidente. As manifestações do último do-
mingo, puxadas por torcidas organizadas de fute-
bol, a começar da Gaviões da Fiel, inauguraram uma nova
fase na vida política nacional. Representam a ampliação
da resistência ao bolsonarismo e do isolamento do presi-
dente, que se vê cada vez mais enfurnado em Brasília.
As manifestações não tiveram densidade de massa. O
isolamento social impediu. A batalha é desigual, porque os
negacionistas não conhecem barreiras sanitárias e con-
tam com o apoio simbólico do governo, recursos logísti-
cos e mensagens do gabinete do ódio.
Paralelamente, passaram a circular manifestos endossa-
dos por centenas de milhares de cidadãos, intelectuais e
artistas. Diferentes setores da sociedade civil somam sua
voz à dos ministros do STF, os grandes jornais estampam
diariamente sua indignação, surgem movimentos inéditos
de aproximação entre partidos até há pouco separados

por divergências complicadas. Tudo mostra que o diálogo
e a reunião dos democratas parecem ter encontrado um
desaguadouro promissor.
O quadro ainda é impreciso. Não há nele uma via de mão
única. O bolsonarismo continua vivo. Bem ou mal, ocupa o
poder federal, onde acamparam segmentos das Forças Ar-
madas que lhe têm fornecido respaldo e batem continência
para o capitão. O governo tem buscado erguer no Congresso
Nacional uma base de sustentação, preocupado com sua so-
brevivência. O apetite guloso do Centrão, com seus próceres
desprovidos de maior dignidade ou respeito constitucional,
alimenta o governo mas também o impede de funcionar.
Há muito combustível para a expansão do protesto cívi-
co e o reagrupamento dos democratas.
Começou a se romper o pessimismo paralisante em que
a sociedade civil se encontrava. O cerco ao autoritarismo
avança. Não é um trabalho simples. Ele requer combativi-
dade e paciência, metas claras e apoios, ligação entre a de-
fesa da vida, a recuperação da economia e o reforço da de-
mocracia.

]
É PROFESSOR TITULAR DE TEORIA POLÍTICA DA UNESP

BOMBOU NAS REDES!

Pessimismo paralisante da


sociedade civil se rompeu


NA WEB
Podcast. Quem
vai liderar oposição
a Bolsonaro?

estadao.com.br/e/podcastoposicao
6

SANDRO PEREIRA/FOTOARENA

Nas ruas. Manifestação ‘Amazonas Pela Democracia’ e contra o governo Bolsonaro na tarde de ontem, em Manaus

“Celso de Mello não recorreu a Ulysses (Guimarães).
Foi o espírito de Ulysses que iluminou Celso”, sobre
recado a Bolsonaro em decisão contra apreensão de celular.

Senadora (MDB-MS)

»CLICK. A vereadora Ja-
naína Lima (Novo-SP) aju-
dou empresários a apre-
sentar planos de reaber-
tura para o secretário da
Casa Civil da capital pau-
lista, Orlando Faria.

COLUNA DO ESTADÃO

]
ANÁLISE: Marco Aurélio Nogueira
Free download pdf